Surgem no exterior alguns sinais preocupantes para o Brasil. Ainda que continue a haver uma clara janela de oportunidade para investimentos estrangeiros de longo prazo, cresce a chance de que o país atravesse um período de certa turbulência antes de colher os frutos das reformas econômicas e da promissora agenda ambiental, que inclui a cúpula do G20. Essa é uma má notícia para o governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que terá menor margem de erro na difícil política fiscal.
O sinal amarelo está nítido no mercado de câmbio, que colocou o dólar mais uma vez acima de R$ 5. Também apareceu nos juros futuros, que já indicam maior chance de taxas de dois dígitos no longo prazo. Na raiz da inquietação do mercado, há uma série de preocupações com a economia global. Dois deles são especialmente problemáticos para o Brasil: a perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos e o “pibinho” da China. O maior parceiro comercial do Brasil já não cresce como antes, e 2024 tende a ser mais um ano decepcionante.
É preciso reconhecer que 2024 sempre pareceu mais complicado para o governo, com viés de baixa para a taxa de aprovação de Lula, e com o Congresso reagindo a cortes de gastos e a novas rodadas de medidas tributárias. A recente reforma ministerial não garante apoio ao governo no ano que vem, e novos ajustes na base provavelmente serão necessários. Entre os problemas de 2024, o governo terá, por exemplo, que debater com o Congresso uma redução nos gastos mínimos com saúde e educação. Não será uma agenda fácil. As notícias recentes no mercado internacional apenas reforçam essa perspectiva de possível turbulência à frente.
Para empresas e investidores pensando em projetos no Brasil, esse cenário levanta mais uma vez uma questão importantíssima: como Lula reagirá quando estiver em dificuldades? Desde o início do terceiro mandato, essa é a pergunta-chave. Lula manterá o plano de voo, apostando em uma agenda de ajustes graduais, confiando em Haddad, ou fará uma aposta em uma agenda de maior estímulo fiscal e intervenção na política monetária e em setores regulados? Lula mantém a calma, ou entrará em pânico? Em um cenário de incerteza e desconfiança sobre a política econômica, as reformas em curso – inclusive a reforma tributária – terão um impacto bem menor.
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Por ora, o presidente se mostra firme, e fala em não dar um “cavalo-de-pau”. De fato, com popularidade alta, Lula tem mais gordura para queimar, mesmo em um ano mais difícil como 2024 parece ser. O mais provável é que o governo mantenha o curso, com Haddad e sua equipe à frente da agenda econômica, mesmo que seja necessário ajustar a meta fiscal mais à frente. Se isso se confirmar, mantendo certa previsibilidade para agenda econômica, as chances de uma retomada econômica na segunda metade do mandato parecem melhores. Do ponto de vista político, e também econômico, 2024 será um ano de travessia; mas a instabilidade está aumentando.