‘Últimas 48 horas foram decisivas para eleição em São Paulo’, diz cientista político


Antonio Lavareda aponta quatro eventos-chave que decidiram o primeiro turno: impacto do laudo falso divulgado por Pablo Marçal, apoio de Jair Bolsonaro a Ricardo Nunes, e o fortalecimento de Guilherme Boulos com a comprovação da falsificação do documento, além do ato público ao lado de Lula na véspera da eleição na capital paulista

Por Hugo Henud
Atualização:
Foto: Carlos Ezequiel Vannoni/Estadão
Entrevista comAntonio Lavaredacientista político

As últimas 48 horas que antecederam as eleições para a Prefeitura de São Paulo foram decisivas para o resultado que levou Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao segundo turno, deixando Pablo Marçal (PRTB) de fora. A avaliação é do cientista político Antonio Lavareda, que aponta quatro eventos-chave para o desfecho da disputa. Um deles foi o laudo falso divulgado por Marçal na noite de sexta-feira, 4, que provocou o chamado efeito Backfire — quando uma estratégia tem o resultado oposto ao esperado. Em seguida, o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, durante uma live naquela mesma noite — fato que beneficiou o emedebista. Na sequência, Boulos se beneficiou tanto da comprovação de que o documento que o associava ao uso de drogas era forjado quanto do ato público ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no sábado, 5.

Em entrevista ao Estadão, Lavareda também avalia que, apesar da série de processos na Justiça, Marçal se consolida como uma liderança à direita. “Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou”, afirma. O cientista político ressalta ainda que o expressivo número de votos no ex-coach representa um recado claro de um eleitorado que já está desacreditado no sistema político tradicional e busca por mudança.

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Quanto à projeção para o segundo turno, Lavareda explica que Boulos terá que quebrar um tabu para ser eleito: “Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil”, resume.

Confira a seguir a íntegra da entrevista concedida ao Estadão:

Como o senhor avalia o resultado das eleições, com Boulos e Nunes no segundo turno e Marçal fora? O que foi decisivo para o candidato do PRTB não avançar?

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A trajetória de Marçal foi interrompida no final da eleição por quatro fatores: primeiro, a fake news que ele divulgou, a forma como isso ocorreu e a reação a essa notícia falsa. Houve uma resposta contundente tanto do candidato adversário quanto do sistema de justiça, incluindo o Judiciário e a Polícia Civil de São Paulo, o que gerou um efeito backfire sobre ele, agravado pela derrubada de suas redes sociais. O segundo fator foi a live do ex-presidente Bolsonaro, na mesma sexta-feira, declarando apoio mais explícito a Ricardo Nunes, o que o beneficiou. O terceiro e o quarto fatores foram o apoio a Boulos após a fake news e a caminhada ao lado de Lula na véspera da eleição, ambos positivos para Boulos. Não houve nenhum fator positivo para Marçal, apenas para Nunes e Boulos. Na reta final, isso costuma ser decisivo, especialmente em uma disputa tão acirrada como essa. Portanto, as últimas 48 horas foram decisivas para resultado da eleição em São Paulo. Então, sim, as últimas 48 horas decidiram primeiro turno da eleição em São Paulo.

Marçal se consolida como uma liderança à direita?

Ele já aproveitou a campanha em São Paulo para atrair atenção nacional e se consolidar como uma nova liderança. Mesmo sem chegar ao segundo turno, com seus 1.700.000 votos, ele já se afirmou como uma força emergente no campo da ultradireita.

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Então, Marçal ameaça a liderança de Bolsonaro?

Sim, sim. Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou. Então, ele concorre com as outras lideranças desse campo de maneira mais autônoma em relação ao ex-presidente Bolsonaro.

Na sua avaliação, qual recado esse eleitorado de Marçal quer passar para a classe política em geral?

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Esse eleitorado, obviamente, em grande parte se inclinou para Marçal porque comprou o discurso de que a candidatura de Ricardo Nunes era, entre aspas, “do sistema”. Esse é o eleitorado de direita mais raiz, ou seja, o público mais antissistema. O recado que querem passar é esse: um recado contra as instituições, contra os partidos tradicionais e contra várias instituições da democracia representativa. Vamos lembrar também que não houve um posicionamento muito explícito do ex-presidente Bolsonaro em relação a Nunes.

Pode-se dizer, então, que após o resultado do primeiro turno na capital paulista, Bolsonaro saiu “derrotado”, com Tarcísio de Freitas como o grande “vencedor”?

Sobre Bolsonaro sair derrotado, não é bem assim. Vale lembrar que ele sempre comentou que não havia sido chamado para participar da campanha de Ricardo Nunes no primeiro turno, o que parece ser verdade. Ele se pronunciou apenas no “45º minuto da partida”, e o vice-prefeito na chapa de Nunes é uma indicação sua. Portanto, não se pode afirmar que Bolsonaro saiu derrotado de São Paulo.

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Tarcísio é o grande vitorioso, porque esteve ao lado de Ricardo Nunes o tempo todo, desde o lançamento da candidatura até a comemoração da vitória no primeiro turno. Se compararmos com todos os governadores do campo da direita, ele foi o que teve o melhor desempenho.

No início da eleição, havia uma percepção de que ocorreria uma espécie de terceiro turno entre Bolsonaro e Lula, com uma polarização em nível nacional, o que não se concretizou. Como o senhor avalia a questão agora no segundo turno?

Não se concretizou. A eleição municipal foi muito fragmentada e não foi uma eleição binária como o segundo turno de 2022. Agora, no segundo turno, naturalmente as eleições vão adquirir essa feição binária, é da própria lógica do segundo turno. Mas isso [ a polarização] ocorrerá principalmente pelo perfil dos candidatos que passaram e também pelo que está em jogo nessa disputa, já ‘olhando’ 2026.

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Avaliando agora o segundo turno, como Boulos pode reverter o desempenho eleitoral que já aparece nas pesquisas em comparação com Nunes? Como o senhor projeta esse confronto? Boulos aparece bem atrás de Nunes...

Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil. Apenas em uma, em 2012, quando Haddad estava um ponto atrás de Serra, houve uma virada no segundo turno.

O que é decisivo para isso? A postura do eleitorado dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Quem define o vitorioso são esses eleitores. Isso dá vantagem a Nunes, especialmente considerando o peso do terceiro colocado [ Marçal] e seu posicionamento ideológico mais à direita, o que naturalmente favorece o atual prefeito.

Boulos também está com dificuldade de conquistar votos nas regiões periféricas. A que o senhor atribui esse fator?

A dificuldade que ele teve na periferia está relacionada, naturalmente, ao trabalho da prefeitura nessas regiões, assim como ao posicionamento de Ricardo Nunes como um prefeito da periferia, alguém que nasceu lá. Ou seja, a dificuldade de Boulos é enfrentar um incumbente que tem algum volume de obras e ações nas áreas periféricas de São Paulo. Essa é a dificuldade, e não é uma tarefa fácil.

As últimas 48 horas que antecederam as eleições para a Prefeitura de São Paulo foram decisivas para o resultado que levou Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao segundo turno, deixando Pablo Marçal (PRTB) de fora. A avaliação é do cientista político Antonio Lavareda, que aponta quatro eventos-chave para o desfecho da disputa. Um deles foi o laudo falso divulgado por Marçal na noite de sexta-feira, 4, que provocou o chamado efeito Backfire — quando uma estratégia tem o resultado oposto ao esperado. Em seguida, o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, durante uma live naquela mesma noite — fato que beneficiou o emedebista. Na sequência, Boulos se beneficiou tanto da comprovação de que o documento que o associava ao uso de drogas era forjado quanto do ato público ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no sábado, 5.

Em entrevista ao Estadão, Lavareda também avalia que, apesar da série de processos na Justiça, Marçal se consolida como uma liderança à direita. “Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou”, afirma. O cientista político ressalta ainda que o expressivo número de votos no ex-coach representa um recado claro de um eleitorado que já está desacreditado no sistema político tradicional e busca por mudança.

Quanto à projeção para o segundo turno, Lavareda explica que Boulos terá que quebrar um tabu para ser eleito: “Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil”, resume.

Confira a seguir a íntegra da entrevista concedida ao Estadão:

Como o senhor avalia o resultado das eleições, com Boulos e Nunes no segundo turno e Marçal fora? O que foi decisivo para o candidato do PRTB não avançar?

A trajetória de Marçal foi interrompida no final da eleição por quatro fatores: primeiro, a fake news que ele divulgou, a forma como isso ocorreu e a reação a essa notícia falsa. Houve uma resposta contundente tanto do candidato adversário quanto do sistema de justiça, incluindo o Judiciário e a Polícia Civil de São Paulo, o que gerou um efeito backfire sobre ele, agravado pela derrubada de suas redes sociais. O segundo fator foi a live do ex-presidente Bolsonaro, na mesma sexta-feira, declarando apoio mais explícito a Ricardo Nunes, o que o beneficiou. O terceiro e o quarto fatores foram o apoio a Boulos após a fake news e a caminhada ao lado de Lula na véspera da eleição, ambos positivos para Boulos. Não houve nenhum fator positivo para Marçal, apenas para Nunes e Boulos. Na reta final, isso costuma ser decisivo, especialmente em uma disputa tão acirrada como essa. Portanto, as últimas 48 horas foram decisivas para resultado da eleição em São Paulo. Então, sim, as últimas 48 horas decidiram primeiro turno da eleição em São Paulo.

Marçal se consolida como uma liderança à direita?

Ele já aproveitou a campanha em São Paulo para atrair atenção nacional e se consolidar como uma nova liderança. Mesmo sem chegar ao segundo turno, com seus 1.700.000 votos, ele já se afirmou como uma força emergente no campo da ultradireita.

Então, Marçal ameaça a liderança de Bolsonaro?

Sim, sim. Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou. Então, ele concorre com as outras lideranças desse campo de maneira mais autônoma em relação ao ex-presidente Bolsonaro.

Na sua avaliação, qual recado esse eleitorado de Marçal quer passar para a classe política em geral?

Esse eleitorado, obviamente, em grande parte se inclinou para Marçal porque comprou o discurso de que a candidatura de Ricardo Nunes era, entre aspas, “do sistema”. Esse é o eleitorado de direita mais raiz, ou seja, o público mais antissistema. O recado que querem passar é esse: um recado contra as instituições, contra os partidos tradicionais e contra várias instituições da democracia representativa. Vamos lembrar também que não houve um posicionamento muito explícito do ex-presidente Bolsonaro em relação a Nunes.

Pode-se dizer, então, que após o resultado do primeiro turno na capital paulista, Bolsonaro saiu “derrotado”, com Tarcísio de Freitas como o grande “vencedor”?

Sobre Bolsonaro sair derrotado, não é bem assim. Vale lembrar que ele sempre comentou que não havia sido chamado para participar da campanha de Ricardo Nunes no primeiro turno, o que parece ser verdade. Ele se pronunciou apenas no “45º minuto da partida”, e o vice-prefeito na chapa de Nunes é uma indicação sua. Portanto, não se pode afirmar que Bolsonaro saiu derrotado de São Paulo.

Tarcísio é o grande vitorioso, porque esteve ao lado de Ricardo Nunes o tempo todo, desde o lançamento da candidatura até a comemoração da vitória no primeiro turno. Se compararmos com todos os governadores do campo da direita, ele foi o que teve o melhor desempenho.

No início da eleição, havia uma percepção de que ocorreria uma espécie de terceiro turno entre Bolsonaro e Lula, com uma polarização em nível nacional, o que não se concretizou. Como o senhor avalia a questão agora no segundo turno?

Não se concretizou. A eleição municipal foi muito fragmentada e não foi uma eleição binária como o segundo turno de 2022. Agora, no segundo turno, naturalmente as eleições vão adquirir essa feição binária, é da própria lógica do segundo turno. Mas isso [ a polarização] ocorrerá principalmente pelo perfil dos candidatos que passaram e também pelo que está em jogo nessa disputa, já ‘olhando’ 2026.

Avaliando agora o segundo turno, como Boulos pode reverter o desempenho eleitoral que já aparece nas pesquisas em comparação com Nunes? Como o senhor projeta esse confronto? Boulos aparece bem atrás de Nunes...

Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil. Apenas em uma, em 2012, quando Haddad estava um ponto atrás de Serra, houve uma virada no segundo turno.

O que é decisivo para isso? A postura do eleitorado dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Quem define o vitorioso são esses eleitores. Isso dá vantagem a Nunes, especialmente considerando o peso do terceiro colocado [ Marçal] e seu posicionamento ideológico mais à direita, o que naturalmente favorece o atual prefeito.

Boulos também está com dificuldade de conquistar votos nas regiões periféricas. A que o senhor atribui esse fator?

A dificuldade que ele teve na periferia está relacionada, naturalmente, ao trabalho da prefeitura nessas regiões, assim como ao posicionamento de Ricardo Nunes como um prefeito da periferia, alguém que nasceu lá. Ou seja, a dificuldade de Boulos é enfrentar um incumbente que tem algum volume de obras e ações nas áreas periféricas de São Paulo. Essa é a dificuldade, e não é uma tarefa fácil.

As últimas 48 horas que antecederam as eleições para a Prefeitura de São Paulo foram decisivas para o resultado que levou Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao segundo turno, deixando Pablo Marçal (PRTB) de fora. A avaliação é do cientista político Antonio Lavareda, que aponta quatro eventos-chave para o desfecho da disputa. Um deles foi o laudo falso divulgado por Marçal na noite de sexta-feira, 4, que provocou o chamado efeito Backfire — quando uma estratégia tem o resultado oposto ao esperado. Em seguida, o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, durante uma live naquela mesma noite — fato que beneficiou o emedebista. Na sequência, Boulos se beneficiou tanto da comprovação de que o documento que o associava ao uso de drogas era forjado quanto do ato público ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no sábado, 5.

Em entrevista ao Estadão, Lavareda também avalia que, apesar da série de processos na Justiça, Marçal se consolida como uma liderança à direita. “Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou”, afirma. O cientista político ressalta ainda que o expressivo número de votos no ex-coach representa um recado claro de um eleitorado que já está desacreditado no sistema político tradicional e busca por mudança.

Quanto à projeção para o segundo turno, Lavareda explica que Boulos terá que quebrar um tabu para ser eleito: “Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil”, resume.

Confira a seguir a íntegra da entrevista concedida ao Estadão:

Como o senhor avalia o resultado das eleições, com Boulos e Nunes no segundo turno e Marçal fora? O que foi decisivo para o candidato do PRTB não avançar?

A trajetória de Marçal foi interrompida no final da eleição por quatro fatores: primeiro, a fake news que ele divulgou, a forma como isso ocorreu e a reação a essa notícia falsa. Houve uma resposta contundente tanto do candidato adversário quanto do sistema de justiça, incluindo o Judiciário e a Polícia Civil de São Paulo, o que gerou um efeito backfire sobre ele, agravado pela derrubada de suas redes sociais. O segundo fator foi a live do ex-presidente Bolsonaro, na mesma sexta-feira, declarando apoio mais explícito a Ricardo Nunes, o que o beneficiou. O terceiro e o quarto fatores foram o apoio a Boulos após a fake news e a caminhada ao lado de Lula na véspera da eleição, ambos positivos para Boulos. Não houve nenhum fator positivo para Marçal, apenas para Nunes e Boulos. Na reta final, isso costuma ser decisivo, especialmente em uma disputa tão acirrada como essa. Portanto, as últimas 48 horas foram decisivas para resultado da eleição em São Paulo. Então, sim, as últimas 48 horas decidiram primeiro turno da eleição em São Paulo.

Marçal se consolida como uma liderança à direita?

Ele já aproveitou a campanha em São Paulo para atrair atenção nacional e se consolidar como uma nova liderança. Mesmo sem chegar ao segundo turno, com seus 1.700.000 votos, ele já se afirmou como uma força emergente no campo da ultradireita.

Então, Marçal ameaça a liderança de Bolsonaro?

Sim, sim. Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou. Então, ele concorre com as outras lideranças desse campo de maneira mais autônoma em relação ao ex-presidente Bolsonaro.

Na sua avaliação, qual recado esse eleitorado de Marçal quer passar para a classe política em geral?

Esse eleitorado, obviamente, em grande parte se inclinou para Marçal porque comprou o discurso de que a candidatura de Ricardo Nunes era, entre aspas, “do sistema”. Esse é o eleitorado de direita mais raiz, ou seja, o público mais antissistema. O recado que querem passar é esse: um recado contra as instituições, contra os partidos tradicionais e contra várias instituições da democracia representativa. Vamos lembrar também que não houve um posicionamento muito explícito do ex-presidente Bolsonaro em relação a Nunes.

Pode-se dizer, então, que após o resultado do primeiro turno na capital paulista, Bolsonaro saiu “derrotado”, com Tarcísio de Freitas como o grande “vencedor”?

Sobre Bolsonaro sair derrotado, não é bem assim. Vale lembrar que ele sempre comentou que não havia sido chamado para participar da campanha de Ricardo Nunes no primeiro turno, o que parece ser verdade. Ele se pronunciou apenas no “45º minuto da partida”, e o vice-prefeito na chapa de Nunes é uma indicação sua. Portanto, não se pode afirmar que Bolsonaro saiu derrotado de São Paulo.

Tarcísio é o grande vitorioso, porque esteve ao lado de Ricardo Nunes o tempo todo, desde o lançamento da candidatura até a comemoração da vitória no primeiro turno. Se compararmos com todos os governadores do campo da direita, ele foi o que teve o melhor desempenho.

No início da eleição, havia uma percepção de que ocorreria uma espécie de terceiro turno entre Bolsonaro e Lula, com uma polarização em nível nacional, o que não se concretizou. Como o senhor avalia a questão agora no segundo turno?

Não se concretizou. A eleição municipal foi muito fragmentada e não foi uma eleição binária como o segundo turno de 2022. Agora, no segundo turno, naturalmente as eleições vão adquirir essa feição binária, é da própria lógica do segundo turno. Mas isso [ a polarização] ocorrerá principalmente pelo perfil dos candidatos que passaram e também pelo que está em jogo nessa disputa, já ‘olhando’ 2026.

Avaliando agora o segundo turno, como Boulos pode reverter o desempenho eleitoral que já aparece nas pesquisas em comparação com Nunes? Como o senhor projeta esse confronto? Boulos aparece bem atrás de Nunes...

Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil. Apenas em uma, em 2012, quando Haddad estava um ponto atrás de Serra, houve uma virada no segundo turno.

O que é decisivo para isso? A postura do eleitorado dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Quem define o vitorioso são esses eleitores. Isso dá vantagem a Nunes, especialmente considerando o peso do terceiro colocado [ Marçal] e seu posicionamento ideológico mais à direita, o que naturalmente favorece o atual prefeito.

Boulos também está com dificuldade de conquistar votos nas regiões periféricas. A que o senhor atribui esse fator?

A dificuldade que ele teve na periferia está relacionada, naturalmente, ao trabalho da prefeitura nessas regiões, assim como ao posicionamento de Ricardo Nunes como um prefeito da periferia, alguém que nasceu lá. Ou seja, a dificuldade de Boulos é enfrentar um incumbente que tem algum volume de obras e ações nas áreas periféricas de São Paulo. Essa é a dificuldade, e não é uma tarefa fácil.

As últimas 48 horas que antecederam as eleições para a Prefeitura de São Paulo foram decisivas para o resultado que levou Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao segundo turno, deixando Pablo Marçal (PRTB) de fora. A avaliação é do cientista político Antonio Lavareda, que aponta quatro eventos-chave para o desfecho da disputa. Um deles foi o laudo falso divulgado por Marçal na noite de sexta-feira, 4, que provocou o chamado efeito Backfire — quando uma estratégia tem o resultado oposto ao esperado. Em seguida, o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, durante uma live naquela mesma noite — fato que beneficiou o emedebista. Na sequência, Boulos se beneficiou tanto da comprovação de que o documento que o associava ao uso de drogas era forjado quanto do ato público ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no sábado, 5.

Em entrevista ao Estadão, Lavareda também avalia que, apesar da série de processos na Justiça, Marçal se consolida como uma liderança à direita. “Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou”, afirma. O cientista político ressalta ainda que o expressivo número de votos no ex-coach representa um recado claro de um eleitorado que já está desacreditado no sistema político tradicional e busca por mudança.

Quanto à projeção para o segundo turno, Lavareda explica que Boulos terá que quebrar um tabu para ser eleito: “Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil”, resume.

Confira a seguir a íntegra da entrevista concedida ao Estadão:

Como o senhor avalia o resultado das eleições, com Boulos e Nunes no segundo turno e Marçal fora? O que foi decisivo para o candidato do PRTB não avançar?

A trajetória de Marçal foi interrompida no final da eleição por quatro fatores: primeiro, a fake news que ele divulgou, a forma como isso ocorreu e a reação a essa notícia falsa. Houve uma resposta contundente tanto do candidato adversário quanto do sistema de justiça, incluindo o Judiciário e a Polícia Civil de São Paulo, o que gerou um efeito backfire sobre ele, agravado pela derrubada de suas redes sociais. O segundo fator foi a live do ex-presidente Bolsonaro, na mesma sexta-feira, declarando apoio mais explícito a Ricardo Nunes, o que o beneficiou. O terceiro e o quarto fatores foram o apoio a Boulos após a fake news e a caminhada ao lado de Lula na véspera da eleição, ambos positivos para Boulos. Não houve nenhum fator positivo para Marçal, apenas para Nunes e Boulos. Na reta final, isso costuma ser decisivo, especialmente em uma disputa tão acirrada como essa. Portanto, as últimas 48 horas foram decisivas para resultado da eleição em São Paulo. Então, sim, as últimas 48 horas decidiram primeiro turno da eleição em São Paulo.

Marçal se consolida como uma liderança à direita?

Ele já aproveitou a campanha em São Paulo para atrair atenção nacional e se consolidar como uma nova liderança. Mesmo sem chegar ao segundo turno, com seus 1.700.000 votos, ele já se afirmou como uma força emergente no campo da ultradireita.

Então, Marçal ameaça a liderança de Bolsonaro?

Sim, sim. Ele é um rebelde nesse campo que, de certa forma, se autonomizou. Então, ele concorre com as outras lideranças desse campo de maneira mais autônoma em relação ao ex-presidente Bolsonaro.

Na sua avaliação, qual recado esse eleitorado de Marçal quer passar para a classe política em geral?

Esse eleitorado, obviamente, em grande parte se inclinou para Marçal porque comprou o discurso de que a candidatura de Ricardo Nunes era, entre aspas, “do sistema”. Esse é o eleitorado de direita mais raiz, ou seja, o público mais antissistema. O recado que querem passar é esse: um recado contra as instituições, contra os partidos tradicionais e contra várias instituições da democracia representativa. Vamos lembrar também que não houve um posicionamento muito explícito do ex-presidente Bolsonaro em relação a Nunes.

Pode-se dizer, então, que após o resultado do primeiro turno na capital paulista, Bolsonaro saiu “derrotado”, com Tarcísio de Freitas como o grande “vencedor”?

Sobre Bolsonaro sair derrotado, não é bem assim. Vale lembrar que ele sempre comentou que não havia sido chamado para participar da campanha de Ricardo Nunes no primeiro turno, o que parece ser verdade. Ele se pronunciou apenas no “45º minuto da partida”, e o vice-prefeito na chapa de Nunes é uma indicação sua. Portanto, não se pode afirmar que Bolsonaro saiu derrotado de São Paulo.

Tarcísio é o grande vitorioso, porque esteve ao lado de Ricardo Nunes o tempo todo, desde o lançamento da candidatura até a comemoração da vitória no primeiro turno. Se compararmos com todos os governadores do campo da direita, ele foi o que teve o melhor desempenho.

No início da eleição, havia uma percepção de que ocorreria uma espécie de terceiro turno entre Bolsonaro e Lula, com uma polarização em nível nacional, o que não se concretizou. Como o senhor avalia a questão agora no segundo turno?

Não se concretizou. A eleição municipal foi muito fragmentada e não foi uma eleição binária como o segundo turno de 2022. Agora, no segundo turno, naturalmente as eleições vão adquirir essa feição binária, é da própria lógica do segundo turno. Mas isso [ a polarização] ocorrerá principalmente pelo perfil dos candidatos que passaram e também pelo que está em jogo nessa disputa, já ‘olhando’ 2026.

Avaliando agora o segundo turno, como Boulos pode reverter o desempenho eleitoral que já aparece nas pesquisas em comparação com Nunes? Como o senhor projeta esse confronto? Boulos aparece bem atrás de Nunes...

Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil. Apenas em uma, em 2012, quando Haddad estava um ponto atrás de Serra, houve uma virada no segundo turno.

O que é decisivo para isso? A postura do eleitorado dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Quem define o vitorioso são esses eleitores. Isso dá vantagem a Nunes, especialmente considerando o peso do terceiro colocado [ Marçal] e seu posicionamento ideológico mais à direita, o que naturalmente favorece o atual prefeito.

Boulos também está com dificuldade de conquistar votos nas regiões periféricas. A que o senhor atribui esse fator?

A dificuldade que ele teve na periferia está relacionada, naturalmente, ao trabalho da prefeitura nessas regiões, assim como ao posicionamento de Ricardo Nunes como um prefeito da periferia, alguém que nasceu lá. Ou seja, a dificuldade de Boulos é enfrentar um incumbente que tem algum volume de obras e ações nas áreas periféricas de São Paulo. Essa é a dificuldade, e não é uma tarefa fácil.

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