A disputa presidencial continua aberta, com quatro semanas de campanha acirrada. Apesar do erro das pesquisas, que subestimaram a força de Jair Bolsonaro, é fato que Lula chegou bem perto da improvável vitória em primeiro turno, e que o sentimento predominante do eleitorado é por mudança. O próprio presidente reconheceu isso em sua primeira entrevista após a apuração.
O medo da reeleição de Bolsonaro é maior do que o medo da volta do PT. As urnas de ontem transmitiram esse sentimento. Mais importante do que isso, Lula tem mais crédito do que Bolsonaro junto a eleitores pobres. Em uma eleição ainda marcada por um sentimento de desigualdade econômica e vulnerabilidade, isso tem peso. Não foi à toa que Bolsonaro continuou muito atrás de Lula no Nordeste, no norte de Minas Gerais, e em outras regiões com populações mais pobres, mesmo com o aumento do Auxílio Brasil.
Nas próximas quatro semanas, portanto, a chance de vitória de Bolsonaro depende mais da mensagem de sua campanha para esses eleitores do que no eventual apoio de governadores eleitos, como Romeu Zema, em Minas Gerais. Com a economia ainda em recuperação, Bolsonaro tem sim chance de reverter votos que foram para Lula com um discurso de mais esperança para o futuro. Mas o cenário revelado pelas urnas ontem ainda favorece o ex-presidente.
Não será, é claro, um passeio para Lula. Mas ganhar a eleição certamente será mais simples para Lula do que governar o País nos quatro anos seguintes. O resultado de ontem não só confirmou as expectativas de um aumento da bancada antipetista no Congresso, associada a Bolsonaro, mas mostrou uma intensidade mais forte do que o previsto. A esquerda, por outro lado, pouco cresceu.
Lula já imaginava que um terceiro mandato seria mais difícil que os dois primeiros, e por isso chamou Geraldo Alckmin para vice e outros aliados de centro. Precisará ainda mais do apoio desses quadros, e de muitos outros com representação no Congresso, como PSD, MDB, e até mesmo figuras em partidos hoje associados a Bolsonaro, como União Brasil, para se manter no controle da agenda política e econômica nos próximos quatro anos.
Para Bolsonaro, por outro lado, vale o inverso se ele ganhar o pleito. Vencer a eleição é difícil, mas governar se tornou mais fácil com uma bancada maior e mais leal no Congresso. Haverá brigas pelo controle da agenda no Congresso, com negociações e disputas pelo controle da presidência das Casas. Bolsonaro também seguirá vulnerável a momentos de fraqueza econômica – como pode ser o caso de 2023 – e popularidade em baixa. Mas estará mais blindado no Congresso, e com mais condições de avançar com sua agenda econômica.