O feriado da Independência do Brasil, comemorado nesta quinta-feira, 7, marca o dia em que Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, o Dom Pedro I, em 1822, bradou “independência ou morte” às margens do Rio Ipiranga, que hoje corta a Zona Sul da capital paulista.
“Nós, historiadores, dizemos que essa não é uma data da história, é uma data da memória. É uma data que foi valorizada posteriormente”, disse João Paulo Pimenta, professor do departamento de História da USP. Ele é autor do livro “Independência do Brasil”, publicado em 2022.
O termo “data da memória” existe porque o ano todo de 1822 foi marcado por vários acontecimentos históricos que construíram o processo de independência do Brasil de Portugal e fizeram com que a ruptura se tornasse um caminho inevitável.
Veja como é hoje o local em que foi proclamada a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822
Teve o Dia do Fico (9 de Janeiro), quando Dom Pedro decidiu não voltar a Portugal; o Dia do Cumpra-se (4 de maio), quando as ordens da metrópole tinham que ser chanceladas pela colônia; e a convocação de uma Assembleia Constituinte (3 de junho), para elaborar uma nova Constituição para o Brasil.
Se pudesse escolher um momento que simbolizasse com mais força a independência do Brasil, Pimenta escolheria o momento em que Dom Pedro se tornou imperador. “A data que foi reconhecida pelos participantes da independência e pelos observadores dela como a mais representativa foi a aclamação pública de Dom Pedro, então príncipe regente, como o imperador Dom Pedro I, no Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1822″, disse o historiador.
Quarenta e cinco dias depois, no 1º de dezembro, o monarca foi coroado. O 7 de setembro de 1822, em si, não foi uma data muito decisiva. “Ela foi sendo construída como uma data na memória brasileira, propositadamente, para exaltar Dom Pedro e a participação dos paulistas no processo de independência”, explicou o professor.
“Há uma visão muito reducionista do processo da independência, pensando só no problema da separação Portugal-Brasil e esquecendo o contexto internacional da época. Existia uma discussão da reorganização da monarquia portuguesa e sobre como seria o novo Estado brasileiro”, afirmou Rodrigo Ricupero, também professor do departamento de História da USP.
O docente, que coordena um grupo de pesquisa sobre o sistema colonial, diz que o dia 7 de setembro foi escolhido como “marco simbólico” da narrativa escolhida para representar a independência do Brasil. “Como o projeto que ganhou na independência foi o de Dom Pedro no Rio de Janeiro, a memória da data foi construída a partir dele. O processo foi mais complexo e mais longo. O 7 de Setembro foi um evento escolhido como marco simbólico disso.”
Como está hoje o riacho da Independência?
O grito de “independência ou morte” foi dado nas margens do Rio Ipiranga, hoje um riacho que nasce dentro do Jardim Botânico de São Paulo. Ele tem mais ou menos dez quilômetros, atravessa na Vila da Saúde e vai desaguar no Tamanduateí – no cruzamento entre as avenidas Teresa Cristina e do Estado, no bairro do Ipiranga.
Para a reinauguração do Museu do Ipiranga, todo o entorno do prédio ganhou um “banho de loja”, que incluiu a limpeza do riacho. O espaço histórico sofre com poluição da metrópole paulista.
Imperatriz Leopoldina
Uma figura de participação controvertida no cenário da proclamação da independência do Brasil é Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro I. Pesquisadores divergem sobre o tamanho do protagonismo que ela teve no episódio, mas o fato histórico é um só: a proclamação ocorreu quando o príncipe regente recebeu uma carta escrita pela princesa, falando do destino inevitável de o Brasil se tornar independente de Portugal.
Há linhas de historiadores que defendem que ela teve um papel central no grito de “independência ou morte”, mas os especialistas ouvidos pela reportagem têm outras avaliações sobre a imperatriz.
Como Dom Pedro estava viajando por São Paulo, ela assumiu o papel dele no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil. “Leopoldina presidiu, no lugar do marido, uma reunião do conselho de Estado que, em resposta às notícias de Lisboa, teria escrito uma carta para Dom Pedro defendendo a independência”, disse o professor Rodrigo Ricupero.
“A esposa de um imperador tinha, naturalmente, um papel político. Leopoldina era absolutista, não gostava nem um pouco da ideia de revolução nem de monarquias constitucionais. Para ela, as monarquias tinham que ser absolutas. Era uma figura extremamente conservadora”, explicou o historiador João Paulo Pimenta.
João Paulo Pimenta, professor do departamento de História da USP
O nome da antiga monarca hoje batiza uma estação de trem da linha 8, Diamante, que leva até a Zona Oeste de São Paulo. O ponto para embarque nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) fica na Vila Leopoldina – bairro que leva o nome da imperatriz.