A guerra santa subiu de novo no palanque. Após vincular Luiz Inácio Lula da Silva a um “pacto com Satanás”, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) quer levar a primeira-dama Michelle ao Nordeste, região em que o presidente perde feio para o candidato do PT. Evangélica, Michelle é considerada um “fenômeno” pelo comitê bolsonarista.
A avaliação é de que ela foi a responsável pela vitória da ex-ministra Damares Alves na disputa por uma cadeira no Senado. A corrida no Distrito Federal dividiu o casal Bolsonaro: enquanto o chefe do Executivo ficou ao lado da ex-ministra Flávia Arruda, Michelle saiu às ruas por Damares, definida como “a verdadeira representante dos conservadores”. Flávia era a favorita, mas foi desbancada.
Para a equipe de Bolsonaro, Michelle não apenas tem potencial para atrair o voto de mulheres – público que mais rejeita o presidente – como pode atuar como cabo eleitoral do marido no Nordeste. Foi justamente lá que Lula obteve a maior vantagem para conquistar a liderança no primeiro turno, compensando o desempenho aquém das expectativas no “Triângulo das Bermudas”, formado por São Paulo, Rio e Minas.
“A ideia é que a primeira-dama, filha de cearense, visite igrejas evangélicas no Nordeste para diminuir as resistências lá”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (PL), que comanda a Frente Parlamentar Evangélica.
A campanha de Lula, por sua vez, lançará uma carta dirigida a conservadores cristãos no Dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro. A estratégia tem o objetivo de dissipar boatos de que Lula fechará igrejas. Em outra frente, a deputada eleita Marina Silva (Rede) e o candidato a vice, Geraldo Alckmin, têm feito reuniões com religiosos.
Na tentativa de ultrapassar Lula, Bolsonaro antecipou o Auxílio Brasil de R$ 600 e prometeu conceder o 13.º do benefício para famílias chefiadas por mulheres. Detalhe: o pagamento seria em dezembro de 2023.
Se ganhar, o presidente terá de arrumar dinheiro inexistente no caixa, que apresentará um rombo de R$ 430 bilhões a partir do ano que vem, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas. Se perder, a fatura ficará para Lula.
No vale-tudo em que se transformou o segundo turno, apoiadores do petista divulgaram ontem um vídeo que mostra Bolsonaro, à época deputado, pedindo voto em loja maçônica. Horas depois, o ex-presidente apareceu, no Dia de São Francisco, em reunião com frades.
“Lula não tem pacto nem jamais conversou com o diabo”, diz o perfil do candidato do PT no Instagram. Pelo andar da carruagem na direção do fogo do inferno, é de se perguntar: será que Bolsonaro já teve esse tête-à-tête? Afinal, foi a própria Michelle quem garantiu que, num passado não muito distante, o Palácio do Planalto havia sido “consagrado a demônios”. Diante de tantas labaredas políticas, o Brasil vai ficando para trás...