Lula está muito ansioso com o cenário econômico. Petistas defendem que o governo faça tudo o que estiver a seu alcance para que a economia acelere já neste ano, aumentando os salários, os investimentos públicos, e pressionando o Banco Central para cortar juros. O governo teme que uma recessão fortaleça a oposição e reabilite o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A reação do governo ao quadro econômico é compreensível, mas a dose parece exagerada. A cada estocada no Banco Central, ou a cada decisão que põe em dúvida a estabilidade fiscal, Lula fica mais perto de perder a confiança de uma parte importante do mercado que ainda aposta no sucesso de seu governo: os estrangeiros. Sem a confiança dos investidores de fora, que ainda veem o Brasil com bons olhos, a situação econômica ficará ainda mais difícil. O cenário temido por Lula se tornaria uma profecia autorrealizável.
É forte o contraste entre o mercado local e estrangeiro. Em reuniões com investidores, fundos locais, que têm sofrido com resgates bilionários, mostram um enorme pessimismo. É muito comum ouvir que o governo “já deu errado”. Os estrangeiros, por outro lado, vêm aportando dinheiro por apostar que Lula, um político experiente, seria pragmático o suficiente para elevar impostos e segurar os gastos. Em um mundo aflito pela guerra no leste europeu e pela rivalidade entre China e Estados Unidos, o Brasil é um lugar atraente para investimentos.
Se os estrangeiros estiverem certos, a economia deve voltar a crescer, e os investidores locais acabarão se estabilizando. Mas a paciência dos estrangeiros está diminuindo.
As decisões das próximas semanas serão muito importantes para mantê-los confiantes no pragmatismo de Lula, a começar pela reoneração dos combustíveis. O aumento dos impostos sobre a gasolina é uma questão de pouco tempo, como os próprios petistas reconhecem, mas o adiamento por mais um ou dois meses seria mais um sinal da dificuldade de Lula de aceitar medidas amargas para sustentar sua política econômica. Outras decisões a serem tomadas em breve incluem a nomeação de novos diretores para o Banco Central, e a formulação da nova regra fiscal, com a imposição de limites para gastos.
Os investidores sabem que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não ganhará todas as disputas, mas esperam que Lula reconheça o risco que está assumindo ao levantar dúvidas constantes sobre a sua própria política econômica. É natural que o governo demonstre preocupação, mas é preciso tomar cuidado com a dose. Com as divisões internas impedindo que o governo siga uma linha consistente para as políticas fiscal e monetária, o risco de decisões erradas aumenta, com chance maior de crescimento baixo e inflação alta por mais tempo.