O governador de São Paulo, João Doria Jr., considera “inoportunos” os atos previstos para este domingo em todo o País. Ele falou à Coluna sobre o assunto que opôs, mais uma vez, os apoiadores do governo ao Congresso e dividiu o próprio campo conservador. Para o tucano, não é hora de “acirrar” os ânimos e “desviar o foco da pauta econômica”, duas consequências que ele enxerga como possíveis a depender da pauta que for levada às ruas no domingo.
Em vários temas, Doria tem feito um contraponto a Bolsonaro. Ao se manifestar contra os protestos, o governador demonstra preocupação com a persistência da crise econômica – que tem derrubado a arrecadação do Estado, inclusive. Coloca-se, assim, ao lado de outros aliados do presidente que criticaram o apoio aos atos, como a deputada estadual Janaina Paschoal e o presidente do PSL, Luciano Bivar.
Leia a entrevista de Doria à Coluna:
O que o senhor acha dos atos marcados para este domingo?
Minha posição é contrária à realização dessas manifestações. Respeito quem for aos atos, sobretudo se forem pacíficos, porque se trata de um direito de todos. Mas, como governador de São Paulo, entendo que não é hora de propor o acirramento dos ânimos e, sim, de pregar a responsabilidade com o País e a união de esforços para que possamos superar a grave crise econômica do Brasil.
Na sua opinião, está claro se é um ato em favor do governo ou contra a classe política e o Congresso?
Esta é mais uma razão pela qual esse ato é inoportuno. A dualidade da pauta já deveria servir para desaconselhar o apoio a essa manifestação. A hora é de paz, de entendimento nacional. As autoridades deveriam fazer um esforço nesse sentido.
A seu ver, o Congresso boicota a agenda do governo Bolsonaro?
Não vejo no âmbito do Congresso nem entre os partidos do chamado Centrão essa intenção, deliberada ou velada, de boicotar o governo. Pelo contrário: vejo uma disposição de votar as reformas. É importante que não se perca o foco. E o foco neste momento de todos deve ser a pauta econômica. E dentro dela você tem, nesse primeiro momento, a preponderância da reforma da Previdência. Depois, a reforma tributária e, no ano que vem, quem sabe, a reforma política – que é mais difícil que as outras.
TENSÃO ‘Recuo’ do Centrão mostra quebra de confiança O aparente recuo do Centrão no acordo para recriar os ministérios das Cidades e da Integração Nacional pode até animar os que conclamam as manifestações de domingo, lhes dar a impressão de que o Congresso sentiu a “pressão” e desistiu de “chantagear” o governo. Mas a desistência de algo que era fruto de acordo com o próprio Palácio do Planalto, que costurou a volta das duas pastas como forma de assegurar a aprovação da Medida Provisória 870, vai cobrar um preço mais à frente. Em primeiro lugar, porque o caminho que se estava pavimentando não era só para a MP, mas para a formação da base de votação da reforma da Previdência. O acordo também era considerado importante na afirmação de Onyx Lorenzoni, que o avalizou, como articulador político do governo. O fato de a própria base aliada ter insuflado as ruas contra uma tratativa da qual o Executivo fez parte minou a mínima confiança que começava a se estabelecer na relação entre os dois Poderes.