Depois das conclusões da Polícia Federal sobre a trama golpista e dos percalços enfrentados nas disputas municipais, a cúpula do PT decidiu comprar nova briga com os militares e também com o Centrão, grupo que estaria sendo beneficiado por um “republicanismo excessivo” do governo.
A proposta de resolução política que passará pelo crivo do Diretório Nacional do PT, em reunião no próximo sábado, 7, destaca que o partido vai retomar as articulações para mudar o artigo 142 da Constituição e para impedir que militares da ativa disputem eleições e ocupem cargos civis.
“Política não é e nunca foi lugar para as Forças Armadas”, diz um trecho do chamado “texto-base” da resolução, que ainda pode ser alterado.
Na teoria, comandantes militares concordam com isso, tanto que apoiaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), hoje parada no Senado, sobre o assunto. Mas divergem de mudanças no artigo 142, que foi distorcido por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro – indiciado no inquérito do golpe – como justificativa para defender uma intervenção militar no País.
As estocadas da cúpula petista, porém, ultrapassam as fronteiras das Forças Armadas: o documento sustenta que o PT foi prejudicado nas últimas disputas para as prefeituras por um “republicanismo excessivo” do governo Lula. O termo chegou a ser usado a portas fechadas, na reunião da Executiva do PT de 28 de outubro, após o mau desempenho do partido nas urnas.
Produzida pela tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, a versão preliminar da resolução política afirma agora que inúmeras realizações da administração Lula foram “eclipsadas” pelo orçamento secreto. Detalhe: a CNB é justamente a corrente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O argumento dos dirigentes é que, diante de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares, “dinheirama distribuída num piscar de olhos, ou no átimo de um PIX”, candidatos do PT ficaram sem discurso “frente a nomes do Centrão e da direita”. Não é só: mesmo sem defender em público a reforma ministerial, o partido recomenda que, em 2025, o governo se organize olhando para quem estará a seu lado em votações cruciais e também no palanque de 2026.
Emendas são alvo de ‘estica e puxa’
Na atual temporada, as emendas são alvo de um “estica e puxa” que tem irritado o Congresso, principalmente o Centrão, por causa de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. Apesar de liberar o pagamento das emendas, Dino exigiu que os parlamentares divulguem quem enviou e quem recebeu os recursos. É tudo o que eles não querem.
Se o dinheiro não sair, no entanto, deputados e senadores ameaçam barrar a votação do pacote enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê o corte de gastos.
Um ano após ter aprovado uma resolução que atacava o “austericídio fiscal” – nome com o qual batizou o arcabouço proposto por Haddad –, a cúpula do PT agora aplaude o titular da Fazenda.
“Estamos cada vez mais governistas”, resumiu o deputado Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT. “O que está por trás dos ataques ao plano apresentado por Lula e por Haddad é especulação brava”, afirmou Lindbergh Farias (RJ), que será líder da bancada do PT a partir de fevereiro de 2025.
A proposta de resolução política para a última reunião do ano do PT diz que Lula faz um “ótimo governo” e elogia suas articulações na Cúpula do G-20 e na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. No diagnóstico dos petistas, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos acende um “preocupante alerta” para o campo democrático no mundo.
Mesmo com os elogios a Lula, dirigentes do PT admitem, porém, que o governo precisa de ajustes na comunicação. “Para isso, é urgente, inadiável, engajar-se no embate político com quem sequestrou os canais diretos de comunicação com a massa: a extrema direita”, assinala um dos trechos do documento.
Haddad é poupado de críticas por causa de uma medida enxertada na última hora no pacote e execrada pelo mercado: a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
O PT também promete travar no Congresso uma “luta” pela taxação dos super-ricos e observa que o cenário econômico só não é mais promissor por causa da “sabotagem deliberada” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Definido ali como “uma espécie de parasita do sistema financeiro”, que cria “todo tipo de brechas” para que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente os juros, Campos Neto não responde aos ataques do PT.
Às vésperas de deixar o cargo, o presidente do Banco Central continua repetindo que faz um trabalho técnico, e não político. Mas já indicou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que aceitaria ser ministro da Fazenda, caso um dia ele venha a ocupar a Presidência.
No mercado que, segundo Lula, mais parece uma “entidade”, é comum agora o comentário de que Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, já está pondo as “barbas de molho”.
Por enquanto, apesar de receber uma crítica aqui e outra ali de dirigentes do PT, que o consideram muito preocupado em agradar ao mercado, Galípolo ainda está em lua de mel com o partido de Lula. Resta saber até quando.