As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Queda de popularidade de Lula ainda é pontual, mas cenário deve ficar mais difícil após agosto


O maior risco para Lula está no segundo semestre, quando os fatores por trás do expressivo aumento de renda perderão intensidade de forma mais clara

Por Silvio Cascione

Após um longo período de popularidade alta, era apenas questão de tempo para que a imagem do presidente começasse a se desgastar, como ocorre com a maioria dos governos após um período de lua de mel. Demorou mais do que todos imaginavam, até mesmo os petistas. Mas as pesquisas divulgadas na semana passada – Quaest, AtlasIntel, e IPEC – mostraram uma clara perda de popularidade do governo. O próprio Lula admitiu esse fato, afirmando que sua gestão ainda está aquém do que prometeu.

Mas, como sempre, é preciso cuidado para não carregar demais nas tintas. Há motivos para afirmar que essa queda recente na popularidade decorre de alguns fatores pontuais, cujos efeitos devem se dissipar ao longo do tempo: primeiro, o aumento dos preços de alimentos, capturado pelo índice IPCA de fevereiro, e causado pelo fenômeno El Niño – que já caminha para o fim. Segundo, os comentários de Lula sobre Israel, que foram sistematicamente explorados por lideranças evangélicas e contribuíram para afastar o presidente ainda mais desse grupo eleitoral.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta queda em sua popularidade. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: Wilton Junior
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Tirando esses dois fatores, o cenário ainda é relativamente favorável para Lula. Afinal, a maior razão para a estabilidade de sua taxa de aprovação em 2023, a melhora na renda dos brasileiros, ainda continua em vigor, em grande medida. A alta dos alimentos tira um pouco de poder de compra dos eleitores, mas o reajuste do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, a queda do desemprego, e o efeito do pagamento antecipado de precatórios devem manter a renda dos brasileiros em alta ao longo do primeiro semestre deste ano.

O maior risco para Lula está no segundo semestre, precisamente quando os fatores por trás do expressivo aumento de renda perderão intensidade de forma mais clara. Ninguém prevê uma recessão, mas a sensação térmica da economia deve ficar mais morna. Espera-se, no mercado, que a queda dos juros comece a estimular investimentos, mas leva um tempo até que eles se materializem. É provável, portanto, que a popularidade de Lula, hoje ainda acima de 50% quando medida pela escala aprova/desaprova, se acomode em um patamar mais baixo, na casa dos 40%.

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As demonstrações de ansiedade de Lula e dos petistas, então, são pequenas perto do que os próximos meses reservam. Se a queda de popularidade vier acompanhada de uma derrota eleitoral da esquerda em São Paulo (provável) e de uma vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a preocupação no Palácio do Planalto certamente subirá ainda mais.

Após um longo período de popularidade alta, era apenas questão de tempo para que a imagem do presidente começasse a se desgastar, como ocorre com a maioria dos governos após um período de lua de mel. Demorou mais do que todos imaginavam, até mesmo os petistas. Mas as pesquisas divulgadas na semana passada – Quaest, AtlasIntel, e IPEC – mostraram uma clara perda de popularidade do governo. O próprio Lula admitiu esse fato, afirmando que sua gestão ainda está aquém do que prometeu.

Mas, como sempre, é preciso cuidado para não carregar demais nas tintas. Há motivos para afirmar que essa queda recente na popularidade decorre de alguns fatores pontuais, cujos efeitos devem se dissipar ao longo do tempo: primeiro, o aumento dos preços de alimentos, capturado pelo índice IPCA de fevereiro, e causado pelo fenômeno El Niño – que já caminha para o fim. Segundo, os comentários de Lula sobre Israel, que foram sistematicamente explorados por lideranças evangélicas e contribuíram para afastar o presidente ainda mais desse grupo eleitoral.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta queda em sua popularidade. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: Wilton Junior

Tirando esses dois fatores, o cenário ainda é relativamente favorável para Lula. Afinal, a maior razão para a estabilidade de sua taxa de aprovação em 2023, a melhora na renda dos brasileiros, ainda continua em vigor, em grande medida. A alta dos alimentos tira um pouco de poder de compra dos eleitores, mas o reajuste do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, a queda do desemprego, e o efeito do pagamento antecipado de precatórios devem manter a renda dos brasileiros em alta ao longo do primeiro semestre deste ano.

O maior risco para Lula está no segundo semestre, precisamente quando os fatores por trás do expressivo aumento de renda perderão intensidade de forma mais clara. Ninguém prevê uma recessão, mas a sensação térmica da economia deve ficar mais morna. Espera-se, no mercado, que a queda dos juros comece a estimular investimentos, mas leva um tempo até que eles se materializem. É provável, portanto, que a popularidade de Lula, hoje ainda acima de 50% quando medida pela escala aprova/desaprova, se acomode em um patamar mais baixo, na casa dos 40%.

As demonstrações de ansiedade de Lula e dos petistas, então, são pequenas perto do que os próximos meses reservam. Se a queda de popularidade vier acompanhada de uma derrota eleitoral da esquerda em São Paulo (provável) e de uma vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a preocupação no Palácio do Planalto certamente subirá ainda mais.

Após um longo período de popularidade alta, era apenas questão de tempo para que a imagem do presidente começasse a se desgastar, como ocorre com a maioria dos governos após um período de lua de mel. Demorou mais do que todos imaginavam, até mesmo os petistas. Mas as pesquisas divulgadas na semana passada – Quaest, AtlasIntel, e IPEC – mostraram uma clara perda de popularidade do governo. O próprio Lula admitiu esse fato, afirmando que sua gestão ainda está aquém do que prometeu.

Mas, como sempre, é preciso cuidado para não carregar demais nas tintas. Há motivos para afirmar que essa queda recente na popularidade decorre de alguns fatores pontuais, cujos efeitos devem se dissipar ao longo do tempo: primeiro, o aumento dos preços de alimentos, capturado pelo índice IPCA de fevereiro, e causado pelo fenômeno El Niño – que já caminha para o fim. Segundo, os comentários de Lula sobre Israel, que foram sistematicamente explorados por lideranças evangélicas e contribuíram para afastar o presidente ainda mais desse grupo eleitoral.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta queda em sua popularidade. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: Wilton Junior

Tirando esses dois fatores, o cenário ainda é relativamente favorável para Lula. Afinal, a maior razão para a estabilidade de sua taxa de aprovação em 2023, a melhora na renda dos brasileiros, ainda continua em vigor, em grande medida. A alta dos alimentos tira um pouco de poder de compra dos eleitores, mas o reajuste do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, a queda do desemprego, e o efeito do pagamento antecipado de precatórios devem manter a renda dos brasileiros em alta ao longo do primeiro semestre deste ano.

O maior risco para Lula está no segundo semestre, precisamente quando os fatores por trás do expressivo aumento de renda perderão intensidade de forma mais clara. Ninguém prevê uma recessão, mas a sensação térmica da economia deve ficar mais morna. Espera-se, no mercado, que a queda dos juros comece a estimular investimentos, mas leva um tempo até que eles se materializem. É provável, portanto, que a popularidade de Lula, hoje ainda acima de 50% quando medida pela escala aprova/desaprova, se acomode em um patamar mais baixo, na casa dos 40%.

As demonstrações de ansiedade de Lula e dos petistas, então, são pequenas perto do que os próximos meses reservam. Se a queda de popularidade vier acompanhada de uma derrota eleitoral da esquerda em São Paulo (provável) e de uma vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a preocupação no Palácio do Planalto certamente subirá ainda mais.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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