A avaliação quase consensual de que a gestão Ricardo Nunes (MDB) não tem conseguido cumprir as metas anunciadas ainda por Bruno Covas tem estimulado a busca, ainda que inicial, por alternativas com mais chances de evitar mais uma polarização entre lulistas e bolsonaristas em 2024. Entre os nomes levantados, o do ex-governador Rodrigo Garcia começa a ser citado como opção mais à centro-direita.
Após ter declarado voto e apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), Garcia assumiria desta vez o papel que foi do atual governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2022: o de “bolsonarista moderado”. A nova roupagem é considerada necessária por políticos de São Paulo pelo resultado extraído das urnas no ano passado. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ministro Fernando Haddad, que tentou ser governador, venceram na capital.
Ambos agora prometem apoio à candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), assim como o PT, que pode não lançar candidato próprio na capital pela primeira vez desde a redemocratização. Mas Garcia, por enquanto, segue as movimentações à distância, e com os dois pés para fora do PSDB que, oficialmente, segue na aliança de Nunes.
Sem pressa para se decidir - a janela partidária para as eleições municipais só fecha em abril -, Garcia deve retornar ao União Brasil para virar opção diante do chamado “risco Boulos”. Se Nunes não avançar no cumprimento de suas promessas e as pesquisas eleitorais até lá mostrarem poucas chances de o prefeito se reeleger, uma chapa conservadora pode ser desenhada com Garcia à frente.
“O Rodrigo é um quadro do PSDB, e respeitamos o PSDB. Não estamos disputando o ex-governador”, limitou-se a dizer o vereador e presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil). Hoje fiador da gestão Nunes, o parlamentar terá papel definitivo na construção ou não de outro nome da centro-direita para disputar a Prefeitura.
Além de ser o homem forte do União Brasil na capital, Milton Leite aglutina em torno de si partidos do Centrão, como PL, PP e Republicanos. Oficialmente, todos declaram apoio à reeleição do prefeito, mas, nos bastidores, já começam a colocar condições para isso. Nunes terá de correr para melhorar sua avaliação e tornar-se “viável” nas urnas. “Isso vai acontecer”, afirma o vereador Rodrigo Goulart, do PSD, outro partido decisivo para a definição do nome da centro-direita.
Enquanto acompanha as movimentações de partidos aliados, o prefeito tenta se aproximar do ex-presidente, que já declarou apoio à candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL). Neste sábado, 6, Nunes participou de ato do PL em São Paulo ao lado de Bolsonaro e de sua mulher, Michelle Bolsonaro.
Nos últimos meses, o emedebista também tem conversado mais com o presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto. A meta é assegurar o apoio, eliminando a chance de o ex-ministro do Meio Ambiente lançar-se mesmo candidato. E também tentando evitar que outro nome, como o de Garcia, possa aglutinar os partidos tidos como mais conservadores.
Críticas
No dia 24, o anúncio de mudanças no Programa de Metas do Município expôs o governo Nunes, que ainda na metade do mandato, desistiu de projetos firmados com a sociedade, como a construção de dois corredores rápidos de ônibus na zona leste (os chamados BRTS), quatro novos terminais e 11 piscinões.
Disputa pela Prefeitura
Na revisão do plano, o prefeito também alterou a meta relacionada à redução de mortes no trânsito após piora registrada ano passado. Agora, em vez de “reduzir o índice de mortes no trânsito para 4,5 por 100 mil habitantes”, a meta fala em “realizar 18 ações para a redução do índice de mortes no trânsito”.
Ao Estadão, Nunes alegou que a revisão está prevista na lei e que não desistiu das metas citadas. Diante do tempo agora escasso para alcançá-las - parte dos projetos, como o BRT da Radial Leste, está suspensa pelo Tribunal de Contas do Município -, o prefeito afirmou que foi transparente em não se comprometer mais a entregar, mas a viabilizar. Ele também ressaltou que ampliou os compromissos de 77 para 86.
A alteração, no entanto, foi usada politicamente por adversários declarados, como Salles e Boulos, e até mesmo por tucanos insatisfeitos com a gestão, como o ex-secretário Orlando Faria, que divulgou uma “carta aberta” a Nunes com críticas ao governo. Nela, Faria sugere que o prefeito está mais preocupado em formar alianças para sua reeleição do que cumprir o acordo firmado com a sociedade na eleição de Covas.
“Dedique-se menos às articulações eleitorais, como vemos quase que diariamente na imprensa e cumpra o Programa de Metas 2021-2024 da gestão Bruno Covas, um legado construído em conjunto com a sociedade”, escreveu o tucano, demitido por Nunes da Prefeitura em 2021 por apoiar Eduardo Leite e não João Doria nas prévias presidenciais realizadas pelo partido naquele ano.
A proximidade com Leite, aliás, é trunfo da Faria na tentativa de fazer o partido dar suporte a outro nome em 2024. O governador gaúcho, agora presidente nacional do PSDB, precisa de palanque em São Paulo para lançar-se candidato à Presidência em 2026. E, por enquanto, há dúvidas se Nunes pode vencer a eleição e depois ajudá-lo em seu projeto pessoal.
Ao mesmo tempo, Leite é próximo da deputada federal Tabata Amaral (PSB), outra possível pré-candidata. Ambos são integrantes de movimentos de renovação política, como o RenovaBR, e, segundo tucanos ouvidos pela reportagem, o partido poderia abrigar sua candidatura caso o PSB se negue a lançá-la.
Cautela
Ainda morando nos Estados Unidos, Garcia apenas avalia os cenários. A aliados, o ex-governador tem dito que Ricardo Nunes tem recursos e todas as condições para fazer uma gestão que seja vitrine eleitoral. O caixa atual está em quase R$ 35 bilhões, mas nenhuma obra de grande porte é atualmente desenvolvida pelo Município.
A pressão por resultados levou a bancada do PSDB na Câmara a defender Nunes publicamente. O presidente municipal do partido, Fernando Alfredo, disse que a gestão tem sim áreas a avançar, mas que isso vai ocorrer com o tempo.
“Não vejo nenhum movimento contra o nome de Ricardo Nunes, que tem se esforçado muito. Hoje, posso dizer que 95% do partido está com ele”, afirmou o dirigente, ao mesmo tempo em que pede mais investimento em zeladoria na cidade e no avanço do programa de recapeamento de vias que pode custar mais de R$ 2 bilhões.
Mas o governo deve enfrentar dificuldades até neste sentido, já que a Justiça de São Paulo determinou, por meio de liminar, a suspensão da tramitação do projeto de lei que permitia o uso do Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb) para o pagamento de obras de pavimentação e recapeamento.