Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Cúpula do PT acha que Pacheco não agrega no governo e prefere acordo com Lira para ter Centrão


Nos bastidores, interlocutores do presidente também avaliam que União Brasil deveria perder espaço no primeiro escalão porque não entrega votos no Congresso

Por Vera Rosa
Atualização:

A cúpula do PT está preocupada com a desidratação do partido na reforma ministerial a ser promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigentes petistas dizem, nos bastidores, que não veem sentido em uma possível entrada do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), no primeiro escalão do governo nem em afagos a quem traiu Lula no painel de votações do Congresso. Com esse diagnóstico, acham que quem deveria perder lugar na dança das cadeiras é o União Brasil.

O argumento é de que o partido, hoje no comando de três ministérios com orçamentos vistosos (Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional), virou um “saco de gatos”: está sempre dividido e não entrega os votos correspondentes a seu tamanho na Esplanada.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, a votação do primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que integrou o pacote de ajuste fiscal escancarou o racha: 23 deputados do União Brasil foram contra as medidas apresentadas pela equipe econômica e 36, a favor. Mesmo no PT, porém, houve três votos contrários ao governo.

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Lula com Pacheco e Lira: mudanças no Congresso e dúvidas sobre como fazer novo arranjo no governo. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na avaliação de interlocutores de Lula, é preferível fazer um acordo político com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira – que dá sinais de afastamento do bolsonarismo raiz – a manter o espaço do União Brasil na segunda metade do governo. O problema é que, embora tenha diminuído o tom dos ataques, Ciro continua criticando o inquilino do Palácio do Planalto.

A largada da reforma ministerial foi dada nesta terça-feira, 14, com a posse do publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha petista de 2022, na Secretaria de Comunicação Social (Secom). Sidônio substituiu Paulo Pimenta (PT) com a difícil missão de tirar projetos da prateleira e “salvar” o governo.

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O PT administra 11 ministérios e tudo indica que passará por uma lipoaspiração. Toda a estratégia leva em conta as eleições de 2026.

Expoente do Centrão, o PP é também a sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está de saída do cargo. O partido tem o Ministério do Esporte e a presidência da Caixa, além de postos regionais.

Como mostrou o Estadão, há petistas – a exemplo do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha – que defendem o ingresso de Lira no governo. Nessa lista está também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois avaliam que Lira pode ajudar a levar parte do Centrão para a campanha de 2026, quando Lula pretende concorrer a novo mandato.

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Uma ala da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, diz agora que o presidente da Câmara tem perfil para chefiar a Agricultura, hoje nas mãos de Carlos Fávaro (PSD), alvo de reclamações da bancada de seu próprio partido.

O objeto do desejo do grupo de Lira é o Ministério da Saúde, mas essa pasta dificilmente sairá da órbita do petismo, mesmo que Nísia Trindade, a atual titular, seja substituída.

As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro. Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil).

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A possibilidade de Pacheco integrar a equipe de Lula, no entanto, não agrada ao PT, nem mesmo se ele mudar para o MDB. Pacheco já foi das fileiras emedebistas e, antes do recesso parlamentar, vinha conversando sobre eventual migração para o partido.

Dirigentes do PT observam, em conversas reservadas, que não veem Pacheco como alguém capaz de fortalecer a articulação do governo com o Congresso em um ambiente marcado por sucessivas crises.

O relacionamento azedou de vez, no fim do ano passado, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino bloqueou parte das emendas parlamentares.

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Lula quer que Pacheco seja candidato ao governo de Minas Gerais, em 2026, e dê palanque para o PT. É com essa perspectiva que ele precisaria ficar sob os holofotes após deixar o comando do Senado. Pacheco, porém, resiste à ideia de disputar o Edifício Tiradentes.

Apesar da bolsa de apostas, o presidente ainda não decidiu o desenho da reforma ministerial. Sabe-se, contudo, que a mudança será bem menor do que o Centrão espera.

Sidônio e Lula: parceria desde a campanha eleitoral de 2022. Foto: Ricardo Stuckert / PR
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Se não precisasse mexer no time para fazer novos arranjos políticos, Lula não gostaria nem mesmo de promover mais trocas. O ideal, para ele, é que quem entrasse na equipe agora fosse como Sidônio Palmeira e não tivesse pretensão de disputar as próximas eleições.

Mas a realidade se impõe e no ano que vem haverá uma debandada: dos 38 ministros, aproximadamente 20 (52,6%) são pré-candidatos a cargos eletivos – de governador a senador, passando por deputado federal. Com isso, pela Lei Eleitoral, terão de deixar a equipe em abril de 2026.

Ao tomar posse nesta terça-feira, Sidônio se referiu a um “faroeste digital” nos dias de hoje, que pavimenta a cultura do ódio nas redes sociais. “Para fazer frente a esse movimento macabro, não basta apenas chamar um marqueteiro”, avisou.

Ele tem razão. Na prática, de nada adianta levar a comunicação para o divã se o governo não tiver um rumo. E, ainda, se não deixar de bater cabeça na Praça dos Três Poderes.

A cúpula do PT está preocupada com a desidratação do partido na reforma ministerial a ser promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigentes petistas dizem, nos bastidores, que não veem sentido em uma possível entrada do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), no primeiro escalão do governo nem em afagos a quem traiu Lula no painel de votações do Congresso. Com esse diagnóstico, acham que quem deveria perder lugar na dança das cadeiras é o União Brasil.

O argumento é de que o partido, hoje no comando de três ministérios com orçamentos vistosos (Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional), virou um “saco de gatos”: está sempre dividido e não entrega os votos correspondentes a seu tamanho na Esplanada.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, a votação do primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que integrou o pacote de ajuste fiscal escancarou o racha: 23 deputados do União Brasil foram contra as medidas apresentadas pela equipe econômica e 36, a favor. Mesmo no PT, porém, houve três votos contrários ao governo.

Lula com Pacheco e Lira: mudanças no Congresso e dúvidas sobre como fazer novo arranjo no governo. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na avaliação de interlocutores de Lula, é preferível fazer um acordo político com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira – que dá sinais de afastamento do bolsonarismo raiz – a manter o espaço do União Brasil na segunda metade do governo. O problema é que, embora tenha diminuído o tom dos ataques, Ciro continua criticando o inquilino do Palácio do Planalto.

A largada da reforma ministerial foi dada nesta terça-feira, 14, com a posse do publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha petista de 2022, na Secretaria de Comunicação Social (Secom). Sidônio substituiu Paulo Pimenta (PT) com a difícil missão de tirar projetos da prateleira e “salvar” o governo.

O PT administra 11 ministérios e tudo indica que passará por uma lipoaspiração. Toda a estratégia leva em conta as eleições de 2026.

Expoente do Centrão, o PP é também a sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está de saída do cargo. O partido tem o Ministério do Esporte e a presidência da Caixa, além de postos regionais.

Como mostrou o Estadão, há petistas – a exemplo do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha – que defendem o ingresso de Lira no governo. Nessa lista está também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois avaliam que Lira pode ajudar a levar parte do Centrão para a campanha de 2026, quando Lula pretende concorrer a novo mandato.

Uma ala da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, diz agora que o presidente da Câmara tem perfil para chefiar a Agricultura, hoje nas mãos de Carlos Fávaro (PSD), alvo de reclamações da bancada de seu próprio partido.

O objeto do desejo do grupo de Lira é o Ministério da Saúde, mas essa pasta dificilmente sairá da órbita do petismo, mesmo que Nísia Trindade, a atual titular, seja substituída.

As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro. Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil).

A possibilidade de Pacheco integrar a equipe de Lula, no entanto, não agrada ao PT, nem mesmo se ele mudar para o MDB. Pacheco já foi das fileiras emedebistas e, antes do recesso parlamentar, vinha conversando sobre eventual migração para o partido.

Dirigentes do PT observam, em conversas reservadas, que não veem Pacheco como alguém capaz de fortalecer a articulação do governo com o Congresso em um ambiente marcado por sucessivas crises.

O relacionamento azedou de vez, no fim do ano passado, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino bloqueou parte das emendas parlamentares.

Lula quer que Pacheco seja candidato ao governo de Minas Gerais, em 2026, e dê palanque para o PT. É com essa perspectiva que ele precisaria ficar sob os holofotes após deixar o comando do Senado. Pacheco, porém, resiste à ideia de disputar o Edifício Tiradentes.

Apesar da bolsa de apostas, o presidente ainda não decidiu o desenho da reforma ministerial. Sabe-se, contudo, que a mudança será bem menor do que o Centrão espera.

Sidônio e Lula: parceria desde a campanha eleitoral de 2022. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Se não precisasse mexer no time para fazer novos arranjos políticos, Lula não gostaria nem mesmo de promover mais trocas. O ideal, para ele, é que quem entrasse na equipe agora fosse como Sidônio Palmeira e não tivesse pretensão de disputar as próximas eleições.

Mas a realidade se impõe e no ano que vem haverá uma debandada: dos 38 ministros, aproximadamente 20 (52,6%) são pré-candidatos a cargos eletivos – de governador a senador, passando por deputado federal. Com isso, pela Lei Eleitoral, terão de deixar a equipe em abril de 2026.

Ao tomar posse nesta terça-feira, Sidônio se referiu a um “faroeste digital” nos dias de hoje, que pavimenta a cultura do ódio nas redes sociais. “Para fazer frente a esse movimento macabro, não basta apenas chamar um marqueteiro”, avisou.

Ele tem razão. Na prática, de nada adianta levar a comunicação para o divã se o governo não tiver um rumo. E, ainda, se não deixar de bater cabeça na Praça dos Três Poderes.

A cúpula do PT está preocupada com a desidratação do partido na reforma ministerial a ser promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigentes petistas dizem, nos bastidores, que não veem sentido em uma possível entrada do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), no primeiro escalão do governo nem em afagos a quem traiu Lula no painel de votações do Congresso. Com esse diagnóstico, acham que quem deveria perder lugar na dança das cadeiras é o União Brasil.

O argumento é de que o partido, hoje no comando de três ministérios com orçamentos vistosos (Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional), virou um “saco de gatos”: está sempre dividido e não entrega os votos correspondentes a seu tamanho na Esplanada.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, a votação do primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que integrou o pacote de ajuste fiscal escancarou o racha: 23 deputados do União Brasil foram contra as medidas apresentadas pela equipe econômica e 36, a favor. Mesmo no PT, porém, houve três votos contrários ao governo.

Lula com Pacheco e Lira: mudanças no Congresso e dúvidas sobre como fazer novo arranjo no governo. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na avaliação de interlocutores de Lula, é preferível fazer um acordo político com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira – que dá sinais de afastamento do bolsonarismo raiz – a manter o espaço do União Brasil na segunda metade do governo. O problema é que, embora tenha diminuído o tom dos ataques, Ciro continua criticando o inquilino do Palácio do Planalto.

A largada da reforma ministerial foi dada nesta terça-feira, 14, com a posse do publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha petista de 2022, na Secretaria de Comunicação Social (Secom). Sidônio substituiu Paulo Pimenta (PT) com a difícil missão de tirar projetos da prateleira e “salvar” o governo.

O PT administra 11 ministérios e tudo indica que passará por uma lipoaspiração. Toda a estratégia leva em conta as eleições de 2026.

Expoente do Centrão, o PP é também a sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está de saída do cargo. O partido tem o Ministério do Esporte e a presidência da Caixa, além de postos regionais.

Como mostrou o Estadão, há petistas – a exemplo do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha – que defendem o ingresso de Lira no governo. Nessa lista está também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois avaliam que Lira pode ajudar a levar parte do Centrão para a campanha de 2026, quando Lula pretende concorrer a novo mandato.

Uma ala da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, diz agora que o presidente da Câmara tem perfil para chefiar a Agricultura, hoje nas mãos de Carlos Fávaro (PSD), alvo de reclamações da bancada de seu próprio partido.

O objeto do desejo do grupo de Lira é o Ministério da Saúde, mas essa pasta dificilmente sairá da órbita do petismo, mesmo que Nísia Trindade, a atual titular, seja substituída.

As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro. Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil).

A possibilidade de Pacheco integrar a equipe de Lula, no entanto, não agrada ao PT, nem mesmo se ele mudar para o MDB. Pacheco já foi das fileiras emedebistas e, antes do recesso parlamentar, vinha conversando sobre eventual migração para o partido.

Dirigentes do PT observam, em conversas reservadas, que não veem Pacheco como alguém capaz de fortalecer a articulação do governo com o Congresso em um ambiente marcado por sucessivas crises.

O relacionamento azedou de vez, no fim do ano passado, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino bloqueou parte das emendas parlamentares.

Lula quer que Pacheco seja candidato ao governo de Minas Gerais, em 2026, e dê palanque para o PT. É com essa perspectiva que ele precisaria ficar sob os holofotes após deixar o comando do Senado. Pacheco, porém, resiste à ideia de disputar o Edifício Tiradentes.

Apesar da bolsa de apostas, o presidente ainda não decidiu o desenho da reforma ministerial. Sabe-se, contudo, que a mudança será bem menor do que o Centrão espera.

Sidônio e Lula: parceria desde a campanha eleitoral de 2022. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Se não precisasse mexer no time para fazer novos arranjos políticos, Lula não gostaria nem mesmo de promover mais trocas. O ideal, para ele, é que quem entrasse na equipe agora fosse como Sidônio Palmeira e não tivesse pretensão de disputar as próximas eleições.

Mas a realidade se impõe e no ano que vem haverá uma debandada: dos 38 ministros, aproximadamente 20 (52,6%) são pré-candidatos a cargos eletivos – de governador a senador, passando por deputado federal. Com isso, pela Lei Eleitoral, terão de deixar a equipe em abril de 2026.

Ao tomar posse nesta terça-feira, Sidônio se referiu a um “faroeste digital” nos dias de hoje, que pavimenta a cultura do ódio nas redes sociais. “Para fazer frente a esse movimento macabro, não basta apenas chamar um marqueteiro”, avisou.

Ele tem razão. Na prática, de nada adianta levar a comunicação para o divã se o governo não tiver um rumo. E, ainda, se não deixar de bater cabeça na Praça dos Três Poderes.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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