‘Tem que quebrar tudo pro Exército entrar’; laudo enviado à CPMI mostra atuação de extremista no 8/1


Documento elaborado pela Polícia Civil do DF mostra conversas por whatsapp de golpista que invadiu o Congresso, mas expõe também erro na denúncia que o MPF fez contra ele ao Supremo Tribunal Federal; homem está preso no presídio de Brasília

Por Rubens Anater
Atualização:

“É por isso que ‘nóis tá' aqui. Pra intervenção militar... O Exército toma o poder, entendeu?”. Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “O exército vem pra gente, amor. Isso que tô falando. O exército não vai ‘vim’ contra nós. ‘Nóis tá’ fazendo intervenção militar”, acrescentou, em uma mensagem enviada no fim da tarde, enquanto ainda fazia parte da turba que invadiu o Congresso Nacional.

As mensagens de Matheus para sua mulher fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Matheus Lima enviou fotos e vídeos para sua mulher durante a invasão de 8 de janeiro. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil
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Segundo as informações da polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.

Para a polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser “bolsonarista e nacionalista” e ter participado ativamente de “movimentos” de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.

“É por isso que nóis tá aqui. Pra intervenção militar", disse o golpista em conversas no WhatsApp. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil
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Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.

Invasão

O laudo policial apresenta trechos da conversa de Matheus com sua mulher durante todo o dia 8 de janeiro e o teor golpista está presente desde a manhã. Pouco depois das 10h, ele avisa que está saindo do acampamento e seguindo para onde iriam “invadir”. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.

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 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

A partir das 14h, mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso. Mas, a partir das 15h30, a esposa, gestante, começou a dar sinais de preocupação, mencionou que estava acompanhando pela televisão e questionou os atos “aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse ela.

Matheus diz para ela não acreditar na televisão. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro exército entrar... entendeu?”.

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Trecho de conversa por whatsapp de extremista que estava em Brasília no dia 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Ele diz a mulher que aquilo nao era vandalismo, mas depois admite: " É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”. O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.

Trecho de conversa de extremista que invadiu o prédio do Congresso em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão
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É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. “É por isso que ‘nóis tá’ aqui. Pra intervenção militar... O exército toma o poder, entendeu?”, afirmou.

Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG. Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília. A última mensagem da esposa — “volta logo que estamos com saudades” — aparece sem resposta no laudo policial.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil
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Falha da denúncia

Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeio, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.

Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele “foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável”.

O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos. Procurado pelo Estadão, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir da segunda-feira, 26.

A defesa de Matheus não foi localizada.

“É por isso que ‘nóis tá' aqui. Pra intervenção militar... O Exército toma o poder, entendeu?”. Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “O exército vem pra gente, amor. Isso que tô falando. O exército não vai ‘vim’ contra nós. ‘Nóis tá’ fazendo intervenção militar”, acrescentou, em uma mensagem enviada no fim da tarde, enquanto ainda fazia parte da turba que invadiu o Congresso Nacional.

As mensagens de Matheus para sua mulher fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Matheus Lima enviou fotos e vídeos para sua mulher durante a invasão de 8 de janeiro. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Segundo as informações da polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.

Para a polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser “bolsonarista e nacionalista” e ter participado ativamente de “movimentos” de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.

“É por isso que nóis tá aqui. Pra intervenção militar", disse o golpista em conversas no WhatsApp. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.

Invasão

O laudo policial apresenta trechos da conversa de Matheus com sua mulher durante todo o dia 8 de janeiro e o teor golpista está presente desde a manhã. Pouco depois das 10h, ele avisa que está saindo do acampamento e seguindo para onde iriam “invadir”. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

A partir das 14h, mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso. Mas, a partir das 15h30, a esposa, gestante, começou a dar sinais de preocupação, mencionou que estava acompanhando pela televisão e questionou os atos “aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse ela.

Matheus diz para ela não acreditar na televisão. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro exército entrar... entendeu?”.

Trecho de conversa por whatsapp de extremista que estava em Brasília no dia 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Ele diz a mulher que aquilo nao era vandalismo, mas depois admite: " É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”. O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.

Trecho de conversa de extremista que invadiu o prédio do Congresso em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. “É por isso que ‘nóis tá’ aqui. Pra intervenção militar... O exército toma o poder, entendeu?”, afirmou.

Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG. Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília. A última mensagem da esposa — “volta logo que estamos com saudades” — aparece sem resposta no laudo policial.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Falha da denúncia

Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeio, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.

Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele “foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável”.

O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos. Procurado pelo Estadão, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir da segunda-feira, 26.

A defesa de Matheus não foi localizada.

“É por isso que ‘nóis tá' aqui. Pra intervenção militar... O Exército toma o poder, entendeu?”. Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “O exército vem pra gente, amor. Isso que tô falando. O exército não vai ‘vim’ contra nós. ‘Nóis tá’ fazendo intervenção militar”, acrescentou, em uma mensagem enviada no fim da tarde, enquanto ainda fazia parte da turba que invadiu o Congresso Nacional.

As mensagens de Matheus para sua mulher fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Matheus Lima enviou fotos e vídeos para sua mulher durante a invasão de 8 de janeiro. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Segundo as informações da polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.

Para a polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser “bolsonarista e nacionalista” e ter participado ativamente de “movimentos” de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.

“É por isso que nóis tá aqui. Pra intervenção militar", disse o golpista em conversas no WhatsApp. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.

Invasão

O laudo policial apresenta trechos da conversa de Matheus com sua mulher durante todo o dia 8 de janeiro e o teor golpista está presente desde a manhã. Pouco depois das 10h, ele avisa que está saindo do acampamento e seguindo para onde iriam “invadir”. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

A partir das 14h, mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso. Mas, a partir das 15h30, a esposa, gestante, começou a dar sinais de preocupação, mencionou que estava acompanhando pela televisão e questionou os atos “aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse ela.

Matheus diz para ela não acreditar na televisão. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro exército entrar... entendeu?”.

Trecho de conversa por whatsapp de extremista que estava em Brasília no dia 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Ele diz a mulher que aquilo nao era vandalismo, mas depois admite: " É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”. O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.

Trecho de conversa de extremista que invadiu o prédio do Congresso em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. “É por isso que ‘nóis tá’ aqui. Pra intervenção militar... O exército toma o poder, entendeu?”, afirmou.

Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG. Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília. A última mensagem da esposa — “volta logo que estamos com saudades” — aparece sem resposta no laudo policial.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Falha da denúncia

Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeio, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.

Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele “foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável”.

O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos. Procurado pelo Estadão, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir da segunda-feira, 26.

A defesa de Matheus não foi localizada.

“É por isso que ‘nóis tá' aqui. Pra intervenção militar... O Exército toma o poder, entendeu?”. Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “O exército vem pra gente, amor. Isso que tô falando. O exército não vai ‘vim’ contra nós. ‘Nóis tá’ fazendo intervenção militar”, acrescentou, em uma mensagem enviada no fim da tarde, enquanto ainda fazia parte da turba que invadiu o Congresso Nacional.

As mensagens de Matheus para sua mulher fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Matheus Lima enviou fotos e vídeos para sua mulher durante a invasão de 8 de janeiro. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Segundo as informações da polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.

Para a polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser “bolsonarista e nacionalista” e ter participado ativamente de “movimentos” de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.

“É por isso que nóis tá aqui. Pra intervenção militar", disse o golpista em conversas no WhatsApp. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.

Invasão

O laudo policial apresenta trechos da conversa de Matheus com sua mulher durante todo o dia 8 de janeiro e o teor golpista está presente desde a manhã. Pouco depois das 10h, ele avisa que está saindo do acampamento e seguindo para onde iriam “invadir”. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

A partir das 14h, mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso. Mas, a partir das 15h30, a esposa, gestante, começou a dar sinais de preocupação, mencionou que estava acompanhando pela televisão e questionou os atos “aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse ela.

Matheus diz para ela não acreditar na televisão. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro exército entrar... entendeu?”.

Trecho de conversa por whatsapp de extremista que estava em Brasília no dia 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Ele diz a mulher que aquilo nao era vandalismo, mas depois admite: " É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”. O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.

Trecho de conversa de extremista que invadiu o prédio do Congresso em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. “É por isso que ‘nóis tá’ aqui. Pra intervenção militar... O exército toma o poder, entendeu?”, afirmou.

Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG. Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília. A última mensagem da esposa — “volta logo que estamos com saudades” — aparece sem resposta no laudo policial.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Falha da denúncia

Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeio, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.

Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele “foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável”.

O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos. Procurado pelo Estadão, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir da segunda-feira, 26.

A defesa de Matheus não foi localizada.

“É por isso que ‘nóis tá' aqui. Pra intervenção militar... O Exército toma o poder, entendeu?”. Essa foi uma das últimas frases que o entregador paranaense Matheus Lima de Carvalho Lázaro, de 23 anos, disse para sua mulher grávida antes de ser preso com um canivete na noite do 8 de janeiro por participar do ataque golpista às sedes dos Três Poderes, em Brasília. “O exército vem pra gente, amor. Isso que tô falando. O exército não vai ‘vim’ contra nós. ‘Nóis tá’ fazendo intervenção militar”, acrescentou, em uma mensagem enviada no fim da tarde, enquanto ainda fazia parte da turba que invadiu o Congresso Nacional.

As mensagens de Matheus para sua mulher fazem parte de um laudo de perícia criminal da Polícia Civil do Distrito Federal disponibilizado para a CPMI dos 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas que tomaram de assalto a capital federal questionando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo intervenção militar e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Matheus Lima enviou fotos e vídeos para sua mulher durante a invasão de 8 de janeiro. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Segundo as informações da polícia, o golpista, preso nas proximidades do Palácio do Buriti com uma camisa da seleção brasileira de futebol, uma jaqueta do exército e um canivete de 16 cm, é de Apucarana, no Paraná, e nunca tinha sido preso antes. Informado sobre seu direito de permanecer em silêncio, quis dar sua própria versão dos fatos.

Para a polícia, Matheus contou que é entregador, ganha um salário mínimo, vai à igreja evangélica e gosta de jogar futebol. Também disse ser “bolsonarista e nacionalista” e ter participado ativamente de “movimentos” de oposição ao presidente eleito, como o acampamento de sessenta dias em frente ao 30º batalhão de infantaria em sua cidade natal. Foi lá que teria recebido o convite para participar da viagem a Brasília.

“É por isso que nóis tá aqui. Pra intervenção militar", disse o golpista em conversas no WhatsApp. Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Junto com outros bolsonaristas da cidade e da região, ele viajou os mais de 1.100km que dividem Apucarana e Brasília e, segundo relatou à polícia, foi levado diretamente ao acampamento em frente ao QG do exército, onde recebeu alimentação e aguardou o momento de marchar para a sede dos Três Poderes.

Invasão

O laudo policial apresenta trechos da conversa de Matheus com sua mulher durante todo o dia 8 de janeiro e o teor golpista está presente desde a manhã. Pouco depois das 10h, ele avisa que está saindo do acampamento e seguindo para onde iriam “invadir”. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

A partir das 14h, mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso. Mas, a partir das 15h30, a esposa, gestante, começou a dar sinais de preocupação, mencionou que estava acompanhando pela televisão e questionou os atos “aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse ela.

Matheus diz para ela não acreditar na televisão. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro exército entrar... entendeu?”.

Trecho de conversa por whatsapp de extremista que estava em Brasília no dia 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Ele diz a mulher que aquilo nao era vandalismo, mas depois admite: " É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”. O golpista reproduz ainda a ameaça que marcou a campanha de 2022 de que o Brasil “viraria uma Venezuela”.

Trecho de conversa de extremista que invadiu o prédio do Congresso em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

É nesse momento, pouco antes das 17h, que ele bate na tecla da intervenção militar. “É por isso que ‘nóis tá’ aqui. Pra intervenção militar... O exército toma o poder, entendeu?”, afirmou.

Depois disso, ele só volta a falar com a mulher às 19h22, depois que o movimento foi dispersado pela polícia. Diz que está retornando para o QG e faz uma ligação por vídeochamada. A prisão ocorre logo depois, perto do Palácio do Buriti, antes de o golpista chegar ao QG. Matheus, que confessou ter participado dos atos, postado vídeos em suas redes sociais, xingado o presidente eleito e clamado por intervenção militar, continua detido no presídio de Brasília. A última mensagem da esposa — “volta logo que estamos com saudades” — aparece sem resposta no laudo policial.

 Foto: Reprodução/Laudo Polícia Civil

Falha da denúncia

Os detalhes do laudo policial e de outros documentos da Polícia Civil enviados à CPMI do 8 de janeio, analisados pelo Estadão, indicam falha na denúncia do Ministério Público Federal que foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com base na acusação do MPF, o golpista e cerca de 200 outros acusados viraram réus em um dos processos que tem o ministro Alexandre de Moraes como relator.

Na denúncia, o Ministério Público descreve a conduta de Matheus como se ele tivesse sido preso na Praça dos Três Poderes. O texto do MPF aponta ainda que ele “foi preso na posse de apetrechos que demonstraram a adesão, livre e consciente, aos atos violentos e às graves ameaças executados contra a pessoa, além do emprego de substância inflamável”.

O laudo, de fato, indica que Matheus tinha um canivete, mas não possuía bombas, líquidos inflamáveis ou outros itens desse tipo. E o auto de prisão em flagrante registra que a prisão de Matheus foi em outro local, já distante dos prédios invadidos. Procurado pelo Estadão, o MPF informou que verificaria o caso e se manifestaria a partir da segunda-feira, 26.

A defesa de Matheus não foi localizada.

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