As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Mesmo fora de 2026, Marçal provoca reflexões para direita e esquerda


Candidato de oposição a Lula terá que fazer acenos firmes ao eleitorado radical para mobilizar a base; esquerda também precisa reagir ao apelo de Marçal entre jovens e autônomos

Por Silvio Cascione

A poeira começa a baixar após um primeiro turno muito explosivo nas eleições municipais de São Paulo. O resultado em si acabou dentro das expectativas iniciais: segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, com amplo favoritismo para o atual prefeito nessa reta final. Mas todos, da direita à esquerda, têm lições importantes para tirar após uma campanha fortemente marcada por Pablo Marçal.

Em primeiro lugar, é preciso notar que o projeto político de Marçal sofreu um forte revés. Não tanto pela derrota em si, mas pelas circunstâncias, com a fraude do laudo médico contra Boulos e outras acusações de crimes eleitorais. É provável que Marçal fique inelegível pelos próximos oito anos.

Pablo Marçal (PRTB) vota no primeiro turno da eleição em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Mais que isso: ainda que tenha cativado um quarto do eleitorado paulista, ele também acumulou uma forte rejeição, que poderá ser duradoura. Será que Marçal um dia chegará à Presidência como líder da direita? Talvez — mas essa é uma pergunta para um futuro muito distante, 2034 ou depois, e não para 2026.

Apesar disso, Marçal sacudiu as bases da direita, até então dominadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e também mostrou que o sentimento de revolta contra o sistema continua bastante forte no eleitorado. A reflexão que cabe aos adversários do atual governo, que aspiram a uma frente ampla de direita em 2026, é se será possível ganhar as eleições com um discurso de centro ao estilo de Nunes, como muitos apostavam. Essa pergunta é especialmente relevante para o governador Tarcísio de Freitas, que é uma das principais opções desse campo.

Se sair candidato, o que ainda é incerto, Tarcísio terá mais facilidade do que Nunes para incorporar elementos do discurso da direita mais radical para se blindar contra o risco de que novos “Marçais” ameacem ir ao segundo turno. Mas esses gestos precisarão ter credibilidade junto a esse público, e poderão deixar outros segmentos e instituições, como o Judiciário, bastante desconfortáveis.

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A esquerda também tem reflexões a fazer, pois viu alguns grupos jovens e periféricos serem seduzidos pelo discurso de Marçal.

É muito difícil que Boulos vença, dada a sua taxa de rejeição junto ao eleitorado e também o fato de que a gestão Nunes é razoavelmente bem avaliada. Mas, mesmo com chances remotas, a esquerda tem um bom laboratório neste segundo turno para testar soluções de campanha e discursos que a reconectem com esses eleitores, incorporando alguns elementos do espírito empreendedor ao falar, por exemplo, com trabalhadores autônomos. O remédio para as agruras da esquerda não virá em quatro semanas, mas algumas ideias podem surgir nesse ambiente de campanha.

A poeira começa a baixar após um primeiro turno muito explosivo nas eleições municipais de São Paulo. O resultado em si acabou dentro das expectativas iniciais: segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, com amplo favoritismo para o atual prefeito nessa reta final. Mas todos, da direita à esquerda, têm lições importantes para tirar após uma campanha fortemente marcada por Pablo Marçal.

Em primeiro lugar, é preciso notar que o projeto político de Marçal sofreu um forte revés. Não tanto pela derrota em si, mas pelas circunstâncias, com a fraude do laudo médico contra Boulos e outras acusações de crimes eleitorais. É provável que Marçal fique inelegível pelos próximos oito anos.

Pablo Marçal (PRTB) vota no primeiro turno da eleição em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Mais que isso: ainda que tenha cativado um quarto do eleitorado paulista, ele também acumulou uma forte rejeição, que poderá ser duradoura. Será que Marçal um dia chegará à Presidência como líder da direita? Talvez — mas essa é uma pergunta para um futuro muito distante, 2034 ou depois, e não para 2026.

Apesar disso, Marçal sacudiu as bases da direita, até então dominadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e também mostrou que o sentimento de revolta contra o sistema continua bastante forte no eleitorado. A reflexão que cabe aos adversários do atual governo, que aspiram a uma frente ampla de direita em 2026, é se será possível ganhar as eleições com um discurso de centro ao estilo de Nunes, como muitos apostavam. Essa pergunta é especialmente relevante para o governador Tarcísio de Freitas, que é uma das principais opções desse campo.

Se sair candidato, o que ainda é incerto, Tarcísio terá mais facilidade do que Nunes para incorporar elementos do discurso da direita mais radical para se blindar contra o risco de que novos “Marçais” ameacem ir ao segundo turno. Mas esses gestos precisarão ter credibilidade junto a esse público, e poderão deixar outros segmentos e instituições, como o Judiciário, bastante desconfortáveis.

A esquerda também tem reflexões a fazer, pois viu alguns grupos jovens e periféricos serem seduzidos pelo discurso de Marçal.

É muito difícil que Boulos vença, dada a sua taxa de rejeição junto ao eleitorado e também o fato de que a gestão Nunes é razoavelmente bem avaliada. Mas, mesmo com chances remotas, a esquerda tem um bom laboratório neste segundo turno para testar soluções de campanha e discursos que a reconectem com esses eleitores, incorporando alguns elementos do espírito empreendedor ao falar, por exemplo, com trabalhadores autônomos. O remédio para as agruras da esquerda não virá em quatro semanas, mas algumas ideias podem surgir nesse ambiente de campanha.

A poeira começa a baixar após um primeiro turno muito explosivo nas eleições municipais de São Paulo. O resultado em si acabou dentro das expectativas iniciais: segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, com amplo favoritismo para o atual prefeito nessa reta final. Mas todos, da direita à esquerda, têm lições importantes para tirar após uma campanha fortemente marcada por Pablo Marçal.

Em primeiro lugar, é preciso notar que o projeto político de Marçal sofreu um forte revés. Não tanto pela derrota em si, mas pelas circunstâncias, com a fraude do laudo médico contra Boulos e outras acusações de crimes eleitorais. É provável que Marçal fique inelegível pelos próximos oito anos.

Pablo Marçal (PRTB) vota no primeiro turno da eleição em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Mais que isso: ainda que tenha cativado um quarto do eleitorado paulista, ele também acumulou uma forte rejeição, que poderá ser duradoura. Será que Marçal um dia chegará à Presidência como líder da direita? Talvez — mas essa é uma pergunta para um futuro muito distante, 2034 ou depois, e não para 2026.

Apesar disso, Marçal sacudiu as bases da direita, até então dominadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e também mostrou que o sentimento de revolta contra o sistema continua bastante forte no eleitorado. A reflexão que cabe aos adversários do atual governo, que aspiram a uma frente ampla de direita em 2026, é se será possível ganhar as eleições com um discurso de centro ao estilo de Nunes, como muitos apostavam. Essa pergunta é especialmente relevante para o governador Tarcísio de Freitas, que é uma das principais opções desse campo.

Se sair candidato, o que ainda é incerto, Tarcísio terá mais facilidade do que Nunes para incorporar elementos do discurso da direita mais radical para se blindar contra o risco de que novos “Marçais” ameacem ir ao segundo turno. Mas esses gestos precisarão ter credibilidade junto a esse público, e poderão deixar outros segmentos e instituições, como o Judiciário, bastante desconfortáveis.

A esquerda também tem reflexões a fazer, pois viu alguns grupos jovens e periféricos serem seduzidos pelo discurso de Marçal.

É muito difícil que Boulos vença, dada a sua taxa de rejeição junto ao eleitorado e também o fato de que a gestão Nunes é razoavelmente bem avaliada. Mas, mesmo com chances remotas, a esquerda tem um bom laboratório neste segundo turno para testar soluções de campanha e discursos que a reconectem com esses eleitores, incorporando alguns elementos do espírito empreendedor ao falar, por exemplo, com trabalhadores autônomos. O remédio para as agruras da esquerda não virá em quatro semanas, mas algumas ideias podem surgir nesse ambiente de campanha.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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