Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Padilha e Haddad admitem insônia na crise, mas governo precisa acertar passo do jogo com Congresso


‘Maracanã' e ‘Vila Belmiro’ batizam encontros a portas fechadas no Planalto com ministro da articulação política

Por Vera Rosa
Atualização:

A polarização que domina o cenário político fez uma curva na Praça dos Três Poderes e desembarcou no Palácio do Planalto. Na noite desta terça-feira, 28, após o Congresso derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que restringe a “saidinha” de presos do regime semiaberto para visitas a parentes, a derrota da articulação do governo ficou evidente.

Dias antes, ao olhar atentamente para o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula havia estranhado as madeixas do auxiliar. “Padilha, você pintou o cabelo?”, perguntou ele. “Só se for de branco, presidente”, respondeu o ministro.

Depois do revés desta terça-feira, porém, os cabelos de Padilha devem ter ficado ainda mais grisalhos. Motivo: todos no Congresso sabiam que a manutenção da saída temporária de presos era considerada fundamental por Lula, que teme até mesmo rebeliões nos presídios. Mas, como bem lembrou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, no dia 22, um veto presidencial, atualmente, representa “quase nada”.

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Desde novembro do ano passado, Padilha não troca palavra com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que já o chamou de “incompetente” e “desafeto”. O resultado não tardou. O governo não tem maioria no Congresso e, a cada votação, fica refém do fisiologismo e/ou da pauta de costumes.

Na tentativa de descontrair o ambiente sempre tenso, a equipe de Padilha fez uma enquete enquanto as negociações com o Congresso sobre os vetos de Lula ainda rolavam. Foi assim que no último dia 15, ao entrar na reunião do “Maracanã”, o ministro presenciou uma votação em tempo real. A pergunta era: “Quem está gostando desse novo cabelo sem corte do Padilha?”

Lula ficou intrigado com as madeixas de Padilha: "Você pintou o cabelo?"  Foto: Wilton Junior/Estadão
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Em mais um capítulo da temporada de Fla-Flu político, a divisão ficou escancarada. Por uma margem mínima de votos, no entanto, o layout de fios mais compridos e desalinhados foi reprovado. “Até aqui tem polarização, meu Deus do céu?”, perguntou o ministro aos assessores. Mesmo a contragosto, no entanto, Padilha se rendeu à opinião do “Maracanã” e desbastou o cabelo.

“Maracanã”, no caso, não é o estádio de futebol do Rio, mas, sim, o nome dado à reunião de todos os funcionários e secretários com o ministro, às segundas, terças e quarta-feiras, para distribuição de tarefas da articulação política. Os despachos das ações ocorrem no quarto andar do Planalto.

Às quintas é a vez do encontro com o time da “Vila Belmiro”. O colóquio foi batizado com o nome do estádio do Santos por abrigar um número menor de assessores da Secretaria de Relações Institucionais, muitas vezes no gabinete do próprio ministro. Ali a Ali a discussão é sobre o jogo da política, mas o governo está levando bola nas costas.

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É nessa reunião, por exemplo, que são preparadas as estratégias para a semana seguinte. Detalhe: Padilha, assim como Lula, é corintiano, e não santista. No Planalto quem torce pelo Peixe é o vice Geraldo Alckmin, que tem até um caderno com o brasão do time. “Mas aqui a gente sempre articula o meio-termo. Nada de radicalismo”, diz o ministro responsável pela interlocução com o Congresso.

Padilha não consegue esconder as olheiras, que ganhou por passar noites em reuniões e jantares com deputados e senadores, muitas vezes até de madrugada. Nem assim fez acordo com Lira, líder do Centrão, que vira e mexe põe uma casca de banana no caminho do governo, mas quer apoio do Planalto para eleger o seu sucessor no comando da Câmara, em fevereiro de 2025.

Haddad diz que tem perdido o sono: "Desde o episódio do Rio Grande do Sul eu durmo menos."  Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Haddad, por sua vez, também admite que tem perdido o sono. “Desde o episódio do Rio Grande do Sul, eu durmo menos”, contou o ministro da Fazenda à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

A confissão passou praticamente despercebida diante das provocações de deputados bolsonaristas, que fizeram o titular da Fazenda vestir o antigo figurino de Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, em um bate-boca que incluiu temas como a circunferência da Terra e o show da Madonna.

“Eu fico pensando nos próximos passos, no que vai acontecer com a receita do Rio Grande do Sul, como isso vai ser lido no mercado”, disse Haddad. “Esse terceiro trimestre está me preocupando um pouquinho.”

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As ruidosas brigas com o PT não abalam o ministro, mas a tragédia no Rio Grande do Sul e suas consequências, sim. Da mesma forma, o estica e puxa com o Congresso faz de Padilha um articulador político insone.

Agora, Haddad entrou com tudo na polarização para socorrer o governo, sobretudo após ser cobrado por Lula a ler menos e negociar mais. Justo ele que, quando fazia doutorado em Filosofia na USP, em 1995, ficou mais inconformado com o desaparecimento do livro Economia e Sociedade, guardado no seu Santana, do que com o roubo do próprio carro. Mas naquela época não havia Centrão, nem governo Lula, nem negacionismo de Jair Bolsonaro e muito menos 8 de janeiro. Durma-se com um barulho desses...

A polarização que domina o cenário político fez uma curva na Praça dos Três Poderes e desembarcou no Palácio do Planalto. Na noite desta terça-feira, 28, após o Congresso derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que restringe a “saidinha” de presos do regime semiaberto para visitas a parentes, a derrota da articulação do governo ficou evidente.

Dias antes, ao olhar atentamente para o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula havia estranhado as madeixas do auxiliar. “Padilha, você pintou o cabelo?”, perguntou ele. “Só se for de branco, presidente”, respondeu o ministro.

Depois do revés desta terça-feira, porém, os cabelos de Padilha devem ter ficado ainda mais grisalhos. Motivo: todos no Congresso sabiam que a manutenção da saída temporária de presos era considerada fundamental por Lula, que teme até mesmo rebeliões nos presídios. Mas, como bem lembrou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, no dia 22, um veto presidencial, atualmente, representa “quase nada”.

Desde novembro do ano passado, Padilha não troca palavra com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que já o chamou de “incompetente” e “desafeto”. O resultado não tardou. O governo não tem maioria no Congresso e, a cada votação, fica refém do fisiologismo e/ou da pauta de costumes.

Na tentativa de descontrair o ambiente sempre tenso, a equipe de Padilha fez uma enquete enquanto as negociações com o Congresso sobre os vetos de Lula ainda rolavam. Foi assim que no último dia 15, ao entrar na reunião do “Maracanã”, o ministro presenciou uma votação em tempo real. A pergunta era: “Quem está gostando desse novo cabelo sem corte do Padilha?”

Lula ficou intrigado com as madeixas de Padilha: "Você pintou o cabelo?"  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em mais um capítulo da temporada de Fla-Flu político, a divisão ficou escancarada. Por uma margem mínima de votos, no entanto, o layout de fios mais compridos e desalinhados foi reprovado. “Até aqui tem polarização, meu Deus do céu?”, perguntou o ministro aos assessores. Mesmo a contragosto, no entanto, Padilha se rendeu à opinião do “Maracanã” e desbastou o cabelo.

“Maracanã”, no caso, não é o estádio de futebol do Rio, mas, sim, o nome dado à reunião de todos os funcionários e secretários com o ministro, às segundas, terças e quarta-feiras, para distribuição de tarefas da articulação política. Os despachos das ações ocorrem no quarto andar do Planalto.

Às quintas é a vez do encontro com o time da “Vila Belmiro”. O colóquio foi batizado com o nome do estádio do Santos por abrigar um número menor de assessores da Secretaria de Relações Institucionais, muitas vezes no gabinete do próprio ministro. Ali a Ali a discussão é sobre o jogo da política, mas o governo está levando bola nas costas.

É nessa reunião, por exemplo, que são preparadas as estratégias para a semana seguinte. Detalhe: Padilha, assim como Lula, é corintiano, e não santista. No Planalto quem torce pelo Peixe é o vice Geraldo Alckmin, que tem até um caderno com o brasão do time. “Mas aqui a gente sempre articula o meio-termo. Nada de radicalismo”, diz o ministro responsável pela interlocução com o Congresso.

Padilha não consegue esconder as olheiras, que ganhou por passar noites em reuniões e jantares com deputados e senadores, muitas vezes até de madrugada. Nem assim fez acordo com Lira, líder do Centrão, que vira e mexe põe uma casca de banana no caminho do governo, mas quer apoio do Planalto para eleger o seu sucessor no comando da Câmara, em fevereiro de 2025.

Haddad diz que tem perdido o sono: "Desde o episódio do Rio Grande do Sul eu durmo menos."  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Haddad, por sua vez, também admite que tem perdido o sono. “Desde o episódio do Rio Grande do Sul, eu durmo menos”, contou o ministro da Fazenda à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

A confissão passou praticamente despercebida diante das provocações de deputados bolsonaristas, que fizeram o titular da Fazenda vestir o antigo figurino de Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, em um bate-boca que incluiu temas como a circunferência da Terra e o show da Madonna.

“Eu fico pensando nos próximos passos, no que vai acontecer com a receita do Rio Grande do Sul, como isso vai ser lido no mercado”, disse Haddad. “Esse terceiro trimestre está me preocupando um pouquinho.”

As ruidosas brigas com o PT não abalam o ministro, mas a tragédia no Rio Grande do Sul e suas consequências, sim. Da mesma forma, o estica e puxa com o Congresso faz de Padilha um articulador político insone.

Agora, Haddad entrou com tudo na polarização para socorrer o governo, sobretudo após ser cobrado por Lula a ler menos e negociar mais. Justo ele que, quando fazia doutorado em Filosofia na USP, em 1995, ficou mais inconformado com o desaparecimento do livro Economia e Sociedade, guardado no seu Santana, do que com o roubo do próprio carro. Mas naquela época não havia Centrão, nem governo Lula, nem negacionismo de Jair Bolsonaro e muito menos 8 de janeiro. Durma-se com um barulho desses...

A polarização que domina o cenário político fez uma curva na Praça dos Três Poderes e desembarcou no Palácio do Planalto. Na noite desta terça-feira, 28, após o Congresso derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que restringe a “saidinha” de presos do regime semiaberto para visitas a parentes, a derrota da articulação do governo ficou evidente.

Dias antes, ao olhar atentamente para o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula havia estranhado as madeixas do auxiliar. “Padilha, você pintou o cabelo?”, perguntou ele. “Só se for de branco, presidente”, respondeu o ministro.

Depois do revés desta terça-feira, porém, os cabelos de Padilha devem ter ficado ainda mais grisalhos. Motivo: todos no Congresso sabiam que a manutenção da saída temporária de presos era considerada fundamental por Lula, que teme até mesmo rebeliões nos presídios. Mas, como bem lembrou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, no dia 22, um veto presidencial, atualmente, representa “quase nada”.

Desde novembro do ano passado, Padilha não troca palavra com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que já o chamou de “incompetente” e “desafeto”. O resultado não tardou. O governo não tem maioria no Congresso e, a cada votação, fica refém do fisiologismo e/ou da pauta de costumes.

Na tentativa de descontrair o ambiente sempre tenso, a equipe de Padilha fez uma enquete enquanto as negociações com o Congresso sobre os vetos de Lula ainda rolavam. Foi assim que no último dia 15, ao entrar na reunião do “Maracanã”, o ministro presenciou uma votação em tempo real. A pergunta era: “Quem está gostando desse novo cabelo sem corte do Padilha?”

Lula ficou intrigado com as madeixas de Padilha: "Você pintou o cabelo?"  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em mais um capítulo da temporada de Fla-Flu político, a divisão ficou escancarada. Por uma margem mínima de votos, no entanto, o layout de fios mais compridos e desalinhados foi reprovado. “Até aqui tem polarização, meu Deus do céu?”, perguntou o ministro aos assessores. Mesmo a contragosto, no entanto, Padilha se rendeu à opinião do “Maracanã” e desbastou o cabelo.

“Maracanã”, no caso, não é o estádio de futebol do Rio, mas, sim, o nome dado à reunião de todos os funcionários e secretários com o ministro, às segundas, terças e quarta-feiras, para distribuição de tarefas da articulação política. Os despachos das ações ocorrem no quarto andar do Planalto.

Às quintas é a vez do encontro com o time da “Vila Belmiro”. O colóquio foi batizado com o nome do estádio do Santos por abrigar um número menor de assessores da Secretaria de Relações Institucionais, muitas vezes no gabinete do próprio ministro. Ali a Ali a discussão é sobre o jogo da política, mas o governo está levando bola nas costas.

É nessa reunião, por exemplo, que são preparadas as estratégias para a semana seguinte. Detalhe: Padilha, assim como Lula, é corintiano, e não santista. No Planalto quem torce pelo Peixe é o vice Geraldo Alckmin, que tem até um caderno com o brasão do time. “Mas aqui a gente sempre articula o meio-termo. Nada de radicalismo”, diz o ministro responsável pela interlocução com o Congresso.

Padilha não consegue esconder as olheiras, que ganhou por passar noites em reuniões e jantares com deputados e senadores, muitas vezes até de madrugada. Nem assim fez acordo com Lira, líder do Centrão, que vira e mexe põe uma casca de banana no caminho do governo, mas quer apoio do Planalto para eleger o seu sucessor no comando da Câmara, em fevereiro de 2025.

Haddad diz que tem perdido o sono: "Desde o episódio do Rio Grande do Sul eu durmo menos."  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Haddad, por sua vez, também admite que tem perdido o sono. “Desde o episódio do Rio Grande do Sul, eu durmo menos”, contou o ministro da Fazenda à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

A confissão passou praticamente despercebida diante das provocações de deputados bolsonaristas, que fizeram o titular da Fazenda vestir o antigo figurino de Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, em um bate-boca que incluiu temas como a circunferência da Terra e o show da Madonna.

“Eu fico pensando nos próximos passos, no que vai acontecer com a receita do Rio Grande do Sul, como isso vai ser lido no mercado”, disse Haddad. “Esse terceiro trimestre está me preocupando um pouquinho.”

As ruidosas brigas com o PT não abalam o ministro, mas a tragédia no Rio Grande do Sul e suas consequências, sim. Da mesma forma, o estica e puxa com o Congresso faz de Padilha um articulador político insone.

Agora, Haddad entrou com tudo na polarização para socorrer o governo, sobretudo após ser cobrado por Lula a ler menos e negociar mais. Justo ele que, quando fazia doutorado em Filosofia na USP, em 1995, ficou mais inconformado com o desaparecimento do livro Economia e Sociedade, guardado no seu Santana, do que com o roubo do próprio carro. Mas naquela época não havia Centrão, nem governo Lula, nem negacionismo de Jair Bolsonaro e muito menos 8 de janeiro. Durma-se com um barulho desses...

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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