Veja trechos da transcrição de áudios de general indiciado por golpe com plano para matar Lula


Conversas mantidas por Mário Fernandes com militares tinham teor antidemocrático e ideário golpista, segundo a PF, e foram usadas como provas para indiciamento do militar apontado como articulador de plano golpista em favor de Jair Bolsonaro

Por Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA – Uma série de mensagens trocadas pelo general Mário Fernandes, número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro (PL), serviu para que a Polícia Federal demonstrasse que oficiais do Exército trabalhavam por um plano golpista com uma conspiração para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo seria manter Bolsonaro no poder, apesar da derrota dele nas urnas.

Ao analisar as conversas do general Mário Fernandes, a Polícia Federal detectou que ele interagia normalmente com civis, mas que “os principais diálogos em torno de temas antidemocráticos e/ou relacionados aos ideários golpistas” eram travados com militares.

Um dos advogados do general Mário Fernandes afirmou ao Estadão que ainda não teve acesso ao inquérito, mas que considera a prisão cautelar dele despropositada. A defesa pediu a transferência do militar do Rio de Janeiro para Brasília.

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Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, o general Mário Fernandes chegou a sumir o comando da pasta interinamente Foto: Eduardo Menezes

No dia 4 de novembro, às 14h16, ele enviou áudio para um interlocutor identificado como Hélio Coelho:

Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso. Porque o que adianta viver sem honra?

General Mario Fernandes a Hélio Coelho

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Às 19h15 do mesmo dia, ele enviou áudio ao então chefe da Secretaria-Geral, general Luiz Eduardo Ramos, comentando a live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo com dados falsos sobre o resultado das eleições no Brasil. O estrangeiro também foi indiciado.

Tá na cara que houve fraude, p... Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar esta p..., tá f... Tá f... E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa, pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, p..., talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64

General Fernandes ao general Ramos

Às 19h34, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, conhecido como Velame, enviou áudio para o general Mário Fernandes.

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Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser petit comité, pô. Tem que ser a ‘rataria’, ele e a ‘rataria’. Com o comandante do exército, mas petit comité, essa galera não pode estar aí, p..., aí tem que debater o que que vai ser feito

Coronel Velame ao general Fernandes

Nesse dia, o general também conversou com o coronel Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais, um ex-”kid preto”. Às 10h21, o coronel enviou a seguinte mensagem de áudio ao general:

Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. ‘Ah, não vou sair das quatro linhas’. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não

Coronel Criscuoli ao general Fernandes

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No dia 5 de novembro de 2022, às 18h37, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu enviou outra mensagem ao general Fernandes.

O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c... Quatro linhas da Constituição é o c... Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”

Coronel Velame ao general Fernandes

Em 8 de dezembro, às 22h56, ele enviou áudio ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, cobrando ação e citando conversa que tivera com o então presidente.

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Antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades

General Fernandes ao coronel Mario Fernandes

General da reserva, Mário Fernandes foi um dos quatro oficiais presos pela PF no último dia 19, no âmbito da operação batizada de Contragolpe. De acordo com a investigação, ele era o articulador da trama que contava com “detalhado planejamento operacional”, chamado “Punhal Verde e Amarelo”, previsto para ser executado em 15 de dezembro de 2022.

Além das conversas, a PF reuniu provas com outros dados de celulares, cruzamento de dados de antenas, registros do entra e sai em portarias de prédios oficiais e perícia em uma digital que aparecia em uma foto.

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BRASÍLIA – Uma série de mensagens trocadas pelo general Mário Fernandes, número 2 da Secretaria-Geral da Presidência do governo de Jair Bolsonaro (PL), serviu para que a Polícia Federal demonstrasse que oficiais do Exército trabalhavam por um plano golpista com uma conspiração para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo seria manter Bolsonaro no poder, apesar da derrota dele nas urnas.

Ao analisar as conversas do general Mário Fernandes, a Polícia Federal detectou que ele interagia normalmente com civis, mas que “os principais diálogos em torno de temas antidemocráticos e/ou relacionados aos ideários golpistas” eram travados com militares.

Um dos advogados do general Mário Fernandes afirmou ao Estadão que ainda não teve acesso ao inquérito, mas que considera a prisão cautelar dele despropositada. A defesa pediu a transferência do militar do Rio de Janeiro para Brasília.

Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, o general Mário Fernandes chegou a sumir o comando da pasta interinamente Foto: Eduardo Menezes

No dia 4 de novembro, às 14h16, ele enviou áudio para um interlocutor identificado como Hélio Coelho:

Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso. Porque o que adianta viver sem honra?

General Mario Fernandes a Hélio Coelho

Às 19h15 do mesmo dia, ele enviou áudio ao então chefe da Secretaria-Geral, general Luiz Eduardo Ramos, comentando a live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo com dados falsos sobre o resultado das eleições no Brasil. O estrangeiro também foi indiciado.

Tá na cara que houve fraude, p... Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar esta p..., tá f... Tá f... E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa, pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, p..., talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64

General Fernandes ao general Ramos

Às 19h34, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, conhecido como Velame, enviou áudio para o general Mário Fernandes.

Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser petit comité, pô. Tem que ser a ‘rataria’, ele e a ‘rataria’. Com o comandante do exército, mas petit comité, essa galera não pode estar aí, p..., aí tem que debater o que que vai ser feito

Coronel Velame ao general Fernandes

Nesse dia, o general também conversou com o coronel Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais, um ex-”kid preto”. Às 10h21, o coronel enviou a seguinte mensagem de áudio ao general:

Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. ‘Ah, não vou sair das quatro linhas’. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não

Coronel Criscuoli ao general Fernandes

No dia 5 de novembro de 2022, às 18h37, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu enviou outra mensagem ao general Fernandes.

O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c... Quatro linhas da Constituição é o c... Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”

Coronel Velame ao general Fernandes

Em 8 de dezembro, às 22h56, ele enviou áudio ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, cobrando ação e citando conversa que tivera com o então presidente.

Antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades

General Fernandes ao coronel Mario Fernandes

General da reserva, Mário Fernandes foi um dos quatro oficiais presos pela PF no último dia 19, no âmbito da operação batizada de Contragolpe. De acordo com a investigação, ele era o articulador da trama que contava com “detalhado planejamento operacional”, chamado “Punhal Verde e Amarelo”, previsto para ser executado em 15 de dezembro de 2022.

Além das conversas, a PF reuniu provas com outros dados de celulares, cruzamento de dados de antenas, registros do entra e sai em portarias de prédios oficiais e perícia em uma digital que aparecia em uma foto.

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Ao analisar as conversas do general Mário Fernandes, a Polícia Federal detectou que ele interagia normalmente com civis, mas que “os principais diálogos em torno de temas antidemocráticos e/ou relacionados aos ideários golpistas” eram travados com militares.

Um dos advogados do general Mário Fernandes afirmou ao Estadão que ainda não teve acesso ao inquérito, mas que considera a prisão cautelar dele despropositada. A defesa pediu a transferência do militar do Rio de Janeiro para Brasília.

Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, o general Mário Fernandes chegou a sumir o comando da pasta interinamente Foto: Eduardo Menezes

No dia 4 de novembro, às 14h16, ele enviou áudio para um interlocutor identificado como Hélio Coelho:

Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso. Porque o que adianta viver sem honra?

General Mario Fernandes a Hélio Coelho

Às 19h15 do mesmo dia, ele enviou áudio ao então chefe da Secretaria-Geral, general Luiz Eduardo Ramos, comentando a live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo com dados falsos sobre o resultado das eleições no Brasil. O estrangeiro também foi indiciado.

Tá na cara que houve fraude, p... Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar esta p..., tá f... Tá f... E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa, pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, p..., talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64

General Fernandes ao general Ramos

Às 19h34, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, conhecido como Velame, enviou áudio para o general Mário Fernandes.

Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser petit comité, pô. Tem que ser a ‘rataria’, ele e a ‘rataria’. Com o comandante do exército, mas petit comité, essa galera não pode estar aí, p..., aí tem que debater o que que vai ser feito

Coronel Velame ao general Fernandes

Nesse dia, o general também conversou com o coronel Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais, um ex-”kid preto”. Às 10h21, o coronel enviou a seguinte mensagem de áudio ao general:

Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. ‘Ah, não vou sair das quatro linhas’. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não

Coronel Criscuoli ao general Fernandes

No dia 5 de novembro de 2022, às 18h37, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu enviou outra mensagem ao general Fernandes.

O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c... Quatro linhas da Constituição é o c... Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”

Coronel Velame ao general Fernandes

Em 8 de dezembro, às 22h56, ele enviou áudio ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, cobrando ação e citando conversa que tivera com o então presidente.

Antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades

General Fernandes ao coronel Mario Fernandes

General da reserva, Mário Fernandes foi um dos quatro oficiais presos pela PF no último dia 19, no âmbito da operação batizada de Contragolpe. De acordo com a investigação, ele era o articulador da trama que contava com “detalhado planejamento operacional”, chamado “Punhal Verde e Amarelo”, previsto para ser executado em 15 de dezembro de 2022.

Além das conversas, a PF reuniu provas com outros dados de celulares, cruzamento de dados de antenas, registros do entra e sai em portarias de prédios oficiais e perícia em uma digital que aparecia em uma foto.

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