Os bastidores do Planalto e do Congresso

Lula é aconselhado a chamar Alckmin para comandar Ministério da Defesa


Proposta foi apresentada por um ex-titular da pasta, sob o argumento de que, se eleito, petista precisa fazer um aceno na direção das Forças Armadas, após um período de muito desgaste e tensões

Por Vera Rosa
Atualização:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aconselhado a chamar Geraldo Alckmin, candidato a vice em sua chapa, para comandar o Ministério da Defesa em eventual governo do PT. A ideia, apresentada por um ex-titular da pasta para o próprio Alckmin, antes do primeiro turno das eleições, é bem vista por alguns interlocutores de Lula.

Conhecido pela discrição, o ex-governador de São Paulo tomou a iniciativa de pedir a conversa reservada porque foi um dos escalados por Lula para sondar o ânimo das Forças Armadas diante das ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro. Ficou surpreso, porém, quando ouviu que ele seria o nome ideal para a Defesa.

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“Há uma sintonia entre os militares e o senhor”, disse-lhe o ex-ministro, que me contou o diálogo sob a condição de não ter o nome divulgado. “Ninguém melhor do que um vice-presidente da República para mostrar o apreço pelas Forças Armadas”, continuou ele, dirigindo-se a Alckmin.

A conversa ocorreu há cerca de dois meses, em São Paulo. O ex-ministro destacou a importância de Lula fazer um gesto para se aproximar dos militares, caso vença a eleição, após um período de desgaste e tensões. Recomendou, por exemplo, o apoio a projetos estratégicos que envolvem a defesa nacional e contemplam Exército, Marinha e Aeronáutica, além do respaldo à proposta para regulamentar a participação de oficiais em cargos públicos.

“Não podemos viver novas assombrações”, afirmou o ex-titular da Defesa, numa referência à politização das Forças Armadas.

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Lula e Alckmin: campanha tenta aproximação com Forças Armadas, mas relação é considerada ruim. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo – 08/04/2022

O Estadão apurou que Lula não tomou qualquer decisão sobre o assunto. No primeiro mandato do petista, o vice-presidente José Alencar acumulou a função com a de ministro da Defesa, de novembro de 2004 a abril de 2006, substituindo o diplomata José Viegas Filho.

Atualmente, Alckmin virou um curinga na equipe. Tem conversado com militares, empresários, religiosos e representantes do agronegócio, com o intuito de quebrar resistências e desconfianças em relação a um possível novo governo.

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Desde o primeiro turno, Lula é cobrado a divulgar com antecedência quem desejaria ver na cadeira de ministro da Economia e até da Defesa. “É loucura imaginar que você pode indicar time antes. Quem quiser conhecer meu ministério, vai ter que esperar primeiro eu ganhar eleições”, avisou o candidato do PT, nesta quinta-feira, 6.

Visto pelo mercado financeiro como uma espécie de garantia contra o radicalismo, Alckmin também já teve o nome citado para ocupar a pasta hoje dirigida por Paulo Guedes. Questionado, o ex-governador sempre negou que vá comandar um ministério, se a chapa sair vitoriosa da disputa com o presidente Jair Bolsonaro. “Vice é copiloto. A tarefa é ajudar, colaborar no conjunto do governo”, costuma repetir o ex-tucano, hoje nas fileiras do PSB.

Sem abertura

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A relação com os militares é considerada protocolar e até mesmo “intransponível” pelo comando da campanha de Lula. Piorou a partir do governo Dilma Rousseff, com a criação da Comissão da Verdade, considerada pela caserna como uma tentativa de “revanche”. Embora haja contatos de emissários do ex-presidente com a cúpula das Forças Armadas, ainda não houve abertura para uma aproximação maior.

Anúncios antecipados de ministros, porém, costumam não dar sorte. Em 2018, o próprio Alckmin – então candidato do PSDB à Presidência – divulgou que Pérsio Arida estaria à frente de sua equipe econômica. Em 2014, no confronto com Dilma, o tucano Aécio Neves avisou que Armínio Fraga seria seu ministro da Fazenda. Deu no que deu.

Lula já disse que pretende nomear um civil, e não um militar, para chefiar a Defesa, como constava do plano original da pasta, criada no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1999. À época, o projeto era para que o vice-presidente fosse automaticamente ministro da Defesa. Houve críticas da oposição e a ideia acabou descartada.

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No diagnóstico do candidato do PT, o modelo adotado na gestão de Michel Temer, que escolheu o general do Exército Joaquim Silva e Luna para comandar a Defesa, criou “uma distorção” nas Forças Armadas. Por esse raciocínio, uma força não pode se subordinar à outra, ou seja, o Exército não manda na Marinha nem na Aeronáutica e vice-versa.

Bolsonaro e Braga Netto: desde sua posse, em 2019, presidente já teve três ministros da Defesa. Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo – 10/08/2022

Bolsonaro já teve três generais à frente da Defesa, desde 2019. Fernando Azevedo e Silva foi demitido em março do ano passado por se recusar a politizar as Forças Armadas. No rastro da crise militar, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica também foram substituídos. Walter Braga Netto entrou no lugar de Azevedo, mas deixou a Defesa há seis meses para ser candidato a vice na chapa de Bolsonaro. O atual ministro é Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, também general do Exército.

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“O papel dos militares não é puxar saco de presidente, nem de Lula, nem de Bolsonaro. Eles têm quer ficar acima das brigas políticas”, afirmou Lula no primeiro turno da corrida ao Planalto. “O Exército não serve para política. Deve servir para proteger a fronteira e o país das ameaças externas”, emendou.

Cotado

Alckmin é um dos interlocutores da campanha com os militares, ao lado dos ex-ministros da Defesa Nelson Jobim, Celso Amorim e Jaques Wagner (PT-BA), hoje senador. Tem bom relacionamento com o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, atual comandante militar do Sudeste. Paiva é cotado para assumir o comando do Exército em eventual governo Lula.

Em abril, Lula adiantou que, se eleito, demitirá aproximadamente 8 mil militares, hoje em cargos comissionados. A manifestação provocou mal-estar na caserna, que também teme mudanças nas regras aprovadas pelo Congresso para a aposentadoria dos militares – mais vantajosas do que a de outras categorias –, caso o PT volte ao poder.

Apesar da pressão do partido, Lula vetou a proposta de incluir a revogação do artigo 142 da Constituição nas diretrizes de seu programa de governo. Como mostrou o Estadão, uma ala do PT defendia a retirada desse artigo por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional, batizada de “PEC antigolpe”.

O artigo 142 estabelece que, sob a autoridade suprema do presidente da República, as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por garantia de qualquer destes, da lei e da ordem”.

No confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro mencionou várias vezes o dispositivo constitucional. Na ocasião, suas declarações foram interpretadas no meio político e jurídico como ameaça de intervenção militar. “Fake news”, reagiu ele. A escalada de tensões na Praça dos Três Poderes, porém, parece longe do último capítulo.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aconselhado a chamar Geraldo Alckmin, candidato a vice em sua chapa, para comandar o Ministério da Defesa em eventual governo do PT. A ideia, apresentada por um ex-titular da pasta para o próprio Alckmin, antes do primeiro turno das eleições, é bem vista por alguns interlocutores de Lula.

Conhecido pela discrição, o ex-governador de São Paulo tomou a iniciativa de pedir a conversa reservada porque foi um dos escalados por Lula para sondar o ânimo das Forças Armadas diante das ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro. Ficou surpreso, porém, quando ouviu que ele seria o nome ideal para a Defesa.

“Há uma sintonia entre os militares e o senhor”, disse-lhe o ex-ministro, que me contou o diálogo sob a condição de não ter o nome divulgado. “Ninguém melhor do que um vice-presidente da República para mostrar o apreço pelas Forças Armadas”, continuou ele, dirigindo-se a Alckmin.

A conversa ocorreu há cerca de dois meses, em São Paulo. O ex-ministro destacou a importância de Lula fazer um gesto para se aproximar dos militares, caso vença a eleição, após um período de desgaste e tensões. Recomendou, por exemplo, o apoio a projetos estratégicos que envolvem a defesa nacional e contemplam Exército, Marinha e Aeronáutica, além do respaldo à proposta para regulamentar a participação de oficiais em cargos públicos.

“Não podemos viver novas assombrações”, afirmou o ex-titular da Defesa, numa referência à politização das Forças Armadas.

Lula e Alckmin: campanha tenta aproximação com Forças Armadas, mas relação é considerada ruim. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo – 08/04/2022

O Estadão apurou que Lula não tomou qualquer decisão sobre o assunto. No primeiro mandato do petista, o vice-presidente José Alencar acumulou a função com a de ministro da Defesa, de novembro de 2004 a abril de 2006, substituindo o diplomata José Viegas Filho.

Atualmente, Alckmin virou um curinga na equipe. Tem conversado com militares, empresários, religiosos e representantes do agronegócio, com o intuito de quebrar resistências e desconfianças em relação a um possível novo governo.

Desde o primeiro turno, Lula é cobrado a divulgar com antecedência quem desejaria ver na cadeira de ministro da Economia e até da Defesa. “É loucura imaginar que você pode indicar time antes. Quem quiser conhecer meu ministério, vai ter que esperar primeiro eu ganhar eleições”, avisou o candidato do PT, nesta quinta-feira, 6.

Visto pelo mercado financeiro como uma espécie de garantia contra o radicalismo, Alckmin também já teve o nome citado para ocupar a pasta hoje dirigida por Paulo Guedes. Questionado, o ex-governador sempre negou que vá comandar um ministério, se a chapa sair vitoriosa da disputa com o presidente Jair Bolsonaro. “Vice é copiloto. A tarefa é ajudar, colaborar no conjunto do governo”, costuma repetir o ex-tucano, hoje nas fileiras do PSB.

Sem abertura

A relação com os militares é considerada protocolar e até mesmo “intransponível” pelo comando da campanha de Lula. Piorou a partir do governo Dilma Rousseff, com a criação da Comissão da Verdade, considerada pela caserna como uma tentativa de “revanche”. Embora haja contatos de emissários do ex-presidente com a cúpula das Forças Armadas, ainda não houve abertura para uma aproximação maior.

Anúncios antecipados de ministros, porém, costumam não dar sorte. Em 2018, o próprio Alckmin – então candidato do PSDB à Presidência – divulgou que Pérsio Arida estaria à frente de sua equipe econômica. Em 2014, no confronto com Dilma, o tucano Aécio Neves avisou que Armínio Fraga seria seu ministro da Fazenda. Deu no que deu.

Lula já disse que pretende nomear um civil, e não um militar, para chefiar a Defesa, como constava do plano original da pasta, criada no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1999. À época, o projeto era para que o vice-presidente fosse automaticamente ministro da Defesa. Houve críticas da oposição e a ideia acabou descartada.

No diagnóstico do candidato do PT, o modelo adotado na gestão de Michel Temer, que escolheu o general do Exército Joaquim Silva e Luna para comandar a Defesa, criou “uma distorção” nas Forças Armadas. Por esse raciocínio, uma força não pode se subordinar à outra, ou seja, o Exército não manda na Marinha nem na Aeronáutica e vice-versa.

Bolsonaro e Braga Netto: desde sua posse, em 2019, presidente já teve três ministros da Defesa. Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo – 10/08/2022

Bolsonaro já teve três generais à frente da Defesa, desde 2019. Fernando Azevedo e Silva foi demitido em março do ano passado por se recusar a politizar as Forças Armadas. No rastro da crise militar, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica também foram substituídos. Walter Braga Netto entrou no lugar de Azevedo, mas deixou a Defesa há seis meses para ser candidato a vice na chapa de Bolsonaro. O atual ministro é Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, também general do Exército.

“O papel dos militares não é puxar saco de presidente, nem de Lula, nem de Bolsonaro. Eles têm quer ficar acima das brigas políticas”, afirmou Lula no primeiro turno da corrida ao Planalto. “O Exército não serve para política. Deve servir para proteger a fronteira e o país das ameaças externas”, emendou.

Cotado

Alckmin é um dos interlocutores da campanha com os militares, ao lado dos ex-ministros da Defesa Nelson Jobim, Celso Amorim e Jaques Wagner (PT-BA), hoje senador. Tem bom relacionamento com o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, atual comandante militar do Sudeste. Paiva é cotado para assumir o comando do Exército em eventual governo Lula.

Em abril, Lula adiantou que, se eleito, demitirá aproximadamente 8 mil militares, hoje em cargos comissionados. A manifestação provocou mal-estar na caserna, que também teme mudanças nas regras aprovadas pelo Congresso para a aposentadoria dos militares – mais vantajosas do que a de outras categorias –, caso o PT volte ao poder.

Apesar da pressão do partido, Lula vetou a proposta de incluir a revogação do artigo 142 da Constituição nas diretrizes de seu programa de governo. Como mostrou o Estadão, uma ala do PT defendia a retirada desse artigo por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional, batizada de “PEC antigolpe”.

O artigo 142 estabelece que, sob a autoridade suprema do presidente da República, as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por garantia de qualquer destes, da lei e da ordem”.

No confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro mencionou várias vezes o dispositivo constitucional. Na ocasião, suas declarações foram interpretadas no meio político e jurídico como ameaça de intervenção militar. “Fake news”, reagiu ele. A escalada de tensões na Praça dos Três Poderes, porém, parece longe do último capítulo.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aconselhado a chamar Geraldo Alckmin, candidato a vice em sua chapa, para comandar o Ministério da Defesa em eventual governo do PT. A ideia, apresentada por um ex-titular da pasta para o próprio Alckmin, antes do primeiro turno das eleições, é bem vista por alguns interlocutores de Lula.

Conhecido pela discrição, o ex-governador de São Paulo tomou a iniciativa de pedir a conversa reservada porque foi um dos escalados por Lula para sondar o ânimo das Forças Armadas diante das ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro. Ficou surpreso, porém, quando ouviu que ele seria o nome ideal para a Defesa.

“Há uma sintonia entre os militares e o senhor”, disse-lhe o ex-ministro, que me contou o diálogo sob a condição de não ter o nome divulgado. “Ninguém melhor do que um vice-presidente da República para mostrar o apreço pelas Forças Armadas”, continuou ele, dirigindo-se a Alckmin.

A conversa ocorreu há cerca de dois meses, em São Paulo. O ex-ministro destacou a importância de Lula fazer um gesto para se aproximar dos militares, caso vença a eleição, após um período de desgaste e tensões. Recomendou, por exemplo, o apoio a projetos estratégicos que envolvem a defesa nacional e contemplam Exército, Marinha e Aeronáutica, além do respaldo à proposta para regulamentar a participação de oficiais em cargos públicos.

“Não podemos viver novas assombrações”, afirmou o ex-titular da Defesa, numa referência à politização das Forças Armadas.

Lula e Alckmin: campanha tenta aproximação com Forças Armadas, mas relação é considerada ruim. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo – 08/04/2022

O Estadão apurou que Lula não tomou qualquer decisão sobre o assunto. No primeiro mandato do petista, o vice-presidente José Alencar acumulou a função com a de ministro da Defesa, de novembro de 2004 a abril de 2006, substituindo o diplomata José Viegas Filho.

Atualmente, Alckmin virou um curinga na equipe. Tem conversado com militares, empresários, religiosos e representantes do agronegócio, com o intuito de quebrar resistências e desconfianças em relação a um possível novo governo.

Desde o primeiro turno, Lula é cobrado a divulgar com antecedência quem desejaria ver na cadeira de ministro da Economia e até da Defesa. “É loucura imaginar que você pode indicar time antes. Quem quiser conhecer meu ministério, vai ter que esperar primeiro eu ganhar eleições”, avisou o candidato do PT, nesta quinta-feira, 6.

Visto pelo mercado financeiro como uma espécie de garantia contra o radicalismo, Alckmin também já teve o nome citado para ocupar a pasta hoje dirigida por Paulo Guedes. Questionado, o ex-governador sempre negou que vá comandar um ministério, se a chapa sair vitoriosa da disputa com o presidente Jair Bolsonaro. “Vice é copiloto. A tarefa é ajudar, colaborar no conjunto do governo”, costuma repetir o ex-tucano, hoje nas fileiras do PSB.

Sem abertura

A relação com os militares é considerada protocolar e até mesmo “intransponível” pelo comando da campanha de Lula. Piorou a partir do governo Dilma Rousseff, com a criação da Comissão da Verdade, considerada pela caserna como uma tentativa de “revanche”. Embora haja contatos de emissários do ex-presidente com a cúpula das Forças Armadas, ainda não houve abertura para uma aproximação maior.

Anúncios antecipados de ministros, porém, costumam não dar sorte. Em 2018, o próprio Alckmin – então candidato do PSDB à Presidência – divulgou que Pérsio Arida estaria à frente de sua equipe econômica. Em 2014, no confronto com Dilma, o tucano Aécio Neves avisou que Armínio Fraga seria seu ministro da Fazenda. Deu no que deu.

Lula já disse que pretende nomear um civil, e não um militar, para chefiar a Defesa, como constava do plano original da pasta, criada no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1999. À época, o projeto era para que o vice-presidente fosse automaticamente ministro da Defesa. Houve críticas da oposição e a ideia acabou descartada.

No diagnóstico do candidato do PT, o modelo adotado na gestão de Michel Temer, que escolheu o general do Exército Joaquim Silva e Luna para comandar a Defesa, criou “uma distorção” nas Forças Armadas. Por esse raciocínio, uma força não pode se subordinar à outra, ou seja, o Exército não manda na Marinha nem na Aeronáutica e vice-versa.

Bolsonaro e Braga Netto: desde sua posse, em 2019, presidente já teve três ministros da Defesa. Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo – 10/08/2022

Bolsonaro já teve três generais à frente da Defesa, desde 2019. Fernando Azevedo e Silva foi demitido em março do ano passado por se recusar a politizar as Forças Armadas. No rastro da crise militar, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica também foram substituídos. Walter Braga Netto entrou no lugar de Azevedo, mas deixou a Defesa há seis meses para ser candidato a vice na chapa de Bolsonaro. O atual ministro é Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, também general do Exército.

“O papel dos militares não é puxar saco de presidente, nem de Lula, nem de Bolsonaro. Eles têm quer ficar acima das brigas políticas”, afirmou Lula no primeiro turno da corrida ao Planalto. “O Exército não serve para política. Deve servir para proteger a fronteira e o país das ameaças externas”, emendou.

Cotado

Alckmin é um dos interlocutores da campanha com os militares, ao lado dos ex-ministros da Defesa Nelson Jobim, Celso Amorim e Jaques Wagner (PT-BA), hoje senador. Tem bom relacionamento com o general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, atual comandante militar do Sudeste. Paiva é cotado para assumir o comando do Exército em eventual governo Lula.

Em abril, Lula adiantou que, se eleito, demitirá aproximadamente 8 mil militares, hoje em cargos comissionados. A manifestação provocou mal-estar na caserna, que também teme mudanças nas regras aprovadas pelo Congresso para a aposentadoria dos militares – mais vantajosas do que a de outras categorias –, caso o PT volte ao poder.

Apesar da pressão do partido, Lula vetou a proposta de incluir a revogação do artigo 142 da Constituição nas diretrizes de seu programa de governo. Como mostrou o Estadão, uma ala do PT defendia a retirada desse artigo por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional, batizada de “PEC antigolpe”.

O artigo 142 estabelece que, sob a autoridade suprema do presidente da República, as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por garantia de qualquer destes, da lei e da ordem”.

No confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro mencionou várias vezes o dispositivo constitucional. Na ocasião, suas declarações foram interpretadas no meio político e jurídico como ameaça de intervenção militar. “Fake news”, reagiu ele. A escalada de tensões na Praça dos Três Poderes, porém, parece longe do último capítulo.

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