Os bastidores do Planalto e do Congresso

Lula quer que ministros defendam PAC nas viagens e façam propaganda do governo em ano eleitoral


Presidente reúne equipe para jogar os holofotes sobre realizações do terceiro mandato, mas também pretende cobrar dos auxiliares que façam propaganda das obras federais em 2024

Por Vera Rosa
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará nesta quarta-feira, 20, a última reunião ministerial do ano para a prestação política de contas dos últimos meses. Na prática, porém, Lula quer mesmo mandar recados para a equipe – que tem ministros de vários partidos, da esquerda ao Centrão –, às vésperas do ano eleitoral de 2024.

As disputas para as prefeituras, principalmente nas capitais do chamado “Triângulo das Bermudas”, formado por São Paulo, Rio e Minas, preocupam o Palácio do Planalto, que pretende aproveitar a campanha para nacionalizar o confronto com o bolsonarismo. Mas o governo precisa de marcas e carimbos visíveis.

Lula não usará a reunião ministerial, obviamente, para tratar de eleições municipais. Ao bater o bumbo sobre os feitos do governo, no entanto, vai cobrar a defesa das obras de seu terceiro mandato nas viagens feitas por ministros, a partir de janeiro do ano que vem.

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Lula pedirá à equipe que fale sobre as entregas do governo e não deixe adversários se apropriarem de marcas federais. Foto: Wilton Junior/Estadão

Além de comemorar a aprovação de medidas como a reforma tributária, e a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 3%, bem acima do esperado, Lula pedirá à equipe que fale das “entregas” do governo, e não apenas de suas áreas específicas, ao participar de inaugurações pelo País.

Em conversas reservadas, o presidente tem mostrado insatisfação ao ver, por exemplo, que investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aparecem como se fossem de prefeituras e governos estaduais.

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‘A base aliada não assume o governo’, diz Guimarães

Coube ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), expor essa contrariedade, com todas as letras, durante reunião do Diretório Nacional do PT, no último dia 8, em Brasília.

“O governo não capitaliza o que faz em cada Estado”, disse Guimarães no encontro, que contou com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais). “Não pode ter PAC sem a marca do governo federal, de reconstrução nacional. (...) Não tem como ganhar a eleição se o governo não for o carro-chefe.”

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A portas fechadas, Guimarães observou que as propagandas dos partidos aliados, exibidas na TV, não estavam nem mesmo mencionando o governo Lula.

O deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, diz que não dá para subir em palanque de quem não defende governo. Foto: Bruno Spada/Agência Câmara Foto: DIV

“Vejo uma propaganda do MDB, de um deputado federal aqui de Brasília, dizendo: ‘Conseguimos recursos para pavimentar não sei das quantas’. Eu sei que é obra do PAC, mas sequer falam do governo federal. Isso não pode”, criticou o líder do governo. O MDB comanda três ministérios na Esplanada: Transportes, Cidades e Planejamento.

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Guimarães não escondeu a irritação com traições de líderes de partidos que estão na Esplanada, como o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). O PP ganhou o Ministério do Esporte em troca de apoio ao governo no Congresso, mas em capitais importantes, como o Rio, aparece no palanque de candidatos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A base aliada participa do governo, não assume integralmente o governo e, pior, quando chegar a eleição, pode estar contra nós”, insistiu Guimarães. “Então, subir em palanque com gente que não vai estar conosco em 2026 não é o caminho. Por que estamos fazendo tanta coisa pelo povo e nas pesquisas temos a mesma variação (índice) da eleição? Tem algo errado aí.”

O sinal de alerta dado pelo deputado foi repetido horas depois pelo próprio Lula, durante a Conferência Eleitoral do PT. Ao discursar para a plateia de petistas, o presidente incentivou a polarização com Bolsonaro. “Nessa eleição vai acontecer um fenômeno: vai ser outra vez Lula e Bolsonaro, disputando (...) nos municípios”, previu Lula.

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A parceria do governo no Congresso, porém, é instável e composta por partidos de espectros ideológicos muito diferentes. Diante desse cenário, aliados do presidente em Brasília podem ser rivais dos petistas nas disputas pelas prefeituras.

Tanto é assim que pré-candidatos de legendas que apoiam Lula vão estar em lados opostos na disputa de pelo menos cinco capitais: São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis e Maceió.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirma que a eleição para as prefeituras não tem ligação direta com a disputa presidencial.  Foto: WILTON JUNIOR
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“A eleição municipal se organiza levando em consideração os problemas da própria cidade e o componente regional das alianças partidárias”, admitiu o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filiado ao MDB.

De qualquer forma, na sua avaliação, o embate do próximo ano não tem ligação direta com a corrida presidencial de 2026. Nem todos, porém, pensam assim. Na reunião do Diretório Nacional do PT, não foram poucos os que alertaram para a necessidade de fazer um link entre as eleições de 2024 e 2026.

Ainda naquele encontro, o líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, quis tirar do texto da resolução política a referência depreciativa ao Centrão. Argumentou que a crítica ao grupo capitaneado por Lira poderia prejudicar votações de interesse do Planalto no Congresso. Não conseguiu.

As críticas ao protagonismo do Centrão e o diagnóstico de que o PT virou “coadjuvante” na definição dos rumos do terceiro mandato são constantes nas discussões internas do partido.

Como se vê, embora a propaganda de fim de ano do governo tenha o mote “O Brasil é um só povo”, a divisão está em todos os cantos. E o incentivo ao “nós contra eles” sai do próprio Palácio do Planalto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará nesta quarta-feira, 20, a última reunião ministerial do ano para a prestação política de contas dos últimos meses. Na prática, porém, Lula quer mesmo mandar recados para a equipe – que tem ministros de vários partidos, da esquerda ao Centrão –, às vésperas do ano eleitoral de 2024.

As disputas para as prefeituras, principalmente nas capitais do chamado “Triângulo das Bermudas”, formado por São Paulo, Rio e Minas, preocupam o Palácio do Planalto, que pretende aproveitar a campanha para nacionalizar o confronto com o bolsonarismo. Mas o governo precisa de marcas e carimbos visíveis.

Lula não usará a reunião ministerial, obviamente, para tratar de eleições municipais. Ao bater o bumbo sobre os feitos do governo, no entanto, vai cobrar a defesa das obras de seu terceiro mandato nas viagens feitas por ministros, a partir de janeiro do ano que vem.

Lula pedirá à equipe que fale sobre as entregas do governo e não deixe adversários se apropriarem de marcas federais. Foto: Wilton Junior/Estadão

Além de comemorar a aprovação de medidas como a reforma tributária, e a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 3%, bem acima do esperado, Lula pedirá à equipe que fale das “entregas” do governo, e não apenas de suas áreas específicas, ao participar de inaugurações pelo País.

Em conversas reservadas, o presidente tem mostrado insatisfação ao ver, por exemplo, que investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aparecem como se fossem de prefeituras e governos estaduais.

‘A base aliada não assume o governo’, diz Guimarães

Coube ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), expor essa contrariedade, com todas as letras, durante reunião do Diretório Nacional do PT, no último dia 8, em Brasília.

“O governo não capitaliza o que faz em cada Estado”, disse Guimarães no encontro, que contou com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais). “Não pode ter PAC sem a marca do governo federal, de reconstrução nacional. (...) Não tem como ganhar a eleição se o governo não for o carro-chefe.”

A portas fechadas, Guimarães observou que as propagandas dos partidos aliados, exibidas na TV, não estavam nem mesmo mencionando o governo Lula.

O deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, diz que não dá para subir em palanque de quem não defende governo. Foto: Bruno Spada/Agência Câmara Foto: DIV

“Vejo uma propaganda do MDB, de um deputado federal aqui de Brasília, dizendo: ‘Conseguimos recursos para pavimentar não sei das quantas’. Eu sei que é obra do PAC, mas sequer falam do governo federal. Isso não pode”, criticou o líder do governo. O MDB comanda três ministérios na Esplanada: Transportes, Cidades e Planejamento.

Guimarães não escondeu a irritação com traições de líderes de partidos que estão na Esplanada, como o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). O PP ganhou o Ministério do Esporte em troca de apoio ao governo no Congresso, mas em capitais importantes, como o Rio, aparece no palanque de candidatos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A base aliada participa do governo, não assume integralmente o governo e, pior, quando chegar a eleição, pode estar contra nós”, insistiu Guimarães. “Então, subir em palanque com gente que não vai estar conosco em 2026 não é o caminho. Por que estamos fazendo tanta coisa pelo povo e nas pesquisas temos a mesma variação (índice) da eleição? Tem algo errado aí.”

O sinal de alerta dado pelo deputado foi repetido horas depois pelo próprio Lula, durante a Conferência Eleitoral do PT. Ao discursar para a plateia de petistas, o presidente incentivou a polarização com Bolsonaro. “Nessa eleição vai acontecer um fenômeno: vai ser outra vez Lula e Bolsonaro, disputando (...) nos municípios”, previu Lula.

A parceria do governo no Congresso, porém, é instável e composta por partidos de espectros ideológicos muito diferentes. Diante desse cenário, aliados do presidente em Brasília podem ser rivais dos petistas nas disputas pelas prefeituras.

Tanto é assim que pré-candidatos de legendas que apoiam Lula vão estar em lados opostos na disputa de pelo menos cinco capitais: São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis e Maceió.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirma que a eleição para as prefeituras não tem ligação direta com a disputa presidencial.  Foto: WILTON JUNIOR

“A eleição municipal se organiza levando em consideração os problemas da própria cidade e o componente regional das alianças partidárias”, admitiu o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filiado ao MDB.

De qualquer forma, na sua avaliação, o embate do próximo ano não tem ligação direta com a corrida presidencial de 2026. Nem todos, porém, pensam assim. Na reunião do Diretório Nacional do PT, não foram poucos os que alertaram para a necessidade de fazer um link entre as eleições de 2024 e 2026.

Ainda naquele encontro, o líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, quis tirar do texto da resolução política a referência depreciativa ao Centrão. Argumentou que a crítica ao grupo capitaneado por Lira poderia prejudicar votações de interesse do Planalto no Congresso. Não conseguiu.

As críticas ao protagonismo do Centrão e o diagnóstico de que o PT virou “coadjuvante” na definição dos rumos do terceiro mandato são constantes nas discussões internas do partido.

Como se vê, embora a propaganda de fim de ano do governo tenha o mote “O Brasil é um só povo”, a divisão está em todos os cantos. E o incentivo ao “nós contra eles” sai do próprio Palácio do Planalto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará nesta quarta-feira, 20, a última reunião ministerial do ano para a prestação política de contas dos últimos meses. Na prática, porém, Lula quer mesmo mandar recados para a equipe – que tem ministros de vários partidos, da esquerda ao Centrão –, às vésperas do ano eleitoral de 2024.

As disputas para as prefeituras, principalmente nas capitais do chamado “Triângulo das Bermudas”, formado por São Paulo, Rio e Minas, preocupam o Palácio do Planalto, que pretende aproveitar a campanha para nacionalizar o confronto com o bolsonarismo. Mas o governo precisa de marcas e carimbos visíveis.

Lula não usará a reunião ministerial, obviamente, para tratar de eleições municipais. Ao bater o bumbo sobre os feitos do governo, no entanto, vai cobrar a defesa das obras de seu terceiro mandato nas viagens feitas por ministros, a partir de janeiro do ano que vem.

Lula pedirá à equipe que fale sobre as entregas do governo e não deixe adversários se apropriarem de marcas federais. Foto: Wilton Junior/Estadão

Além de comemorar a aprovação de medidas como a reforma tributária, e a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 3%, bem acima do esperado, Lula pedirá à equipe que fale das “entregas” do governo, e não apenas de suas áreas específicas, ao participar de inaugurações pelo País.

Em conversas reservadas, o presidente tem mostrado insatisfação ao ver, por exemplo, que investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aparecem como se fossem de prefeituras e governos estaduais.

‘A base aliada não assume o governo’, diz Guimarães

Coube ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), expor essa contrariedade, com todas as letras, durante reunião do Diretório Nacional do PT, no último dia 8, em Brasília.

“O governo não capitaliza o que faz em cada Estado”, disse Guimarães no encontro, que contou com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais). “Não pode ter PAC sem a marca do governo federal, de reconstrução nacional. (...) Não tem como ganhar a eleição se o governo não for o carro-chefe.”

A portas fechadas, Guimarães observou que as propagandas dos partidos aliados, exibidas na TV, não estavam nem mesmo mencionando o governo Lula.

O deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, diz que não dá para subir em palanque de quem não defende governo. Foto: Bruno Spada/Agência Câmara Foto: DIV

“Vejo uma propaganda do MDB, de um deputado federal aqui de Brasília, dizendo: ‘Conseguimos recursos para pavimentar não sei das quantas’. Eu sei que é obra do PAC, mas sequer falam do governo federal. Isso não pode”, criticou o líder do governo. O MDB comanda três ministérios na Esplanada: Transportes, Cidades e Planejamento.

Guimarães não escondeu a irritação com traições de líderes de partidos que estão na Esplanada, como o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). O PP ganhou o Ministério do Esporte em troca de apoio ao governo no Congresso, mas em capitais importantes, como o Rio, aparece no palanque de candidatos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A base aliada participa do governo, não assume integralmente o governo e, pior, quando chegar a eleição, pode estar contra nós”, insistiu Guimarães. “Então, subir em palanque com gente que não vai estar conosco em 2026 não é o caminho. Por que estamos fazendo tanta coisa pelo povo e nas pesquisas temos a mesma variação (índice) da eleição? Tem algo errado aí.”

O sinal de alerta dado pelo deputado foi repetido horas depois pelo próprio Lula, durante a Conferência Eleitoral do PT. Ao discursar para a plateia de petistas, o presidente incentivou a polarização com Bolsonaro. “Nessa eleição vai acontecer um fenômeno: vai ser outra vez Lula e Bolsonaro, disputando (...) nos municípios”, previu Lula.

A parceria do governo no Congresso, porém, é instável e composta por partidos de espectros ideológicos muito diferentes. Diante desse cenário, aliados do presidente em Brasília podem ser rivais dos petistas nas disputas pelas prefeituras.

Tanto é assim que pré-candidatos de legendas que apoiam Lula vão estar em lados opostos na disputa de pelo menos cinco capitais: São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis e Maceió.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirma que a eleição para as prefeituras não tem ligação direta com a disputa presidencial.  Foto: WILTON JUNIOR

“A eleição municipal se organiza levando em consideração os problemas da própria cidade e o componente regional das alianças partidárias”, admitiu o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filiado ao MDB.

De qualquer forma, na sua avaliação, o embate do próximo ano não tem ligação direta com a corrida presidencial de 2026. Nem todos, porém, pensam assim. Na reunião do Diretório Nacional do PT, não foram poucos os que alertaram para a necessidade de fazer um link entre as eleições de 2024 e 2026.

Ainda naquele encontro, o líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, quis tirar do texto da resolução política a referência depreciativa ao Centrão. Argumentou que a crítica ao grupo capitaneado por Lira poderia prejudicar votações de interesse do Planalto no Congresso. Não conseguiu.

As críticas ao protagonismo do Centrão e o diagnóstico de que o PT virou “coadjuvante” na definição dos rumos do terceiro mandato são constantes nas discussões internas do partido.

Como se vê, embora a propaganda de fim de ano do governo tenha o mote “O Brasil é um só povo”, a divisão está em todos os cantos. E o incentivo ao “nós contra eles” sai do próprio Palácio do Planalto.

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