BRASÍLIA – O ano de 2019 não foi um bom período para os torcedores do Internacional, de Porto Alegre (RS). Depois de uma grande campanha na Copa do Brasil, o time foi vice-campeão ante o Athlético Paranaense jogando em casa. Mas um adepto colorado assistiu à derrota pela televisão com um sorriso no rosto. Ele, um organizador de bolões lotéricos que faz parte da liderança do PT na Câmara dos Deputados tinha acabado de virar milionário.
No dia daquela decisão, a Mega-Sena realizou um sorteio de R$ 120 milhões e um bolão de 49 cotas feito pelo grupo do partido no Legislativo selecionou, entre as apostas, a sequência 04 - 11 - 16 - 22 - 29 - 33. Eles acertaram as dezenas sorteadas e faturaram R$ 2,4 milhões por cota. Houve gente que pôde participar do bolão e não quis dar a contribuição de R$ 10 e quem mantém o segredo da conquista até hoje. A sorte foi tamanha que desta vez ninguém quis deixar de participar da aposta da Mega da Virada deste ano.
As histórias que envolvem a milionária vitória em 2019 circularam pela Câmara e trazem a esperança de mais um sucesso. Neste final de 2023, bolão da liderança do PT bateu recorde e mais de 300 pessoas compõem as 535 cotas que pretendem acertar os seis números e levar os R$ 570 milhões de prêmio na virada do ano.
Parlamentares petistas, que ficaram fora do jogo de 2019, brincavam que nenhum ganhador ficaria mais por lá. Anos depois, alguns ainda estão. O petista colorado, que pediu para não ser identificado, é um deles. Ele é o organizador do bolão do gabinete do PT. “O dinheiro melhorou a vida de todo mundo. Agora, não enriquece”, conta, apesar de também admitir que houve quem conseguisse multiplicar o patrimônio. Ele diz que quem saiu era quem já estava perto de se aposentar.
Ainda há um mistério sobre as pessoas que participaram das 49 cotas milionárias e alguns omitem terem vencido. Essa incerteza gerou causos curiosos.
Um deles, contado pelo organizador, é de uma funcionária que não participou do bolão, mas o ex-marido acreditou que ela venceu. “Ele, que nunca fazia isso, passou a ir buscar o filho na escola”, disse. Uma outra funcionária, mais azarada, teve mais de uma chance de enriquecer. A lista do bolão passou na mão dela duas vezes e ela não quis dar os R$ 10 para a participação.
Para esse organizador, o segredo não está apenas na sorte, mas também no método. Antes de fazer as apostas, ele estuda resultados anteriores de apostas vencedoras e conversa com um amigo matemático que faz o mesmo. Em novembro, um bolão feito por ele ganhou R$ 28 mil por cota na loteria. Ele ainda pretende, no próximo ano, alimentar uma inteligência artificial para ajudar nas apostas.
Houve ainda outras pessoas sortudas na política que faturaram na loteria. Saiba quem:
Jair Bolsonaro vence aposta em novembro e promete doar prêmio da Mega da Virada 2023 se ganhar
As mais de 500 cotas da liderança do PT disputarão a Mega da Virada com o maior adversário na eleição de 2022: o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No último dia 24, ele até fez uma promessa, em uma visita à cidade de Nerópolis (GO), com uma condição. “Se eu ganhar na Mega-Sena da Virada, eu prometo dividir o prêmio com o povo de Nerópolis, mas o povo de Nerópolis vai ter que me achar, tá OK?, disse.
O ex-presidente repetiu o compromisso nesta sexta-feira, 29, em outra cidade, em Alagoas. “Se eu ganhar na Mega da Virada, vou repartir o prêmio com o pessoal de Porto de Pedras”, afirmou.
Bolsonaro, assim como o grupo petista, também faturou apostando na loteria em novembro deste ano. Ele, com um grupo de mais de 20 amigos, fez um bolão de investimento de pouco mais de R$ 100 e venceu a quadra, contou Fábio Wajngarten, assessor e advogado de Bolsonaro.
A aposta vitoriosa rendeu um prêmio de R$ 5.913,68, o que deu um pouco mais de R$ 200 para cada um dos participantes. Enquanto presidente, Bolsonaro fez das apostas uma tradição e participou de sorteios da Mega da Virada.
Deputado federal também venceu a quadra
Outra figura política ganhou em novembro. O deputado Giovani Cherini (PL-RS) participou de um bolão vencedor da quadra da Mega-Sena. O prêmio de R$ 26 mil conquistado pelo grupo foi dividido em R$ 1,5 mil para cada.
“Quem não arrisca não petisca”, disse o deputado, que fala que gosta de apostar. “Valeu a pena o gostinho de ganhar.”
Prefeito matogrossense venceu aposta milionária
Em 2017, o então prefeito de São Pedro da Cipa (MT), Alexandre Russi, foi uma das 20 pessoas que venceram a Mega-Sena no valor de R$ 101,5 milhões. Ele recebeu o convite para participar do bolão da dona da lotérica da cidade vizinha de Jaciara, que é amiga da família.
O primeiro telefonema veio ao irmão, o deputado estadual matogrossense Max Russi, assíduo apostador na lotérica. Em um evento incomum, ele recebeu o convite e não participou. Daí, o convite foi feito para Alexandre. Era a primeira aposta que ele fazia. Ele e os outros 19 apostadores faturaram R$ 5 milhões, cada.
Foi a própria dona da lotérica que contou da vitória na Mega-Sena. O motorista dele, que estava ao lado no momento, também participou do bolão e faturou o prêmio. “Desliguei a primeira ligação pensando que era trote. Eu fiquei três meses sem acreditar. Tentei manter segredo por receio de sequestro, mas a história logo espalhou”, disse Alexandre.
A vitória dos apostadores de São Pedro da Cipa virou o assunto da cidade, de cerca de 5 mil habitantes. Alexandre conta que não recebeu ameaças à sua segurança desde então, mas as redes sociais dele ficaram movimentadas depois da notícia. “Muitas pessoas vieram me pedir dinheiro no Facebook e em outras redes. Virou febre na região toda”, afirmou o ex-prefeito.
Ele incorporou o hábito de apostar. Desde então, diz que já venceu apostas na quina e na quadra da Mega-Sena, além de receber convites de outras pessoas para participar de bolões.
A Mega da Virada é o próximo alvo dele. Ele está em 30 pequenos bolões. “Um amigo meu advogado me ligou e disse que sonhou comigo. No sonho, eu havia ganhado na Mega-Sena de novo e aparecia com uma mala dourada”, contou Alexandre.
Apostas de deputado em loteria já foram assunto em uma CPI
Em 1993, um grupo de parlamentares, comandado pelo então relator-geral do Orçamento, deputado alagoano João Alves, à época do PFL da Bahia, usou emendas parlamentares para desviar recursos destinados a obras de assistência social. De acordo com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Anões do Orçamento, que apurou o caso, o esquema movimentou cerca de US$ 100 milhões.
Alves, um dos principais investigados, alegou que ficou rico fazendo sucessivas apostas na loteria, o que, dizia ele, renderam mais de 200 vitórias. A justificativa se popularizou em uma célebre frase dita por ele: “Deus me ajudou e eu ganhei dinheiro”. Funcionários da Caixa apontaram que seria impossível tantas vitórias seguidas.
O Estadão informou em outubro de 1993 que dados enviados pela Caixa Econômica Federal à CPI indicaram que o ex-deputado jogou US$ 5 milhões na loteria naquele ano. O colegiado acusou Alves de comprar bilhetes premiados e usar o prêmio de vitórias lotéricas para lavar o dinheiro desviado. O ex-deputado morreu em 2004, em Salvador, vítima de câncer.