RIO – A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas na quinta-feira, 21, na investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A lista de indiciados contém nomes que fizeram parte do alto escalão do governo do ex-presidente, como Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (GSI), além de aliados de confiança do ex-presidente, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Filipe Martins, ex-assessor internacional.
O inquérito da Polícia Federal elencou que os investigados por conspiração atuavam em seis frentes de atuação. A investigação apelidou essas frentes como “núcleos”. Cada uma das frentes, articuladas com os demais núcleos da organização, tinha como objetivo preparar as condições para que o golpe de Estado fosse consumado.
Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
Forma de atuação: produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de Estado.
Integrantes:
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. A PF encontrou na casa dele o rascunho de um decreto para anular o resultado das eleições e instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral. A defesa do ex-ministro informou que ele só vai se posicionar após ter acesso ao relatório de indiciamento;
- Angelo Martins Denicoli, major do Exército, teria participado do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”;
- Fernando Cerimedo, empresário argentino que fez live sobre urnas eletrônicas. Trabalhou como estrategista na campanha de Javier Milei;
- Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército, suspeito de participar do plano golpista;
- Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército, que teria participado do plano golpista;
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército, também foi alvo da Operação Tempus Veritatis;
- Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor especial de Bolsonaro, considerado um dos pilares do “gabinete do ódio”;
Núcleo responsável por incitar militares à aderirem ao golpe de Estado.
Forma de atuação: escolha de alvos para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investigadas golpistas. Os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e através de influenciadores em posição de autoridade perante a “audiência” militar.
Integrantes:
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e vice na chapa de Bolsonaro na eleição de 2022;
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, blogueiro alvo da Operação Tempus Veritatis;
- Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão expulso do Exército, foi preso na investigação sobre fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro. A investigação apontou que ele trocou mensagens sobre o plano de golpe;
- Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército, acusado de integrar o núcleo que incitava outros militares a aderirem ao golpe;
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
Núcleo Jurídico
Forma de atuação: assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado.
Integrantes
- Filipe Garcia Martins, ex-assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, apontado como o responsável por entregar a Bolsonaro a minuta golpista para anular o resultado das eleições de 2022;
- Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública;
- Amauri Feres Saad, advogado apontado como autor intelectual da minuta golpista para anular o resultado das eleições de 2022;
- José Eduardo de Oliveira e Silva, padre apontado como integrante do “núcleo jurídico” do plano de golpe;
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
Núcleo operacional de apoio às ações golpistas
Forma de atuação: a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, atuavam em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.
Integrantes:
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército, também foi alvo da Operação Tempus Veritatis;
- Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército, acusado de integrar o núcleo que incitava outros militares a aderirem ao golpe;
- Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército, suspeito de participar do plano golpista;
- Rafael Martins de Oliveira, coronel do Exército, que teria monitorado Alexandre de Moraes no plano para executar o ministro;
- Cleverson Ney Magalhães, coronel e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres, teria apoiado o plano golpista;
Núcleo de inteligência paralela
Forma de atuação: coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente da República Jair Bolsonaro (PL) na consumação do golpe de Estado. Monitoramento do itinerário, deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e de possíveis outras autoridades da República com objetivo de captura e detenção quando da assinatura do decreto de golpe de Estado.
Integrantes:
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Segundo a PF, ele fazia parte de um núcleo de militares que “agiram para influenciar e incitar apoio” ao plano golpista;
- Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos.
Forma de atuação: utilizando-se da alta patente militar que detinham, os envolvidos agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado.
Integrantes:
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e vice na chapa de Bolsonaro na eleição de 2022;
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, teria colocado suas tropas à disposição para Bolsonaro dar início a um golpe de Estado após as eleições;
- Mário Fernandes, general da reserva do Exército e ex-secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência;
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general e ex-chefe do Comandante de Operações Terrestres do Exército;
- Laercio Vergilio, coronel da reserva do Exército, trocou mensagens sobre o golpe, segundo a PF;
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, enviou um relatório ao Tribunal Superior Eleitoral lançando suspeitas sem provas sobre as eleições de 2022;