A escalada da agressividade entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, marcou nesta sexta-feira, 7, o primeiro dia de propaganda eleitoral e o quinto da campanha no segundo turno. Ataques das redes sociais – palco de constante tensão – chegaram à TV e ao rádio impulsionados pelo PT. Em eventos, pautas de costume deram o tom de discursos.
Em inserções, Lula veiculou um vídeo para associar o presidente ao canibalismo – a peça já estava em alta nas redes de aliados do petista. Em São Paulo, Fernando Haddad (PT) resgatou um tema delicado, o suicídio. O ex-prefeito usou trecho de uma live de Bolsonaro na qual ele ri, de forma irônica, do aumento de suicídios na pandemia e manda Tarcísio de Freitas (Republicanos) acompanhá-lo. “Tarcísio sorriu e não fez mais nada”, diz o vídeo.
O presidente, por sua vez, voltou a questionar, no horário eleitoral, os institutos de pesquisa após sondagens darem menos intenções de votos para ele do que o registrado nas urnas. Em evento no Palácio da Alvorada, chamou Lula de “pinguço” e, no Twitter, de “vagabundo”. Aos gritos, o chefe do Executivo classificou de “crime” a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, de quebrar sigilos de um assessor.
O clima bélico se justifica pela disputa acirrada ao Palácio do Planalto. No primeiro turno, Lula obteve 48,4% dos votos válidos, ante 43,2% de Bolsonaro – resultado bem acima do estimado por levantamentos de opinião pública. Pesquisas recentes mostram um cenário apertado entre o petista e o candidato à reeleição.
Na propaganda eleitoral, Lula destacou a adesão de Simone Tebet (MDB) e de Ciro Gomes (PDT), além de mirar o eleitorado evangélico, uma das principais bases eleitorais do rival. O petista lembrou que instituiu o Dia Nacional do Evangélico e o Dia Nacional da Marcha para Jesus.
O PT já gravou vídeo em que Lula ameniza o discurso sobre o aborto para dizer que é “a favor da vida”. Em declaração à imprensa, nesta sexta-feira, 7, afirmou que é contra o procedimento, mas disse que mulher tem “supremacia” sobre o próprio corpo. Nas redes, Bolsonaro usou o tema para rebater o petista.
Dos cinco minutos do primeiro programa de Lula, dois foram dedicados à pancadaria. Com o deputado federal André Janones (Avante-MG) na linha de frente de ataques nas redes, o PT passou a incorporar argumentos para chocar evangélicos. A campanha ressuscitou uma entrevista de 2016 de Bolsonaro ao jornal americano The New York Times.
“Morreu um índio e eles estão cozinhando. Eles cozinham o índio, é a cultura deles. O corpo. Para comer. Eles cozinham por dois, três dias e comem com banana. Daí eu queria ver o índio sendo ‘cozinhado’. Daí o cara: ‘Se for, tem que comer!’ Falei: ‘Eu como!’ Eu comeria o índio sem problema nenhum, é a cultura deles”, afirmou na época. Com o vídeo editado, uma locutora do PT afirma: “É monstruoso. Bolsonaro revela que comeria carne humana”.
A campanha de Bolsonaro acionou o TSE nesta sexta-feira para proibir a propaganda do PT. De acordo com a defesa, a inserção não mostra o contexto da fala. No Twitter, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, acusou Lula de “desespero e baixaria”. “Já que ‘genocida’ não colou, o presidente Bolsonaro é canibal?”, escreveu.
Nesta sexta-feira, 7, o marqueteiro de Lula, Sidônio Palmeira, participou de uma reunião com a coordenação da campanha. Internamente, no PT, se argumenta que se deve trazer a campanha “à superfície” e que a economia e suas mazelas devem voltar ao foco, e que não se deve “entrar no mesmo pântano” do bolsonarismo.
Petistas avaliam, porém, que não há nada de errado em mostrar vídeos com declarações de Bolsonaro por considerarem que não são notícias falsas, expediente comum no bolsonarismo. Quanto às fake news nas redes sobre Lula, eles ainda pensam em uma resposta única a elas, para evitar debater o mérito de acusações mais baixas como a de que petistas querem “banheiros unissex” para crianças.
Na televisão, Bolsonaro agradeceu os votos recebidos no primeiro turno e desqualificou as pesquisas. Locutores criticaram os institutos de pesquisa e a imprensa, por noticiar os resultados. “Foi perda total de credibilidade das pesquisas. Não foi margem de erro, não, foi erro com margem. Safadeza das grandes”, disse um dos locutores.
Com voz calma, o presidente disse que o Brasil está no “caminho da paz” após o resultado obtido pelo PL no Congresso. A postura de Bolsonaro no programa eleitoral contrastou com o comportamento do presidente em entrevista coletiva, no Palácio da Alvorada.
O presidente disse que Moraes está “o tempo todo usando a caneta para fazer maldade”. Aos gritos, fez referência a Lula: “Vamos colocar os militares no lugar deles. Vamos colocar pastores e padres em seus lugares. Se lugar de militar é quartel, e pastor é igreja, lugar de ladrão é na cadeia”.
No Instagram, a primeira-dama Michelle Bolsonaro também entrou na disputa pelo voto evangélico em tentativa de rebater vídeos que mostram ela e o presidente em uma loja da maçonaria. Ela divulgou um vídeo do grão-mestre da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro, José Ricardo Salgueiro de Castro, em que nega que Bolsonaro seja maçom.
O Estadão mostrou que a “guerra santa” entre os candidatos também ganhou tração nas redes sociais, com a esquerda disseminando desinformação. /Colaboraram Eduardo Gayer, Iander Porcella, Julia Affonso, Sofia Aguiar e Matheus de Souza