A pouco menos de um ano para as eleições municipais de 2024, os vereadores da Câmara Municipal de São Paulo traçam as suas estratégias em busca da reeleição, incluindo possíveis troca de partido para concorrer. Para evitar perdas de mandatos, essas mudanças vão acontecer somente no período da janela partidária. As primeiras conversas, entretanto, já estão em andamento, segundo parlamentares ouvidos pelo Estadão.
Em eleições proporcionais, como as que elegem vereadores e deputados, é o partido, e não o candidato eleito, que detém o mandato. Nesse contexto, ocorre a chamada janela partidária a cada ciclo eleitoral, um prazo de 30 dias para que parlamentares possam mudar de partido sem perder o mandato. Esse período acontece seis meses antes do pleito. Com isso, os vereadores paulistanos vão começar a trocar de partido a partir de março do ano que vem.
De acordo com parlamentares, o MDB, do prefeito da capital e candidato à reeleição, Ricardo Nunes, deve receber o maior número de vereadores durante a janela partidária, seguido pelo PL, de Jair Bolsonaro. O PSDB, por outro lado, corre o risco de perder metade de sua bancada na Câmara. Isso porque os vereadores tucanos são contrários à proposta do diretório nacional da sigla de lançar um candidato próprio na disputa à Prefeitura.
Vereador João Jorge, líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo
Como mostrou o Estadão, a cúpula tucana estuda lançar o ex-vereador Andrea Matarazzo ao comando da capital paulista no ano que vem. Matarazzo deixou o PSDB em 2016, após 23 anos de filiação e um embate com a ala do partido que indicou João Doria como candidato à disputa naquele ano. Atualmente, ele está no PSD, porém indicou estar interessado em retornar às fileiras tucanas para concorrer novamente à Prefeitura.
Há mais de três décadas no PSDB, o líder do partido na Câmara Municipal, João Jorge, afirma que sua vontade é permanecer na legenda, porém ele não nega que pode deixar a sigla. “Eu e toda bancada tucana estamos trabalhando para que o PSDB apoie a reeleição do prefeito Ricardo Nunes. Caso a direção nacional siga em outra direção, posso rever minha permanência”, afirmou ao Estadão.
Além dele, o líder do governo na Casa, Fábio Riva (PSDB), pode deixar a legenda caso o partido não apoio a reeleição de Nunes desde o primeiro turno das eleições. Interlocutores de Riva afirmam que o MDB é o destino mais provável para o parlamentar. As vereadoras Sandra Santana e Rute Costa, ambas do PSDB, também manifestaram a intenção de abandonar o partido, segundo colegas. Riva e Rute foram procurados pelo Estadão, mas não retornaram aos contatos. Já Sandra declarou, por meio de nota, seu apoio à candidatura de Nunes e disse que tem debatido a relevância do PSDB nesse processo. “Acho prematuro, neste momento, falar em ‘sair ou ficar’. O mais importante hoje é deixar claro que apoio o projeto do nosso prefeito Ricardo Nunes”.
PSOL pode perder vereadora do MTST
O PSOL, que trabalha na candidatura do deputado federal Guilherme Boulos à Prefeitura, é outra sigla que pode ter a bancada reduzida por conta de conflitos internos. A vereadora Jussara Basso (PSOL), que foi coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), rompeu com o movimento social e com o grupo político de Boulos. Desde então, ela tem sido alvo de especulações sobre uma possível saída do partido. Ela, porém, nega tal intenção.
“É importante enfatizar que minha decisão de romper com o MTST foi motivada por uma série de fatores pessoais e políticos, mas isso não alterou a minha filiação partidária. Permaneço fiel ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)”, afirmou Jussara por meio de nota. “Entendo que mudanças podem gerar especulações, mas quero assegurar a todos os meus eleitores e apoiadores que meu compromisso com nossos princípios e pautas permanece inabalável”.
O impasse com Jussara não é a única disputa que o grupo de Boulos enfrenta dentro do PSOL. O último congresso nacional da sigla foi marcado pela tensão entre as diferentes correntes partidárias e teve que ser interrompido após uma briga entre militantes que descambou para a troca de socos. Na ocasião, a historiadora Paula Coradi, que é ligada a Boulos, foi eleita presidente do partido, derrotando a corrente da deputadas Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
PL e PP atraem vereadores alinhados com bolsonarismo
As negociações para troca de partido na Câmara não se restringem a conflitos internos. Alguns vereadores estão considerando a mudança partidária com o objetivo de obter mais recursos para suas campanhas de reeleição. Outros parlamentares, por sua vez, buscam uma nova legenda por questões ideológicas.
De acordo com interlocutores, Sidney Cruz, o único vereador do Solidariedade na Casa, pode deixar o partido em busca de melhores condições e o MDB é apontado como o destino mais provável. Embora Cruz afirme sua lealdade ao Solidariedade, ele não descarta a possibilidade de trocar de legenda. Segundo ele, a decisão será tomada no “momento oportuno” e vai levar em consideração o “cenário eleitoral” na ocasião.
Também é esperado que o vereador Rinaldi Digilio (União) vá para o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Rinaldi foi o autor da proposta que concedeu uma homenagem à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na Câmara Municipal. Ele, porém, nega que exista qualquer conversa neste sentido. “Vim para o União em uma fusão do PSL com o DEM, e por enquanto continuo no União. Essas especulações de troca de partido são normais, mas meu futuro está nas mãos de Deus”.
Rubinho Nunes (União), por sua vez, foi procurado por outras legendas, como PP e PL, mas afirma que não pensa em trocar de partido neste momento. “Recebi convites. Mas no momento estou focado em temas importantes pra São Paulo que estão sob meus cuidados, como a privatização da Sabesp e revisão da Lei de Zoneamento”.