Donald Trump voltará à Casa Branca com maioria no voto popular e um crescimento significativo em praticamente todos os grupos sociais. O apoio ao republicano cresceu inclusive entre latinos e negros nas grandes cidades, mostrando a desconexão entre a campanha democrata e as prioridades dos eleitores.
No entanto, é difícil dizer que a vitória contundente da direita tenha sido uma demonstração inequívoca de uma guinada ideológica nos EUA. O debate político muitas vezes perde de vista que, mesmo em um país polarizado, ainda há um grupo importante de eleitores “medianos” que não morre de amores por nenhum partido ou ideologia. Muitas delas desprezam política. Essas pessoas se guiam por seus valores e identidade, mas estão abertas a mudar de voto de uma eleição para outra. Isso mantém a possibilidade de alternância de poder.
O trumpismo, sob o lema “Make America Great Again”, certamente tem uma base social forte, mas só venceu a eleição porque representava a mudança em um contexto em que a população estava insatisfeita. Os americanos, especialmente os mais vulneráveis, estavam preocupados ou com raiva por terem perdido poder de compra nos últimos anos. A inflação até caiu recentemente, mas os salários ainda não voltaram ao mesmo patamar de antes da pandemia em vários estados.
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Por isso, é mais justo dizer que as dificuldades econômicas de Biden deram à direita mais uma oportunidade de tomar as rédeas. No Brasil, uma eventual alta da inflação ou aumento do desemprego podem ter o mesmo efeito de tornar a direita bolsonarista mais forte para derrotar o PT em 2026; por isso, toda a atenção de Lula deveria estar agora, de forma bem pragmática, no pacote de ajuste econômico, e em como o governo pode manter a economia aquecida sem perder o controle dos preços.
Mas é preciso que Trump tome cuidado com o que encontrará pela frente. Muitas das promessas que ele fez à sua base têm o potencial de causar estrago na economia dos EUA. Um bom exemplo é o da imigração: sem os trabalhadores estrangeiros que Trump promete deportar, é muito provável que a inflação nos EUA seja ainda mais alta, assim como os juros. E as tarifas comerciais? Como o “eleitor mediano” vai se sentir quando tiver que pagar mais caro nas suas compras de supermercado?
É claro que as promessas radicais de Trump não devem ser levadas ao pé da letra. Mas as propostas são tão agressivas que, mesmo que sejam cumpridas apenas parcialmente, já terão impacto relevante – e potencialmente negativo – sobre a economia. Esse é o ponto mais importante para entender, nos próximos anos, para onde vai a popularidade de Trump, e qual será o êxito – ou fracasso – de seu segundo mandato.