Temer rompeu com Dilma


Por João Domingos
Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Dida Sampaio|Estadão

Mesmo que o vice-presidente Michel Temer escreva outra carta de teor diferente, que vá às ruas dizer que é contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o fato é que ele rompeu com sua parceira de chapa.

Primeiro, ninguém escreve uma carta daquelas se não for para dar um basta. Segundo, não se faz uma prestação de contas daquele jeito se a intenção não for dizer adeus.

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As origens de tudo - "Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem) - estão explícitas na abertura do texto de Temer a Dilma, na qual o vice, jurista e constitucionalista, gasta o seu latim.

Na política, as palavras de fato voam, pois costumam ser ditas de um jeito e interpretadas de outro, da forma que o ouvido que a ouve quer. Os escritos não podem ser modificados a bel prazer de alguém e se tornam documentos no futuro, que é quando, a depender do andar da História, vão ser considerados corretos ou equivocados.

É preciso entender que os grandes culpados pelo rompimento de Temer são a presidente Dilma Rousseff e o PT.

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Dilma, pela desconfiança de quem diz que dorme de botas e com dinheiro no bolso, sempre preparada para fugir, e por arrogância, sempre considerando que nenhum vivente está à altura dela em inteligência e perspicácia. São características que podem ser explicadas por Freud, mas de difícil adaptação na política.

Além de Dilma, o PT tem boa parte da culpa do rompimento de Temer porque nunca viu no PMDB o parceiro político e de governo. O que o PT viu no PMDB foi a oportunidade de usar sua força no eleitorado para vencer a eleição.

Resultado proclamado, o PMDB foi devolvido pelo PT ao papel de um instrumento qualquer, descartável, fisiológico, atrasado, oportunista e tantas coisas que se ouve por aí.

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O certo é que o PT nunca dividiu nem quis dividir o poder. Porque se o PMDB é fominha por cargos, o PT é mais. É só analisar a geografia da Esplanada dos Ministérios e verificar qual partido ficou com qual pasta.

O sinal de que o PT jamais dividiria o poder com o PMDB ocorreu na segunda-feira seguinte ao segundo turno da eleição de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita. Ainda em clima de festa, os petistas se reuniram numa casa no Lago Sul, alugada para que a candidata petista morasse durante a campanha eleitoral. Nenhum peemedebista foi chamado para o encontro. Um dia depois da eleição, o partido já era o que sempre foi e o que sempre seria: descartável.

O PT nunca percebeu - ou, se percebeu, escondeu - que só chegou à Presidência da República porque se aliou com partidos de centro. Primeiro, com o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que emprestou à chapa de Lula a credibilidade do empresário José Alencar para a vice. Segundo, com o PMDB de Michel Temer, que com sua credibilidade de chefe da legenda juntou o saco de gatos do partido e o fez dar o apoio a Dilma.

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Mas, como acontecera na primeira reunião dos vencedores, na casa de Dilma, o PMDB nunca foi chamado para nada, embora Temer tenha dito várias vezes que agora, oficialmente eleito, o vice gostaria de falar das políticas de desenvolvimento, crescimento, emprego, saúde, educação. Isso era uma intromissão que o PT jamais aceitaria.

Em todas as conversas, os petistas sempre diziam: "Não vamos entregar nossa política social para o PMDB e a política econômica somos nós que fazemos". Deu no que deu. A política social está acabando e a econômica virou um caos. Os rumos do País, ah, esses são o grande mistério.

A carta de Temer e o visível rompimento vão ajudar o País a encontrar um rumo, para um lado ou para outro. Não há dúvidas de que o poderio político do documento que ele escreveu é grande.

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Seja qual for o rumo, é provável que a antecipação da crise até venha a ajudar o País. Não dá é para ficar do jeito que está, com a política corroendo a economia, os empregos desaparecendo, a inflação subindo e tudo caminhando para o precipício.

O rompimento de Temer favorece a tese do impeachment.

O vice vinha demonstrando lealdade a Dilma. Como ele mesmo disse na carta, não é porque alguém pertence a um governo que não pode participar de reuniões políticas, com empresários, com quem quer que seja.

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O círculo do poder não é limitado nem restrito a um grupinho. Uma vez eleitos, presidente e vice têm de conversar com toda a Nação, principalmente nas horas graves, como agora. Caso contrário, vira o que virou.

Constitucionalista, Temer mostrou na carta a Dilma que sabe muito bem seu papel constitucional, pautado no artigo 79 da Constituição. Mas Dilma, que pelo jeito não sabe qual é o papel do vice, exigiu lealdade dele em público, várias vezes, uma atitude boba para a hora, porque estava na cara que ajudaria a precipitar o rompimento.

Mais uma vez Dilma mostrou que é uma oficina de crises políticas. Como terminar um governo assim?

*João Domingos é coordenador do serviço Análise Política, do Broadcast Político

Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Dida Sampaio|Estadão

Mesmo que o vice-presidente Michel Temer escreva outra carta de teor diferente, que vá às ruas dizer que é contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o fato é que ele rompeu com sua parceira de chapa.

Primeiro, ninguém escreve uma carta daquelas se não for para dar um basta. Segundo, não se faz uma prestação de contas daquele jeito se a intenção não for dizer adeus.

As origens de tudo - "Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem) - estão explícitas na abertura do texto de Temer a Dilma, na qual o vice, jurista e constitucionalista, gasta o seu latim.

Na política, as palavras de fato voam, pois costumam ser ditas de um jeito e interpretadas de outro, da forma que o ouvido que a ouve quer. Os escritos não podem ser modificados a bel prazer de alguém e se tornam documentos no futuro, que é quando, a depender do andar da História, vão ser considerados corretos ou equivocados.

É preciso entender que os grandes culpados pelo rompimento de Temer são a presidente Dilma Rousseff e o PT.

Dilma, pela desconfiança de quem diz que dorme de botas e com dinheiro no bolso, sempre preparada para fugir, e por arrogância, sempre considerando que nenhum vivente está à altura dela em inteligência e perspicácia. São características que podem ser explicadas por Freud, mas de difícil adaptação na política.

Além de Dilma, o PT tem boa parte da culpa do rompimento de Temer porque nunca viu no PMDB o parceiro político e de governo. O que o PT viu no PMDB foi a oportunidade de usar sua força no eleitorado para vencer a eleição.

Resultado proclamado, o PMDB foi devolvido pelo PT ao papel de um instrumento qualquer, descartável, fisiológico, atrasado, oportunista e tantas coisas que se ouve por aí.

O certo é que o PT nunca dividiu nem quis dividir o poder. Porque se o PMDB é fominha por cargos, o PT é mais. É só analisar a geografia da Esplanada dos Ministérios e verificar qual partido ficou com qual pasta.

O sinal de que o PT jamais dividiria o poder com o PMDB ocorreu na segunda-feira seguinte ao segundo turno da eleição de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita. Ainda em clima de festa, os petistas se reuniram numa casa no Lago Sul, alugada para que a candidata petista morasse durante a campanha eleitoral. Nenhum peemedebista foi chamado para o encontro. Um dia depois da eleição, o partido já era o que sempre foi e o que sempre seria: descartável.

O PT nunca percebeu - ou, se percebeu, escondeu - que só chegou à Presidência da República porque se aliou com partidos de centro. Primeiro, com o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que emprestou à chapa de Lula a credibilidade do empresário José Alencar para a vice. Segundo, com o PMDB de Michel Temer, que com sua credibilidade de chefe da legenda juntou o saco de gatos do partido e o fez dar o apoio a Dilma.

Mas, como acontecera na primeira reunião dos vencedores, na casa de Dilma, o PMDB nunca foi chamado para nada, embora Temer tenha dito várias vezes que agora, oficialmente eleito, o vice gostaria de falar das políticas de desenvolvimento, crescimento, emprego, saúde, educação. Isso era uma intromissão que o PT jamais aceitaria.

Em todas as conversas, os petistas sempre diziam: "Não vamos entregar nossa política social para o PMDB e a política econômica somos nós que fazemos". Deu no que deu. A política social está acabando e a econômica virou um caos. Os rumos do País, ah, esses são o grande mistério.

A carta de Temer e o visível rompimento vão ajudar o País a encontrar um rumo, para um lado ou para outro. Não há dúvidas de que o poderio político do documento que ele escreveu é grande.

Seja qual for o rumo, é provável que a antecipação da crise até venha a ajudar o País. Não dá é para ficar do jeito que está, com a política corroendo a economia, os empregos desaparecendo, a inflação subindo e tudo caminhando para o precipício.

O rompimento de Temer favorece a tese do impeachment.

O vice vinha demonstrando lealdade a Dilma. Como ele mesmo disse na carta, não é porque alguém pertence a um governo que não pode participar de reuniões políticas, com empresários, com quem quer que seja.

O círculo do poder não é limitado nem restrito a um grupinho. Uma vez eleitos, presidente e vice têm de conversar com toda a Nação, principalmente nas horas graves, como agora. Caso contrário, vira o que virou.

Constitucionalista, Temer mostrou na carta a Dilma que sabe muito bem seu papel constitucional, pautado no artigo 79 da Constituição. Mas Dilma, que pelo jeito não sabe qual é o papel do vice, exigiu lealdade dele em público, várias vezes, uma atitude boba para a hora, porque estava na cara que ajudaria a precipitar o rompimento.

Mais uma vez Dilma mostrou que é uma oficina de crises políticas. Como terminar um governo assim?

*João Domingos é coordenador do serviço Análise Política, do Broadcast Político

Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Dida Sampaio|Estadão

Mesmo que o vice-presidente Michel Temer escreva outra carta de teor diferente, que vá às ruas dizer que é contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o fato é que ele rompeu com sua parceira de chapa.

Primeiro, ninguém escreve uma carta daquelas se não for para dar um basta. Segundo, não se faz uma prestação de contas daquele jeito se a intenção não for dizer adeus.

As origens de tudo - "Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem) - estão explícitas na abertura do texto de Temer a Dilma, na qual o vice, jurista e constitucionalista, gasta o seu latim.

Na política, as palavras de fato voam, pois costumam ser ditas de um jeito e interpretadas de outro, da forma que o ouvido que a ouve quer. Os escritos não podem ser modificados a bel prazer de alguém e se tornam documentos no futuro, que é quando, a depender do andar da História, vão ser considerados corretos ou equivocados.

É preciso entender que os grandes culpados pelo rompimento de Temer são a presidente Dilma Rousseff e o PT.

Dilma, pela desconfiança de quem diz que dorme de botas e com dinheiro no bolso, sempre preparada para fugir, e por arrogância, sempre considerando que nenhum vivente está à altura dela em inteligência e perspicácia. São características que podem ser explicadas por Freud, mas de difícil adaptação na política.

Além de Dilma, o PT tem boa parte da culpa do rompimento de Temer porque nunca viu no PMDB o parceiro político e de governo. O que o PT viu no PMDB foi a oportunidade de usar sua força no eleitorado para vencer a eleição.

Resultado proclamado, o PMDB foi devolvido pelo PT ao papel de um instrumento qualquer, descartável, fisiológico, atrasado, oportunista e tantas coisas que se ouve por aí.

O certo é que o PT nunca dividiu nem quis dividir o poder. Porque se o PMDB é fominha por cargos, o PT é mais. É só analisar a geografia da Esplanada dos Ministérios e verificar qual partido ficou com qual pasta.

O sinal de que o PT jamais dividiria o poder com o PMDB ocorreu na segunda-feira seguinte ao segundo turno da eleição de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita. Ainda em clima de festa, os petistas se reuniram numa casa no Lago Sul, alugada para que a candidata petista morasse durante a campanha eleitoral. Nenhum peemedebista foi chamado para o encontro. Um dia depois da eleição, o partido já era o que sempre foi e o que sempre seria: descartável.

O PT nunca percebeu - ou, se percebeu, escondeu - que só chegou à Presidência da República porque se aliou com partidos de centro. Primeiro, com o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que emprestou à chapa de Lula a credibilidade do empresário José Alencar para a vice. Segundo, com o PMDB de Michel Temer, que com sua credibilidade de chefe da legenda juntou o saco de gatos do partido e o fez dar o apoio a Dilma.

Mas, como acontecera na primeira reunião dos vencedores, na casa de Dilma, o PMDB nunca foi chamado para nada, embora Temer tenha dito várias vezes que agora, oficialmente eleito, o vice gostaria de falar das políticas de desenvolvimento, crescimento, emprego, saúde, educação. Isso era uma intromissão que o PT jamais aceitaria.

Em todas as conversas, os petistas sempre diziam: "Não vamos entregar nossa política social para o PMDB e a política econômica somos nós que fazemos". Deu no que deu. A política social está acabando e a econômica virou um caos. Os rumos do País, ah, esses são o grande mistério.

A carta de Temer e o visível rompimento vão ajudar o País a encontrar um rumo, para um lado ou para outro. Não há dúvidas de que o poderio político do documento que ele escreveu é grande.

Seja qual for o rumo, é provável que a antecipação da crise até venha a ajudar o País. Não dá é para ficar do jeito que está, com a política corroendo a economia, os empregos desaparecendo, a inflação subindo e tudo caminhando para o precipício.

O rompimento de Temer favorece a tese do impeachment.

O vice vinha demonstrando lealdade a Dilma. Como ele mesmo disse na carta, não é porque alguém pertence a um governo que não pode participar de reuniões políticas, com empresários, com quem quer que seja.

O círculo do poder não é limitado nem restrito a um grupinho. Uma vez eleitos, presidente e vice têm de conversar com toda a Nação, principalmente nas horas graves, como agora. Caso contrário, vira o que virou.

Constitucionalista, Temer mostrou na carta a Dilma que sabe muito bem seu papel constitucional, pautado no artigo 79 da Constituição. Mas Dilma, que pelo jeito não sabe qual é o papel do vice, exigiu lealdade dele em público, várias vezes, uma atitude boba para a hora, porque estava na cara que ajudaria a precipitar o rompimento.

Mais uma vez Dilma mostrou que é uma oficina de crises políticas. Como terminar um governo assim?

*João Domingos é coordenador do serviço Análise Política, do Broadcast Político

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