A indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria do Banco Central demonstrou a crescente influência do Ministério da Fazenda sobre a economia; neste caso, sobre política monetária. O papel central do ministro Fernando Haddad no governo, no entanto, não pode ser plenamente compreendido sem um olhar sobre a atuação de Lula, e de como o presidente tem agido de maneira mais centralizadora do que em mandatos anteriores.
Lula fez questão de escolher um ministro de perfil político não apenas por causa da necessidade de amplas negociações para a execução de sua política econômica, mas também por uma questão de confiança. Lula buscava uma pessoa que não estivesse fortemente associada a alguma escola econômica (nem Chicago, nem Campinas), e que pudesse então aplicar, de maneira pragmática, os seus compromissos de campanha, muitas vezes conflitantes.
As linhas-mestras da agenda econômica do governo, e as principais decisões, partem todas do Palácio do Planalto, a começar pela decisão de expandir os gastos de forma mais acentuada durante a transição, até a recente ação na Justiça contra a Eletrobras. O gradualismo fiscal, a intervenção em estatais, e a defesa de uma política monetária mais expansionista são parte da agenda do próprio Lula, e Haddad foi escolhido para a tarefa por ser visto como o mais competente, e mais leal, para colocá-la em prática.
Em governos anteriores, Lula centralizava menos as decisões econômicas, e permitia – ou até incentivava – divisões mais claras em sua equipe econômica. Agora, Haddad não tem ninguém como sombra, porque Lula não tem permitido. Quando a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a taxação sobre combustíveis, dizendo que seria romper uma promessa de campanha, a leitura dentro do Planalto foi a de que ela havia ido longe demais; ao mirar em Haddad, ela estava criticando o próprio Lula. Desde então, tem havido uma sintonia muito mais forte sobre a agenda econômica do governo.
A indicação de Galípolo e dos futuros diretores do BC, portanto, é fruto deste esforço do próprio Lula para deixar a política monetária com a sua cara – mais alinhada com seus compromissos de campanha, mas sem abrir mão de uma tentativa de manter um canal de diálogo com o setor privado.
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Muitas das dificuldades de Lula na agenda econômica derivam desse voluntarismo excessivo do presidente, da mesma forma que muitas das dificuldades na articulação política estão relacionadas com seu perfil mais centralizador neste terceiro mandato, e a forma como isso interfere com os ministérios. Mas, ainda que aos solavancos, o governo tem implementado aos poucos a sua agenda econômica, e construído uma rede de apoio no Congresso. Nos próximos meses, o Congresso deve aprovar o novo regime fiscal e uma ampla reforma tributária. Essas vitórias permitirão ao governo entregar, mesmo que parcialmente, alguns de seus compromissos de campanha.