Pressionado por aliados, Juscelino telefonou para Alckmin e, sem alarde, pediu a demissão tão esperada. Não foram uma, nem duas, nem três vezes. Na quarta, diante das cobranças do partido, ligou de novo e perguntou ao interlocutor por que o Diário Oficial não trazia a dispensa solicitada.
“Que tristeza! Em 30 anos de lealdade, Vossa Excelência acredita mais no Diário Oficial do que na minha palavra?”, respondeu Alckmin, indignado.
Os personagens dessa história, embora com nomes atuais, são do tempo em que não havia orçamento secreto e muito menos presidente da República correndo para liberar joias da Arábia Saudita sem pagar impostos.
O autor do pedido de demissão não era o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, mas, sim, Juscelino Kubitschek, à época governador de Minas. E quem o embromou com o Diário Oficial não foi o vice Geraldo Alckmin. O enrolador era o mineiro José Maria Alkmin, então secretário de Finanças. O sobrenome do parente distante de Alckmin, aliás, não tinha o “c”.
O “causo” é verdadeiro e vem sendo contado pelo vice do presidente Lula em reuniões sobre um de seus temas preferidos: reforma tributária. Diz Alckmin, nesses encontros, que, meses após assumir o governo de Minas, em 1951, Juscelino pediu ao titular de Finanças para demitir o coletor estadual de impostos porque o Partido Libertador exigia a troca. O secretário não queria dispensar o homem, que era de sua cidade, Bocaiuva (MG), e acabou fazendo corpo mole. Ficou por isso mesmo.
Vice que acumula o cargo de ministro da Indústria e Comércio, Alckmin é hoje o porta-voz político do Planalto nas negociações da reforma tributária com governadores, Congresso e setor produtivo. Nas conversas, recorre a cenas do dia a dia, até na “saideira”, para cativar a plateia.
“É um tema árido e temos de explicar que não podemos continuar com esse manicômio tributário. A reforma é emprego e pode fazer, em 15 anos, o PIB crescer 10%”, disse à coluna o ex-governador de São Paulo.
Mas o União Brasil, partido de Juscelino Filho e fiel da balança nas votações, apoiará essa proposta? Lula manteve o ministro, embora ele tenha usado avião da FAB e diárias de hotel pagas pelo governo para participar de leilão de cavalos, como mostrou o Estadão. Juscelino também enviou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente à sua fazenda e não declarou o patrimônio em cavalos ao Tribunal Superior Eleitoral.
O Planalto decidiu, porém, que não é conveniente contrariar o Centrão velho de guerra. Com o Diário Oficial voltado só para nomear, e não demitir, será que Lula pode contar agora com o painel de votação no Congresso?