As críticas nas redes bolsonaristas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atingiram o ponto máximo a menos de 10 dias do segundo turno das eleições. Dados de monitoramento mostram que a pauta cresce em todas as redes, apoiada em um discurso de que a Justiça Eleitoral persegue apoiadores e a campanha do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL.
O tema foi impulsionado depois que a rádio Jovem Pan emitiu uma orientação interna para os comentaristas evitarem certos termos ao se referirem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após o TSE determinar a concessão de direitos de resposta ao candidato na grade de programação. A Corte fixou multa de R$ 25 mil para novas manifestações referentes à situação jurídica do político, ao analisar um pedido da coligação do PT que reclamava da falta de isonomia e de referências a "descondenado" e "ex-presidiário", por exemplo.
Outros usuários reclamaram da atuação do TSE em decisões que sequer existem. É o caso do pastor André Valadão, que simulou ter sido obrigado a se retratar a respeito de Lula; o próprio tribunal negou a existência da sentença. No mesmo dia, o Conselho Federal de Medicina alegou que não faria homenagens ao Dia do Médico, em 18 de outubro, antes do segundo turno, por uma suposta orientação do TSE. A alegação também foi contestada pela Corte, que não emitiu nenhum parecer a respeito.
A agência Aos Fatos identificou ainda uma onda de comentários de perfis nas redes sociais com falsos avisos de que o conteúdo teria sido "removido pelo Tribunal Superior Eleitoral". Um vídeo passou a circular fora de contexto na internet para dar a entender que a Justiça teria colocado um homem para atuar como "censor" nos estúdios da Jovem Pan; na realidade, era uma encenação da própria emissora em protesto. Bolsonaristas reclamam ainda de uma resolução aprovada pelo TSE nesta quinta-feira, 20, que amplia os poderes do colegiado para determinar a remoção de notícias falsas e acelera o prazo para que a ordem seja cumprida. Em um dos trechos mais polêmicos, o texto permite à Corte ordenar a exclusão de conteúdos já classificados como desinformação pelos ministros sem a necessidade de abertura de um novo processo.
Do lado dos opositores de Bolsonaro, a reação passou por repercutir outros assuntos, em uma tentativa de superar a pauta do TSE.
Estratégia para converter voto
Segundo o Monitor de Redes Sociais do Estadão, o Twitter teve mais de 1,07 milhão de menções diretas ao TSE entre os dias 19 e 20 de outubro. Ao longo do segundo turno, a média de posts na plataforma era de 120 mil por dia. Termos como "censura" e "Jovem Pan" entraram nos trending topics do Twitter, que lista as tags que mais ganham atenção na plataforma.
Aliados de Bolsonaro tentam converter votos de indecisos na reta final de campanha. "Você não precisa gostar de Bolsonaro, mas vote contra a censura", postou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente.
No Facebook, o número de posts sobre TSE entre os dias 19 e 20 de outubro chegou ao maior nível desde o início da campanha oficial. Foram 38,8 mil posts sobre a Justiça Eleitoral em 48h, com mais de 3,8 milhões de interações (curtidas, comentários e compartilhamentos).
Nenhuma outra data teve mais de 12 mil publicações sobre o assunto -- incluindo o dia da posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente da Corte, 17 de agosto, e o primeiro turno da eleição, em 2 de outubro.
A alta recente também se estende ao Instagram, mas nesta plataforma a maior quantidade de posts registrados em um único dia ainda é o da primeira etapa da votação: foram contabilizados 2,1 mil posts, contra 1,8 mil nesta quinta-feira, 20. Mas o recorde de interações foi batido, com 7,5 milhões curtidas e comentários em 24h.
Entre os conteúdos mais relevantes estão um comentário de Caio Coppolla e trecho de um discurso do deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) no plenário da Câmara sobre o comunicado interno da Jovem Pan. Influenciadores ainda criticam uma decisão da Justiça Eleitoral que concede direitos de resposta ao petista na propaganda eleitoral do adversário.
"Urgente! TSE acaba de destruir a campanha de Bolsonaro e deixa Lula concorrer sozinho", alega um dos materiais no título, em referência a uma decisão da Corte de conceder 164 inserções de Lula no horário de Bolsonaro e 14 entradas do presidente na campanha petista. A determinação ainda depende de análise de recurso.
Ataques também crescem no Telegram
A mobilização contra o TSE se estende a aplicativos de mensagem, onde a radicalização costuma ser mais explícita. Levantamento do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (LABHD/UFBA), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o InternetLab, encontrou 2.110 mensagens com ataques ao Tribunal Superior Eleitoral e ao ministro Alexandre de Moraes no espaço de uma semana.
Os pesquisadores monitoram 383 canais e 156 grupos públicos no Telegram. Dados apontam que a pauta ganhou força nos últimos três dias, e o tema que mais engaja na plataforma é o editorial da Jovem Pan dizendo estar sob censura promovida pelo TSE. A mensagem mais compartilhada no período é de uma reportagem da TV Record, junto a uma legenda que sugere que o tribunal atua em favor do PT.
Usuários exploram ainda a notícia falsa de que o TSE teria proibido a comemoração do Dia do Médico e uma suposta declaração atribuída ao ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello de que "homens de bem precisam reagir". Mello teve um trecho de uma fala sua utilizado em uma peça de campanha do candidato e excluído pela Justiça.