Em uma estratégia para tentar nacionalizar a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) aumentou a presença do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas suas redes sociais nos últimos 30 dias. Levantamento feito pelo Estadão mostra que, no último mês, Bolsonaro apareceu em oito das 45 publicações feitas pelo ex-ministro no Instagram, entre fotos, vídeos de apoio e trocas de elogios. Antes do dia 20 de julho, a participação do presidente nos posts era mais rara.
A estratégia dos pé candidatos
No Instagram, Tarcísio só perde para o ex-prefeito Fernando Haddad em número de seguidores entre os concorrentes – o petista tem 2 milhões e o ex-ministro, 1,7 milhão. O governador Rodrigo Garcia é o menos popular, com 101 mil seguidores, mas teve crescimento acelerado na última semana.
No Facebook, Tarcísio é o que mais investiu em impulsionamento de conteúdos entre os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes no último mês. Foram R$ 53,7 mil gastos em publicidade. Entre os conteúdos impulsionados está um vídeo em que Bolsonaro convida os seguidores a acompanharem um dos programas da campanha do ex-ministro. O valor ficou entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, segundo a plataforma.
“A musculatura eleitoral do Bolsonaro e do Lula é fundamental na manutenção dessa polarização”, aponta o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando. “Dos ministros do Bolsonaro, Tarcísio sempre foi entendido como mais técnico. Então ele tenta se ligar obviamente porque o bolsonarismo é forte também em São Paulo”, argumenta. Segundo o professor, o rompimento da tradição de vitória do PSDB na eleição presidencial em 2018, com a vitória de Bolsonaro no Estado, é parte deste processo.
Ao menos nas redes sociais, as aparições de Bolsonaro representam uma mudança significativa na estratégia de Tarcísio - antes de 20 de junho, Bolsonaro raramente figurava no Instagram do ex-ministro com menções à campanha. Até mesmo o carrossel de imagens que publicou sobre a Agrishow, evento em que esteve com o presidente em abril, não consta foto com o padrinho político.
Segundo Pablo Nobel, marqueteiro de Tarcísio, o ex-ministro é “muito leal” ao presidente e a participação de Bolsonaro em sua campanha é estratégica. “No último (mês) intensificou, mas desde o primeiro dia o presidente está junto com ele. Estaremos cada vez mais juntos. E não se trata de um movimento tático, mas estratégico”
A recente presença do presidente na rede social de Tarcísio coincide com a melhora do desempenho de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto em São Paulo. Amostras compiladas pelo cientista político Felipe Nunes apontam que, nos levantamentos da Genial/Quaest, o ex-presidente Lula reduziu sua vantagem sobre Bolsonaro de 14 pontos percentuais para cinco, entre março e julho deste ano.
No mesmo período, a porcentagem de eleitores que preferem um candidato “mais ligado a Bolsonaro” no Estado cresceu de 22% para 27%, enquanto nomes ligados a Lula são a preferência de 30%, 4% a menos que a pesquisa de março. Nomes que não são apadrinhados por Lula ou Bolsonaro agradam 39% dos eleitores, número que se manteve estável nas últimas amostras.
“Lindo de ver uma multidão tomar conta das ruas de São Paulo em nome da fé. É sensacional viver esse dia ao lado desse cara que tá fazendo tanto pelas pessoas. Juntos por São Paulo, juntos pelo Brasil, presidente”, publicou o ex-ministro no Instagram, em foto com Bolsonaro na Marcha para Jesus em São Paulo, em 9 de julho. “O paulista sabe: o PSDB já deu, e o PT não dá! Junto com o Presidente Bolsonaro vamos desenrolar São Paulo”, afirma em outra publicação.
Apesar de elogiar a gestão do presidente e disputar o voto conservador no Estado, Tarcísio tenta se distanciar de pautas que dialogam com a militância mais aguerrida de Bolsonaro, como o ataque às urnas eletrônicas.
“Tarcísio é muito leal ao presidente. Sempre diz que em algumas coisas pensa diferente, mas tem muitas coisas em comum”, afirmou Pablo Nobel.
A estratégia de Tarcísio é similar à do PT, que desenha uma campanha na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) estarão “colados” no ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
No caminho inverso, o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa a reeleição, adotou um discurso que rejeita os “padrinhos políticos” e ignora nas mídias sociais os presidenciáveis dos partidos que o apoiam: Luciano Bivar (União Brasil), Simone Tebet (MDB), André Janones (Avante) e Pablo Marçal (PROS). Garcia tenta trilhar um caminho sem associações nacionais e fora das grandes rejeições – ao se manter distante da polarização petismo x bolsonarismo e ao evitar a candidatura presidencial frustrada de João Doria (PSDB).