Multiplicam-se os manifestos pela democracia. Antes mesmo da campanha presidencial chegar às ruas, a oposição a Jair Bolsonaro já reúne mais de meio milhão de assinaturas em defesa das urnas eletrônicas e contra ataques ao Judiciário. Parte substancial das elites brasileiras – elite intelectual, financeira, empresarial, entre outras – veio a público declarar seu voto contra o presidente.
É preciso ter claro que essa mobilização dificilmente mudará as eleições. A maioria dos eleitores está preocupada com a conta do supermercado, o preço da carne e do leite, e não com a briga entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal. A melhora da economia ajuda Bolsonaro.
Mas a união contra Bolsonaro tem grande importância para depois da campanha, especialmente em um eventual governo Lula – que continua sendo o cenário mais provável. Não falta muito tempo. Em apenas três meses, já saberemos o vencedor.
Se eleito, Lula tem diante de si uma grande oportunidade de construir um governo de união nacional, com uma ampla coalizão no Congresso. Quanto maior a turbulência do processo eleitoral, e o medo de incidentes violentos por causa da contestação das urnas, maior a união das instituições e da maior parte da sociedade civil em torno do presidente eleito.
Lula parece entender essa conjuntura, e tem sinalizado nessa direção. Lula não tem sido o candidato revanchista que muitos temiam quando saiu da prisão. O ex-presidente não só convidou Geraldo Alckmin para compor sua chapa, mas tem conversado com partidos e líderes de fora da centro-esquerda. Lula tem reconstruído pontes no agronegócio, na Faria Lima, no empresariado. Se eleito, petistas indicam que o governo de Lula terá um número maior de ministros de fora da aliança do que em sua primeira passagem pelo Planalto. Num gesto simbólico, tucanos devem ser convidados a participar da Esplanada.
Se essa configuração de governo se unir a uma equipe econômica de perfil técnico, juntando quadros de mercado com servidores de carreira e um ministro pragmático, sem dogmas econômicos, Lula tem a chance de viver uma lua de mel no início de seu eventual terceiro mandato – curta, mas que pode ser intensa.