Com o início da campanha para as prefeituras, vale notar o que acontece na maior cidade do Brasil, com a disputa mais representativa para o debate nacional. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), é o favorito. Mas, para que confirme essa condição, é importante que use todos os recursos de campanha à sua disposição. Isso inclui o apoio explícito de Jair Bolsonaro – mesmo que, aparentemente, a contragosto.
É importante que seja não apenas um apoio formal, protocolar. Do ponto de vista meramente eleitoral, seria útil para Nunes deixar claro na TV que a sua aliança com Bolsonaro é para valer. Não é uma tarefa simples, depois de tanta hesitação e sinais trocados ao longo da pré-campanha, mas é possível. Especialmente com a ajuda do governador Tarcísio de Freitas, que também pode ser um cabo eleitoral, desde que traga o pacote Bolsonaro como um todo.
Nunes e muitos de seus apoiadores têm resistido a abraçar o bolsonarismo por causa do medo da rejeição em um segundo turno. Afinal, em 2022, Bolsonaro teve menos votos do que Lula no município de São Paulo. Além disso, para os membros da frente ampla do prefeito, e especialmente seu partido, o MDB, é interessante mostrar autonomia do ex-presidente. Mostrar que são competitivos sem depender diretamente de Bolsonaro. Por isso, demoraram a ceder a vice ao coronel Mello Araújo, apadrinhado pelo ex-presidente. Muitos líderes do entorno de Nunes preferiam um nome de centro para a vaga.
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Veja bem: dá para Nunes ganhar sem colar sua imagem à de Bolsonaro. O prefeito tem algumas vulnerabilidades claras, como o tema da saúde pública, que é frequentemente citado pelos eleitores como um dos principais problemas da cidade, e tem sido explorado pelos candidatos de oposição neste início de campanha. Ainda assim, Nunes tem índices de aprovação razoáveis, com taxas de ótimo/bom pouco acima de 30%. Números como esses são historicamente consistentes com boas chances de reeleição.
Mas, do ponto de vista eleitoral, é arriscado tratar Bolsonaro como mais um apoiador em um primeiro turno pulverizado como o que ficou em São Paulo. Pablo Marçal é a opção mais visível com credenciais antissistema, mas não é o único que tenta apelar para bandeiras bolsonaristas. Datena pode ter algum apelo entre eleitores preocupados com o tema da segurança pública, e Marina Helena, pelo Novo, também pode pegar alguns pontos percentuais de eleitores mais à direita. Se a campanha de Nunes não for assertiva, corre o risco de se ver presa em uma disputa competitiva pela vaga no segundo turno.