Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Lula e Janja gravam para Boulos enquanto Nunes dosa aparições de Bolsonaro e Michelle contra Marçal


Prefeito aposta em ‘latifúndio’ de comerciais na TV para se tornar conhecido e enfrentar esquerda e extrema direita

Por Vera Rosa
Atualização:

Em tempos de lacração nas redes sociais, alguém ainda assiste ao horário eleitoral gratuito na TV e no rádio? Há controvérsias. Pelo sim, pelo não, campanhas como as do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do deputado Guilherme Boulos (PSOL) vão apostar nessa propaganda, que começa na sexta-feira, 30, para “desembolar” a disputa travada com Pablo Marçal (PRTB) pela Prefeitura de São Paulo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, gravaram cenas com Boulos no sábado, 24. A gravação foi feita na casa do candidato, em Campo Limpo – bairro da periferia da capital –, antes do primeiro comício do candidato naquele dia.

Lula e Janja estiveram na casa de Boulos para gravar cenas que entrarão no horário eleitoral gratuito. Foto: Ricardo Stuckert / PR Ricardo Stuckert / PR
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A campanha de Nunes, por sua vez, vai apresentar o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle. A aparição da dupla, no entanto, será dosada de acordo com resultado de pesquisas.

Levantamentos feitos pela equipe do prefeito revelam que Michelle atrai votos de mulheres e do público evangélico, mas também enfrenta rejeição, embora menos que a de Janja.

Na prática, Nunes está numa encruzilhada política. Apesar de ser o incumbente, ele ainda é muito desconhecido. De um lado, necessita dos votos de bolsonaristas e precisa mostrar que o ex-presidente está com ele, não com Marçal, o insólito influenciador dessa corrida. De outro, perde eleitores de centro quando aparece com Bolsonaro.

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Nessa toada, sempre pisando em ovos, Nunes vai colar cada vez mais no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje seu principal interlocutor com o ex-presidente.

Bolsonaro, Michelle e Tarcísio vão aparecer na propaganda política de Nunes. Foto: Bianca Gomes/Estadão

Tanto Boulos como Nunes têm agora um desafio em comum: aproveitar o horário político e, sobretudo, as inserções comerciais não só para expor propostas como para desconstruir Marçal, que está tecnicamente empatado com eles em primeiro lugar, de acordo com o Datafolha. A dúvida, porém, é se esse tipo de propaganda ainda provoca algum impacto sobre o eleitor.

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Alckmin se lembra de ouvir sempre a mesma pergunta: ‘Por que não decola?’

Em 2018, o então candidato a presidente Geraldo Alckmin, à época no PSDB, era dono de um “latifúndio” de tempo na propaganda eleitoral, a exemplo de Nunes. Mesmo assim, teve o pior desempenho da história do PSDB e não chegou nem mesmo ao segundo turno, que foi disputado entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad.

Hoje, Alckmin é vice-presidente, está no PSB e vai aparecer no horário de Tabata Amaral. Já Haddad, ministro da Fazenda, ficará com Boulos.

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Alckmin está com Tabata e também entrará no horário eleitoral. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com bom humor, Alckmin se diverte quando lembra de seu calvário naquele ano. “A primeira pergunta de um jornalista quando me via era: ‘Por que não decola?’ Eu queria ser jornalista só para fazer essa pergunta”, brinca o vice-presidente.

Na avaliação da cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), desde a chegada das redes sociais o horário eleitoral não mostra mais tanta influência na definição dos votos, mas ainda tem relevância. “É importante considerar que essa propaganda se insere em um ecossistema de campanha”, disse a coordenadora do curso de Sociologia e Política.

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A última pesquisa produzida pela FESPSP também indicou a construção da segunda opção de voto, ainda no primeiro turno, por aqueles que não estão tão decididos assim.

Marçal tentou colar sua imagem à de Bolsonaro, mas foi rechaçado. Foto: CNN BRASIL

No imaginário político, as percepções dos eleitores se aglutinam em torno de dois campos. Boulos, Tabata e José Luiz Datena (PSDB) estão em uma ponta e Nunes e Marçal, na outra. Os pesquisadores fizeram 1.500 entrevistas na capital entre os dias 20 e 22 deste mês.

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Além disso, a consulta mostrou que eleitores conservadores parecem indecisos em seguir à risca a receita de Bolsonaro para São Paulo.

Marçal é outsider do ‘pós-bolsonarismo’

É nesse cenário que Marçal, rechaçado pelo ex-presidente, começa a despontar como representante do pós-bolsonarismo.

“Essa ‘emancipação’ extrapola a eleição municipal, sinalizando o início de uma disputa entre Marçal e Bolsonaro pela hegemonia da extrema direita em âmbito nacional”, argumentou Tathiana Chicarino.

Marçal e a candidata do Novo, Marina Helena, não participarão da propaganda eleitoral na TV e no rádio porque seus partidos não têm assentos na Câmara.

Com seus perfis suspensos em redes sociais por decisão da Justiça Eleitoral, Marçal criou novas contas digitais e nelas se anuncia como “servo do povo” e “próximo prefeito de São Paulo”.

Mesmo com direito a 1.913 inserções na TV e no rádio até 3 de outubro – o que significa 54 comerciais por dia –, Nunes terá de gastar muita sola de sapato com seu slogan “São Paulo pra frente, cuidando de gente” para avançar casas nesse jogo.

Boulos, na outra ponta, conta com o fator “nós contra eles” para chegar lá num momento em que o “bolsonarismo raiz” enfrenta muitas dificuldades. Nesse cabo de guerra, porém, tudo passa pela desconstrução do outsider.

As nuvens da política preveem muitos raios e trovoadas pela frente. Só nos resta esperar que o atingido pela tempestade perfeita não seja o eleitor porque o preço a pagar é longo: dura, no mínimo, quatro anos.

Em tempos de lacração nas redes sociais, alguém ainda assiste ao horário eleitoral gratuito na TV e no rádio? Há controvérsias. Pelo sim, pelo não, campanhas como as do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do deputado Guilherme Boulos (PSOL) vão apostar nessa propaganda, que começa na sexta-feira, 30, para “desembolar” a disputa travada com Pablo Marçal (PRTB) pela Prefeitura de São Paulo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, gravaram cenas com Boulos no sábado, 24. A gravação foi feita na casa do candidato, em Campo Limpo – bairro da periferia da capital –, antes do primeiro comício do candidato naquele dia.

Lula e Janja estiveram na casa de Boulos para gravar cenas que entrarão no horário eleitoral gratuito. Foto: Ricardo Stuckert / PR Ricardo Stuckert / PR

A campanha de Nunes, por sua vez, vai apresentar o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle. A aparição da dupla, no entanto, será dosada de acordo com resultado de pesquisas.

Levantamentos feitos pela equipe do prefeito revelam que Michelle atrai votos de mulheres e do público evangélico, mas também enfrenta rejeição, embora menos que a de Janja.

Na prática, Nunes está numa encruzilhada política. Apesar de ser o incumbente, ele ainda é muito desconhecido. De um lado, necessita dos votos de bolsonaristas e precisa mostrar que o ex-presidente está com ele, não com Marçal, o insólito influenciador dessa corrida. De outro, perde eleitores de centro quando aparece com Bolsonaro.

Nessa toada, sempre pisando em ovos, Nunes vai colar cada vez mais no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje seu principal interlocutor com o ex-presidente.

Bolsonaro, Michelle e Tarcísio vão aparecer na propaganda política de Nunes. Foto: Bianca Gomes/Estadão

Tanto Boulos como Nunes têm agora um desafio em comum: aproveitar o horário político e, sobretudo, as inserções comerciais não só para expor propostas como para desconstruir Marçal, que está tecnicamente empatado com eles em primeiro lugar, de acordo com o Datafolha. A dúvida, porém, é se esse tipo de propaganda ainda provoca algum impacto sobre o eleitor.

Alckmin se lembra de ouvir sempre a mesma pergunta: ‘Por que não decola?’

Em 2018, o então candidato a presidente Geraldo Alckmin, à época no PSDB, era dono de um “latifúndio” de tempo na propaganda eleitoral, a exemplo de Nunes. Mesmo assim, teve o pior desempenho da história do PSDB e não chegou nem mesmo ao segundo turno, que foi disputado entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad.

Hoje, Alckmin é vice-presidente, está no PSB e vai aparecer no horário de Tabata Amaral. Já Haddad, ministro da Fazenda, ficará com Boulos.

Alckmin está com Tabata e também entrará no horário eleitoral. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com bom humor, Alckmin se diverte quando lembra de seu calvário naquele ano. “A primeira pergunta de um jornalista quando me via era: ‘Por que não decola?’ Eu queria ser jornalista só para fazer essa pergunta”, brinca o vice-presidente.

Na avaliação da cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), desde a chegada das redes sociais o horário eleitoral não mostra mais tanta influência na definição dos votos, mas ainda tem relevância. “É importante considerar que essa propaganda se insere em um ecossistema de campanha”, disse a coordenadora do curso de Sociologia e Política.

A última pesquisa produzida pela FESPSP também indicou a construção da segunda opção de voto, ainda no primeiro turno, por aqueles que não estão tão decididos assim.

Marçal tentou colar sua imagem à de Bolsonaro, mas foi rechaçado. Foto: CNN BRASIL

No imaginário político, as percepções dos eleitores se aglutinam em torno de dois campos. Boulos, Tabata e José Luiz Datena (PSDB) estão em uma ponta e Nunes e Marçal, na outra. Os pesquisadores fizeram 1.500 entrevistas na capital entre os dias 20 e 22 deste mês.

Além disso, a consulta mostrou que eleitores conservadores parecem indecisos em seguir à risca a receita de Bolsonaro para São Paulo.

Marçal é outsider do ‘pós-bolsonarismo’

É nesse cenário que Marçal, rechaçado pelo ex-presidente, começa a despontar como representante do pós-bolsonarismo.

“Essa ‘emancipação’ extrapola a eleição municipal, sinalizando o início de uma disputa entre Marçal e Bolsonaro pela hegemonia da extrema direita em âmbito nacional”, argumentou Tathiana Chicarino.

Marçal e a candidata do Novo, Marina Helena, não participarão da propaganda eleitoral na TV e no rádio porque seus partidos não têm assentos na Câmara.

Com seus perfis suspensos em redes sociais por decisão da Justiça Eleitoral, Marçal criou novas contas digitais e nelas se anuncia como “servo do povo” e “próximo prefeito de São Paulo”.

Mesmo com direito a 1.913 inserções na TV e no rádio até 3 de outubro – o que significa 54 comerciais por dia –, Nunes terá de gastar muita sola de sapato com seu slogan “São Paulo pra frente, cuidando de gente” para avançar casas nesse jogo.

Boulos, na outra ponta, conta com o fator “nós contra eles” para chegar lá num momento em que o “bolsonarismo raiz” enfrenta muitas dificuldades. Nesse cabo de guerra, porém, tudo passa pela desconstrução do outsider.

As nuvens da política preveem muitos raios e trovoadas pela frente. Só nos resta esperar que o atingido pela tempestade perfeita não seja o eleitor porque o preço a pagar é longo: dura, no mínimo, quatro anos.

Em tempos de lacração nas redes sociais, alguém ainda assiste ao horário eleitoral gratuito na TV e no rádio? Há controvérsias. Pelo sim, pelo não, campanhas como as do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do deputado Guilherme Boulos (PSOL) vão apostar nessa propaganda, que começa na sexta-feira, 30, para “desembolar” a disputa travada com Pablo Marçal (PRTB) pela Prefeitura de São Paulo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, gravaram cenas com Boulos no sábado, 24. A gravação foi feita na casa do candidato, em Campo Limpo – bairro da periferia da capital –, antes do primeiro comício do candidato naquele dia.

Lula e Janja estiveram na casa de Boulos para gravar cenas que entrarão no horário eleitoral gratuito. Foto: Ricardo Stuckert / PR Ricardo Stuckert / PR

A campanha de Nunes, por sua vez, vai apresentar o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle. A aparição da dupla, no entanto, será dosada de acordo com resultado de pesquisas.

Levantamentos feitos pela equipe do prefeito revelam que Michelle atrai votos de mulheres e do público evangélico, mas também enfrenta rejeição, embora menos que a de Janja.

Na prática, Nunes está numa encruzilhada política. Apesar de ser o incumbente, ele ainda é muito desconhecido. De um lado, necessita dos votos de bolsonaristas e precisa mostrar que o ex-presidente está com ele, não com Marçal, o insólito influenciador dessa corrida. De outro, perde eleitores de centro quando aparece com Bolsonaro.

Nessa toada, sempre pisando em ovos, Nunes vai colar cada vez mais no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje seu principal interlocutor com o ex-presidente.

Bolsonaro, Michelle e Tarcísio vão aparecer na propaganda política de Nunes. Foto: Bianca Gomes/Estadão

Tanto Boulos como Nunes têm agora um desafio em comum: aproveitar o horário político e, sobretudo, as inserções comerciais não só para expor propostas como para desconstruir Marçal, que está tecnicamente empatado com eles em primeiro lugar, de acordo com o Datafolha. A dúvida, porém, é se esse tipo de propaganda ainda provoca algum impacto sobre o eleitor.

Alckmin se lembra de ouvir sempre a mesma pergunta: ‘Por que não decola?’

Em 2018, o então candidato a presidente Geraldo Alckmin, à época no PSDB, era dono de um “latifúndio” de tempo na propaganda eleitoral, a exemplo de Nunes. Mesmo assim, teve o pior desempenho da história do PSDB e não chegou nem mesmo ao segundo turno, que foi disputado entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad.

Hoje, Alckmin é vice-presidente, está no PSB e vai aparecer no horário de Tabata Amaral. Já Haddad, ministro da Fazenda, ficará com Boulos.

Alckmin está com Tabata e também entrará no horário eleitoral. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com bom humor, Alckmin se diverte quando lembra de seu calvário naquele ano. “A primeira pergunta de um jornalista quando me via era: ‘Por que não decola?’ Eu queria ser jornalista só para fazer essa pergunta”, brinca o vice-presidente.

Na avaliação da cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), desde a chegada das redes sociais o horário eleitoral não mostra mais tanta influência na definição dos votos, mas ainda tem relevância. “É importante considerar que essa propaganda se insere em um ecossistema de campanha”, disse a coordenadora do curso de Sociologia e Política.

A última pesquisa produzida pela FESPSP também indicou a construção da segunda opção de voto, ainda no primeiro turno, por aqueles que não estão tão decididos assim.

Marçal tentou colar sua imagem à de Bolsonaro, mas foi rechaçado. Foto: CNN BRASIL

No imaginário político, as percepções dos eleitores se aglutinam em torno de dois campos. Boulos, Tabata e José Luiz Datena (PSDB) estão em uma ponta e Nunes e Marçal, na outra. Os pesquisadores fizeram 1.500 entrevistas na capital entre os dias 20 e 22 deste mês.

Além disso, a consulta mostrou que eleitores conservadores parecem indecisos em seguir à risca a receita de Bolsonaro para São Paulo.

Marçal é outsider do ‘pós-bolsonarismo’

É nesse cenário que Marçal, rechaçado pelo ex-presidente, começa a despontar como representante do pós-bolsonarismo.

“Essa ‘emancipação’ extrapola a eleição municipal, sinalizando o início de uma disputa entre Marçal e Bolsonaro pela hegemonia da extrema direita em âmbito nacional”, argumentou Tathiana Chicarino.

Marçal e a candidata do Novo, Marina Helena, não participarão da propaganda eleitoral na TV e no rádio porque seus partidos não têm assentos na Câmara.

Com seus perfis suspensos em redes sociais por decisão da Justiça Eleitoral, Marçal criou novas contas digitais e nelas se anuncia como “servo do povo” e “próximo prefeito de São Paulo”.

Mesmo com direito a 1.913 inserções na TV e no rádio até 3 de outubro – o que significa 54 comerciais por dia –, Nunes terá de gastar muita sola de sapato com seu slogan “São Paulo pra frente, cuidando de gente” para avançar casas nesse jogo.

Boulos, na outra ponta, conta com o fator “nós contra eles” para chegar lá num momento em que o “bolsonarismo raiz” enfrenta muitas dificuldades. Nesse cabo de guerra, porém, tudo passa pela desconstrução do outsider.

As nuvens da política preveem muitos raios e trovoadas pela frente. Só nos resta esperar que o atingido pela tempestade perfeita não seja o eleitor porque o preço a pagar é longo: dura, no mínimo, quatro anos.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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