As manifestações desta quinta-feira,11, pela democracia são a mais recente expressão do repúdio ao presidente Jair Bolsonaro entre importantes segmentos da elite brasileira. Mas o efeito sobre as eleições deve ser pequeno; eleitores bolsonaristas não mudarão de opinião, e a maioria da população de média e baixa renda parece indiferente a esse debate, em um contexto de grande desconfiança contra as elites e de um forte sentimento de vulnerabilidade econômica.
Bolsonaro foi eleito em 2018 por ser o melhor representante da enorme insatisfação dos brasileiros com as instituições. A população se sente cansada de promessas de políticos e acredita que o sistema joga contra ela. Isso inclui o Judiciário, a mídia tradicional e as grandes empresas. Nada disso mudou de quatro anos para cá. De fato, esse sentimento parece ter ficado ainda mais intenso, a julgar pelas pesquisas, e está agora misturado com uma sensação de que os pobres estão ficando para trás, e a classe média pode ser a próxima. Apesar das imagens de um Largo de São Francisco lotado, a eleição ainda será decidida em grande parte por fatores econômicos.
Se há algum efeito sobre as eleições, provavelmente será manter a mobilização entre eleitores anti-Bolsonaro, especialmente nas camadas mais escolarizadas e de renda mais alta, para que compareçam às urnas e votem em Lula mesmo que não sejam petistas. Uma abstenção maior entre potenciais eleitores de Lula beneficiaria Bolsonaro. Isso pode até importar se a eleição for muito apertada, mas não é o fator mais relevante para o cenário eleitoral.
Por tudo isso, é possível que o maior impacto da união pela democracia seja para o cenário pós-eleitoral, e não para a campanha em si. Se eleito, Lula pode aproveitar esse espírito para ampliar sua coalizão de governo. Assim como fez com Geraldo Alckmin, Lula pode surpreender com ministros e membros da equipe econômica de fora da base tradicional de esquerda. Os sinais de Lula têm sido consistentes nesse sentido, o que aumenta a chance de um governo mais pragmático. A dúvida é o quanto duraria essa lua-de-mel. A julgar pela ansiedade dos eleitores e pelo cenário socioeconômico, não muito.