BRASÍLIA – A reconstituição do passo a passo dos últimos momentos do extremista Francisco Wanderley Luiz indica uma ação premeditada por meses e um ataque a bombas que durou poucos segundos, mas que poderia ter causado danos físicos e materiais sem precedentes em Brasília.
O autor do ataque contra o Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira, 13, se hospedava em um albergue na Ceilândia, periferia do Distrito Federal, desde julho. Tinha uma conduta social acima de qualquer suspeita. Era cordial com vizinhos e descrito como alguém prestativo e simpático.
A motivação do ataque é investigada, mas nas redes sociais ele tinha publicações com ameaças a políticos e a integrantes do STF. Natural de Rio do Sul, em Santa Catarina, ele dizia que a meta era assassinar o ministro Alexandre de Moraes, segundo a ex-mulher relatou a agentes da Polícia Federal.
Nos últimos dois dias, ele ficou mais recluso e deixou de falar com as pessoas que conviviam com ele na Ceilândia. No albergue, foi visto saindo do quarto no qual se hospedava por volta das 6 horas de quarta-feira, já vestido com o casaco com o qual acabou morto.
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Segundo a investigação preliminar da Polícia Federal, tudo foi planejado. Na gaveta da casa, os agentes encontraram um artefato que explodiu no momento em que o compartimento foi aberto. Para a PF, o objetivo do extremista era matar policiais, o que não ocorreu porque um robô antibombas foi usado.
Às 8h15, ele entrou no Anexo IV da Câmara. Foi ao banheiro e logo deixou o prédio. Uma série de varreduras foram realizadas no prédio e não foram encontrados novos artefatos explosivos. O prédio concentra a maior parte dos gabinetes dos deputados federais e, ainda, um restaurante no 10º andar.
O carro de Francisco, um Kia Shuma, ficou no estacionamento ao lado do Anexo IV. O veículo estava repleto de explosivos. Embora localizada em área central para o funcionamento dos Poderes, o fluxo de pessoas e carros é livre na região.
O automóvel foi estacionado ao lado de trailers que, durante o dia, servem para comércio de alimentos variados. O próprio autor do atentado alugara um deles e frequentava a região. Ainda não há informações oficiais sobre o que Tiü França, como se apresentava, fez entre a manhã e a noite.
Do estacionamento, ele seguiu, a pé, até a Praça dos Três Poderes, onde estão o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). O trajeto não leva mais do que cinco minutos, cortando outros estacionamentos e canteiros. Há diariamente uma intensa movimentação nesse espaço, sobretudo de funcionários públicos e de empresas privadas.
Às 19h28, Francisco Luiz chegou à praça, conforme indica o videomonitoramento do STF. Uma testemunha disse que ele cumprimentou pessoas no caminho entre o estacionamento até o local. Chovia forte e ele usava um guarda-chuva.
O homem andou calmamente até a frente da estátua da Justiça. A obra de arte é um símbolo do Poder Judiciário e um ponto turístico da capital federal. Fazia somente noves meses depois desde que o STF removeu as grades de metal que afastavam visitantes da estátua e permitiu fotos ao lado da estátua.
Francisco agachou e começou a mexer em uma mochila que levava consigo. Tudo estava sendo acompanhado pela polícia do STF. Quinze segundos se passaram entre o movimento do homem na mochila e um policial do STF aparecer no enquadramento da imagem para uma primeira abordagem.
A movimentação chamou a atenção da segurança porque, àquela altura, duas explosões já tinham sido ouvidas na região do Anexo IV, conforme um policial contou em depoimento à Polícia Civil.
Francisco lançou um tecido em direção à estátua e o segurança correu em direção a ele. O autor do atentado se afastou e acendeu um artefato explosivo. Às 19h30, ele lançou o primeiro objeto em direção ao STF. Duas pessoas saíam caminhando do prédio.
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Doze segundos depois, Francisco Luiz lançou um segundo artefato. Em seguida, outros policiais saíram do prédio e correram em direção ao homem.
Dezesseis segundos depois da segunda bomba lançada, Francisco Wanderley Luiz acendeu um outro artefato e deitou no chão da Praça dos Três Poderes com a cabeça sobre ele. Ele morreu assim que o item explodiu.
O corpo só foi recolhido quase 14 horas depois porque havia material explosivo acoplado ao cinto dele e na mochila que ele carregava.