Curiosidades do mundo da Política

‘Martamóvel’: em 2020, vice de Boulos fez carreata contra candidato do PSOL a bordo de trio elétrico


Vice na chapa do PSOL em 2024, Marta Suplicy fez campanha contra Guilherme Boulos há quatro anos; ; episódio faz parte da série especial do ‘Estadão’ de curiosidades sobre as eleições de São Paulo

Por Juliano Galisi
Atualização:

Bruno Covas é prefeitão, fez a nossa São Paulo andar”, entoava o trio elétrico, reproduzindo o jingle de campanha do PSDB. Da calçada em Parelheiros, zona sul, tremulavam bandeiras com as cores tucanas e, onde quer que se via, estava estampado o número de urna da chapa de Covas com Ricardo Nunes (MDB), então candidato a vice. Dentro do trio, ambos acenavam aos presentes. Era a reta final de um segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).

Esse poderia ser um ato de rua como qualquer outro durante a eleição de 2020 à Prefeitura paulistana, mas a terceira presença na carreata embaralhou o cenário: quem cumprimentava o público ao lado de Covas e Nunes era Marta Suplicy, e o que estava em ação era o “Martamóvel”, em uma carreata da ex-petista contra Boulos, de quem ela seria vice na chapa dali a quatro anos, na eleição de 2024 a prefeito da capital paulista.

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Esse episódio faz parte da série especial do Estadão de curiosidades sobre as eleições de São Paulo. Ao longo desta semana, serão publicadas reportagens sobre momentos que marcaram as disputas para a Prefeitura desde o primeiro pleito realizado após o fim da ditadura militar, em 1985.

Nas três décadas em que esteve nos quadros petistas, Marta foi eleita deputada federal, prefeita de São Paulo, senadora e, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi nomeada como ministra do Turismo e da Cultura, respectivamente.

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Apesar do histórico, ela deixou o partido em 2015 e afirmou, em uma carta pública, que o fazia pois o PT havia se envolvido “em um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”. Ela se filiou ao MDB, ao qual permaneceria ligada até 2018. Nesse ínterim, em 2016, como senadora, votou a favor do impeachment de Dilma.

Aproximação com Bruno Covas

Em 2020, antes que Ricardo Nunes fosse confirmado como vice-prefeito na chapa de Covas, especulava-se até que a vaga poderia ser ocupada por Marta Suplicy. A aproximação da ex-senadora com o tucano custou até sua permanência no Solidariedade, o segundo partido a abrigá-la após o racha com o PT.

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Enquanto Marta se aproximava de Covas, o Solidariedade mantinha conversas com o ex-governador paulista Márcio França, pré-candidato do PSB à Prefeitura. O desencontro provocou incômodo na sigla e desembocou na desfiliação da ex-prefeita.

Marta Suplicy posa com Bruno Covas e Ricardo Nunes na manhã da votação do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo em 2020. Foto: Pedro Venceslau/Estadão

Plágio do ‘Erundinamóvel’

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Ao final da pré-campanha, Marta não foi nomeada como vice de Covas, mas seguiu manifestando apoio ao tucano durante a eleição. O “Martamóvel” foi uma réplica da caminhonete que percorreu a cidade com Luiza Erundina (PSOL) a bordo. A deputada federal, ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice na chapa de Boulos rumou pelas periferias da capital com um veículo denominado por ela como “cata-voto”.

Aquela campanha ocorria em meio à pandemia de covid-19 e a carreata de Erundina foi um meio para que a candidata a vice, então com 85 anos e pertencente a um grupo de risco da doença, pudesse cumprir agendas de rua pela capital. Entre o eleitorado, o carro ganhou o apelido de “Erundinamóvel”, em alusão ao transporte do Papa, o papamóvel.

Marta ‘traiu o povo’, disse Erundina

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Foi justamente ao comentar sobre o “Martamóvel” que Erundina fez uma de suas mais contundentes críticas a Marta Suplicy. Ela se queixou da “imitação” e afirmou que a ex-ministra era uma “traidora”.

“Enquanto estou aqui no calor do ‘cata-voto’, ela imitou a gente. Imitou não, pois está num caminhão, com ar-condicionado, com sofá de couro”, disse a parlamentar do PSOL num compromisso na zona norte da cidade. “Marta está apoiando o Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo.”

'Erundinamóvel' permitiu que candidata a vice fizesse agendas de rua durante a pandemia de covid-19. Foto: Tulio Kruse/Estadão
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Um embate entre Marta e Erundina já havia ocorrido na eleição municipal anterior, de 2016. Naquele pleito, as duas foram candidatas a prefeita: Luiza Erundina, pelo PSOL, e Marta, pelo MDB. “Você apoia o governo (Michel) Temer, um governo ilegítimo e machista”, disse Erundina à emedebista durante um debate televisivo promovido pela RedeTV!. “Você não passou no teste como feminista”, alfinetou a candidata pelo PSOL.

A rusga entre as ex-prefeitas remonta a 2000, ano em que Marta venceu a eleição municipal. Naquele pleito, a petista queria uma aliança com Erundina, então no PSB. O acordo não foi adiante, pois a pessebista, rompida com o PT, não arredou de uma candidatura própria. Enquanto Marta venceu Paulo Maluf (PPB) no segundo turno, Erundina ficou em quinto lugar.

A casa torna

Quatro anos depois de ser acusada de plagiar o “cata-voto” e fazer campanha contra a chapa do PSOL, Luiza Erundina, Guilherme Boulos e Marta Suplicy estão juntos na disputa pela Prefeitura paulistana. A indicação de Marta como vice de Boulos é um dos principais trunfos da pré-campanha do deputado federal e foi mediada por Lula.

Guilherme Boulos (PSOL) lança candidatura à Prefeitura de São Paulo ao lado de ex-prefeitos pelo PT; entre os presentes, Marta Suplicy, sua vice, e Luiza Erundina, companheira de chapa em 2020. Foto: Felipe Rau/Estadão

O acordo não só reconciliou Marta com o PT como a retirou da gestão de Ricardo Nunes, que busca a reeleição e desponta como um dos principais adversários de Boulos nas urnas. Até janeiro deste ano, Marta era a secretária de Relações Internacionais do emebedista, cargo que ocupava como indicada de Bruno Covas. Quando a chapa Boulos-Marta ainda era mera especulação, Nunes desconversava sobre a possibilidade de perder a secretária para o rival do PSOL.

Apesar das críticas que teceu a Marta no passado, sobretudo quando a petista plagiou seu “cata-voto”, Erundina elogiou a ex-ministra durante a convenção partidária da chapa “Amor por São Paulo”, em julho.

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Bruno Covas é prefeitão, fez a nossa São Paulo andar”, entoava o trio elétrico, reproduzindo o jingle de campanha do PSDB. Da calçada em Parelheiros, zona sul, tremulavam bandeiras com as cores tucanas e, onde quer que se via, estava estampado o número de urna da chapa de Covas com Ricardo Nunes (MDB), então candidato a vice. Dentro do trio, ambos acenavam aos presentes. Era a reta final de um segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).

Esse poderia ser um ato de rua como qualquer outro durante a eleição de 2020 à Prefeitura paulistana, mas a terceira presença na carreata embaralhou o cenário: quem cumprimentava o público ao lado de Covas e Nunes era Marta Suplicy, e o que estava em ação era o “Martamóvel”, em uma carreata da ex-petista contra Boulos, de quem ela seria vice na chapa dali a quatro anos, na eleição de 2024 a prefeito da capital paulista.

Esse episódio faz parte da série especial do Estadão de curiosidades sobre as eleições de São Paulo. Ao longo desta semana, serão publicadas reportagens sobre momentos que marcaram as disputas para a Prefeitura desde o primeiro pleito realizado após o fim da ditadura militar, em 1985.

Nas três décadas em que esteve nos quadros petistas, Marta foi eleita deputada federal, prefeita de São Paulo, senadora e, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi nomeada como ministra do Turismo e da Cultura, respectivamente.

Apesar do histórico, ela deixou o partido em 2015 e afirmou, em uma carta pública, que o fazia pois o PT havia se envolvido “em um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”. Ela se filiou ao MDB, ao qual permaneceria ligada até 2018. Nesse ínterim, em 2016, como senadora, votou a favor do impeachment de Dilma.

Aproximação com Bruno Covas

Em 2020, antes que Ricardo Nunes fosse confirmado como vice-prefeito na chapa de Covas, especulava-se até que a vaga poderia ser ocupada por Marta Suplicy. A aproximação da ex-senadora com o tucano custou até sua permanência no Solidariedade, o segundo partido a abrigá-la após o racha com o PT.

Enquanto Marta se aproximava de Covas, o Solidariedade mantinha conversas com o ex-governador paulista Márcio França, pré-candidato do PSB à Prefeitura. O desencontro provocou incômodo na sigla e desembocou na desfiliação da ex-prefeita.

Marta Suplicy posa com Bruno Covas e Ricardo Nunes na manhã da votação do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo em 2020. Foto: Pedro Venceslau/Estadão

Plágio do ‘Erundinamóvel’

Ao final da pré-campanha, Marta não foi nomeada como vice de Covas, mas seguiu manifestando apoio ao tucano durante a eleição. O “Martamóvel” foi uma réplica da caminhonete que percorreu a cidade com Luiza Erundina (PSOL) a bordo. A deputada federal, ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice na chapa de Boulos rumou pelas periferias da capital com um veículo denominado por ela como “cata-voto”.

Aquela campanha ocorria em meio à pandemia de covid-19 e a carreata de Erundina foi um meio para que a candidata a vice, então com 85 anos e pertencente a um grupo de risco da doença, pudesse cumprir agendas de rua pela capital. Entre o eleitorado, o carro ganhou o apelido de “Erundinamóvel”, em alusão ao transporte do Papa, o papamóvel.

Marta ‘traiu o povo’, disse Erundina

Foi justamente ao comentar sobre o “Martamóvel” que Erundina fez uma de suas mais contundentes críticas a Marta Suplicy. Ela se queixou da “imitação” e afirmou que a ex-ministra era uma “traidora”.

“Enquanto estou aqui no calor do ‘cata-voto’, ela imitou a gente. Imitou não, pois está num caminhão, com ar-condicionado, com sofá de couro”, disse a parlamentar do PSOL num compromisso na zona norte da cidade. “Marta está apoiando o Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo.”

'Erundinamóvel' permitiu que candidata a vice fizesse agendas de rua durante a pandemia de covid-19. Foto: Tulio Kruse/Estadão

Um embate entre Marta e Erundina já havia ocorrido na eleição municipal anterior, de 2016. Naquele pleito, as duas foram candidatas a prefeita: Luiza Erundina, pelo PSOL, e Marta, pelo MDB. “Você apoia o governo (Michel) Temer, um governo ilegítimo e machista”, disse Erundina à emedebista durante um debate televisivo promovido pela RedeTV!. “Você não passou no teste como feminista”, alfinetou a candidata pelo PSOL.

A rusga entre as ex-prefeitas remonta a 2000, ano em que Marta venceu a eleição municipal. Naquele pleito, a petista queria uma aliança com Erundina, então no PSB. O acordo não foi adiante, pois a pessebista, rompida com o PT, não arredou de uma candidatura própria. Enquanto Marta venceu Paulo Maluf (PPB) no segundo turno, Erundina ficou em quinto lugar.

A casa torna

Quatro anos depois de ser acusada de plagiar o “cata-voto” e fazer campanha contra a chapa do PSOL, Luiza Erundina, Guilherme Boulos e Marta Suplicy estão juntos na disputa pela Prefeitura paulistana. A indicação de Marta como vice de Boulos é um dos principais trunfos da pré-campanha do deputado federal e foi mediada por Lula.

Guilherme Boulos (PSOL) lança candidatura à Prefeitura de São Paulo ao lado de ex-prefeitos pelo PT; entre os presentes, Marta Suplicy, sua vice, e Luiza Erundina, companheira de chapa em 2020. Foto: Felipe Rau/Estadão

O acordo não só reconciliou Marta com o PT como a retirou da gestão de Ricardo Nunes, que busca a reeleição e desponta como um dos principais adversários de Boulos nas urnas. Até janeiro deste ano, Marta era a secretária de Relações Internacionais do emebedista, cargo que ocupava como indicada de Bruno Covas. Quando a chapa Boulos-Marta ainda era mera especulação, Nunes desconversava sobre a possibilidade de perder a secretária para o rival do PSOL.

Apesar das críticas que teceu a Marta no passado, sobretudo quando a petista plagiou seu “cata-voto”, Erundina elogiou a ex-ministra durante a convenção partidária da chapa “Amor por São Paulo”, em julho.

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Bruno Covas é prefeitão, fez a nossa São Paulo andar”, entoava o trio elétrico, reproduzindo o jingle de campanha do PSDB. Da calçada em Parelheiros, zona sul, tremulavam bandeiras com as cores tucanas e, onde quer que se via, estava estampado o número de urna da chapa de Covas com Ricardo Nunes (MDB), então candidato a vice. Dentro do trio, ambos acenavam aos presentes. Era a reta final de um segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).

Esse poderia ser um ato de rua como qualquer outro durante a eleição de 2020 à Prefeitura paulistana, mas a terceira presença na carreata embaralhou o cenário: quem cumprimentava o público ao lado de Covas e Nunes era Marta Suplicy, e o que estava em ação era o “Martamóvel”, em uma carreata da ex-petista contra Boulos, de quem ela seria vice na chapa dali a quatro anos, na eleição de 2024 a prefeito da capital paulista.

Esse episódio faz parte da série especial do Estadão de curiosidades sobre as eleições de São Paulo. Ao longo desta semana, serão publicadas reportagens sobre momentos que marcaram as disputas para a Prefeitura desde o primeiro pleito realizado após o fim da ditadura militar, em 1985.

Nas três décadas em que esteve nos quadros petistas, Marta foi eleita deputada federal, prefeita de São Paulo, senadora e, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi nomeada como ministra do Turismo e da Cultura, respectivamente.

Apesar do histórico, ela deixou o partido em 2015 e afirmou, em uma carta pública, que o fazia pois o PT havia se envolvido “em um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”. Ela se filiou ao MDB, ao qual permaneceria ligada até 2018. Nesse ínterim, em 2016, como senadora, votou a favor do impeachment de Dilma.

Aproximação com Bruno Covas

Em 2020, antes que Ricardo Nunes fosse confirmado como vice-prefeito na chapa de Covas, especulava-se até que a vaga poderia ser ocupada por Marta Suplicy. A aproximação da ex-senadora com o tucano custou até sua permanência no Solidariedade, o segundo partido a abrigá-la após o racha com o PT.

Enquanto Marta se aproximava de Covas, o Solidariedade mantinha conversas com o ex-governador paulista Márcio França, pré-candidato do PSB à Prefeitura. O desencontro provocou incômodo na sigla e desembocou na desfiliação da ex-prefeita.

Marta Suplicy posa com Bruno Covas e Ricardo Nunes na manhã da votação do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo em 2020. Foto: Pedro Venceslau/Estadão

Plágio do ‘Erundinamóvel’

Ao final da pré-campanha, Marta não foi nomeada como vice de Covas, mas seguiu manifestando apoio ao tucano durante a eleição. O “Martamóvel” foi uma réplica da caminhonete que percorreu a cidade com Luiza Erundina (PSOL) a bordo. A deputada federal, ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice na chapa de Boulos rumou pelas periferias da capital com um veículo denominado por ela como “cata-voto”.

Aquela campanha ocorria em meio à pandemia de covid-19 e a carreata de Erundina foi um meio para que a candidata a vice, então com 85 anos e pertencente a um grupo de risco da doença, pudesse cumprir agendas de rua pela capital. Entre o eleitorado, o carro ganhou o apelido de “Erundinamóvel”, em alusão ao transporte do Papa, o papamóvel.

Marta ‘traiu o povo’, disse Erundina

Foi justamente ao comentar sobre o “Martamóvel” que Erundina fez uma de suas mais contundentes críticas a Marta Suplicy. Ela se queixou da “imitação” e afirmou que a ex-ministra era uma “traidora”.

“Enquanto estou aqui no calor do ‘cata-voto’, ela imitou a gente. Imitou não, pois está num caminhão, com ar-condicionado, com sofá de couro”, disse a parlamentar do PSOL num compromisso na zona norte da cidade. “Marta está apoiando o Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo.”

'Erundinamóvel' permitiu que candidata a vice fizesse agendas de rua durante a pandemia de covid-19. Foto: Tulio Kruse/Estadão

Um embate entre Marta e Erundina já havia ocorrido na eleição municipal anterior, de 2016. Naquele pleito, as duas foram candidatas a prefeita: Luiza Erundina, pelo PSOL, e Marta, pelo MDB. “Você apoia o governo (Michel) Temer, um governo ilegítimo e machista”, disse Erundina à emedebista durante um debate televisivo promovido pela RedeTV!. “Você não passou no teste como feminista”, alfinetou a candidata pelo PSOL.

A rusga entre as ex-prefeitas remonta a 2000, ano em que Marta venceu a eleição municipal. Naquele pleito, a petista queria uma aliança com Erundina, então no PSB. O acordo não foi adiante, pois a pessebista, rompida com o PT, não arredou de uma candidatura própria. Enquanto Marta venceu Paulo Maluf (PPB) no segundo turno, Erundina ficou em quinto lugar.

A casa torna

Quatro anos depois de ser acusada de plagiar o “cata-voto” e fazer campanha contra a chapa do PSOL, Luiza Erundina, Guilherme Boulos e Marta Suplicy estão juntos na disputa pela Prefeitura paulistana. A indicação de Marta como vice de Boulos é um dos principais trunfos da pré-campanha do deputado federal e foi mediada por Lula.

Guilherme Boulos (PSOL) lança candidatura à Prefeitura de São Paulo ao lado de ex-prefeitos pelo PT; entre os presentes, Marta Suplicy, sua vice, e Luiza Erundina, companheira de chapa em 2020. Foto: Felipe Rau/Estadão

O acordo não só reconciliou Marta com o PT como a retirou da gestão de Ricardo Nunes, que busca a reeleição e desponta como um dos principais adversários de Boulos nas urnas. Até janeiro deste ano, Marta era a secretária de Relações Internacionais do emebedista, cargo que ocupava como indicada de Bruno Covas. Quando a chapa Boulos-Marta ainda era mera especulação, Nunes desconversava sobre a possibilidade de perder a secretária para o rival do PSOL.

Apesar das críticas que teceu a Marta no passado, sobretudo quando a petista plagiou seu “cata-voto”, Erundina elogiou a ex-ministra durante a convenção partidária da chapa “Amor por São Paulo”, em julho.

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Bruno Covas é prefeitão, fez a nossa São Paulo andar”, entoava o trio elétrico, reproduzindo o jingle de campanha do PSDB. Da calçada em Parelheiros, zona sul, tremulavam bandeiras com as cores tucanas e, onde quer que se via, estava estampado o número de urna da chapa de Covas com Ricardo Nunes (MDB), então candidato a vice. Dentro do trio, ambos acenavam aos presentes. Era a reta final de um segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).

Esse poderia ser um ato de rua como qualquer outro durante a eleição de 2020 à Prefeitura paulistana, mas a terceira presença na carreata embaralhou o cenário: quem cumprimentava o público ao lado de Covas e Nunes era Marta Suplicy, e o que estava em ação era o “Martamóvel”, em uma carreata da ex-petista contra Boulos, de quem ela seria vice na chapa dali a quatro anos, na eleição de 2024 a prefeito da capital paulista.

Esse episódio faz parte da série especial do Estadão de curiosidades sobre as eleições de São Paulo. Ao longo desta semana, serão publicadas reportagens sobre momentos que marcaram as disputas para a Prefeitura desde o primeiro pleito realizado após o fim da ditadura militar, em 1985.

Nas três décadas em que esteve nos quadros petistas, Marta foi eleita deputada federal, prefeita de São Paulo, senadora e, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi nomeada como ministra do Turismo e da Cultura, respectivamente.

Apesar do histórico, ela deixou o partido em 2015 e afirmou, em uma carta pública, que o fazia pois o PT havia se envolvido “em um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”. Ela se filiou ao MDB, ao qual permaneceria ligada até 2018. Nesse ínterim, em 2016, como senadora, votou a favor do impeachment de Dilma.

Aproximação com Bruno Covas

Em 2020, antes que Ricardo Nunes fosse confirmado como vice-prefeito na chapa de Covas, especulava-se até que a vaga poderia ser ocupada por Marta Suplicy. A aproximação da ex-senadora com o tucano custou até sua permanência no Solidariedade, o segundo partido a abrigá-la após o racha com o PT.

Enquanto Marta se aproximava de Covas, o Solidariedade mantinha conversas com o ex-governador paulista Márcio França, pré-candidato do PSB à Prefeitura. O desencontro provocou incômodo na sigla e desembocou na desfiliação da ex-prefeita.

Marta Suplicy posa com Bruno Covas e Ricardo Nunes na manhã da votação do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo em 2020. Foto: Pedro Venceslau/Estadão

Plágio do ‘Erundinamóvel’

Ao final da pré-campanha, Marta não foi nomeada como vice de Covas, mas seguiu manifestando apoio ao tucano durante a eleição. O “Martamóvel” foi uma réplica da caminhonete que percorreu a cidade com Luiza Erundina (PSOL) a bordo. A deputada federal, ex-prefeita de São Paulo e candidata a vice na chapa de Boulos rumou pelas periferias da capital com um veículo denominado por ela como “cata-voto”.

Aquela campanha ocorria em meio à pandemia de covid-19 e a carreata de Erundina foi um meio para que a candidata a vice, então com 85 anos e pertencente a um grupo de risco da doença, pudesse cumprir agendas de rua pela capital. Entre o eleitorado, o carro ganhou o apelido de “Erundinamóvel”, em alusão ao transporte do Papa, o papamóvel.

Marta ‘traiu o povo’, disse Erundina

Foi justamente ao comentar sobre o “Martamóvel” que Erundina fez uma de suas mais contundentes críticas a Marta Suplicy. Ela se queixou da “imitação” e afirmou que a ex-ministra era uma “traidora”.

“Enquanto estou aqui no calor do ‘cata-voto’, ela imitou a gente. Imitou não, pois está num caminhão, com ar-condicionado, com sofá de couro”, disse a parlamentar do PSOL num compromisso na zona norte da cidade. “Marta está apoiando o Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo.”

'Erundinamóvel' permitiu que candidata a vice fizesse agendas de rua durante a pandemia de covid-19. Foto: Tulio Kruse/Estadão

Um embate entre Marta e Erundina já havia ocorrido na eleição municipal anterior, de 2016. Naquele pleito, as duas foram candidatas a prefeita: Luiza Erundina, pelo PSOL, e Marta, pelo MDB. “Você apoia o governo (Michel) Temer, um governo ilegítimo e machista”, disse Erundina à emedebista durante um debate televisivo promovido pela RedeTV!. “Você não passou no teste como feminista”, alfinetou a candidata pelo PSOL.

A rusga entre as ex-prefeitas remonta a 2000, ano em que Marta venceu a eleição municipal. Naquele pleito, a petista queria uma aliança com Erundina, então no PSB. O acordo não foi adiante, pois a pessebista, rompida com o PT, não arredou de uma candidatura própria. Enquanto Marta venceu Paulo Maluf (PPB) no segundo turno, Erundina ficou em quinto lugar.

A casa torna

Quatro anos depois de ser acusada de plagiar o “cata-voto” e fazer campanha contra a chapa do PSOL, Luiza Erundina, Guilherme Boulos e Marta Suplicy estão juntos na disputa pela Prefeitura paulistana. A indicação de Marta como vice de Boulos é um dos principais trunfos da pré-campanha do deputado federal e foi mediada por Lula.

Guilherme Boulos (PSOL) lança candidatura à Prefeitura de São Paulo ao lado de ex-prefeitos pelo PT; entre os presentes, Marta Suplicy, sua vice, e Luiza Erundina, companheira de chapa em 2020. Foto: Felipe Rau/Estadão

O acordo não só reconciliou Marta com o PT como a retirou da gestão de Ricardo Nunes, que busca a reeleição e desponta como um dos principais adversários de Boulos nas urnas. Até janeiro deste ano, Marta era a secretária de Relações Internacionais do emebedista, cargo que ocupava como indicada de Bruno Covas. Quando a chapa Boulos-Marta ainda era mera especulação, Nunes desconversava sobre a possibilidade de perder a secretária para o rival do PSOL.

Apesar das críticas que teceu a Marta no passado, sobretudo quando a petista plagiou seu “cata-voto”, Erundina elogiou a ex-ministra durante a convenção partidária da chapa “Amor por São Paulo”, em julho.

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