Duas linhas escritas a mão, em papel de carta, serviram como bússola para Simone Tebet. Após ser preterida pelo PT para o Ministério de Desenvolvimento Social, classificado como “coração” do novo governo por abrigar o Bolsa Família, a senadora do MDB não escondeu o desencanto com os rumos da futura gestão. Até que na sexta-feira, antevéspera de Natal, foi chamada para uma reunião com Luiz Inácio Lula da Silva.
Nada parecia dar certo porque Simone dizia que só aceitaria a outra oferta – à época, a cadeira do Meio Ambiente – se Marina Silva recusasse o convite de voltar à Esplanada naquele cargo. A deputada eleita pela Rede, porém, só queria Meio Ambiente. Diante do impasse, o presidente eleito bancou Marina, à revelia do PT. E a advogada Simone aceitou acompanhá-lo no voo de Brasília a São Paulo, na tarde de sexta-feira, para mais uma rodada de conversa.
Em uma hora e meia de trajeto, Lula falou sobre tudo – dos planos de governo ao apreço pela Granja do Torto –, mas não lhe fez novo convite. Pouco antes do desembarque, entregou à senadora um envelope. Dentro havia um bilhete, assinado de próprio punho. “Não abra agora. Primeiro, comemore o Natal com sua família”, disse Lula a Simone.
Curiosa, ela não esperou o Natal, mas só leu a mensagem após se despedir do petista. “Peço que você aceite o Ministério do Planejamento”, apelou Lula. Dentro do envelope havia o desenho da pasta, uma espécie de organograma, com as funções de cada “departamento”.
Simone já recusara antes a sondagem feita pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, sob o argumento de que é liberal e não compartilha de muitas das ideias defendidas pelo partido na economia. Mas não resistiu ao bilhete de Lula. O petista se considera “devedor” da senadora pelo apoio que ela deu no 2.º turno de sua campanha.
Os detalhes da entrada de Simone no governo Lula 3 foram acertados a cinco dias da posse. Houve mais um ruído com o PT porque ela pediu que o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) ficasse sob o guarda-chuva do Planejamento. O futuro titular da Casa Civil, Rui Costa, avisou, no entanto, que não abre mão de coordenar o PPI.
Coube a Alexandre Padilha, escolhido para a articulação política, apagar o incêndio: programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e PPI serão monitorados pela Casa Civil, mas “com participação do Planejamento no comitê gestor” que acompanha essas ações.
Dito isso, só resta a Simone trabalhar em sintonia com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ao ser perguntado, recentemente, se era fiscalista ou desenvolvimentista, Haddad respondeu: “Sou libanês”. A senadora tem a mesma origem. “Não rasgo dinheiro”, costuma afirmar ela. É possível que os dois se entendam. Ou não.