Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Reunião no STF sobre emendas teve reclamação de Rui Costa e alfinetada de Lira; leia bastidores


Encontro promovido para firmar acordo de paz, porém, está longe de selar a harmonia entre os três Poderes e crise vai continuar

Por Vera Rosa
Atualização:

A reunião promovida nesta terça-feira, 20, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com a cúpula da Câmara, do Senado e ministros do governo Lula está longe de selar a harmonia entre os Poderes diante da crise. As fotos de homens engravatados sorridentes, em sofás de couro preto, não refletem o que ocorre nos bastidores.

A certa altura do encontro para discutir o futuro das emendas parlamentares, por exemplo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, expôs a contrariedade com o avanço do Congresso sobre o Orçamento.

“Do jeito que está, daqui a pouco o Congresso vai ficar com 100% das discricionárias”, disse ele, numa referência às despesas não obrigatórias, que o governo pode decidir como e quando gastar, como investimento e custeio.

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Ministros do STF se reuniram com representantes do Congresso e do Executivo para discutir destino de emendas parlamentares. Foto: Henrique Raynal/Casa Civil

Foi então que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu uma alfinetada em Costa. “E os ministros da Agricultura e das Cidades, que enviaram metade dos recursos das emendas para os seus próprios Estados?”, perguntou o deputado, em alusão aos ministros Carlos Fávaro (PSD) e Jader Filho (MDB). O clima esquentou, mas não houve bate-boca.

Antes, na quinta-feira, 15, oito dos 11 ministros do STF tiveram um encontro a portas fechadas, com o objetivo de construir estratégias para a votação no plenário, no dia seguinte, e a reunião desta terça.

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A proposta da Casa Civil era acabar com as emendas de comissão, nas quais os padrinhos não são identificados, e jogar tudo para as individuais, mesmo que fossem as transferências Pix, em que o dinheiro cai direto nas contas de prefeituras e Estados.

Um dos magistrados disse ali que, se isso ocorresse, o governo “perderia governabilidade” no Congresso. Lira sempre foi contra o fim das emendas de comissão. Na Câmara, é ele que controla a distribuição dessa verba para os redutos eleitorais de aliados.

O presidente da Câmara, Athur Lira, lembrou na reunião que ministros do governo Lula também enviaram emendas para seus próprios Estados. Foto: MARIO AGRA AGENCIA CAMARA
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Outro ministro do STF observou então que, se o presidente Lula achava ruim a Câmara com Lira, não tinha ideia do que aconteceria se ele não tivesse domínio de sua própria base, o Centrão. Avaliou que, em protesto, deputados poderiam até mesmo “nem aparecer em Brasília”.

Naquele dia, que antecedeu o julgamento da liminar dada por Flávio Dino, os magistrados decidiram manter as restrições definidas pelo colega ao pagamento das emendas, para mostrar unidade da Corte. Combinaram, porém, que, logo depois, fariam um aceno na direção do acordo com o Congresso.

E assim foi feito. Apesar disso, no encontro desta terça-feira – seguido de almoço com duas opções de salada, massa, filé, bacalhau, frutas e bolo de chocolate de sobremesa –, Lira manifestou sua irritação.

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PAC foi esnobado até pelo PT

“O que é que nós estamos fazendo para impedir o governo de implementar suas políticas públicas? A Câmara aprovou tudo, até a reforma tributária”, afirmou ele, que fez a mesma pergunta na conversa com Lula, na noite de segunda-feira, 19.

O Planalto quer agora que deputados e senadores direcionem recursos de emendas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de projetos considerados prioritários em saúde, habitação e educação. Mas, até hoje, o PAC foi esnobado até pelo PT.

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A pedido do governo, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União Brasil-CE), chegou a criar uma rubrica especialmente para esse fim: a RP-3. Dos R$ 50 bilhões disponíveis para emendas, no entanto, parlamentares e comissões só destinaram R$ 241 milhões para o PAC nessa rubrica, de acordo com dados do Siga Brasil, plataforma de informações sobre o Orçamento.

“Nem deputados do PT quiseram colocar dinheiro no PAC”, observou Forte à Coluna. “O parlamentar vai pôr dinheiro lá para não aparecer em nada, em lugar nenhum? O governo, depois, nem agradece.”

Consta que, quando era deputado federal, Tancredo Neves dizia: “Peça qualquer coisa para um político, menos o seu suicídio.” Ao que tudo indica, o STF e o Planalto viram que, se esticassem muito a corda, receberiam o troco lá na frente. E tiraram o bode da sala.

A reunião promovida nesta terça-feira, 20, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com a cúpula da Câmara, do Senado e ministros do governo Lula está longe de selar a harmonia entre os Poderes diante da crise. As fotos de homens engravatados sorridentes, em sofás de couro preto, não refletem o que ocorre nos bastidores.

A certa altura do encontro para discutir o futuro das emendas parlamentares, por exemplo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, expôs a contrariedade com o avanço do Congresso sobre o Orçamento.

“Do jeito que está, daqui a pouco o Congresso vai ficar com 100% das discricionárias”, disse ele, numa referência às despesas não obrigatórias, que o governo pode decidir como e quando gastar, como investimento e custeio.

Ministros do STF se reuniram com representantes do Congresso e do Executivo para discutir destino de emendas parlamentares. Foto: Henrique Raynal/Casa Civil

Foi então que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu uma alfinetada em Costa. “E os ministros da Agricultura e das Cidades, que enviaram metade dos recursos das emendas para os seus próprios Estados?”, perguntou o deputado, em alusão aos ministros Carlos Fávaro (PSD) e Jader Filho (MDB). O clima esquentou, mas não houve bate-boca.

Antes, na quinta-feira, 15, oito dos 11 ministros do STF tiveram um encontro a portas fechadas, com o objetivo de construir estratégias para a votação no plenário, no dia seguinte, e a reunião desta terça.

A proposta da Casa Civil era acabar com as emendas de comissão, nas quais os padrinhos não são identificados, e jogar tudo para as individuais, mesmo que fossem as transferências Pix, em que o dinheiro cai direto nas contas de prefeituras e Estados.

Um dos magistrados disse ali que, se isso ocorresse, o governo “perderia governabilidade” no Congresso. Lira sempre foi contra o fim das emendas de comissão. Na Câmara, é ele que controla a distribuição dessa verba para os redutos eleitorais de aliados.

O presidente da Câmara, Athur Lira, lembrou na reunião que ministros do governo Lula também enviaram emendas para seus próprios Estados. Foto: MARIO AGRA AGENCIA CAMARA

Outro ministro do STF observou então que, se o presidente Lula achava ruim a Câmara com Lira, não tinha ideia do que aconteceria se ele não tivesse domínio de sua própria base, o Centrão. Avaliou que, em protesto, deputados poderiam até mesmo “nem aparecer em Brasília”.

Naquele dia, que antecedeu o julgamento da liminar dada por Flávio Dino, os magistrados decidiram manter as restrições definidas pelo colega ao pagamento das emendas, para mostrar unidade da Corte. Combinaram, porém, que, logo depois, fariam um aceno na direção do acordo com o Congresso.

E assim foi feito. Apesar disso, no encontro desta terça-feira – seguido de almoço com duas opções de salada, massa, filé, bacalhau, frutas e bolo de chocolate de sobremesa –, Lira manifestou sua irritação.

PAC foi esnobado até pelo PT

“O que é que nós estamos fazendo para impedir o governo de implementar suas políticas públicas? A Câmara aprovou tudo, até a reforma tributária”, afirmou ele, que fez a mesma pergunta na conversa com Lula, na noite de segunda-feira, 19.

O Planalto quer agora que deputados e senadores direcionem recursos de emendas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de projetos considerados prioritários em saúde, habitação e educação. Mas, até hoje, o PAC foi esnobado até pelo PT.

A pedido do governo, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União Brasil-CE), chegou a criar uma rubrica especialmente para esse fim: a RP-3. Dos R$ 50 bilhões disponíveis para emendas, no entanto, parlamentares e comissões só destinaram R$ 241 milhões para o PAC nessa rubrica, de acordo com dados do Siga Brasil, plataforma de informações sobre o Orçamento.

“Nem deputados do PT quiseram colocar dinheiro no PAC”, observou Forte à Coluna. “O parlamentar vai pôr dinheiro lá para não aparecer em nada, em lugar nenhum? O governo, depois, nem agradece.”

Consta que, quando era deputado federal, Tancredo Neves dizia: “Peça qualquer coisa para um político, menos o seu suicídio.” Ao que tudo indica, o STF e o Planalto viram que, se esticassem muito a corda, receberiam o troco lá na frente. E tiraram o bode da sala.

A reunião promovida nesta terça-feira, 20, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com a cúpula da Câmara, do Senado e ministros do governo Lula está longe de selar a harmonia entre os Poderes diante da crise. As fotos de homens engravatados sorridentes, em sofás de couro preto, não refletem o que ocorre nos bastidores.

A certa altura do encontro para discutir o futuro das emendas parlamentares, por exemplo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, expôs a contrariedade com o avanço do Congresso sobre o Orçamento.

“Do jeito que está, daqui a pouco o Congresso vai ficar com 100% das discricionárias”, disse ele, numa referência às despesas não obrigatórias, que o governo pode decidir como e quando gastar, como investimento e custeio.

Ministros do STF se reuniram com representantes do Congresso e do Executivo para discutir destino de emendas parlamentares. Foto: Henrique Raynal/Casa Civil

Foi então que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu uma alfinetada em Costa. “E os ministros da Agricultura e das Cidades, que enviaram metade dos recursos das emendas para os seus próprios Estados?”, perguntou o deputado, em alusão aos ministros Carlos Fávaro (PSD) e Jader Filho (MDB). O clima esquentou, mas não houve bate-boca.

Antes, na quinta-feira, 15, oito dos 11 ministros do STF tiveram um encontro a portas fechadas, com o objetivo de construir estratégias para a votação no plenário, no dia seguinte, e a reunião desta terça.

A proposta da Casa Civil era acabar com as emendas de comissão, nas quais os padrinhos não são identificados, e jogar tudo para as individuais, mesmo que fossem as transferências Pix, em que o dinheiro cai direto nas contas de prefeituras e Estados.

Um dos magistrados disse ali que, se isso ocorresse, o governo “perderia governabilidade” no Congresso. Lira sempre foi contra o fim das emendas de comissão. Na Câmara, é ele que controla a distribuição dessa verba para os redutos eleitorais de aliados.

O presidente da Câmara, Athur Lira, lembrou na reunião que ministros do governo Lula também enviaram emendas para seus próprios Estados. Foto: MARIO AGRA AGENCIA CAMARA

Outro ministro do STF observou então que, se o presidente Lula achava ruim a Câmara com Lira, não tinha ideia do que aconteceria se ele não tivesse domínio de sua própria base, o Centrão. Avaliou que, em protesto, deputados poderiam até mesmo “nem aparecer em Brasília”.

Naquele dia, que antecedeu o julgamento da liminar dada por Flávio Dino, os magistrados decidiram manter as restrições definidas pelo colega ao pagamento das emendas, para mostrar unidade da Corte. Combinaram, porém, que, logo depois, fariam um aceno na direção do acordo com o Congresso.

E assim foi feito. Apesar disso, no encontro desta terça-feira – seguido de almoço com duas opções de salada, massa, filé, bacalhau, frutas e bolo de chocolate de sobremesa –, Lira manifestou sua irritação.

PAC foi esnobado até pelo PT

“O que é que nós estamos fazendo para impedir o governo de implementar suas políticas públicas? A Câmara aprovou tudo, até a reforma tributária”, afirmou ele, que fez a mesma pergunta na conversa com Lula, na noite de segunda-feira, 19.

O Planalto quer agora que deputados e senadores direcionem recursos de emendas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de projetos considerados prioritários em saúde, habitação e educação. Mas, até hoje, o PAC foi esnobado até pelo PT.

A pedido do governo, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União Brasil-CE), chegou a criar uma rubrica especialmente para esse fim: a RP-3. Dos R$ 50 bilhões disponíveis para emendas, no entanto, parlamentares e comissões só destinaram R$ 241 milhões para o PAC nessa rubrica, de acordo com dados do Siga Brasil, plataforma de informações sobre o Orçamento.

“Nem deputados do PT quiseram colocar dinheiro no PAC”, observou Forte à Coluna. “O parlamentar vai pôr dinheiro lá para não aparecer em nada, em lugar nenhum? O governo, depois, nem agradece.”

Consta que, quando era deputado federal, Tancredo Neves dizia: “Peça qualquer coisa para um político, menos o seu suicídio.” Ao que tudo indica, o STF e o Planalto viram que, se esticassem muito a corda, receberiam o troco lá na frente. E tiraram o bode da sala.

A reunião promovida nesta terça-feira, 20, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com a cúpula da Câmara, do Senado e ministros do governo Lula está longe de selar a harmonia entre os Poderes diante da crise. As fotos de homens engravatados sorridentes, em sofás de couro preto, não refletem o que ocorre nos bastidores.

A certa altura do encontro para discutir o futuro das emendas parlamentares, por exemplo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, expôs a contrariedade com o avanço do Congresso sobre o Orçamento.

“Do jeito que está, daqui a pouco o Congresso vai ficar com 100% das discricionárias”, disse ele, numa referência às despesas não obrigatórias, que o governo pode decidir como e quando gastar, como investimento e custeio.

Ministros do STF se reuniram com representantes do Congresso e do Executivo para discutir destino de emendas parlamentares. Foto: Henrique Raynal/Casa Civil

Foi então que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu uma alfinetada em Costa. “E os ministros da Agricultura e das Cidades, que enviaram metade dos recursos das emendas para os seus próprios Estados?”, perguntou o deputado, em alusão aos ministros Carlos Fávaro (PSD) e Jader Filho (MDB). O clima esquentou, mas não houve bate-boca.

Antes, na quinta-feira, 15, oito dos 11 ministros do STF tiveram um encontro a portas fechadas, com o objetivo de construir estratégias para a votação no plenário, no dia seguinte, e a reunião desta terça.

A proposta da Casa Civil era acabar com as emendas de comissão, nas quais os padrinhos não são identificados, e jogar tudo para as individuais, mesmo que fossem as transferências Pix, em que o dinheiro cai direto nas contas de prefeituras e Estados.

Um dos magistrados disse ali que, se isso ocorresse, o governo “perderia governabilidade” no Congresso. Lira sempre foi contra o fim das emendas de comissão. Na Câmara, é ele que controla a distribuição dessa verba para os redutos eleitorais de aliados.

O presidente da Câmara, Athur Lira, lembrou na reunião que ministros do governo Lula também enviaram emendas para seus próprios Estados. Foto: MARIO AGRA AGENCIA CAMARA

Outro ministro do STF observou então que, se o presidente Lula achava ruim a Câmara com Lira, não tinha ideia do que aconteceria se ele não tivesse domínio de sua própria base, o Centrão. Avaliou que, em protesto, deputados poderiam até mesmo “nem aparecer em Brasília”.

Naquele dia, que antecedeu o julgamento da liminar dada por Flávio Dino, os magistrados decidiram manter as restrições definidas pelo colega ao pagamento das emendas, para mostrar unidade da Corte. Combinaram, porém, que, logo depois, fariam um aceno na direção do acordo com o Congresso.

E assim foi feito. Apesar disso, no encontro desta terça-feira – seguido de almoço com duas opções de salada, massa, filé, bacalhau, frutas e bolo de chocolate de sobremesa –, Lira manifestou sua irritação.

PAC foi esnobado até pelo PT

“O que é que nós estamos fazendo para impedir o governo de implementar suas políticas públicas? A Câmara aprovou tudo, até a reforma tributária”, afirmou ele, que fez a mesma pergunta na conversa com Lula, na noite de segunda-feira, 19.

O Planalto quer agora que deputados e senadores direcionem recursos de emendas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de projetos considerados prioritários em saúde, habitação e educação. Mas, até hoje, o PAC foi esnobado até pelo PT.

A pedido do governo, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União Brasil-CE), chegou a criar uma rubrica especialmente para esse fim: a RP-3. Dos R$ 50 bilhões disponíveis para emendas, no entanto, parlamentares e comissões só destinaram R$ 241 milhões para o PAC nessa rubrica, de acordo com dados do Siga Brasil, plataforma de informações sobre o Orçamento.

“Nem deputados do PT quiseram colocar dinheiro no PAC”, observou Forte à Coluna. “O parlamentar vai pôr dinheiro lá para não aparecer em nada, em lugar nenhum? O governo, depois, nem agradece.”

Consta que, quando era deputado federal, Tancredo Neves dizia: “Peça qualquer coisa para um político, menos o seu suicídio.” Ao que tudo indica, o STF e o Planalto viram que, se esticassem muito a corda, receberiam o troco lá na frente. E tiraram o bode da sala.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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