BRASÍLIA – O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) deve retomar nos próximos dias o julgamento do senador Sérgio Moro (União-PR), que responde a duas ações por abuso de poder econômico e caixa dois. Com a possibilidade da cassação do mandato do ex-juiz, os partidos políticos já preparam candidaturas para uma eventual eleição suplementar para o Senado.
O TRE-PR retomou as atividades nesta segunda-feira, 22, mas o caso ainda não está na pauta da Corte. Em dezembro, pouco antes do recesso do Judiciário, o Ministério Público Eleitoral (MPE) emitiu um parecer favorável à perda do mandato de Moro. As ações são encabeçadas pelo PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e pela Federação Brasil da Esperança, formada por PCdoB, PV e PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Moro é acusado de ter causado um desequilíbrio eleitoral nas eleições para senador no Paraná em 2022. No pleito, o ex-juiz da Lava Jato foi eleito com 1,9 milhões de votos (33,5% dos votos válidos), derrotando Paulo Martins (PL), candidato apoiado por Bolsonaro, e o ex-governador Alvaro Dias, que foi um de seus principais aliados no Podemos, antes de Moro migrar para o União Brasil.
A condenação de Moro provocaria uma nova eleição suplementar já que os dois suplentes também seriam punidos com a cassação. Com essa possibilidade, PT e PL se movimentam para escolher os candidatos para um eventual pleito suplementar. O União Brasil, partido do ex-juiz, e o PP também devem lançar postulantes ao cargo, caso seja confirmada a decisão desfavorável a Moro.
Disputa no PL é entre Michelle e derrotado em 2022
Cotada pelo PL, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro nunca se candidatou a cargos eletivos, mas se destacou como cabo eleitoral de Bolsonaro nas eleições de 2022 e tem proximidade com o eleitorado evangélico. Em fevereiro do ano passado, ela assumiu a liderança do PL Mulher, o braço feminino da sigla.
Em dezembro, enquanto estava em um comício do PL Mulher em Curitiba, Michelle foi recebida com um coro de “senadora” por apoiadoras. Na ocasião, a ex-primeira-dama ainda alfinetou Moro, ao afirmar que os paranaenses devem eleger alguém “realmente elegante”.
Para ser candidata no Paraná, a ex-primeira-dama precisa comprovar ter domicílio eleitoral no Estado seis meses antes da eleição. Hoje, o domicílio eleitoral dela é no Distrito Federal. Em uma entrevista para a GloboNews em dezembro, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que Michelle não tem interesse em disputar uma cadeira no Paraná. “Haveria tempo para transferir, mas ela não quer”, disse o dirigente partidário.
O PL não possui apenas Michelle como cotada a disputar o espólio de Moro. Derrotado pelo ex-juiz da Lava Jato, o jornalista Paulo Martins também já manifestou interesse em concorrer novamente para uma cadeira no Senado. Martins foi deputado federal entre 2019 e 2022 e perdeu o pleito para o ex-juiz por 250 mil votos.
Ao Estadão, o deputado federal Fernando Giacobo (PL-PR), que é o presidente do diretório paranaense, afirmou que o candidato que eventualmente vai representar o PL será escolhido por Valdemar e Bolsonaro. Segundo Giacobo, a atmosfera atual aponta que Martins será o escolhido. “Quem eles indicarem terá o nosso apoio”, respondeu o parlamentar.
Procurado pela reportagem, Paulo Martins confirmou que vai se candidatar caso haja a cassação do mandato de Moro. O ex-deputado também afirmou que é próximo do dirigente nacional do partido e do ex-presidente. “Tenho uma relação muito boa com os dois. A candidatura é natural, mas antes é preciso aguardar as decisões para que a eleição seja uma realidade”, afirmou.
O Estadão procurou Michelle Bolsonaro, mas não obteve retorno.
Gleisi, Zeca Dirceu e Requião são os nomes cotados no PT
O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) e a deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), disputam a indicação da legenda de Lula para a iminente disputa, segundo a Coluna do Estadão.
Filho do ex-ministro da Casa Civil condenado pelo escândalo do mensalão e pela Lava Jato, José Dirceu, Zeca tem 45 anos e está no quarto mandato como deputado. Nas últimas eleições, foi o 11º deputado mais votado no Paraná, com 123.033 votos.
Já Gleisi foi ministra da Casa Civil do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) entre os anos de 2011 e 2014 e já ocupou uma cadeira do Senado pelo Paraná entre 2011 e 2019. Ela está no segundo mandato como deputada federal e, nas últimas eleições, foi a segunda parlamentar mais bem votada no Estado, com 261.247 votos.
Interlocutores do diretório paranaense do PT ouvidos pelo Estadão afirmaram que a candidatura de Gleisi é apoiada pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que é paranaense, e também pelos parlamentares do Estado, que a veem como uma franca favorita para a indicação.
Dirceu, por sua vez, recebe o apoio de prefeitos e vereadores do Paraná. Ele também é cptado para a disputa da Prefeitura de Curitiba em outubro, e aliados interpretam a sua pré-candidatura ao Senado como uma forma de ele se “cacifar” para as eleições municipais.
Ao Estadão, Zeca confirmou o interesse em representar o PT na eleição suplementar e afirmou que, caso ela ocorra junto com o pleito municipal, irá preferir a disputa pelo Legislativo. “Esta é a única eleição certa e garantida (em Curitiba). Mas se tiver que optar, opto pelo Senado. Claro que a decisão não será minha, será do coletivo”, afirmou o parlamentar.
Segundo o deputado estadual Arilson Chiorato, que é o presidente do PT paranaense, outro político petista que já manifestou interesse em disputar uma eleição suplementar é o ex-governador Roberto Requião. Pelo MDB, sigla por onde ficou por quase 40 anos, Requião foi senador por 16 anos e comandou o Executivo do Estado entre 1991 e 1994 e no período de 2003 a 2010.
Requião, porém, não possui apoio no PT e, segundo a Coluna do Estadão, ele estuda migrar para o PRD, o novo partido que surgiu após a fusão do PTB e do Patriota.
Em 2022, ele tentou se candidatar ao governo do Estado, mas perdeu para Ratinho Júnior (PSD) ainda no primeiro turno. Ele terminou o pleito em segundo lugar, após receber 1.598.204 votos (26,23% dos votos válidos).
O Estadão procurou Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, mas não obteve retorno.
Ex-líder do governo Bolsonaro se ‘lançou’ candidato no meio do ano passado
Pelo PP, o candidato deve ser o deputado federal Ricardo Barros, que foi líder do governo Bolsonaro na Câmara e ministro da Saúde do governo de Michel Temer (MDB). Barros está afastado do Legislativo desde fevereiro do ano passado, após ser empossado secretário de Indústria, Comércio e Serviços do governador Ratinho Júnior
Segundo a Coluna do Estadão, nas vésperas do depoimento de Moro no TRE, Barros começou a intensificar agendas em Brasília para articular a sua candidatura. A filha do ex-ministro, Maria Victoria Barros, é a presidente do diretório estadual do PP no Estado.
Em junho de 2023, quando o tribunal paranaense ainda reunia as denúncias contra Moro, Barros se “lançou” como pré-candidato durante uma sessão da Assembleia Legislativa do Paraná. “Coloco meu nome à disposição e, havendo a eleição suplementar, nós vamos disputar a vaga no Senado Federal para representar o Paraná lá no Senado e poder trazer resultados para o Estado”, afirmou.
Ao Estadão, Barros afirmou que o PP já consolidou a candidatura dele caso Moro perca o mandato. Segundo o ex-ministro, ele está buscando o apoio de entidades municipalistas e empresariais e vai conversar com lideranças de outros partidos após o término do julgamento.
“Eu estou trabalhando no apoio da minha candidatura e tenho recebido muita adesão. Não tenho recebido nenhuma resistência por interesse em outras candidaturas. Estou indo bem e estou tranquilo.”
Esposa do ex-juiz, Rosângela Moro pode ser candidata
Há também a possibilidade do sobrenome do ex-juiz da Lava Jato competir novamente ao Senado. Segundo o jornal O Globo, a opção avaliada pelo entorno do ex-juiz é lançar a candidatura da deputada federal Rosângela Moro (União-SP), esposa do senador.
Rosângela estreou recentemente na política e foi eleita para a Câmara por São Paulo, mesmo residindo no Paraná com o marido. Assim como Michelle Bolsonaro, caso queira se candidatar em uma possível eleição suplementar, ela precisaria mudar o seu domicílio eleitoral para o Estado.
O Estadão procurou o deputado federal Felipe Francischini, presidente do União Brasil paranaense, mas não obteve retorno. Rosângela Moro, por sua vez, não quis responder.