As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Lula terá de abrir espaços nobres para os novos sócios, PSD e MDB, na busca por coalizão majoritária


Presidente eleito poderá oferecer dois ministérios (ou outras posições relevantes) para atrair as bancadas desses dois partidos na Câmara e no Senado

Por Silvio Cascione

Lula está em Brasília nesta semana, e é aguardado com muita ansiedade. Desde sua vitória, há um mês, políticos da esquerda à centro-direita aguardam a montagem do futuro governo para começar a traçar os planos para 2023. Havia uma grande expectativa quanto à presença de Lula na capital na semana passada, mas o adiamento da viagem, por motivos de saúde, causou bastante frustração entre atuais e futuros aliados. Esse foi o principal motivo para o adiamento da PEC da Transição, que volta à mesa nesta semana.

Muito dessa ansiedade é resultado de como Lula exerce sua influência atualmente. Ex-ministros e assessores do PT afirmam que uma das grandes diferenças em relação ao Lula de 20 anos atrás, quando chegou pela primeira vez à Presidência, é a centralização das decisões. Durante a campanha eleitoral, levou um tempo até que Lula passasse a delegar mais decisões a seus assessores de confiança, para ter mais agilidade e eficiência. O mesmo ocorre agora com a montagem de governo; Lula dá todas as cartas, e seus representantes (Geraldo Alckmin na transição, Wellington Dias no Orçamento) têm trabalhado com mandatos muito restritos até agora. Isso deve mudar aos poucos, conforme o governo se estrutura; mas, por ora, mantém a articulação política muito dependente do próprio presidente eleito.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, na sede do governo de transição; petista começa a montar seu ministério Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 28/11/22
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É este o contexto em que, após um mês de observação e reflexões, Lula começará a montar seu ministério. A composição da esplanada refletirá o espírito de um governo de base ampla. Não será possível falar em união nacional em um país ainda tão polarizado, e com a ausência óbvia de representantes da oposição bolsonarista. Mas provavelmente será sim um governo de coalizão que contará até com nomes da centro-direita. O PT ocupará posições estratégicas, principalmente na área econômica e nos ministérios palacianos, com diferentes correntes do partido sendo representadas; mas o partido deverá ter uma quantidade menor dos ministérios, com menos orçamento à disposição que em governos passados, dada a necessidade de acomodar uma base bastante abrangente.

Para ter uma coalizão majoritária no Congresso, o primeiro passo de Lula, além de contemplar os aliados de esquerda da campanha eleitoral, será oferecer espaços nobres na esplanada para dois novos sócios: o PSD e o MDB. Dadas as divisões regionais dentro desses dois partidos, e a necessidade de atrair as bancadas de Câmara e Senado, podem ser necessários dois ministérios (ou outras posições relevantes) para cada um desses partidos. Outros partidos de centro ou centro-direita também podem receber posições já no início do governo; Lula, porém, pode preferir guardar algumas opções para o futuro, para ter o que oferecer a esses grupos quando sua popularidade estiver em baixa. Com a perspectiva de uma lua de mel curta com o eleitorado, será uma boa ideia guardar algumas cartas na manga.

Lula está em Brasília nesta semana, e é aguardado com muita ansiedade. Desde sua vitória, há um mês, políticos da esquerda à centro-direita aguardam a montagem do futuro governo para começar a traçar os planos para 2023. Havia uma grande expectativa quanto à presença de Lula na capital na semana passada, mas o adiamento da viagem, por motivos de saúde, causou bastante frustração entre atuais e futuros aliados. Esse foi o principal motivo para o adiamento da PEC da Transição, que volta à mesa nesta semana.

Muito dessa ansiedade é resultado de como Lula exerce sua influência atualmente. Ex-ministros e assessores do PT afirmam que uma das grandes diferenças em relação ao Lula de 20 anos atrás, quando chegou pela primeira vez à Presidência, é a centralização das decisões. Durante a campanha eleitoral, levou um tempo até que Lula passasse a delegar mais decisões a seus assessores de confiança, para ter mais agilidade e eficiência. O mesmo ocorre agora com a montagem de governo; Lula dá todas as cartas, e seus representantes (Geraldo Alckmin na transição, Wellington Dias no Orçamento) têm trabalhado com mandatos muito restritos até agora. Isso deve mudar aos poucos, conforme o governo se estrutura; mas, por ora, mantém a articulação política muito dependente do próprio presidente eleito.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, na sede do governo de transição; petista começa a montar seu ministério Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 28/11/22

É este o contexto em que, após um mês de observação e reflexões, Lula começará a montar seu ministério. A composição da esplanada refletirá o espírito de um governo de base ampla. Não será possível falar em união nacional em um país ainda tão polarizado, e com a ausência óbvia de representantes da oposição bolsonarista. Mas provavelmente será sim um governo de coalizão que contará até com nomes da centro-direita. O PT ocupará posições estratégicas, principalmente na área econômica e nos ministérios palacianos, com diferentes correntes do partido sendo representadas; mas o partido deverá ter uma quantidade menor dos ministérios, com menos orçamento à disposição que em governos passados, dada a necessidade de acomodar uma base bastante abrangente.

Para ter uma coalizão majoritária no Congresso, o primeiro passo de Lula, além de contemplar os aliados de esquerda da campanha eleitoral, será oferecer espaços nobres na esplanada para dois novos sócios: o PSD e o MDB. Dadas as divisões regionais dentro desses dois partidos, e a necessidade de atrair as bancadas de Câmara e Senado, podem ser necessários dois ministérios (ou outras posições relevantes) para cada um desses partidos. Outros partidos de centro ou centro-direita também podem receber posições já no início do governo; Lula, porém, pode preferir guardar algumas opções para o futuro, para ter o que oferecer a esses grupos quando sua popularidade estiver em baixa. Com a perspectiva de uma lua de mel curta com o eleitorado, será uma boa ideia guardar algumas cartas na manga.

Lula está em Brasília nesta semana, e é aguardado com muita ansiedade. Desde sua vitória, há um mês, políticos da esquerda à centro-direita aguardam a montagem do futuro governo para começar a traçar os planos para 2023. Havia uma grande expectativa quanto à presença de Lula na capital na semana passada, mas o adiamento da viagem, por motivos de saúde, causou bastante frustração entre atuais e futuros aliados. Esse foi o principal motivo para o adiamento da PEC da Transição, que volta à mesa nesta semana.

Muito dessa ansiedade é resultado de como Lula exerce sua influência atualmente. Ex-ministros e assessores do PT afirmam que uma das grandes diferenças em relação ao Lula de 20 anos atrás, quando chegou pela primeira vez à Presidência, é a centralização das decisões. Durante a campanha eleitoral, levou um tempo até que Lula passasse a delegar mais decisões a seus assessores de confiança, para ter mais agilidade e eficiência. O mesmo ocorre agora com a montagem de governo; Lula dá todas as cartas, e seus representantes (Geraldo Alckmin na transição, Wellington Dias no Orçamento) têm trabalhado com mandatos muito restritos até agora. Isso deve mudar aos poucos, conforme o governo se estrutura; mas, por ora, mantém a articulação política muito dependente do próprio presidente eleito.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, na sede do governo de transição; petista começa a montar seu ministério Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 28/11/22

É este o contexto em que, após um mês de observação e reflexões, Lula começará a montar seu ministério. A composição da esplanada refletirá o espírito de um governo de base ampla. Não será possível falar em união nacional em um país ainda tão polarizado, e com a ausência óbvia de representantes da oposição bolsonarista. Mas provavelmente será sim um governo de coalizão que contará até com nomes da centro-direita. O PT ocupará posições estratégicas, principalmente na área econômica e nos ministérios palacianos, com diferentes correntes do partido sendo representadas; mas o partido deverá ter uma quantidade menor dos ministérios, com menos orçamento à disposição que em governos passados, dada a necessidade de acomodar uma base bastante abrangente.

Para ter uma coalizão majoritária no Congresso, o primeiro passo de Lula, além de contemplar os aliados de esquerda da campanha eleitoral, será oferecer espaços nobres na esplanada para dois novos sócios: o PSD e o MDB. Dadas as divisões regionais dentro desses dois partidos, e a necessidade de atrair as bancadas de Câmara e Senado, podem ser necessários dois ministérios (ou outras posições relevantes) para cada um desses partidos. Outros partidos de centro ou centro-direita também podem receber posições já no início do governo; Lula, porém, pode preferir guardar algumas opções para o futuro, para ter o que oferecer a esses grupos quando sua popularidade estiver em baixa. Com a perspectiva de uma lua de mel curta com o eleitorado, será uma boa ideia guardar algumas cartas na manga.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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