O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste domingo, em evento em São Paulo, que “somente pessoas conservadoras sofrem atentado”. “Atentados são contra pessoas de bem e conservadoras”, afirmou Bolsonaro, se referindo ao ataque ao ex-presidente americano Donald Trump, de quem é aliado.
A afirmação do ex-presidente ignora atentados contra políticos de outros espectros ideológicos. No Brasil, a vereadora Marielle Franco, do PSOL, foi assassinada com três tiros na cabeça e um no pescoço enquanto voltava de carro para sua casa, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Também desconsidera o assassinato do presidente John F. Kennedy, baleado por um homem armado com um rifle durante uma visita a Dallas, nos Estados Unidos. Kennedy está entre os quatro presidentes dos Estados Unidos mortos por atentados durante o exercício do mandato, que somam-se a um presidente e um ex-presidente feridos a tiros. Como mostrou reportagem do Estadão, Theodore Roosevelt sobreviveu a um tiro em 1912, quando estava em campanha para tentar a voltar à Casa Branca.
Bolsonaro ainda lembrou do atentado que ele próprio sofreu. “Ele [Trump] foi salvo, como eu fui. Os médicos dizem que foi um milagre eu ter sobrevivido em 2018, tendo em vista a gravidade dos ferimentos. Ele foi salvo por questão de poucos centímetros. Isso, no meu entender, é algo que vem de cima”, completou o ex-presidente. Bolsonaro não quis responder se falou com Trump após o atentado.
O ex-presidente participou neste domingo do lançamento da pré-candidatura da vereadora Sonaira Fernandes (PL) à Câmara Municipal de São Paulo. Sonaira foi secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e deixou o posto para disputar a reeleição no Legislativo paulistano, onde faz parte da bancada bolsonarista. Também estiveram presentes a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio. O ato ocorreu na sede da Igreja Renascer em Cristo, em São Paulo, e reuniu cerca de 2 mil pessoas, segundo a organização.
Após o evento, em entrevista ao Estadão, Bolsonaro também afirmou que não está “nem um pouco preocupado” com o indiciamento da Polícia Federal no caso das joias. “É só você ler a lei, decretos e portarias. Os presentes que eu recebi são meus”, sustentou o ex-mandatário.
A própria Secretaria-Geral da Presidência da República de Bolsonaro revogou, em novembro de 2021, a portaria publicada na gestão Michel Temer que definia joias, semijoias e bijuterias como itens de caráter personalíssimo. Já em 2023, o Tribunal de Contas da União (TCU) notificou a Secretaria-Geral da Presidência da República sobre a necessidade de ex-ministros de Bolsonaro devolverem relógios de luxo recebidos durante uma viagem oficial a Doha, no Catar, em 2019. Relator do processo, o ministro Antonio Anastasia afirmou que o recebimento de presentes caros extrapola os “princípios da razoabilidade e da moralidade” pública, previstos na Constituição.
Ainda na entrevista, Bolsonaro sinalizou que irá manter a pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio, mesmo após a PF encontrar um áudio de uma reunião em que Bolsonaro, Ramagem e o general Augusto Heleno (então chefe do Gabinete de Segurança Institucional) discutem um plano para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no inquérito da rachadinha. “Vou estar com ele (Ramagem) quinta, sexta e sábado”, declarou.
Michelle Bolsonaro pede orações para Trump durante discurso em igreja
Michelle foi a primeira a discursar no ato de lançamento da pré-candidatura de Sonaira Fernandes. Em tom de pregação, disse ao público que “nós fomos negligentes, como cristãos, por falar que não podia misturar religião com política e, por conta disso, o mal tomou conta”. Sem citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ex-primeira-dama afirmou aos fiéis que o “mal está governando”. Michelle pediu orações a Trump.
Ao lado de Tarcísio, Bolsonaro voltou a questionar o resultado da última eleição, apesar de dizer que é “página virada” e que não tem “obsessão pelo poder”. O ex-presidente não mencionou Trump diretamente durante o próprio discurso, mas voltou a falar sobre o atentado que ele próprio sofreu em 2018. Aliados do ex-presidente têm atribuído o atentado contra o ex-presidente americano a políticos de esquerda e comparado o episódio à facada que atingiu Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e levou à prisão de Adélio Bispo, autor do ataque. ”.
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, foi um dos que se manifestaram nas redes sociais. “Ainda há quem ache que a diferença entre direita e esquerda é só política. Saiba que se pudessem eles meteriam uma bala na cabeça de cada opositor, só precisam da oportunidade para fazê-lo”, escreveu o parlamentar no “X” (antigo Twitter).
Jair Renan (PL-SC), também filho de Bolsonaro, publicou uma montagem em seu Instagram com a foto de Bolsonaro no momento da facada e a de Trump ao ser atingido de raspão durante o comício na Pensilvânia. “E a história se repete. Se não podem vencer, tentam matar. Trump irá voltar”, disse o filho mais novo de Bolsonaro.
Bolsonaro aproveitou a oportunidade para lembrar que cumpriu um de seus compromissos de campanha com o público evangélico, que era o de colocar um integrante da igreja no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro em 2021, ocupou essa posição de ministro “terrivelmente evangélico”, como descrito pelo ex-presidente.