RIO - Todas as obras de grande porte realizadas no Estado do Rio de 2007 a 2014, duração os dois mandatos do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), estão sob suspeita, informou nesta sexta-feira, 18, os procuradores da República Lauro Coelho Junior e José Augusto Vagos, da força-tarefa da Lava Jato no Rio. Eles acreditam que a prática de Cabral de cobrar propina de 5% não se restringia às construtoras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez, nas quais se concentraram as investigações que culminaram na prisão dele e de outros nove colaboradores, integrantes de seu esquema, na quinta-feira, 17. Pelos menos mais quatro grandes empreiteiras, Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS, contratadas pelo Estado no período, já estão sendo investigadas.
“Infelizmente essa era a regra do jogo, era como o gestor público tratava os negócios de Estado junto com as empresas privadas. Pelo menos nas obras de infraestrutura em que houve consórcios integrados pela Carioca, a Andrade Gutierrez e outras grandes empreiteiras, existe uma suspeita muito grande de que houve pagamento de propina, diante da dinâmica e da forma de atuar do ex-governador”, afirmou Vagos. O ex-governador usou o dinheiro para sustentar uma vida de luxo. Em seu apartamento foi encontrado um terno da grife italiana de alta costura Ermenegildo Zegna avaliado em R$ 22 mil. Também implicada nas investigações, a ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo, tinha tantos vestidos de festa, comprados com dinheiro em espécie, arrumados em seu armário separados por grifes, que, segundo a força-tarefa, foram teriam sido adquiridos com dinheiro desviado do erário.
Segundo as investigações, Cabral recebeu mesada de R$ 350 mil da Andrade Gutierrez e R$ 200 mil (no primeiro mandato) e R$ 500 mil (no segundo) da Carioca. Os valores eram entregues em espécie por executivos da empresa a emissários de Cabral. Entre as obras mais rentáveis estão a reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014, a construção do Arco Rodoviário e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Favelas. Cada uma custou cerca de R$ 1 bilhão. Outra obra que teria rendido propina foi a de terraplanagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, no Grande Rio.