Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Lula ajuda manifestação pró-Bolsonaro com declarações sobre Israel


Nos bastidores, aliados do governo preveem que presidente deu tiro no pé e sua atitude fará inflar ato de domingo na Avenida Paulista

Por Vera Rosa
Atualização:

Até mesmo aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitem, nos bastidores, que ele deu munição para adversários ao comparar o ataque de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram exterminados. Em conversas reservadas, apoiadores de Lula calculam que o ato convocado por Jair Bolsonaro para domingo, 25, na Avenida Paulista, tem tudo para reunir no mínimo 100 mil pessoas, incluindo agora uma legião de insatisfeitos com suas declarações.

Como na política uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da manifestação pode mostrar que o ex-presidente não está tão isolado quanto se imagina. Alvejado por investigações da Polícia Federal que o jogam no centro da estratégia montada meses a fio para dar um golpe no País, Bolsonaro convocou seus eleitores para dizer a eles que vem sofrendo uma “implacável perseguição política”. E, obviamente, vai aproveitar o ato para fustigar Lula e o governo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi orientando a não xingar seu algoz, o ministro do STF Alexandre de Moraes. Foto: Wilton Júnior/Estadão
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Ao prestar depoimento à PF nesta quinta-feira, 22, porém, o ex-presidente seguirá a orientação de advogados para ficar em silêncio. Sua equipe jurídica também pediu que ele não xingue o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso. Não se pode esquecer que, em 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro chamou Moraes de “canalha” na mesma Avenida Paulista.

No Congresso, o PL e as frentes evangélicas da Câmara e do Senado aproveitam a “deixa” da crise diplomática com Israel para desgastar ainda mais Lula. Na tentativa de fazer barulho, um grupo de deputados da oposição vai protocolar nesta quarta, 21, um pedido de impeachment do presidente. Sabe-se que a iniciativa é um jogo de cena e não vai prosperar, mas, de qualquer forma, expõe fraturas na base aliada do governo por ter a assinatura de parlamentares de partidos que comandam ministérios, como o PP, União Brasil, MDB, Republicanos e PSD.

Lula vai participar de reuniões, nesta semana, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e também com líderes das duas Casas. Quer acertar os ponteiros da articulação política – que já vinham quase parando antes mesmo do tiro no pé dado com suas declarações sobre Israel –, por causa do confronto entre Lira e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

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Centrão cobra cada vez mais caro pelo apoio

Agora, no entanto, o Centrão vai apresentar fatura mais cara pelo apoio ao Planalto. A maior resistência para acabar com o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), por exemplo, vem justamente do grupo de Lira. E o governo já admite negociar um acordo para substituir a Medida Provisória que reonerou 17 setores da folha de pagamentos por um projeto de lei com tramitação em regime de urgência, como quer a Câmara.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou retratação de Lula. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Apesar de ser aliado do presidente, Rodrigo Pacheco também cobrou dele um pedido de desculpas sobre a comparação entre as ações de Israel em Gaza ao Holocausto. “(...) Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina”, disse Pacheco. “O governo brasileiro é mundialmente conhecido por sua diplomacia moderada, então devemos mostrar nossa influência, nossa contribuição, para a pacificação do conflito de modo equilibrado.”

Antes dessa crise, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), havia sido aconselhado a não ir ao ato em defesa de Bolsonaro, mas decidiu ir. Nunes conta com o apoio do ex-presidente na campanha e diz não acreditar que estar a seu lado agora tenha impacto negativo sobre sua candidatura à reeleição.

A portas fechadas, Nunes tem lembrado até mesmo que, em 2012, Lula apertou a mão de Paulo Maluf, à época o grande representante da direita, para ajudar Fernando Haddad. O PT avaliou que o gesto tinha sido um erro, mas Haddad foi eleito prefeito.

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Os personagens desta temporada, porém, são muito diferentes e a história não se repete. Mesmo assim, tudo indica que a manifestação pró-Bolsonaro servirá para mostrar que o bolsonarismo não está morto. Resta aos aliados de Lula torcer para que uma chuva torrencial, daquelas de não deixar pedra, sobre pedra, caia sobre a capital paulista neste domingo.

Até mesmo aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitem, nos bastidores, que ele deu munição para adversários ao comparar o ataque de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram exterminados. Em conversas reservadas, apoiadores de Lula calculam que o ato convocado por Jair Bolsonaro para domingo, 25, na Avenida Paulista, tem tudo para reunir no mínimo 100 mil pessoas, incluindo agora uma legião de insatisfeitos com suas declarações.

Como na política uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da manifestação pode mostrar que o ex-presidente não está tão isolado quanto se imagina. Alvejado por investigações da Polícia Federal que o jogam no centro da estratégia montada meses a fio para dar um golpe no País, Bolsonaro convocou seus eleitores para dizer a eles que vem sofrendo uma “implacável perseguição política”. E, obviamente, vai aproveitar o ato para fustigar Lula e o governo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi orientando a não xingar seu algoz, o ministro do STF Alexandre de Moraes. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao prestar depoimento à PF nesta quinta-feira, 22, porém, o ex-presidente seguirá a orientação de advogados para ficar em silêncio. Sua equipe jurídica também pediu que ele não xingue o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso. Não se pode esquecer que, em 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro chamou Moraes de “canalha” na mesma Avenida Paulista.

No Congresso, o PL e as frentes evangélicas da Câmara e do Senado aproveitam a “deixa” da crise diplomática com Israel para desgastar ainda mais Lula. Na tentativa de fazer barulho, um grupo de deputados da oposição vai protocolar nesta quarta, 21, um pedido de impeachment do presidente. Sabe-se que a iniciativa é um jogo de cena e não vai prosperar, mas, de qualquer forma, expõe fraturas na base aliada do governo por ter a assinatura de parlamentares de partidos que comandam ministérios, como o PP, União Brasil, MDB, Republicanos e PSD.

Lula vai participar de reuniões, nesta semana, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e também com líderes das duas Casas. Quer acertar os ponteiros da articulação política – que já vinham quase parando antes mesmo do tiro no pé dado com suas declarações sobre Israel –, por causa do confronto entre Lira e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Centrão cobra cada vez mais caro pelo apoio

Agora, no entanto, o Centrão vai apresentar fatura mais cara pelo apoio ao Planalto. A maior resistência para acabar com o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), por exemplo, vem justamente do grupo de Lira. E o governo já admite negociar um acordo para substituir a Medida Provisória que reonerou 17 setores da folha de pagamentos por um projeto de lei com tramitação em regime de urgência, como quer a Câmara.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou retratação de Lula. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Apesar de ser aliado do presidente, Rodrigo Pacheco também cobrou dele um pedido de desculpas sobre a comparação entre as ações de Israel em Gaza ao Holocausto. “(...) Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina”, disse Pacheco. “O governo brasileiro é mundialmente conhecido por sua diplomacia moderada, então devemos mostrar nossa influência, nossa contribuição, para a pacificação do conflito de modo equilibrado.”

Antes dessa crise, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), havia sido aconselhado a não ir ao ato em defesa de Bolsonaro, mas decidiu ir. Nunes conta com o apoio do ex-presidente na campanha e diz não acreditar que estar a seu lado agora tenha impacto negativo sobre sua candidatura à reeleição.

A portas fechadas, Nunes tem lembrado até mesmo que, em 2012, Lula apertou a mão de Paulo Maluf, à época o grande representante da direita, para ajudar Fernando Haddad. O PT avaliou que o gesto tinha sido um erro, mas Haddad foi eleito prefeito.

Os personagens desta temporada, porém, são muito diferentes e a história não se repete. Mesmo assim, tudo indica que a manifestação pró-Bolsonaro servirá para mostrar que o bolsonarismo não está morto. Resta aos aliados de Lula torcer para que uma chuva torrencial, daquelas de não deixar pedra, sobre pedra, caia sobre a capital paulista neste domingo.

Até mesmo aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitem, nos bastidores, que ele deu munição para adversários ao comparar o ataque de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram exterminados. Em conversas reservadas, apoiadores de Lula calculam que o ato convocado por Jair Bolsonaro para domingo, 25, na Avenida Paulista, tem tudo para reunir no mínimo 100 mil pessoas, incluindo agora uma legião de insatisfeitos com suas declarações.

Como na política uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da manifestação pode mostrar que o ex-presidente não está tão isolado quanto se imagina. Alvejado por investigações da Polícia Federal que o jogam no centro da estratégia montada meses a fio para dar um golpe no País, Bolsonaro convocou seus eleitores para dizer a eles que vem sofrendo uma “implacável perseguição política”. E, obviamente, vai aproveitar o ato para fustigar Lula e o governo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi orientando a não xingar seu algoz, o ministro do STF Alexandre de Moraes. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Ao prestar depoimento à PF nesta quinta-feira, 22, porém, o ex-presidente seguirá a orientação de advogados para ficar em silêncio. Sua equipe jurídica também pediu que ele não xingue o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso. Não se pode esquecer que, em 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro chamou Moraes de “canalha” na mesma Avenida Paulista.

No Congresso, o PL e as frentes evangélicas da Câmara e do Senado aproveitam a “deixa” da crise diplomática com Israel para desgastar ainda mais Lula. Na tentativa de fazer barulho, um grupo de deputados da oposição vai protocolar nesta quarta, 21, um pedido de impeachment do presidente. Sabe-se que a iniciativa é um jogo de cena e não vai prosperar, mas, de qualquer forma, expõe fraturas na base aliada do governo por ter a assinatura de parlamentares de partidos que comandam ministérios, como o PP, União Brasil, MDB, Republicanos e PSD.

Lula vai participar de reuniões, nesta semana, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e também com líderes das duas Casas. Quer acertar os ponteiros da articulação política – que já vinham quase parando antes mesmo do tiro no pé dado com suas declarações sobre Israel –, por causa do confronto entre Lira e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Centrão cobra cada vez mais caro pelo apoio

Agora, no entanto, o Centrão vai apresentar fatura mais cara pelo apoio ao Planalto. A maior resistência para acabar com o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), por exemplo, vem justamente do grupo de Lira. E o governo já admite negociar um acordo para substituir a Medida Provisória que reonerou 17 setores da folha de pagamentos por um projeto de lei com tramitação em regime de urgência, como quer a Câmara.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou retratação de Lula. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Apesar de ser aliado do presidente, Rodrigo Pacheco também cobrou dele um pedido de desculpas sobre a comparação entre as ações de Israel em Gaza ao Holocausto. “(...) Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina”, disse Pacheco. “O governo brasileiro é mundialmente conhecido por sua diplomacia moderada, então devemos mostrar nossa influência, nossa contribuição, para a pacificação do conflito de modo equilibrado.”

Antes dessa crise, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), havia sido aconselhado a não ir ao ato em defesa de Bolsonaro, mas decidiu ir. Nunes conta com o apoio do ex-presidente na campanha e diz não acreditar que estar a seu lado agora tenha impacto negativo sobre sua candidatura à reeleição.

A portas fechadas, Nunes tem lembrado até mesmo que, em 2012, Lula apertou a mão de Paulo Maluf, à época o grande representante da direita, para ajudar Fernando Haddad. O PT avaliou que o gesto tinha sido um erro, mas Haddad foi eleito prefeito.

Os personagens desta temporada, porém, são muito diferentes e a história não se repete. Mesmo assim, tudo indica que a manifestação pró-Bolsonaro servirá para mostrar que o bolsonarismo não está morto. Resta aos aliados de Lula torcer para que uma chuva torrencial, daquelas de não deixar pedra, sobre pedra, caia sobre a capital paulista neste domingo.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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