As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Pressão brasileira sobre Maduro tende a ser inócua


Maduro já sobreviveu a períodos de pressão externa mais forte; tendência é que regime venezuelano continue, mesmo sem ter votos

Por Silvio Cascione

A crise na Venezuela é, até agora, o maior revés da política externa de Lula 3. Muito já foi dito sobre as incoerências dele e do PT, que cooperaram por anos com o regime de Maduro. A esquerda mostra enorme dificuldade em reconhecer a transição do regime venezuelano para uma ditadura cada vez menos envergonhada. O governo brasileiro, enquanto isso, se uniu a outros países, como Colômbia e México, para tentar costurar algum diálogo entre Maduro e oposição.

É difícil acreditar, porém, que esses esforços serão bem-sucedidos. A verdade é que o Brasil e outros países da América Latina têm pouca importância para os próximos capítulos dessa história. As eleições já vinham sofrendo, desde o início, com uma série de vícios, e a maior surpresa não foi a fraude em si, mas o tamanho dela. Maduro se preparou para manter o poder mesmo sem ter os votos para tanto, e tem demonstrado que ainda controla as instituições necessárias para isso.

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro resiste às pressões internacionais Foto: Fernando Vergara/AP
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Nesse sentido, a pressão brasileira para que Maduro apresente as atas eleitorais completas tende a ser inócua. Diante da necessidade de fraudar as eleições para manter o poder, Maduro parece disposto a aceitar um maior isolamento internacional. As relações bilaterais entre Brasil e Venezuela já se enfraqueceram bastante, diga-se de passagem. A Venezuela está suspensa do Mercosul desde 2016, justamente por infringir a “cláusula democrática” do bloco. Desde aquele ano, a corrente de comércio entre os dois países está abaixo de 2 bilhões de dólares, menos de um terço do que foi no auge, entre 2011 e 2013.

E, além disso, Maduro já sobreviveu, no passado, a períodos de pressão externa até mais forte. Duras sanções impostas pelos Estados Unidos ainda na década passada deixaram como saldo um enorme fluxo de imigrantes. Às vésperas de uma eleição presidencial, o governo norte-americano está receoso de colocar pressão máxima sobre Maduro novamente.

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Com tudo isso, a melhor aposta para o fim do regime Maduro é em algum tipo de divisão interna que separe o governo dos militares. Não há evidências fortes, até agora, de que isso esteja ocorrendo. É possível que isso mude em função dos protestos, que têm alcançado regiões fora dos redutos tradicionais da oposição. Em um cenário de maior violência e perda de legitimidade do regime, os custos para a manutenção da aliança entre Maduro e os militares podem ficar altos demais, abrindo espaço para dissidências. Mas esse não é o cenário mais provável hoje.

O governo e a esquerda brasileira, portanto, precisam se preparar para encarar esse assunto de frente. Maduro provavelmente continuará sendo um vizinho muito inconveniente.

A crise na Venezuela é, até agora, o maior revés da política externa de Lula 3. Muito já foi dito sobre as incoerências dele e do PT, que cooperaram por anos com o regime de Maduro. A esquerda mostra enorme dificuldade em reconhecer a transição do regime venezuelano para uma ditadura cada vez menos envergonhada. O governo brasileiro, enquanto isso, se uniu a outros países, como Colômbia e México, para tentar costurar algum diálogo entre Maduro e oposição.

É difícil acreditar, porém, que esses esforços serão bem-sucedidos. A verdade é que o Brasil e outros países da América Latina têm pouca importância para os próximos capítulos dessa história. As eleições já vinham sofrendo, desde o início, com uma série de vícios, e a maior surpresa não foi a fraude em si, mas o tamanho dela. Maduro se preparou para manter o poder mesmo sem ter os votos para tanto, e tem demonstrado que ainda controla as instituições necessárias para isso.

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro resiste às pressões internacionais Foto: Fernando Vergara/AP

Nesse sentido, a pressão brasileira para que Maduro apresente as atas eleitorais completas tende a ser inócua. Diante da necessidade de fraudar as eleições para manter o poder, Maduro parece disposto a aceitar um maior isolamento internacional. As relações bilaterais entre Brasil e Venezuela já se enfraqueceram bastante, diga-se de passagem. A Venezuela está suspensa do Mercosul desde 2016, justamente por infringir a “cláusula democrática” do bloco. Desde aquele ano, a corrente de comércio entre os dois países está abaixo de 2 bilhões de dólares, menos de um terço do que foi no auge, entre 2011 e 2013.

E, além disso, Maduro já sobreviveu, no passado, a períodos de pressão externa até mais forte. Duras sanções impostas pelos Estados Unidos ainda na década passada deixaram como saldo um enorme fluxo de imigrantes. Às vésperas de uma eleição presidencial, o governo norte-americano está receoso de colocar pressão máxima sobre Maduro novamente.

Com tudo isso, a melhor aposta para o fim do regime Maduro é em algum tipo de divisão interna que separe o governo dos militares. Não há evidências fortes, até agora, de que isso esteja ocorrendo. É possível que isso mude em função dos protestos, que têm alcançado regiões fora dos redutos tradicionais da oposição. Em um cenário de maior violência e perda de legitimidade do regime, os custos para a manutenção da aliança entre Maduro e os militares podem ficar altos demais, abrindo espaço para dissidências. Mas esse não é o cenário mais provável hoje.

O governo e a esquerda brasileira, portanto, precisam se preparar para encarar esse assunto de frente. Maduro provavelmente continuará sendo um vizinho muito inconveniente.

A crise na Venezuela é, até agora, o maior revés da política externa de Lula 3. Muito já foi dito sobre as incoerências dele e do PT, que cooperaram por anos com o regime de Maduro. A esquerda mostra enorme dificuldade em reconhecer a transição do regime venezuelano para uma ditadura cada vez menos envergonhada. O governo brasileiro, enquanto isso, se uniu a outros países, como Colômbia e México, para tentar costurar algum diálogo entre Maduro e oposição.

É difícil acreditar, porém, que esses esforços serão bem-sucedidos. A verdade é que o Brasil e outros países da América Latina têm pouca importância para os próximos capítulos dessa história. As eleições já vinham sofrendo, desde o início, com uma série de vícios, e a maior surpresa não foi a fraude em si, mas o tamanho dela. Maduro se preparou para manter o poder mesmo sem ter os votos para tanto, e tem demonstrado que ainda controla as instituições necessárias para isso.

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro resiste às pressões internacionais Foto: Fernando Vergara/AP

Nesse sentido, a pressão brasileira para que Maduro apresente as atas eleitorais completas tende a ser inócua. Diante da necessidade de fraudar as eleições para manter o poder, Maduro parece disposto a aceitar um maior isolamento internacional. As relações bilaterais entre Brasil e Venezuela já se enfraqueceram bastante, diga-se de passagem. A Venezuela está suspensa do Mercosul desde 2016, justamente por infringir a “cláusula democrática” do bloco. Desde aquele ano, a corrente de comércio entre os dois países está abaixo de 2 bilhões de dólares, menos de um terço do que foi no auge, entre 2011 e 2013.

E, além disso, Maduro já sobreviveu, no passado, a períodos de pressão externa até mais forte. Duras sanções impostas pelos Estados Unidos ainda na década passada deixaram como saldo um enorme fluxo de imigrantes. Às vésperas de uma eleição presidencial, o governo norte-americano está receoso de colocar pressão máxima sobre Maduro novamente.

Com tudo isso, a melhor aposta para o fim do regime Maduro é em algum tipo de divisão interna que separe o governo dos militares. Não há evidências fortes, até agora, de que isso esteja ocorrendo. É possível que isso mude em função dos protestos, que têm alcançado regiões fora dos redutos tradicionais da oposição. Em um cenário de maior violência e perda de legitimidade do regime, os custos para a manutenção da aliança entre Maduro e os militares podem ficar altos demais, abrindo espaço para dissidências. Mas esse não é o cenário mais provável hoje.

O governo e a esquerda brasileira, portanto, precisam se preparar para encarar esse assunto de frente. Maduro provavelmente continuará sendo um vizinho muito inconveniente.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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