Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Lula vira ‘Lulinha paz e amor’ com Centrão e elege mercado e Banco Central como vilões da crise


Estratégia é definida por marqueteiro do presidente para evitar que turbulências na política se agravem ainda mais

Por Vera Rosa
Atualização:

Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino de “Lulinha paz e amor” para o Centrão e ficou menos paciente com o Banco Central do que em seus dois mandatos anteriores. Durante uma hora e quinze minutos de café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente estendeu a bandeira branca para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e transformou o mercado e o BC em algozes do governo.

Logo que entrou no Salão Leste do Palácio do Planalto, às 10h24, Lula foi logo dizendo que neste 23 de abril é celebrado o “Dia de São Jorge”, padroeiro do Corinthians, seu time do coração. Discorreu ali sobre novos programas do governo, como o Acredita, que incentiva os pequenos negócios, usou o velho bordão “Nunca antes na história deste País”, mas, ao contrário de outras vezes, passou pano para a crise política que atormenta o Planalto.

“O PT tem um filósofo chamado Vicentinho que inventou uma máxima extraordinária: ‘O importante é o principal; o resto é secundário’”, disse Lula, numa referência ao deputado Vicente Paulo da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. E dali em diante só adotou tom de conciliação com o Congresso.

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Lula, em café da manhã com jornalistas: "O importante é o principal; o resto é secundário". Foto: Wilton Júnior/Estadão

A estratégia foi acertada com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de sua campanha, em 2022. Diante de um cenário de incertezas, Lula joga a culpa pelas mazelas do País no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas poupa os condutores da política, muitos deles na direção de partidos de centro-direita, que estão nos ministérios.

Lira, o Centrão e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), podem ameaçar o quanto quiserem o governo com pautas-bomba, que têm potencial para aumentar os gastos públicos em R$ 70 bilhões.

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Esses “aliados”, mesmo mostrando os dentes, parecem ter uma espécie de salvo-conduto para criar dificuldades e vender facilidades. Mas o BC e o mercado são sempre vilões.

“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros e o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro (...) é o povo brasileiro”, afirmou Lula, ao ser questionado sobre as expectativas divulgadas no Boletim Focus desta terça-feira, que preveem aumento da Selic de 9,13% para 9,5% no fim deste ano. “São os empresários que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é sempre chamado por Lula como "esse cidadão". Foto: Brendan Mcdermid/REUTERS
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Sem esconder a contrariedade com Campos Neto, a quem já se referiu num passado não muito distante como “esse cidadão”, Lula disse não haver motivo para o presidente do BC estar preocupado com o descontrole da economia porque o Brasil é “um dos países mais seguros do mundo”.

Foi nesse momento que ele tirou de uma das três pastas vermelhas que carregava, emolduradas pela inscrição “Presidência da República”, uma folha de papel sulfite com dados da dívida bruta de vários países em relação ao PIB. Leu pausadamente todos os números para concluir que o Brasil está bem na fita.

“Com todo respeito ao mercado, eu gosto mais do Brasil que o mercado”, insistiu o presidente, durante o café da manhã do qual participei. Sem tocar nos pães e frios à mesa, ele afirmou, ainda, que precisa esperar até dezembro para mudar o presidente do BC. E deu uma alfinetada: “Quem já conviveu com o Roberto Campos um ano e quatro meses não tem problema de conviver mais seis meses.”

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Mandatos de Lira e Pacheco também estão no fim

Lula também poderia ter dito que faltam nove meses para o fim do mandato de Lira e de Pacheco, mas, nesse capítulo, preferiu o armistício.

Todos sabem que, no sistema em que vivemos, o chefe do Executivo sempre fica nas mãos do presidente da Câmara. É ele que tem o poder de dar o pontapé inicial para um processo de impeachment.

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Não há clima para isso nas ruas, embora, no presidencialismo de “colisão” dos dias atuais, uma espada de Dâmocles sempre paira sobre a cabeça do presidente.

Pragmático, Lula acha melhor não pagar para ver. Foi por isso que não atacou nem mesmo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que, em 2 de dezembro de 2015, autorizou a abertura do impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff e hoje circula com desenvoltura na Casa.

“É como a gente diz: ‘Uma vez deputado, sempre deputado’”, desconversou o presidente ao mencionar Cunha, amigo de Lira. Coisas da política. E do marqueteiro.

Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino de “Lulinha paz e amor” para o Centrão e ficou menos paciente com o Banco Central do que em seus dois mandatos anteriores. Durante uma hora e quinze minutos de café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente estendeu a bandeira branca para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e transformou o mercado e o BC em algozes do governo.

Logo que entrou no Salão Leste do Palácio do Planalto, às 10h24, Lula foi logo dizendo que neste 23 de abril é celebrado o “Dia de São Jorge”, padroeiro do Corinthians, seu time do coração. Discorreu ali sobre novos programas do governo, como o Acredita, que incentiva os pequenos negócios, usou o velho bordão “Nunca antes na história deste País”, mas, ao contrário de outras vezes, passou pano para a crise política que atormenta o Planalto.

“O PT tem um filósofo chamado Vicentinho que inventou uma máxima extraordinária: ‘O importante é o principal; o resto é secundário’”, disse Lula, numa referência ao deputado Vicente Paulo da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. E dali em diante só adotou tom de conciliação com o Congresso.

Lula, em café da manhã com jornalistas: "O importante é o principal; o resto é secundário". Foto: Wilton Júnior/Estadão

A estratégia foi acertada com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de sua campanha, em 2022. Diante de um cenário de incertezas, Lula joga a culpa pelas mazelas do País no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas poupa os condutores da política, muitos deles na direção de partidos de centro-direita, que estão nos ministérios.

Lira, o Centrão e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), podem ameaçar o quanto quiserem o governo com pautas-bomba, que têm potencial para aumentar os gastos públicos em R$ 70 bilhões.

Esses “aliados”, mesmo mostrando os dentes, parecem ter uma espécie de salvo-conduto para criar dificuldades e vender facilidades. Mas o BC e o mercado são sempre vilões.

“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros e o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro (...) é o povo brasileiro”, afirmou Lula, ao ser questionado sobre as expectativas divulgadas no Boletim Focus desta terça-feira, que preveem aumento da Selic de 9,13% para 9,5% no fim deste ano. “São os empresários que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é sempre chamado por Lula como "esse cidadão". Foto: Brendan Mcdermid/REUTERS

Sem esconder a contrariedade com Campos Neto, a quem já se referiu num passado não muito distante como “esse cidadão”, Lula disse não haver motivo para o presidente do BC estar preocupado com o descontrole da economia porque o Brasil é “um dos países mais seguros do mundo”.

Foi nesse momento que ele tirou de uma das três pastas vermelhas que carregava, emolduradas pela inscrição “Presidência da República”, uma folha de papel sulfite com dados da dívida bruta de vários países em relação ao PIB. Leu pausadamente todos os números para concluir que o Brasil está bem na fita.

“Com todo respeito ao mercado, eu gosto mais do Brasil que o mercado”, insistiu o presidente, durante o café da manhã do qual participei. Sem tocar nos pães e frios à mesa, ele afirmou, ainda, que precisa esperar até dezembro para mudar o presidente do BC. E deu uma alfinetada: “Quem já conviveu com o Roberto Campos um ano e quatro meses não tem problema de conviver mais seis meses.”

Mandatos de Lira e Pacheco também estão no fim

Lula também poderia ter dito que faltam nove meses para o fim do mandato de Lira e de Pacheco, mas, nesse capítulo, preferiu o armistício.

Todos sabem que, no sistema em que vivemos, o chefe do Executivo sempre fica nas mãos do presidente da Câmara. É ele que tem o poder de dar o pontapé inicial para um processo de impeachment.

Não há clima para isso nas ruas, embora, no presidencialismo de “colisão” dos dias atuais, uma espada de Dâmocles sempre paira sobre a cabeça do presidente.

Pragmático, Lula acha melhor não pagar para ver. Foi por isso que não atacou nem mesmo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que, em 2 de dezembro de 2015, autorizou a abertura do impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff e hoje circula com desenvoltura na Casa.

“É como a gente diz: ‘Uma vez deputado, sempre deputado’”, desconversou o presidente ao mencionar Cunha, amigo de Lira. Coisas da política. E do marqueteiro.

Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino de “Lulinha paz e amor” para o Centrão e ficou menos paciente com o Banco Central do que em seus dois mandatos anteriores. Durante uma hora e quinze minutos de café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente estendeu a bandeira branca para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e transformou o mercado e o BC em algozes do governo.

Logo que entrou no Salão Leste do Palácio do Planalto, às 10h24, Lula foi logo dizendo que neste 23 de abril é celebrado o “Dia de São Jorge”, padroeiro do Corinthians, seu time do coração. Discorreu ali sobre novos programas do governo, como o Acredita, que incentiva os pequenos negócios, usou o velho bordão “Nunca antes na história deste País”, mas, ao contrário de outras vezes, passou pano para a crise política que atormenta o Planalto.

“O PT tem um filósofo chamado Vicentinho que inventou uma máxima extraordinária: ‘O importante é o principal; o resto é secundário’”, disse Lula, numa referência ao deputado Vicente Paulo da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. E dali em diante só adotou tom de conciliação com o Congresso.

Lula, em café da manhã com jornalistas: "O importante é o principal; o resto é secundário". Foto: Wilton Júnior/Estadão

A estratégia foi acertada com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de sua campanha, em 2022. Diante de um cenário de incertezas, Lula joga a culpa pelas mazelas do País no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas poupa os condutores da política, muitos deles na direção de partidos de centro-direita, que estão nos ministérios.

Lira, o Centrão e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), podem ameaçar o quanto quiserem o governo com pautas-bomba, que têm potencial para aumentar os gastos públicos em R$ 70 bilhões.

Esses “aliados”, mesmo mostrando os dentes, parecem ter uma espécie de salvo-conduto para criar dificuldades e vender facilidades. Mas o BC e o mercado são sempre vilões.

“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros e o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro (...) é o povo brasileiro”, afirmou Lula, ao ser questionado sobre as expectativas divulgadas no Boletim Focus desta terça-feira, que preveem aumento da Selic de 9,13% para 9,5% no fim deste ano. “São os empresários que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é sempre chamado por Lula como "esse cidadão". Foto: Brendan Mcdermid/REUTERS

Sem esconder a contrariedade com Campos Neto, a quem já se referiu num passado não muito distante como “esse cidadão”, Lula disse não haver motivo para o presidente do BC estar preocupado com o descontrole da economia porque o Brasil é “um dos países mais seguros do mundo”.

Foi nesse momento que ele tirou de uma das três pastas vermelhas que carregava, emolduradas pela inscrição “Presidência da República”, uma folha de papel sulfite com dados da dívida bruta de vários países em relação ao PIB. Leu pausadamente todos os números para concluir que o Brasil está bem na fita.

“Com todo respeito ao mercado, eu gosto mais do Brasil que o mercado”, insistiu o presidente, durante o café da manhã do qual participei. Sem tocar nos pães e frios à mesa, ele afirmou, ainda, que precisa esperar até dezembro para mudar o presidente do BC. E deu uma alfinetada: “Quem já conviveu com o Roberto Campos um ano e quatro meses não tem problema de conviver mais seis meses.”

Mandatos de Lira e Pacheco também estão no fim

Lula também poderia ter dito que faltam nove meses para o fim do mandato de Lira e de Pacheco, mas, nesse capítulo, preferiu o armistício.

Todos sabem que, no sistema em que vivemos, o chefe do Executivo sempre fica nas mãos do presidente da Câmara. É ele que tem o poder de dar o pontapé inicial para um processo de impeachment.

Não há clima para isso nas ruas, embora, no presidencialismo de “colisão” dos dias atuais, uma espada de Dâmocles sempre paira sobre a cabeça do presidente.

Pragmático, Lula acha melhor não pagar para ver. Foi por isso que não atacou nem mesmo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que, em 2 de dezembro de 2015, autorizou a abertura do impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff e hoje circula com desenvoltura na Casa.

“É como a gente diz: ‘Uma vez deputado, sempre deputado’”, desconversou o presidente ao mencionar Cunha, amigo de Lira. Coisas da política. E do marqueteiro.

Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino de “Lulinha paz e amor” para o Centrão e ficou menos paciente com o Banco Central do que em seus dois mandatos anteriores. Durante uma hora e quinze minutos de café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente estendeu a bandeira branca para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e transformou o mercado e o BC em algozes do governo.

Logo que entrou no Salão Leste do Palácio do Planalto, às 10h24, Lula foi logo dizendo que neste 23 de abril é celebrado o “Dia de São Jorge”, padroeiro do Corinthians, seu time do coração. Discorreu ali sobre novos programas do governo, como o Acredita, que incentiva os pequenos negócios, usou o velho bordão “Nunca antes na história deste País”, mas, ao contrário de outras vezes, passou pano para a crise política que atormenta o Planalto.

“O PT tem um filósofo chamado Vicentinho que inventou uma máxima extraordinária: ‘O importante é o principal; o resto é secundário’”, disse Lula, numa referência ao deputado Vicente Paulo da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. E dali em diante só adotou tom de conciliação com o Congresso.

Lula, em café da manhã com jornalistas: "O importante é o principal; o resto é secundário". Foto: Wilton Júnior/Estadão

A estratégia foi acertada com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de sua campanha, em 2022. Diante de um cenário de incertezas, Lula joga a culpa pelas mazelas do País no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas poupa os condutores da política, muitos deles na direção de partidos de centro-direita, que estão nos ministérios.

Lira, o Centrão e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), podem ameaçar o quanto quiserem o governo com pautas-bomba, que têm potencial para aumentar os gastos públicos em R$ 70 bilhões.

Esses “aliados”, mesmo mostrando os dentes, parecem ter uma espécie de salvo-conduto para criar dificuldades e vender facilidades. Mas o BC e o mercado são sempre vilões.

“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros e o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro (...) é o povo brasileiro”, afirmou Lula, ao ser questionado sobre as expectativas divulgadas no Boletim Focus desta terça-feira, que preveem aumento da Selic de 9,13% para 9,5% no fim deste ano. “São os empresários que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é sempre chamado por Lula como "esse cidadão". Foto: Brendan Mcdermid/REUTERS

Sem esconder a contrariedade com Campos Neto, a quem já se referiu num passado não muito distante como “esse cidadão”, Lula disse não haver motivo para o presidente do BC estar preocupado com o descontrole da economia porque o Brasil é “um dos países mais seguros do mundo”.

Foi nesse momento que ele tirou de uma das três pastas vermelhas que carregava, emolduradas pela inscrição “Presidência da República”, uma folha de papel sulfite com dados da dívida bruta de vários países em relação ao PIB. Leu pausadamente todos os números para concluir que o Brasil está bem na fita.

“Com todo respeito ao mercado, eu gosto mais do Brasil que o mercado”, insistiu o presidente, durante o café da manhã do qual participei. Sem tocar nos pães e frios à mesa, ele afirmou, ainda, que precisa esperar até dezembro para mudar o presidente do BC. E deu uma alfinetada: “Quem já conviveu com o Roberto Campos um ano e quatro meses não tem problema de conviver mais seis meses.”

Mandatos de Lira e Pacheco também estão no fim

Lula também poderia ter dito que faltam nove meses para o fim do mandato de Lira e de Pacheco, mas, nesse capítulo, preferiu o armistício.

Todos sabem que, no sistema em que vivemos, o chefe do Executivo sempre fica nas mãos do presidente da Câmara. É ele que tem o poder de dar o pontapé inicial para um processo de impeachment.

Não há clima para isso nas ruas, embora, no presidencialismo de “colisão” dos dias atuais, uma espada de Dâmocles sempre paira sobre a cabeça do presidente.

Pragmático, Lula acha melhor não pagar para ver. Foi por isso que não atacou nem mesmo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que, em 2 de dezembro de 2015, autorizou a abertura do impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff e hoje circula com desenvoltura na Casa.

“É como a gente diz: ‘Uma vez deputado, sempre deputado’”, desconversou o presidente ao mencionar Cunha, amigo de Lira. Coisas da política. E do marqueteiro.

Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino de “Lulinha paz e amor” para o Centrão e ficou menos paciente com o Banco Central do que em seus dois mandatos anteriores. Durante uma hora e quinze minutos de café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente estendeu a bandeira branca para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e transformou o mercado e o BC em algozes do governo.

Logo que entrou no Salão Leste do Palácio do Planalto, às 10h24, Lula foi logo dizendo que neste 23 de abril é celebrado o “Dia de São Jorge”, padroeiro do Corinthians, seu time do coração. Discorreu ali sobre novos programas do governo, como o Acredita, que incentiva os pequenos negócios, usou o velho bordão “Nunca antes na história deste País”, mas, ao contrário de outras vezes, passou pano para a crise política que atormenta o Planalto.

“O PT tem um filósofo chamado Vicentinho que inventou uma máxima extraordinária: ‘O importante é o principal; o resto é secundário’”, disse Lula, numa referência ao deputado Vicente Paulo da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. E dali em diante só adotou tom de conciliação com o Congresso.

Lula, em café da manhã com jornalistas: "O importante é o principal; o resto é secundário". Foto: Wilton Júnior/Estadão

A estratégia foi acertada com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de sua campanha, em 2022. Diante de um cenário de incertezas, Lula joga a culpa pelas mazelas do País no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas poupa os condutores da política, muitos deles na direção de partidos de centro-direita, que estão nos ministérios.

Lira, o Centrão e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), podem ameaçar o quanto quiserem o governo com pautas-bomba, que têm potencial para aumentar os gastos públicos em R$ 70 bilhões.

Esses “aliados”, mesmo mostrando os dentes, parecem ter uma espécie de salvo-conduto para criar dificuldades e vender facilidades. Mas o BC e o mercado são sempre vilões.

“O mercado está ganhando muito dinheiro com essa taxa de juros e o presidente do Banco Central tem que saber que quem perde dinheiro (...) é o povo brasileiro”, afirmou Lula, ao ser questionado sobre as expectativas divulgadas no Boletim Focus desta terça-feira, que preveem aumento da Selic de 9,13% para 9,5% no fim deste ano. “São os empresários que não conseguem dinheiro para investir. É isso que está em jogo.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é sempre chamado por Lula como "esse cidadão". Foto: Brendan Mcdermid/REUTERS

Sem esconder a contrariedade com Campos Neto, a quem já se referiu num passado não muito distante como “esse cidadão”, Lula disse não haver motivo para o presidente do BC estar preocupado com o descontrole da economia porque o Brasil é “um dos países mais seguros do mundo”.

Foi nesse momento que ele tirou de uma das três pastas vermelhas que carregava, emolduradas pela inscrição “Presidência da República”, uma folha de papel sulfite com dados da dívida bruta de vários países em relação ao PIB. Leu pausadamente todos os números para concluir que o Brasil está bem na fita.

“Com todo respeito ao mercado, eu gosto mais do Brasil que o mercado”, insistiu o presidente, durante o café da manhã do qual participei. Sem tocar nos pães e frios à mesa, ele afirmou, ainda, que precisa esperar até dezembro para mudar o presidente do BC. E deu uma alfinetada: “Quem já conviveu com o Roberto Campos um ano e quatro meses não tem problema de conviver mais seis meses.”

Mandatos de Lira e Pacheco também estão no fim

Lula também poderia ter dito que faltam nove meses para o fim do mandato de Lira e de Pacheco, mas, nesse capítulo, preferiu o armistício.

Todos sabem que, no sistema em que vivemos, o chefe do Executivo sempre fica nas mãos do presidente da Câmara. É ele que tem o poder de dar o pontapé inicial para um processo de impeachment.

Não há clima para isso nas ruas, embora, no presidencialismo de “colisão” dos dias atuais, uma espada de Dâmocles sempre paira sobre a cabeça do presidente.

Pragmático, Lula acha melhor não pagar para ver. Foi por isso que não atacou nem mesmo o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que, em 2 de dezembro de 2015, autorizou a abertura do impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff e hoje circula com desenvoltura na Casa.

“É como a gente diz: ‘Uma vez deputado, sempre deputado’”, desconversou o presidente ao mencionar Cunha, amigo de Lira. Coisas da política. E do marqueteiro.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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