BRASÍLIA - Um clima de festa formatura, de casamento. Nesta quarta-feira, 1, a rotina do Congresso Nacional deu espaço para a celebração de familiares e amigos que vieram de todas as partes do País para comemorar a posse dos 513 deputados eleitos. Por todos os cantos da Câmara, lugar que , há pouco mais de três semanas, foi alvo de depredação generalizada pelos golpistas de 8 de janeiro, o que se via eram abraços, sorrisos e muita gente perdida, que pisava no tapete do salão verde pela primeira vez.
No plenário da Casa, filhos e parentes de deputado improvisaram um tobogã no carpete inclinado que fica ao lado da mesa da presidência. O púlpito que normalmente serve para discurso, virou local para tirar foto e parente simular pose de parlamentar falando na tribuna.
Mulheres de vestidos longos, crianças de terno e gravata, pais e indígenas com seus cocares. O dia de festa na Câmara lotou o plenário da Casa, que não comportou o número de pessoas. Para acomodar todos os convidados, centenas de cadeiras foram colocadas no salão negro, o primeiro do Congresso, que é acessado pelas rampas da frente do prédio e que tinha sido completamente destruído. A equipe do Congresso trabalhou rápido, praticamente não havia sinal dos estragos causados pelos golpistas.
Nos corredores da Câmara, muita gente procurava informações sobre onde ficavam os gabinetes de seus parlamentares eleitos, como chegar ao plenário e aos anexos dos prédios do Congresso. Em vários gabinetes, o clima ainda é de mudança e de troca de móveis. “Ainda vamos receber a mesa de deputado, tudo está sendo montado”, disse o assessor parlamentar do gabinete Chico Alencar (PSOL-RJ).
No anexo da Câmara, a deputada Camila Jara (PT-MS), de 27 anos, a parlamentar mais jovem eleita em todo o País, tirava fotos com os familiares e apresentava a ala das comissões para o marido, Alvaro Marchozi, que entrava no Congresso pela primeira vez. “É uma alegria muito grande estar aqui. Eu não conhecia. É um lugar muito especial”, disse Marchozi.
O pai da deputada eleita Célia Xakriabá (PSOL), de Minas Gerais, Hilário Xakriabá, disse estava em festa pela eleição da filha. Ele trazia Célia Xakriabá para visitar o Congresso quando ela ainda era criança, durante manifestações indígenas na capital federal. “É um momento histórico para o nosso povo, marca um histórico de luta para o nosso povo”, disse. “Foi uma emoção muito grande, é uma alegria que ela está trazendo com nossos ancentrais. Ela lutou, muitas vezes não bem recebida, mas voltou, pra somar na luta.”
As festas de posso tiveram espaço até para veteranos que, há anos, não pisavam sobre o tapete verde. Sete anos depois de ser cassado, o ex-deputado Eduardo Cunha (PTB) voltou a circular pelos corredores da Câmara, dessa vez para celebrar a posse de sua filha, a deputada federal eleita Danielle Cunha (União Brasil), pelo Rio de Janeiro. Questionado se estava saudosista ao retornar ao poder legislativo, disse: “Esse lugar, eu considero como minha casa.”
Desde as 7 horas da manhã, a movimentação de convidados já era grande nos acessos ao interior do Congresso, mas já passava das 13h00 quando as filas de entrada ainda se espalhavam nas portarias. Em meio ao clima de posso, os parlamentares encaram hoje uma das tarefas mais importantes do mandato: eleger o novo presidente da Câmara, para o próximo mandato de dois anos.
Arthur Lira (PP-AL), que tenta a reeleição, não só ligou para cada um dos deputados que chegam ao Congresso, como tratou de espalhar faixas e pessoas vestindo camisetas com seu rosto. É a campanha eleitoral em pleno andamento na posse dos deputados.