Curiosidades do mundo da Política

Governador de SP transferiu sede administrativa para Bandeirantes porque queria ‘calma para meditar’


Construído para ser uma universidade, espaço passou a ser utilizado no governo de Adhemar de Barros, que afirmou querer ‘paz’ para caminhar sem que ninguém lhe pedisse ‘dinheiro ou emprego’

Por Zeca Ferreira

Um lugar tranquilo para meditar, longe do bulício da cidade e sem ninguém para lhe pedir favores. Foi assim que o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, filiado ao hoje extinto PSP, justificou, na manhã de 22 de abril de 1965, a transferência da sede do Executivo estadual do Palácio dos Campos Elíseos, situado na região central da capital, para o Palácio dos Bandeirantes, localizado no Morumbi, bairro da zona sul.

Depois de 59 anos da mudança de endereço, o atual governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou que pretende levar a administração paulista de volta ao centro da cidade. Tarcísio esclareceu ao Estadão que pretende construir um conjunto de prédios entre a praça Princesa Isabel e o Palácio dos Campos Elíseos, em uma espécie de esplanada similar à da sede do governo federal em Brasília.

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Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, tem acervo artístico rico e aberto à visitação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O centro administrativo idealizado pelo governador vai abrigar todas as secretarias, autarquias e empresas públicas do Estado. Além de mirar um ganho de eficiência para a administração pública, o projeto busca revitalizar a região central. Tarcísio afirmou, no entanto, que o Palácio dos Bandeirantes seguirá como a sede do Executivo estadual, alojando tanto a residência oficial como o gabinete do governador.

Com terreno de 116,3 mil metros quadrados e 32,2 mil metros quadrados de área construída, o palácio no Morumbi possui amplo acervo histórico, que reúne desde bustos de ex-governadores até obras de artistas como Cândido Portinari, Antônio Henrique Amaral, Djanira Motta e Silva e Aldemir Martins. O edifício também já recebeu visitantes ilustres, indo desde a rainha Elizabeth II e o papa Bento XVI até a cantora pop Madonna e o jogador de futebol Pelé.

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Inauguração de palácio e aniversário de governador

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”, declarou Adhemar de Barros para jornalistas durante a inauguração do palácio em abril de 1965. A escolha do dia 22 daquele mês para o evento não foi à toa, mas, sim, para coincidir com o aniversário de 64 anos do governador, que chegou à solenidade pública com um atraso de quase 20 minutos.

Coube à banda da Força Pública, precursora da Polícia Militar do Estado, tocar “parabéns a você”, e aos correligionários de Barros levar um bolo de aniversário no formato do palácio ao evento. Após a festividade, o governador refugiou-se no salão dourado, no segundo andar, em companhia de alguns auxiliares e de Ermelino Matarazzo, administrador da Fundação Matarazzo, a quem pertencia o Palácio dos Bandeirantes.

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Inaugurada nova sede do Executivo Estadual, reportagem noticiada em abril de 1965 Foto: Reproducação/Estadão

A inauguração da sede administrativa também foi marcada pela realização de uma missa solene, conduzida pelo então cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Agnello Rossi. Após a celebração, o cardeal abençoou o palácio. Em seguida, falaram o então secretário de Educação, José Carlos de Ataliba Nogueira, e o governador Adhemar de Barros.

Para autoridades e jornalistas, Barros disse que a mudança da sede do governo para o Morumbi ocorreu devido à necessidade “de se obter um pouco mais de conforto para quem necessita de calma para meditar, e resolver os problemas de 15 milhões de brasileiros. Trata-se de nos colocarmos um pouco fora do bulício da cidade, para produzir mais”, completou. (O Estadão cobriu o evento, e a reportagem pode ser lida neste link).

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Naquela época, não existiam linhas de ônibus regulares para o Morumbi, considerado um bairro “extremamente afastado”. Por conta disso, a participação da população na solenidade não foi grande, com presença de uma dezena de apoiadores de Adhemar. Atualmente, a região é abastecida por linhas de ônibus, mas não há estações de trem ou metrô próximas ao Palácio dos Bandeirantes.

Quem foi Adhemar de Barros?

Adhemar Barros foi um político brasileiro que teve uma significativa influência na política do Estado. Ele nasceu em 22 de abril de 1901, em Piracicaba, e faleceu em 12 de março de 1969. Barros foi uma figura proeminente durante a Era Vargas e a República Nova. Entre seus cargos mais importantes, ele foi prefeito da capital paulista por duas vezes (1938-1945 e 1957-1961) e governador de São Paulo em dois períodos não consecutivos (1947-1951 e 1963-1966). Ele era um político carismático e populista, conhecido por sua habilidade em conquistar o apoio popular.

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Adhemar de Barros argumentou que queria tempo para meditar ao transferir sede do governo para o Morumbi Foto: ARQUIVO/AE

A faculdade que ‘não deu certo’

Concebido em 1938 pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, o atual Palácio dos Bandeirantes foi inicialmente destinado à Universidade Conde Francisco Matarazzo. No seu projeto inicial, o edifício exibia linhas abstratas. As obras, que começaram em 1954 sob a supervisão do engenheiro Francisco da Nova Monteiro, evoluíram para um estilo italiano com influência neoclássica.

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Em 1964, a gestão Adhemar de Barros firmou acordo com as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IREM) para que o edifício em construção fosse cedido ao governo do Estado. Em contrapartida, as indústrias Matarazzo obtiveram crédito fiscal referente aos impostos estaduais que deveriam ser destinados aos cofres públicos. No ano seguinte, a nova sede da administração paulista foi “inaugurada”.

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”

Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, ao explicar mudança para o Palácio dos Bandeirantes

Apesar da mudança da sede do governo de São Paulo em 22 de abril de 1965, o Palácio dos Bandeirantes ainda não estava finalizado. Como mostrou o Estadão na época, a ala esquerda do edifício estava em processo de construção. Além disso, o prédio como um todo estava passando por obras, sendo que apenas os aposentos designados aos despachos do governador haviam recebido o acabamento final.

O palácio foi inaugurado sem a entrega dos novos móveis, tampouco o centro de distribuição telefônica havia sido instalado. Até o final do de 1965, a residência oficial do governador continuava sendo o Palácio dos Campos Elíseos. A transferência da residência oficial marcou o fim das obras no Bandeirantes.

Residência oficial e controvérsias

O Palácio dos Bandeirantes é a quarta sede oficial do governo de São Paulo, desde que se criou a Capitania de São Paulo, em 1720. Àquela época, o Executivo tinha sede no edifício do Senado da Câmara. Em 1760, transferiu-se para o Pátio do Colégio, e em 1911 mudou-se para a antiga residência do fazendeiro Elias Chaves, que passou a se chamar Palácio dos Campos Elíseos.

A moradia oficial do governador de São Paulo encontra-se no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, juntamente com gabinetes e salas de trabalho, ocupando uma área de 26 mil metros quadrados. A ala residencial é composta por 15 cômodos, dois banheiros e uma sala principal decorada com quadros, um piano de cauda e alguns sofás.

Em 2019, a gestão João Doria gerou polêmica ao ordenar a pintura de preto e cinza nas paredes, portas e móveis do palácio. O Ministério Público abriu um inquérito civil devido ao fato de o local ser tombado desde 2016, porém a ação foi arquivada. A administração de Tarcísio está desfazendo gradualmente as intervenções feitas por Doria. As paredes de gabinetes, por exemplo, já foram pintadas de branco.

Reformas feitas por João Doria em 2019 geraram polêmica e um inquérito civil chegou a ser aberto Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/AE

Na atual gestão, por sua vez, as visitas frequentes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio dos Bandeirantes geram críticas vindas da oposição a Tarcísio. Isso porque o governador paulista já convidou o ex-presidente para dormir na sede do Executivo estadual em mais de uma ocasião. Bolsonaro chegou, inclusive, a receber seus advogados no palácio. O ex-presidente é investigado no inquérito das joias sauditas, entre outros.

Enquanto opositores de Tarcísio alegam que receber um investigado para dormir no Palácio dos Bandeirantes é pouco republicano, o governador argumenta que é “normal receber amigos em sua casa”. Tarcísio é próximo de Bolsonaro e comandou o Ministério da Infraestrutura na gestão do ex-presidente.

Um lugar tranquilo para meditar, longe do bulício da cidade e sem ninguém para lhe pedir favores. Foi assim que o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, filiado ao hoje extinto PSP, justificou, na manhã de 22 de abril de 1965, a transferência da sede do Executivo estadual do Palácio dos Campos Elíseos, situado na região central da capital, para o Palácio dos Bandeirantes, localizado no Morumbi, bairro da zona sul.

Depois de 59 anos da mudança de endereço, o atual governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou que pretende levar a administração paulista de volta ao centro da cidade. Tarcísio esclareceu ao Estadão que pretende construir um conjunto de prédios entre a praça Princesa Isabel e o Palácio dos Campos Elíseos, em uma espécie de esplanada similar à da sede do governo federal em Brasília.

Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, tem acervo artístico rico e aberto à visitação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O centro administrativo idealizado pelo governador vai abrigar todas as secretarias, autarquias e empresas públicas do Estado. Além de mirar um ganho de eficiência para a administração pública, o projeto busca revitalizar a região central. Tarcísio afirmou, no entanto, que o Palácio dos Bandeirantes seguirá como a sede do Executivo estadual, alojando tanto a residência oficial como o gabinete do governador.

Com terreno de 116,3 mil metros quadrados e 32,2 mil metros quadrados de área construída, o palácio no Morumbi possui amplo acervo histórico, que reúne desde bustos de ex-governadores até obras de artistas como Cândido Portinari, Antônio Henrique Amaral, Djanira Motta e Silva e Aldemir Martins. O edifício também já recebeu visitantes ilustres, indo desde a rainha Elizabeth II e o papa Bento XVI até a cantora pop Madonna e o jogador de futebol Pelé.

Inauguração de palácio e aniversário de governador

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”, declarou Adhemar de Barros para jornalistas durante a inauguração do palácio em abril de 1965. A escolha do dia 22 daquele mês para o evento não foi à toa, mas, sim, para coincidir com o aniversário de 64 anos do governador, que chegou à solenidade pública com um atraso de quase 20 minutos.

Coube à banda da Força Pública, precursora da Polícia Militar do Estado, tocar “parabéns a você”, e aos correligionários de Barros levar um bolo de aniversário no formato do palácio ao evento. Após a festividade, o governador refugiou-se no salão dourado, no segundo andar, em companhia de alguns auxiliares e de Ermelino Matarazzo, administrador da Fundação Matarazzo, a quem pertencia o Palácio dos Bandeirantes.

Inaugurada nova sede do Executivo Estadual, reportagem noticiada em abril de 1965 Foto: Reproducação/Estadão

A inauguração da sede administrativa também foi marcada pela realização de uma missa solene, conduzida pelo então cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Agnello Rossi. Após a celebração, o cardeal abençoou o palácio. Em seguida, falaram o então secretário de Educação, José Carlos de Ataliba Nogueira, e o governador Adhemar de Barros.

Para autoridades e jornalistas, Barros disse que a mudança da sede do governo para o Morumbi ocorreu devido à necessidade “de se obter um pouco mais de conforto para quem necessita de calma para meditar, e resolver os problemas de 15 milhões de brasileiros. Trata-se de nos colocarmos um pouco fora do bulício da cidade, para produzir mais”, completou. (O Estadão cobriu o evento, e a reportagem pode ser lida neste link).

Naquela época, não existiam linhas de ônibus regulares para o Morumbi, considerado um bairro “extremamente afastado”. Por conta disso, a participação da população na solenidade não foi grande, com presença de uma dezena de apoiadores de Adhemar. Atualmente, a região é abastecida por linhas de ônibus, mas não há estações de trem ou metrô próximas ao Palácio dos Bandeirantes.

Quem foi Adhemar de Barros?

Adhemar Barros foi um político brasileiro que teve uma significativa influência na política do Estado. Ele nasceu em 22 de abril de 1901, em Piracicaba, e faleceu em 12 de março de 1969. Barros foi uma figura proeminente durante a Era Vargas e a República Nova. Entre seus cargos mais importantes, ele foi prefeito da capital paulista por duas vezes (1938-1945 e 1957-1961) e governador de São Paulo em dois períodos não consecutivos (1947-1951 e 1963-1966). Ele era um político carismático e populista, conhecido por sua habilidade em conquistar o apoio popular.

Adhemar de Barros argumentou que queria tempo para meditar ao transferir sede do governo para o Morumbi Foto: ARQUIVO/AE

A faculdade que ‘não deu certo’

Concebido em 1938 pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, o atual Palácio dos Bandeirantes foi inicialmente destinado à Universidade Conde Francisco Matarazzo. No seu projeto inicial, o edifício exibia linhas abstratas. As obras, que começaram em 1954 sob a supervisão do engenheiro Francisco da Nova Monteiro, evoluíram para um estilo italiano com influência neoclássica.

Em 1964, a gestão Adhemar de Barros firmou acordo com as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IREM) para que o edifício em construção fosse cedido ao governo do Estado. Em contrapartida, as indústrias Matarazzo obtiveram crédito fiscal referente aos impostos estaduais que deveriam ser destinados aos cofres públicos. No ano seguinte, a nova sede da administração paulista foi “inaugurada”.

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”

Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, ao explicar mudança para o Palácio dos Bandeirantes

Apesar da mudança da sede do governo de São Paulo em 22 de abril de 1965, o Palácio dos Bandeirantes ainda não estava finalizado. Como mostrou o Estadão na época, a ala esquerda do edifício estava em processo de construção. Além disso, o prédio como um todo estava passando por obras, sendo que apenas os aposentos designados aos despachos do governador haviam recebido o acabamento final.

O palácio foi inaugurado sem a entrega dos novos móveis, tampouco o centro de distribuição telefônica havia sido instalado. Até o final do de 1965, a residência oficial do governador continuava sendo o Palácio dos Campos Elíseos. A transferência da residência oficial marcou o fim das obras no Bandeirantes.

Residência oficial e controvérsias

O Palácio dos Bandeirantes é a quarta sede oficial do governo de São Paulo, desde que se criou a Capitania de São Paulo, em 1720. Àquela época, o Executivo tinha sede no edifício do Senado da Câmara. Em 1760, transferiu-se para o Pátio do Colégio, e em 1911 mudou-se para a antiga residência do fazendeiro Elias Chaves, que passou a se chamar Palácio dos Campos Elíseos.

A moradia oficial do governador de São Paulo encontra-se no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, juntamente com gabinetes e salas de trabalho, ocupando uma área de 26 mil metros quadrados. A ala residencial é composta por 15 cômodos, dois banheiros e uma sala principal decorada com quadros, um piano de cauda e alguns sofás.

Em 2019, a gestão João Doria gerou polêmica ao ordenar a pintura de preto e cinza nas paredes, portas e móveis do palácio. O Ministério Público abriu um inquérito civil devido ao fato de o local ser tombado desde 2016, porém a ação foi arquivada. A administração de Tarcísio está desfazendo gradualmente as intervenções feitas por Doria. As paredes de gabinetes, por exemplo, já foram pintadas de branco.

Reformas feitas por João Doria em 2019 geraram polêmica e um inquérito civil chegou a ser aberto Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/AE

Na atual gestão, por sua vez, as visitas frequentes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio dos Bandeirantes geram críticas vindas da oposição a Tarcísio. Isso porque o governador paulista já convidou o ex-presidente para dormir na sede do Executivo estadual em mais de uma ocasião. Bolsonaro chegou, inclusive, a receber seus advogados no palácio. O ex-presidente é investigado no inquérito das joias sauditas, entre outros.

Enquanto opositores de Tarcísio alegam que receber um investigado para dormir no Palácio dos Bandeirantes é pouco republicano, o governador argumenta que é “normal receber amigos em sua casa”. Tarcísio é próximo de Bolsonaro e comandou o Ministério da Infraestrutura na gestão do ex-presidente.

Um lugar tranquilo para meditar, longe do bulício da cidade e sem ninguém para lhe pedir favores. Foi assim que o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, filiado ao hoje extinto PSP, justificou, na manhã de 22 de abril de 1965, a transferência da sede do Executivo estadual do Palácio dos Campos Elíseos, situado na região central da capital, para o Palácio dos Bandeirantes, localizado no Morumbi, bairro da zona sul.

Depois de 59 anos da mudança de endereço, o atual governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou que pretende levar a administração paulista de volta ao centro da cidade. Tarcísio esclareceu ao Estadão que pretende construir um conjunto de prédios entre a praça Princesa Isabel e o Palácio dos Campos Elíseos, em uma espécie de esplanada similar à da sede do governo federal em Brasília.

Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, tem acervo artístico rico e aberto à visitação Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O centro administrativo idealizado pelo governador vai abrigar todas as secretarias, autarquias e empresas públicas do Estado. Além de mirar um ganho de eficiência para a administração pública, o projeto busca revitalizar a região central. Tarcísio afirmou, no entanto, que o Palácio dos Bandeirantes seguirá como a sede do Executivo estadual, alojando tanto a residência oficial como o gabinete do governador.

Com terreno de 116,3 mil metros quadrados e 32,2 mil metros quadrados de área construída, o palácio no Morumbi possui amplo acervo histórico, que reúne desde bustos de ex-governadores até obras de artistas como Cândido Portinari, Antônio Henrique Amaral, Djanira Motta e Silva e Aldemir Martins. O edifício também já recebeu visitantes ilustres, indo desde a rainha Elizabeth II e o papa Bento XVI até a cantora pop Madonna e o jogador de futebol Pelé.

Inauguração de palácio e aniversário de governador

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”, declarou Adhemar de Barros para jornalistas durante a inauguração do palácio em abril de 1965. A escolha do dia 22 daquele mês para o evento não foi à toa, mas, sim, para coincidir com o aniversário de 64 anos do governador, que chegou à solenidade pública com um atraso de quase 20 minutos.

Coube à banda da Força Pública, precursora da Polícia Militar do Estado, tocar “parabéns a você”, e aos correligionários de Barros levar um bolo de aniversário no formato do palácio ao evento. Após a festividade, o governador refugiou-se no salão dourado, no segundo andar, em companhia de alguns auxiliares e de Ermelino Matarazzo, administrador da Fundação Matarazzo, a quem pertencia o Palácio dos Bandeirantes.

Inaugurada nova sede do Executivo Estadual, reportagem noticiada em abril de 1965 Foto: Reproducação/Estadão

A inauguração da sede administrativa também foi marcada pela realização de uma missa solene, conduzida pelo então cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Agnello Rossi. Após a celebração, o cardeal abençoou o palácio. Em seguida, falaram o então secretário de Educação, José Carlos de Ataliba Nogueira, e o governador Adhemar de Barros.

Para autoridades e jornalistas, Barros disse que a mudança da sede do governo para o Morumbi ocorreu devido à necessidade “de se obter um pouco mais de conforto para quem necessita de calma para meditar, e resolver os problemas de 15 milhões de brasileiros. Trata-se de nos colocarmos um pouco fora do bulício da cidade, para produzir mais”, completou. (O Estadão cobriu o evento, e a reportagem pode ser lida neste link).

Naquela época, não existiam linhas de ônibus regulares para o Morumbi, considerado um bairro “extremamente afastado”. Por conta disso, a participação da população na solenidade não foi grande, com presença de uma dezena de apoiadores de Adhemar. Atualmente, a região é abastecida por linhas de ônibus, mas não há estações de trem ou metrô próximas ao Palácio dos Bandeirantes.

Quem foi Adhemar de Barros?

Adhemar Barros foi um político brasileiro que teve uma significativa influência na política do Estado. Ele nasceu em 22 de abril de 1901, em Piracicaba, e faleceu em 12 de março de 1969. Barros foi uma figura proeminente durante a Era Vargas e a República Nova. Entre seus cargos mais importantes, ele foi prefeito da capital paulista por duas vezes (1938-1945 e 1957-1961) e governador de São Paulo em dois períodos não consecutivos (1947-1951 e 1963-1966). Ele era um político carismático e populista, conhecido por sua habilidade em conquistar o apoio popular.

Adhemar de Barros argumentou que queria tempo para meditar ao transferir sede do governo para o Morumbi Foto: ARQUIVO/AE

A faculdade que ‘não deu certo’

Concebido em 1938 pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, o atual Palácio dos Bandeirantes foi inicialmente destinado à Universidade Conde Francisco Matarazzo. No seu projeto inicial, o edifício exibia linhas abstratas. As obras, que começaram em 1954 sob a supervisão do engenheiro Francisco da Nova Monteiro, evoluíram para um estilo italiano com influência neoclássica.

Em 1964, a gestão Adhemar de Barros firmou acordo com as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IREM) para que o edifício em construção fosse cedido ao governo do Estado. Em contrapartida, as indústrias Matarazzo obtiveram crédito fiscal referente aos impostos estaduais que deveriam ser destinados aos cofres públicos. No ano seguinte, a nova sede da administração paulista foi “inaugurada”.

“Aqui eu posso ficar em paz, posso caminhar sem que ninguém me peça dinheiro ou emprego”

Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, ao explicar mudança para o Palácio dos Bandeirantes

Apesar da mudança da sede do governo de São Paulo em 22 de abril de 1965, o Palácio dos Bandeirantes ainda não estava finalizado. Como mostrou o Estadão na época, a ala esquerda do edifício estava em processo de construção. Além disso, o prédio como um todo estava passando por obras, sendo que apenas os aposentos designados aos despachos do governador haviam recebido o acabamento final.

O palácio foi inaugurado sem a entrega dos novos móveis, tampouco o centro de distribuição telefônica havia sido instalado. Até o final do de 1965, a residência oficial do governador continuava sendo o Palácio dos Campos Elíseos. A transferência da residência oficial marcou o fim das obras no Bandeirantes.

Residência oficial e controvérsias

O Palácio dos Bandeirantes é a quarta sede oficial do governo de São Paulo, desde que se criou a Capitania de São Paulo, em 1720. Àquela época, o Executivo tinha sede no edifício do Senado da Câmara. Em 1760, transferiu-se para o Pátio do Colégio, e em 1911 mudou-se para a antiga residência do fazendeiro Elias Chaves, que passou a se chamar Palácio dos Campos Elíseos.

A moradia oficial do governador de São Paulo encontra-se no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, juntamente com gabinetes e salas de trabalho, ocupando uma área de 26 mil metros quadrados. A ala residencial é composta por 15 cômodos, dois banheiros e uma sala principal decorada com quadros, um piano de cauda e alguns sofás.

Em 2019, a gestão João Doria gerou polêmica ao ordenar a pintura de preto e cinza nas paredes, portas e móveis do palácio. O Ministério Público abriu um inquérito civil devido ao fato de o local ser tombado desde 2016, porém a ação foi arquivada. A administração de Tarcísio está desfazendo gradualmente as intervenções feitas por Doria. As paredes de gabinetes, por exemplo, já foram pintadas de branco.

Reformas feitas por João Doria em 2019 geraram polêmica e um inquérito civil chegou a ser aberto Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/AE

Na atual gestão, por sua vez, as visitas frequentes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio dos Bandeirantes geram críticas vindas da oposição a Tarcísio. Isso porque o governador paulista já convidou o ex-presidente para dormir na sede do Executivo estadual em mais de uma ocasião. Bolsonaro chegou, inclusive, a receber seus advogados no palácio. O ex-presidente é investigado no inquérito das joias sauditas, entre outros.

Enquanto opositores de Tarcísio alegam que receber um investigado para dormir no Palácio dos Bandeirantes é pouco republicano, o governador argumenta que é “normal receber amigos em sua casa”. Tarcísio é próximo de Bolsonaro e comandou o Ministério da Infraestrutura na gestão do ex-presidente.

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