Se o influenciador Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura, se detivesse um pouco sobre a opinião dos eleitores comuns, e não apenas sobre a lacração nas redes sociais, não faria do palco dos debates um ringue. Nem dobraria a aposta a cada aparição.
Uma pesquisa da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), por exemplo, mostrou que, para 72% dos paulistanos entrevistados, “um bom prefeito deve buscar a conciliação com seus adversários políticos”, e não o enfrentamento.
Antes mesmo dos debates promovidos pelo Estadão, em parceria com Portal Terra e Faap, e também pela Band, os pesquisadores apresentaram uma lista de frases a 1,5 mil entrevistados na capital paulista, em julho.
As que mais chamaram a atenção foram justamente as que trataram da necessidade de o prefeito dialogar com todas as forças políticas. Apenas 26% disseram que “um bom prefeito deve sempre enfrentar seus adversários” e 2% não souberam responder.
“O prefeito boxeador não é o que as pessoas querem, mas o debate acaba tendo um pouco de reality show”, disse à coluna o cientista político Antônio Lavareda. “Só que, ao fim e ao cabo, isso não denota o perfil de candidato a prefeito que as pessoas demandam”, constatou Lavareda, que preside o Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).
Mas, afinal, qual seria esse tão sonhado perfil que os eleitores buscam? Levantamento feito pelo Ipespe para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indica que são propostas, e não padrinhos políticos, que mais vão pesar na balança para a eleição do próximo prefeito de São Paulo.
O Ipespe ouviu 3 mil pessoas, no mês passado, em todo o País. Na opinião de 41% dos eleitores, as ideias apresentadas pelos candidatos ainda são o fator mais importante para sua escolha. Outros 29% apontaram a experiência administrativa, 17% mencionaram o desempenho na campanha e nos debates e apenas 7% citaram os apoios recebidos.
Diante desse cenário, se a vida real ultrapassar o jogo das estratégias políticas, de nada vai adiantar esse duelo entre o presidente Lula e seu antecessor, Jair Bolsonaro, verbalizado por candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) e Marçal, por exemplo.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem o apoio de Bolsonaro e o vice indicado por ele, quer os votos de eleitores radicais do ex-presidente, mas não se movimenta além disso para não perder os moderados de centro.
É ingenuidade ver ex-coach só como candidato folclórico
De qualquer forma, não é mais possível ver Marçal apenas pelo lado folclórico. A cada intervenção, o ex-coach que tem milhões de seguidores nas redes insulta um adversário e faz gestos calculados para “causar”, como o de “exorcizar” Boulos, chamado de “demônio”, com uma carteira de trabalho.
Proposta mesmo que é bom, nada. Mas já tem eleitor percebendo isso, como indicou pesquisa qualitativa conduzida pelo instituto Travessia no debate desta quarta-feira.
Na prática, soluções para problemas que deveriam receber mais atenção da Prefeitura também têm passado a léguas de distância desses encontros.
No rol dos temas que mais preocupam a população, de acordo com o Ipespe, estão saúde (55%), emprego e renda (10%), educação (10%), segurança pública (9%) e corrupção (3%). Nesse caso, há empate com trânsito e transporte público, também com 3%.
Seria aconselhável, então, que os candidatos mostrassem realmente por que querem administrar a maior cidade da América Latina em vez de trocar ofensas e xingamentos. São Paulo não está promovendo uma eleição para a escolha do melhor lutador de MMA, embora alguns postulantes à cadeira de prefeito já estejam treinando o próximo golpe.