Os bastidores do Planalto e do Congresso

Depois de assumir ministério no governo Lula, PP quer impedir união com PT nas eleições de 2024


Ciro Nogueira diz que quem for aliado de petista não vai receber recursos do Fundo Eleitoral para campanha e Gleisi reage: ‘Já que é tão valente, deveria proibir PP de estar na base do governo’

Por Vera Rosa
Atualização:

Dois meses depois de entrar no governo, o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, vai deserdar candidatos do partido que se unirem ao PT nas eleições municipais de 2024. “Quem for aliado de petista não vai receber recursos do PP”, afirmou o presidente do partido, senador Ciro Nogueira, numa referência à distribuição do Fundo Eleitoral.

Em troca de votos na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao PP o Ministério do Esporte. Homem da confiança de Lira, o deputado André Fufuca assumiu a pasta em setembro, no lugar de Ana Moser. Pressionado, Lula também tirou Rita Serrano da presidência da Caixa para dar a cadeira a Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira. Além disso, tem sido cobrado a cumprir um acordo para alojar o PP e outros partidos do Centrão em vice-presidências da Caixa.

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“Essa aliança com o PT não resiste às eleições do próximo ano”, disse Ciro, que foi ministro da Casa Civil na gestão de governo de Jair Bolsonaro. Na avaliação do senador, o governo está “perdido” e a economia caminha para o abismo. “Por que você acha que o governo não quer votar o Orçamento?”, perguntou Ciro. Ele mesmo respondeu: “Para não mostrar o rombo.”

Apesar dos ataques, Ciro já foi apoiador de Lula e se dá bem com petistas. Tanto que esteve nesta terça-feira, 21, no lançamento do livro Uma Cidade na Luta pela Vida, escrito pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT).

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, autografa livro para o senador Ciro Nogueira, presidente do PP. Foto: Eduardo Gayer/Estadão
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Se o Congresso aceitar o acordo que aumenta o Fundo Eleitoral para R$ 4,96 bilhões, o PP poderá ficar com R$ 456,3 milhões para distribuir entre seus candidatos nas eleições de 2024. Ciro avisou, no entanto, que o dinheiro não irá para quem apoiar o PT. A punição aos aliados de Lula nos municípios será por asfixia financeira.

“Então, já que é tão valente, ele também deveria proibir o PP de estar na base do governo Lula”, disse à Coluna a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A deputada observou que acordos entre o PT e o PP podem, sim, ocorrer nas eleições para as prefeituras. “No Nordeste é possível que haja alinhamentos desse tipo por causa da situação política na região e do apoio ao presidente Lula”, destacou.

Em agosto, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução que permite coligações até mesmo com o PL de Bolsonaro. “As eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do governo Lula em 2026″, diz o texto.

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“Desde que o candidato esteja conosco em 2026, não vamos proibir nada”, afirmou o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Além do mais, o governo está cheio de bolsonarista. Tem ministro que votou em Bolsonaro, tem gente que apoiou o impeachment da presidente Dilma...”

Lindbergh chama manutenção do déficit zero de ‘irresponsabilidade’

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Na prática, toda a estratégia do PT vem sendo montada, desde já, para reeleger Lula. É por isso que a decisão do governo de manter a meta fiscal de zerar o déficit em 2024, como propôs o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, causou insatisfação no partido.

“Se a economia desacelerar, pode nos amarrar muito. Aí só nos restará uma coisa: rezar”, disse o deputado Lindbergh Farias, vice-líder do governo na Câmara.

Em outubro, Lula admitiu, durante café da manhã com jornalistas, que o déficit zero “dificilmente” seria atingido. À vontade na conversa, o presidente avisou que não aceitaria cortar investimentos e obras em 2024. Não foi só: afirmou que não haveria problema em um rombo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Haddad, porém, o convenceu a manter a meta de déficit zero, sob o argumento de que recuar agora daria um sinal de fracasso à vista e prejudicaria a aprovação de projetos no Congresso para aumentar a arrecadação federal.

“É uma irresponsabilidade insistir nesse déficit zero”, reagiu Lindbergh. “Fico impressionado com a má condução política que o Planalto dá a essa questão.”

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Para o deputado, a manutenção dessa meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) significa contratar uma crise para março de 2024, quando a cobrança da fatura política ficará ainda mais alta por parte do Centrão.

“Déficit zero é contingenciar R$ 53 bilhões do Orçamento”, insistiu ele. “É pior do que o teto de gastos do governo Temer porque não estará corrigindo nem a inflação do período”.

Haddad não quis responder para evitar nova polêmica. O ministro havia perdido a primeira batalha para o titular da Casa Civil, Rui Costa – que até hoje considera “irreal” zerar o déficit nas contas públicas –, mas acabou vencendo a disputa, ao menos por enquanto.

Mesmo assim, Lindbergh disse que vai “lutar” para convencer o governo a mexer na meta de resultado primário zero ainda na votação da LDO. “O governo Lula tem que dar certo”, justificou. Detalhe: a crítica, nesse caso, não é feita pela oposição, mas, sim, por um vice-líder do governo.

Dois meses depois de entrar no governo, o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, vai deserdar candidatos do partido que se unirem ao PT nas eleições municipais de 2024. “Quem for aliado de petista não vai receber recursos do PP”, afirmou o presidente do partido, senador Ciro Nogueira, numa referência à distribuição do Fundo Eleitoral.

Em troca de votos na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao PP o Ministério do Esporte. Homem da confiança de Lira, o deputado André Fufuca assumiu a pasta em setembro, no lugar de Ana Moser. Pressionado, Lula também tirou Rita Serrano da presidência da Caixa para dar a cadeira a Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira. Além disso, tem sido cobrado a cumprir um acordo para alojar o PP e outros partidos do Centrão em vice-presidências da Caixa.

“Essa aliança com o PT não resiste às eleições do próximo ano”, disse Ciro, que foi ministro da Casa Civil na gestão de governo de Jair Bolsonaro. Na avaliação do senador, o governo está “perdido” e a economia caminha para o abismo. “Por que você acha que o governo não quer votar o Orçamento?”, perguntou Ciro. Ele mesmo respondeu: “Para não mostrar o rombo.”

Apesar dos ataques, Ciro já foi apoiador de Lula e se dá bem com petistas. Tanto que esteve nesta terça-feira, 21, no lançamento do livro Uma Cidade na Luta pela Vida, escrito pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT).

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, autografa livro para o senador Ciro Nogueira, presidente do PP. Foto: Eduardo Gayer/Estadão

Se o Congresso aceitar o acordo que aumenta o Fundo Eleitoral para R$ 4,96 bilhões, o PP poderá ficar com R$ 456,3 milhões para distribuir entre seus candidatos nas eleições de 2024. Ciro avisou, no entanto, que o dinheiro não irá para quem apoiar o PT. A punição aos aliados de Lula nos municípios será por asfixia financeira.

“Então, já que é tão valente, ele também deveria proibir o PP de estar na base do governo Lula”, disse à Coluna a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A deputada observou que acordos entre o PT e o PP podem, sim, ocorrer nas eleições para as prefeituras. “No Nordeste é possível que haja alinhamentos desse tipo por causa da situação política na região e do apoio ao presidente Lula”, destacou.

Em agosto, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução que permite coligações até mesmo com o PL de Bolsonaro. “As eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do governo Lula em 2026″, diz o texto.

“Desde que o candidato esteja conosco em 2026, não vamos proibir nada”, afirmou o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Além do mais, o governo está cheio de bolsonarista. Tem ministro que votou em Bolsonaro, tem gente que apoiou o impeachment da presidente Dilma...”

Lindbergh chama manutenção do déficit zero de ‘irresponsabilidade’

Na prática, toda a estratégia do PT vem sendo montada, desde já, para reeleger Lula. É por isso que a decisão do governo de manter a meta fiscal de zerar o déficit em 2024, como propôs o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, causou insatisfação no partido.

“Se a economia desacelerar, pode nos amarrar muito. Aí só nos restará uma coisa: rezar”, disse o deputado Lindbergh Farias, vice-líder do governo na Câmara.

Em outubro, Lula admitiu, durante café da manhã com jornalistas, que o déficit zero “dificilmente” seria atingido. À vontade na conversa, o presidente avisou que não aceitaria cortar investimentos e obras em 2024. Não foi só: afirmou que não haveria problema em um rombo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Haddad, porém, o convenceu a manter a meta de déficit zero, sob o argumento de que recuar agora daria um sinal de fracasso à vista e prejudicaria a aprovação de projetos no Congresso para aumentar a arrecadação federal.

“É uma irresponsabilidade insistir nesse déficit zero”, reagiu Lindbergh. “Fico impressionado com a má condução política que o Planalto dá a essa questão.”

Para o deputado, a manutenção dessa meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) significa contratar uma crise para março de 2024, quando a cobrança da fatura política ficará ainda mais alta por parte do Centrão.

“Déficit zero é contingenciar R$ 53 bilhões do Orçamento”, insistiu ele. “É pior do que o teto de gastos do governo Temer porque não estará corrigindo nem a inflação do período”.

Haddad não quis responder para evitar nova polêmica. O ministro havia perdido a primeira batalha para o titular da Casa Civil, Rui Costa – que até hoje considera “irreal” zerar o déficit nas contas públicas –, mas acabou vencendo a disputa, ao menos por enquanto.

Mesmo assim, Lindbergh disse que vai “lutar” para convencer o governo a mexer na meta de resultado primário zero ainda na votação da LDO. “O governo Lula tem que dar certo”, justificou. Detalhe: a crítica, nesse caso, não é feita pela oposição, mas, sim, por um vice-líder do governo.

Dois meses depois de entrar no governo, o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, vai deserdar candidatos do partido que se unirem ao PT nas eleições municipais de 2024. “Quem for aliado de petista não vai receber recursos do PP”, afirmou o presidente do partido, senador Ciro Nogueira, numa referência à distribuição do Fundo Eleitoral.

Em troca de votos na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao PP o Ministério do Esporte. Homem da confiança de Lira, o deputado André Fufuca assumiu a pasta em setembro, no lugar de Ana Moser. Pressionado, Lula também tirou Rita Serrano da presidência da Caixa para dar a cadeira a Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado por Lira. Além disso, tem sido cobrado a cumprir um acordo para alojar o PP e outros partidos do Centrão em vice-presidências da Caixa.

“Essa aliança com o PT não resiste às eleições do próximo ano”, disse Ciro, que foi ministro da Casa Civil na gestão de governo de Jair Bolsonaro. Na avaliação do senador, o governo está “perdido” e a economia caminha para o abismo. “Por que você acha que o governo não quer votar o Orçamento?”, perguntou Ciro. Ele mesmo respondeu: “Para não mostrar o rombo.”

Apesar dos ataques, Ciro já foi apoiador de Lula e se dá bem com petistas. Tanto que esteve nesta terça-feira, 21, no lançamento do livro Uma Cidade na Luta pela Vida, escrito pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT).

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, autografa livro para o senador Ciro Nogueira, presidente do PP. Foto: Eduardo Gayer/Estadão

Se o Congresso aceitar o acordo que aumenta o Fundo Eleitoral para R$ 4,96 bilhões, o PP poderá ficar com R$ 456,3 milhões para distribuir entre seus candidatos nas eleições de 2024. Ciro avisou, no entanto, que o dinheiro não irá para quem apoiar o PT. A punição aos aliados de Lula nos municípios será por asfixia financeira.

“Então, já que é tão valente, ele também deveria proibir o PP de estar na base do governo Lula”, disse à Coluna a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A deputada observou que acordos entre o PT e o PP podem, sim, ocorrer nas eleições para as prefeituras. “No Nordeste é possível que haja alinhamentos desse tipo por causa da situação política na região e do apoio ao presidente Lula”, destacou.

Em agosto, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução que permite coligações até mesmo com o PL de Bolsonaro. “As eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do governo Lula em 2026″, diz o texto.

“Desde que o candidato esteja conosco em 2026, não vamos proibir nada”, afirmou o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Além do mais, o governo está cheio de bolsonarista. Tem ministro que votou em Bolsonaro, tem gente que apoiou o impeachment da presidente Dilma...”

Lindbergh chama manutenção do déficit zero de ‘irresponsabilidade’

Na prática, toda a estratégia do PT vem sendo montada, desde já, para reeleger Lula. É por isso que a decisão do governo de manter a meta fiscal de zerar o déficit em 2024, como propôs o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, causou insatisfação no partido.

“Se a economia desacelerar, pode nos amarrar muito. Aí só nos restará uma coisa: rezar”, disse o deputado Lindbergh Farias, vice-líder do governo na Câmara.

Em outubro, Lula admitiu, durante café da manhã com jornalistas, que o déficit zero “dificilmente” seria atingido. À vontade na conversa, o presidente avisou que não aceitaria cortar investimentos e obras em 2024. Não foi só: afirmou que não haveria problema em um rombo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Haddad, porém, o convenceu a manter a meta de déficit zero, sob o argumento de que recuar agora daria um sinal de fracasso à vista e prejudicaria a aprovação de projetos no Congresso para aumentar a arrecadação federal.

“É uma irresponsabilidade insistir nesse déficit zero”, reagiu Lindbergh. “Fico impressionado com a má condução política que o Planalto dá a essa questão.”

Para o deputado, a manutenção dessa meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) significa contratar uma crise para março de 2024, quando a cobrança da fatura política ficará ainda mais alta por parte do Centrão.

“Déficit zero é contingenciar R$ 53 bilhões do Orçamento”, insistiu ele. “É pior do que o teto de gastos do governo Temer porque não estará corrigindo nem a inflação do período”.

Haddad não quis responder para evitar nova polêmica. O ministro havia perdido a primeira batalha para o titular da Casa Civil, Rui Costa – que até hoje considera “irreal” zerar o déficit nas contas públicas –, mas acabou vencendo a disputa, ao menos por enquanto.

Mesmo assim, Lindbergh disse que vai “lutar” para convencer o governo a mexer na meta de resultado primário zero ainda na votação da LDO. “O governo Lula tem que dar certo”, justificou. Detalhe: a crítica, nesse caso, não é feita pela oposição, mas, sim, por um vice-líder do governo.

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