Michelle Bolsonaro foi aconselhada por advogados a não fazer mais piada com o escândalo das joias. Além de ser alvo de investigações, Michelle tem um irmão que também aparece em relatório da Polícia Federal e está na mira do Supremo Tribunal Federal (STF). Até agora, o nome dele passou praticamente despercebido, mas o “fogo amigo” no Palácio dos Bandeirantes pôs combustível na trama.
Mensagens de WhatsApp identificadas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mostram que Marcelo Camara, assessor do então presidente, pergunta ao militar sobre “a situação de uma mala’', que “o irmão de dona Michelle teria falado”. Trata-se de Diego Torres Dourado, assessor especial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
A mala continha esculturas recebidas por Bolsonaro do Bahrein, como uma palmeira e um barco de ouro, e foi despachada para os Estados Unidos, onde os presentes oficiais das autoridades do Oriente Médio seriam vendidos. Quem acertou a entrega da mala com Mauro Cid, segundo a Polícia Federal, foi justamente o irmão de Michelle.
A “muamba” embarcou no avião que levou o então presidente para Orlando, na Flórida, em 30 de dezembro de 2022, antevéspera da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. As esculturas, no entanto, deveriam ser vendidas em Miami, onde há mais lojas especializadas no comércio de joias.
Foi por isso que, na troca de mensagens entre Mauro Cid e Camara, o assessor do presidente mencionou a preocupação do cunhado de Bolsonaro com o destino da tal mala.
A estratégia para garantir que a “muamba” chegasse sã e salva a Miami envolveu até o empresário Cristiano Piquet. Foi ele que, meses antes, ajudou a equipe palaciana a encontrar um imóvel para a estadia de Bolsonaro na cidade da Disney. Depois, em visita ao ex-presidente, retirou a mala de Orlando, a pedido de Mauro Cid. Tudo acertado, o general da reserva Mauro Lourena Cid, que morava em Miami, buscou a “encomenda”.
O resto da história é conhecido. O relatório da Polícia Federal mostrou o reflexo da imagem de Lourena, que chefiou o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami, tirando fotos dos presentes oficiais desviados para venda.
O receio de Bolsonaro e família, agora, é com a possível delação de Mauro Cid ou mesmo de Lourena, seu pai. Para a Polícia Federal, os envolvidos atuavam como “organização criminosa”, com o objetivo de atacar STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as urnas eletrônicas e tentar dar um golpe em 8 de janeiro.
Desde que foi nomeado como assessor especial de Tarcísio, também em janeiro, o irmão de Michelle procura ser uma espécie de “facilitador” para os bolsonaristas. Controla páginas não oficiais com informações sobre Tarcísio nas redes sociais e faz contatos com a bancada de apoio ao governador na Assembleia Legislativa. Mesmo assim, deputados do PL de Bolsonaro reclamam da articulação política do Bandeirantes.
‘Rapaz do bem’
Discreto, Diego não fala com a imprensa e é visto até por secretários do governo como “figura estranha”, que chegou a visitar o acampamento golpista montado em frente ao Q.G do Exército, em Brasília, enrolado numa bandeira do Brasil.
Dias depois de empregar o cunhado de Bolsonaro, com salário de R$ 21.563,18, Tarcísio foi “bombardeado” nas redes, mas avisou que não iria dispensá-lo. “Ele é um rapaz super do bem, trabalhador, honesto, que me ajudou muito durante a campanha. É de absoluta confiança. É muito leal e amigo”, descreveu o governador, na ocasião.
Agora, sob o argumento de que sua família é vítima de “perseguição política”, Michelle chegou a ironizar o escândalo do desvio de presentes do acervo presidencial.
“Falam ‘Cadê as joias?’. Eu queria mesmo essas joias para mim. Tudo bem que essas joias não são do meu estilo, mas a gente poderia leiloá-las. (...) Em breve, teremos lançamento: ‘Mijoias pra vocês’. Vou fazer uma limonada docinha desse limão”, discursou a ex-primeira-dama, que é presidente do PL Mulher, ao participar de ato do partido no Recife, no último dia 26.
De lá para cá, porém, o clima azedou ainda mais. No próximo sábado, 2, Michelle comandará novo encontro do PL Mulher, desta vez em Brasília. A cúpula do partido torce para que ela não dê outro “tiro no pé”. Ainda mais agora que uma delação de Mauro Cid paira sobre o clã Bolsonaro e ameaça encrencar não só a vida do ex-presidente como a de Michelle e seu irmão Diego.