Ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL), o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer blindar as pastas ligadas ao setor em São Paulo e planeja desalojar da Secretaria de Transporte e Logística o grupo ligado ao vereador Milton Leite (UB).
Antes mesmo de iniciar o processo de transição, Tarcísio avisou que pretende indicar para comandar a secretaria um engenheiro de sua confiança e sem relação com partidos: Rafael Benini, diretor da Empresa de Planejamento e Logística. Outro nome que terá influência no setor será Arthur Lima, diretor-presidente da estatal.
Aliado histórico do PSDB paulista, que comandou o Palácio dos Bandeirantes por 28 anos, Leite é o principal dirigente do União Brasil em São Paulo e exerce forte influência no setor de transporte na capital e no Estado.
Se essas escolhas se confirmarem, o governador eleito estará “desalojando” o grupo de Milton Leite. Na política desde 1983, Leite está na Câmara Municipal ininterruptamente desde 1997, após vencer sua primeira eleição com 33 mil votos. Em 2021, foi reeleito presidente da Casa.
Um ano antes, o vereador, que tem um filho deputado estadual e outro federal, fez um acordo com o PSDB. Então candidato à reeleição na capital, o prefeito Bruno Covas decidiu entregar a vaga de vice em sua chapa ao MDB de Ricardo Nunes, e não ao União Brasil, como estava previsto anteriormente. Como compensação, Leite indicou para a presidência da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) o engenheiro Milton Persoli. O atual secretário de Transporte e Logística, João Otaviano, também foi uma indicação do vereador.
Um dos primeiros partidos a declarar apoio a Tarcísio no 2° turno, o União Brasil fez chegar ao governador eleito a mensagem de que gostaria de manter a pasta em sua área de influência. O Republicanos, partido do governador eleito, também sinalizou interesse em comandar a secretária e autarquias ligadas a ela.
”Deve haver uma releitura completa dos cargos de 1° escalão, que serão renovados. Na área de infraestrutura e transportes, os nomes serão técnicos. Tarcísio não acolheu bolsonaristas quando estava no ministério e inclusive teve problemas com o PL na época. É próximo de zero a chance de ele manter os cargos na infraestrutura em São Paulo”, disse o vice-governador eleito, Felício Ramuth (PSD).
No governo paulista, a pasta dos transportes responde pelos maiores contratos do governo em obras como o Rodoanel, duplicação da Tamoios e recuperação de vicinais, além dos acordos assinados com as concessionárias de pedágio. “Na área de transportes, a influência política muitas vezes vai contra o bom planejamento técnico e não segue linhas metodológicas. O transporte faz parte da vida das pessoas. Tarcísio, que fez isso no ministério, vai encontrar resistências em São Paulo, mas o caminho é esse”, disse o engenheiro de Transportes Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes.
Procurado, o vereador Milton Leite, que na semana passada ocupou o cargo de prefeito interino na capital, disse que o União Brasil não discutiu espaços no governo. “Caso ele convide, vamos avaliar”, afirmou.