Curiosidades do mundo da Política

Rinoceronte vereador e mosquito prefeito: os animais eleitos pelos brasileiros em protesto


Na época em que as eleições eram feitas em cédulas de papel, eleitores votavam em animais para protestar contra políticos locais; veja quais foram os ‘bichos candidatos’ que já foram ‘eleitos’ no País

Por Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA – Quando as eleições se davam por cédulas de papel, eleitores insatisfeitos acabavam escolhendo candidatos não oficiais e os votos de protesto dos brasileiros se materializavam com criatividade. Ao longo da história, a indignação do eleitorado deu votações expressivas até para animais. Em São Paulo, um rinoceronte “virou” vereador; em Vila Velha, no Espírito Santo, o mosquito da dengue “conquistou” o cargo de prefeito; e, no Rio, um macaco foi o terceiro mais votado para a prefeitura da capital.

Rinoceronte 'Cacareco' foi o mais votado para vereador em São Paulo Foto: Reprodução/AcervoEstadão
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Os animais não aspiravam a cargos públicos e os votos não eram contabilizados para o resultado oficial das eleições. As candidaturas eram criadas e apoiadas por eleitores em protesto contra os políticos. De acordo com Tiago Valenciano, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os bichos se tornavam símbolos das cobranças feitas pelos moradores para os gestores públicos.

“A simbologia dos animais depende muito da circunstância municipal. Cada caso tem relação com o enredo de cada eleição, mas o objetivo é o mesmo: ironizar o processo eleitoral e questionar alguma demanda ou situação existente não resolvida pelos políticos”, afirmou.

Hoje em dia, essa forma de se manifestar não é mais possível. Segundo Rafael Morgental, especialista em direito eleitoral e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a urna eletrônica tirou a possiblidade de os animais serem utilizados como protesto nas eleições. “Você não tem mais a liberdade da escrita, a urna agora te conduz a uma escolha numérica e você só pode escolher uma pessoa que está registrada como candidato ou não”, afirmou.

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Rinoceronte Cacareco foi ‘eleito’ vereador de São Paulo em 1959

Nas eleições paulistanas de 1959, o vereador mais bem votado da cidade não foi um ser humano. O grande vencedor daquele pleito foi um rinoceronte chamado Cacareco, que residia no Jardim Zoológico da cidade. O animal teve 100 mil votos, mais do que todos os outros 540 candidatos para a Câmara.

A votação de Cacareco foi tão expressiva que o partido que conquistou o maior número de votos não chegou a ter 95 mil. As cédulas com o nome do animal foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e o rinoceronte não tomou posse no Legislativo municipal.

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Cacareco ficou conhecido na cidade após o governo do Rio “emprestar” o animal para Jânio Quadros, então governador paulista, em 1958. Ao chegar à capital do Estado, Cacareco foi recebido por crianças e logo se tornou uma “celebridade” no município.

O carinho dos paulistanos pelo rinoceronte era tão grande que o retorno dele para a capital fluminense ocorreu sob insatisfação popular. Em 1984, a carcaça de Cacareco foi doada ao Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), onde está exposta até hoje.

Moradores de Vila Velha ‘elegeram’ o mosquito da dengue como prefeito

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Em 1987, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, o “candidato” mais votado para comandar a prefeitura foi o mosquito da dengue. Naquela época, o município enfrentava uma epidemia da doença, e os moradores culpavam a administração pública pelo avanço das infecções.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o Aedes aegypti foi escrito em 29.668 cédulas. Com os votos do inseto anulados, Magno Pires da Silva (PT) foi eleito prefeito, com 26.633 votos.

Votos no mosquito da dengue superaram os do prefeito eleito em Vila Velha em 1987 Foto: Reprodução/A Gazeta
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Bode Ioiô foi ‘eleito’ vereador de Fortaleza e ‘despachava’ em praça da cidade

Nas eleições municipais de 1922 em Fortaleza, que à época tinha cerca de 80 mil habitantes, a sensação da campanha foi um bode chamado Ioiô. O animal, que pertencia a um boêmio da cidade, era conhecido por perambular pelas ruas do antigo centro fortalezense.

A cultura popular diz que Ioiô estava sempre presente em cafés e bares da capital cearense, sendo adorado por escritores e aristocratas da cidade. Por conta da “fama”, foi lançado candidato a vereador e acabou “eleito”.

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Bode Ioiô foi "eleito" vereador em Fortaleza em 1922 e se tornou personagem histórico do Ceará Foto: Reprodução/Governo do Ceará

Ioiô não pôde tomar posse do cargo em que foi confiado pela população de Fortaleza, mas a literatura cearense diz que ele diariamente “despachava” na Praça do Ferreira, no centro da cidade. A pontualidade do bode no local era considerada pela população como um exemplo de produtividade, em mais uma crítica aos políticos do município.

Ioiô foi considerado uma figura folclórica do Estado e um exemplo do humor cearense. Na década de 1930, quando o “bode vereador” morreu, o corpo dele foi empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, onde está até hoje. Em 2019, a “trajetória política” do animal foi enredo da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

Macaco Tião foi o terceiro ‘candidato’ mais votado nas eleições do Rio

Em 15 de novembro de 1988, os eleitores da cidade do Rio participavam da segunda eleição municipal desde a redemocratização. Naquele dia, uma parte dos eleitores foi às urnas para votar nos políticos preferidos, enquanto outra estava convicta em escolher um chipanzé do zoológico municipal como o novo chefe do Executivo do município.

O macaco se chamava Tião e era famoso por ser querido pelas crianças e por costumar atirar objetos nos políticos que visitavam o zoológico. Como forma de protesto contra a política local, a extinta revista humorística Casseta Popular decidiu lançar a candidatura do chipanzé para a prefeitura carioca, com os slogans “Macaco Tião, o candidato do povão”, “o único candidato que já está preso”. Ele concorreu pelo inventado Partido Bananista Brasileiro (PBB).

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988. Na campanha, era definido como "candidato do povão" Foto: Acervo/TRE-RJ

Estimativas dos responsáveis pela contagem dos votos no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) apontam que o macaco recebeu 400 mil votos. Caso realmente fosse um candidato, ele teria ficado em terceiro lugar. Todas as cédulas com o nome do chipanzé foram anuladas e Tião figura no Guiness Book como o símio que mais recebeu votos na história.

O primeiro colocado daquele pleito foi o advogado Marcelo Allencar (PDT) – que futuramente seria eleito governador do Estado – com 998 mil votos. O segundo foi o engenheiro Jorge Bittar (PT), com 552 mil. O macaco superou Álvaro Valle (PL), que teve 393 mil. Valle foi o criador do Partido Liberal, que hoje abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cabra ‘candidata’ foi alvo de tiros em carreata

Em 1996, a cabra Frederico foi lançada como “candidata” para comandar o município alagoano de Pilar, a 40 quilômetros da capital Maceió. O animal era criado solto nas ruas centrais da cidade e, de acordo com relatos de moradores, foi pintada nas cores da bandeira do Brasil durante a Copa do Mundo de 1994.

Segundo jornais alagoanos da época, a candidatura de Frederico foi uma forma que os moradores encontraram para criticar a gestão do então prefeito, Mário Fragoso, pelo atraso na folha salarial dos servidores e por ser pouco presente no dia a dia da cidade.

Porém, o que parecia inicialmente uma brincadeira dos moradores contra o sistema político local, se tornou cada vez mais sério ao longo da campanha. Um radialista da cidade era o encarregado de transmitir as propostas do bode para a cidade. Segundo o comunicador, Frederico era “candidato” pelo inventado Partido dos Bodes e Bichas (PBB), com o número de urna 24 e o slogan “Um governo berrante”.

A presença de Frederico na disputa pela Prefeitura de Pilar descambou para a violência política. Durante uma carreata, o carro onde estava a cabra foi atingido por uma rajada de metralhadora. Ninguém foi ferido.

A vida do candidato do PBB não duraria muito após o atentado. Dez dias depois, o dono de Frederico, proprietário de um ferro velho da cidade, encontrou o animal morto. Ele acreditava na hipótese de envenenamento.

BRASÍLIA – Quando as eleições se davam por cédulas de papel, eleitores insatisfeitos acabavam escolhendo candidatos não oficiais e os votos de protesto dos brasileiros se materializavam com criatividade. Ao longo da história, a indignação do eleitorado deu votações expressivas até para animais. Em São Paulo, um rinoceronte “virou” vereador; em Vila Velha, no Espírito Santo, o mosquito da dengue “conquistou” o cargo de prefeito; e, no Rio, um macaco foi o terceiro mais votado para a prefeitura da capital.

Rinoceronte 'Cacareco' foi o mais votado para vereador em São Paulo Foto: Reprodução/AcervoEstadão

Os animais não aspiravam a cargos públicos e os votos não eram contabilizados para o resultado oficial das eleições. As candidaturas eram criadas e apoiadas por eleitores em protesto contra os políticos. De acordo com Tiago Valenciano, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os bichos se tornavam símbolos das cobranças feitas pelos moradores para os gestores públicos.

“A simbologia dos animais depende muito da circunstância municipal. Cada caso tem relação com o enredo de cada eleição, mas o objetivo é o mesmo: ironizar o processo eleitoral e questionar alguma demanda ou situação existente não resolvida pelos políticos”, afirmou.

Hoje em dia, essa forma de se manifestar não é mais possível. Segundo Rafael Morgental, especialista em direito eleitoral e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a urna eletrônica tirou a possiblidade de os animais serem utilizados como protesto nas eleições. “Você não tem mais a liberdade da escrita, a urna agora te conduz a uma escolha numérica e você só pode escolher uma pessoa que está registrada como candidato ou não”, afirmou.

Rinoceronte Cacareco foi ‘eleito’ vereador de São Paulo em 1959

Nas eleições paulistanas de 1959, o vereador mais bem votado da cidade não foi um ser humano. O grande vencedor daquele pleito foi um rinoceronte chamado Cacareco, que residia no Jardim Zoológico da cidade. O animal teve 100 mil votos, mais do que todos os outros 540 candidatos para a Câmara.

A votação de Cacareco foi tão expressiva que o partido que conquistou o maior número de votos não chegou a ter 95 mil. As cédulas com o nome do animal foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e o rinoceronte não tomou posse no Legislativo municipal.

Cacareco ficou conhecido na cidade após o governo do Rio “emprestar” o animal para Jânio Quadros, então governador paulista, em 1958. Ao chegar à capital do Estado, Cacareco foi recebido por crianças e logo se tornou uma “celebridade” no município.

O carinho dos paulistanos pelo rinoceronte era tão grande que o retorno dele para a capital fluminense ocorreu sob insatisfação popular. Em 1984, a carcaça de Cacareco foi doada ao Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), onde está exposta até hoje.

Moradores de Vila Velha ‘elegeram’ o mosquito da dengue como prefeito

Em 1987, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, o “candidato” mais votado para comandar a prefeitura foi o mosquito da dengue. Naquela época, o município enfrentava uma epidemia da doença, e os moradores culpavam a administração pública pelo avanço das infecções.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o Aedes aegypti foi escrito em 29.668 cédulas. Com os votos do inseto anulados, Magno Pires da Silva (PT) foi eleito prefeito, com 26.633 votos.

Votos no mosquito da dengue superaram os do prefeito eleito em Vila Velha em 1987 Foto: Reprodução/A Gazeta

Bode Ioiô foi ‘eleito’ vereador de Fortaleza e ‘despachava’ em praça da cidade

Nas eleições municipais de 1922 em Fortaleza, que à época tinha cerca de 80 mil habitantes, a sensação da campanha foi um bode chamado Ioiô. O animal, que pertencia a um boêmio da cidade, era conhecido por perambular pelas ruas do antigo centro fortalezense.

A cultura popular diz que Ioiô estava sempre presente em cafés e bares da capital cearense, sendo adorado por escritores e aristocratas da cidade. Por conta da “fama”, foi lançado candidato a vereador e acabou “eleito”.

Bode Ioiô foi "eleito" vereador em Fortaleza em 1922 e se tornou personagem histórico do Ceará Foto: Reprodução/Governo do Ceará

Ioiô não pôde tomar posse do cargo em que foi confiado pela população de Fortaleza, mas a literatura cearense diz que ele diariamente “despachava” na Praça do Ferreira, no centro da cidade. A pontualidade do bode no local era considerada pela população como um exemplo de produtividade, em mais uma crítica aos políticos do município.

Ioiô foi considerado uma figura folclórica do Estado e um exemplo do humor cearense. Na década de 1930, quando o “bode vereador” morreu, o corpo dele foi empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, onde está até hoje. Em 2019, a “trajetória política” do animal foi enredo da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

Macaco Tião foi o terceiro ‘candidato’ mais votado nas eleições do Rio

Em 15 de novembro de 1988, os eleitores da cidade do Rio participavam da segunda eleição municipal desde a redemocratização. Naquele dia, uma parte dos eleitores foi às urnas para votar nos políticos preferidos, enquanto outra estava convicta em escolher um chipanzé do zoológico municipal como o novo chefe do Executivo do município.

O macaco se chamava Tião e era famoso por ser querido pelas crianças e por costumar atirar objetos nos políticos que visitavam o zoológico. Como forma de protesto contra a política local, a extinta revista humorística Casseta Popular decidiu lançar a candidatura do chipanzé para a prefeitura carioca, com os slogans “Macaco Tião, o candidato do povão”, “o único candidato que já está preso”. Ele concorreu pelo inventado Partido Bananista Brasileiro (PBB).

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988. Na campanha, era definido como "candidato do povão" Foto: Acervo/TRE-RJ

Estimativas dos responsáveis pela contagem dos votos no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) apontam que o macaco recebeu 400 mil votos. Caso realmente fosse um candidato, ele teria ficado em terceiro lugar. Todas as cédulas com o nome do chipanzé foram anuladas e Tião figura no Guiness Book como o símio que mais recebeu votos na história.

O primeiro colocado daquele pleito foi o advogado Marcelo Allencar (PDT) – que futuramente seria eleito governador do Estado – com 998 mil votos. O segundo foi o engenheiro Jorge Bittar (PT), com 552 mil. O macaco superou Álvaro Valle (PL), que teve 393 mil. Valle foi o criador do Partido Liberal, que hoje abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cabra ‘candidata’ foi alvo de tiros em carreata

Em 1996, a cabra Frederico foi lançada como “candidata” para comandar o município alagoano de Pilar, a 40 quilômetros da capital Maceió. O animal era criado solto nas ruas centrais da cidade e, de acordo com relatos de moradores, foi pintada nas cores da bandeira do Brasil durante a Copa do Mundo de 1994.

Segundo jornais alagoanos da época, a candidatura de Frederico foi uma forma que os moradores encontraram para criticar a gestão do então prefeito, Mário Fragoso, pelo atraso na folha salarial dos servidores e por ser pouco presente no dia a dia da cidade.

Porém, o que parecia inicialmente uma brincadeira dos moradores contra o sistema político local, se tornou cada vez mais sério ao longo da campanha. Um radialista da cidade era o encarregado de transmitir as propostas do bode para a cidade. Segundo o comunicador, Frederico era “candidato” pelo inventado Partido dos Bodes e Bichas (PBB), com o número de urna 24 e o slogan “Um governo berrante”.

A presença de Frederico na disputa pela Prefeitura de Pilar descambou para a violência política. Durante uma carreata, o carro onde estava a cabra foi atingido por uma rajada de metralhadora. Ninguém foi ferido.

A vida do candidato do PBB não duraria muito após o atentado. Dez dias depois, o dono de Frederico, proprietário de um ferro velho da cidade, encontrou o animal morto. Ele acreditava na hipótese de envenenamento.

BRASÍLIA – Quando as eleições se davam por cédulas de papel, eleitores insatisfeitos acabavam escolhendo candidatos não oficiais e os votos de protesto dos brasileiros se materializavam com criatividade. Ao longo da história, a indignação do eleitorado deu votações expressivas até para animais. Em São Paulo, um rinoceronte “virou” vereador; em Vila Velha, no Espírito Santo, o mosquito da dengue “conquistou” o cargo de prefeito; e, no Rio, um macaco foi o terceiro mais votado para a prefeitura da capital.

Rinoceronte 'Cacareco' foi o mais votado para vereador em São Paulo Foto: Reprodução/AcervoEstadão

Os animais não aspiravam a cargos públicos e os votos não eram contabilizados para o resultado oficial das eleições. As candidaturas eram criadas e apoiadas por eleitores em protesto contra os políticos. De acordo com Tiago Valenciano, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os bichos se tornavam símbolos das cobranças feitas pelos moradores para os gestores públicos.

“A simbologia dos animais depende muito da circunstância municipal. Cada caso tem relação com o enredo de cada eleição, mas o objetivo é o mesmo: ironizar o processo eleitoral e questionar alguma demanda ou situação existente não resolvida pelos políticos”, afirmou.

Hoje em dia, essa forma de se manifestar não é mais possível. Segundo Rafael Morgental, especialista em direito eleitoral e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a urna eletrônica tirou a possiblidade de os animais serem utilizados como protesto nas eleições. “Você não tem mais a liberdade da escrita, a urna agora te conduz a uma escolha numérica e você só pode escolher uma pessoa que está registrada como candidato ou não”, afirmou.

Rinoceronte Cacareco foi ‘eleito’ vereador de São Paulo em 1959

Nas eleições paulistanas de 1959, o vereador mais bem votado da cidade não foi um ser humano. O grande vencedor daquele pleito foi um rinoceronte chamado Cacareco, que residia no Jardim Zoológico da cidade. O animal teve 100 mil votos, mais do que todos os outros 540 candidatos para a Câmara.

A votação de Cacareco foi tão expressiva que o partido que conquistou o maior número de votos não chegou a ter 95 mil. As cédulas com o nome do animal foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e o rinoceronte não tomou posse no Legislativo municipal.

Cacareco ficou conhecido na cidade após o governo do Rio “emprestar” o animal para Jânio Quadros, então governador paulista, em 1958. Ao chegar à capital do Estado, Cacareco foi recebido por crianças e logo se tornou uma “celebridade” no município.

O carinho dos paulistanos pelo rinoceronte era tão grande que o retorno dele para a capital fluminense ocorreu sob insatisfação popular. Em 1984, a carcaça de Cacareco foi doada ao Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), onde está exposta até hoje.

Moradores de Vila Velha ‘elegeram’ o mosquito da dengue como prefeito

Em 1987, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, o “candidato” mais votado para comandar a prefeitura foi o mosquito da dengue. Naquela época, o município enfrentava uma epidemia da doença, e os moradores culpavam a administração pública pelo avanço das infecções.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o Aedes aegypti foi escrito em 29.668 cédulas. Com os votos do inseto anulados, Magno Pires da Silva (PT) foi eleito prefeito, com 26.633 votos.

Votos no mosquito da dengue superaram os do prefeito eleito em Vila Velha em 1987 Foto: Reprodução/A Gazeta

Bode Ioiô foi ‘eleito’ vereador de Fortaleza e ‘despachava’ em praça da cidade

Nas eleições municipais de 1922 em Fortaleza, que à época tinha cerca de 80 mil habitantes, a sensação da campanha foi um bode chamado Ioiô. O animal, que pertencia a um boêmio da cidade, era conhecido por perambular pelas ruas do antigo centro fortalezense.

A cultura popular diz que Ioiô estava sempre presente em cafés e bares da capital cearense, sendo adorado por escritores e aristocratas da cidade. Por conta da “fama”, foi lançado candidato a vereador e acabou “eleito”.

Bode Ioiô foi "eleito" vereador em Fortaleza em 1922 e se tornou personagem histórico do Ceará Foto: Reprodução/Governo do Ceará

Ioiô não pôde tomar posse do cargo em que foi confiado pela população de Fortaleza, mas a literatura cearense diz que ele diariamente “despachava” na Praça do Ferreira, no centro da cidade. A pontualidade do bode no local era considerada pela população como um exemplo de produtividade, em mais uma crítica aos políticos do município.

Ioiô foi considerado uma figura folclórica do Estado e um exemplo do humor cearense. Na década de 1930, quando o “bode vereador” morreu, o corpo dele foi empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, onde está até hoje. Em 2019, a “trajetória política” do animal foi enredo da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

Macaco Tião foi o terceiro ‘candidato’ mais votado nas eleições do Rio

Em 15 de novembro de 1988, os eleitores da cidade do Rio participavam da segunda eleição municipal desde a redemocratização. Naquele dia, uma parte dos eleitores foi às urnas para votar nos políticos preferidos, enquanto outra estava convicta em escolher um chipanzé do zoológico municipal como o novo chefe do Executivo do município.

O macaco se chamava Tião e era famoso por ser querido pelas crianças e por costumar atirar objetos nos políticos que visitavam o zoológico. Como forma de protesto contra a política local, a extinta revista humorística Casseta Popular decidiu lançar a candidatura do chipanzé para a prefeitura carioca, com os slogans “Macaco Tião, o candidato do povão”, “o único candidato que já está preso”. Ele concorreu pelo inventado Partido Bananista Brasileiro (PBB).

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988. Na campanha, era definido como "candidato do povão" Foto: Acervo/TRE-RJ

Estimativas dos responsáveis pela contagem dos votos no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) apontam que o macaco recebeu 400 mil votos. Caso realmente fosse um candidato, ele teria ficado em terceiro lugar. Todas as cédulas com o nome do chipanzé foram anuladas e Tião figura no Guiness Book como o símio que mais recebeu votos na história.

O primeiro colocado daquele pleito foi o advogado Marcelo Allencar (PDT) – que futuramente seria eleito governador do Estado – com 998 mil votos. O segundo foi o engenheiro Jorge Bittar (PT), com 552 mil. O macaco superou Álvaro Valle (PL), que teve 393 mil. Valle foi o criador do Partido Liberal, que hoje abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cabra ‘candidata’ foi alvo de tiros em carreata

Em 1996, a cabra Frederico foi lançada como “candidata” para comandar o município alagoano de Pilar, a 40 quilômetros da capital Maceió. O animal era criado solto nas ruas centrais da cidade e, de acordo com relatos de moradores, foi pintada nas cores da bandeira do Brasil durante a Copa do Mundo de 1994.

Segundo jornais alagoanos da época, a candidatura de Frederico foi uma forma que os moradores encontraram para criticar a gestão do então prefeito, Mário Fragoso, pelo atraso na folha salarial dos servidores e por ser pouco presente no dia a dia da cidade.

Porém, o que parecia inicialmente uma brincadeira dos moradores contra o sistema político local, se tornou cada vez mais sério ao longo da campanha. Um radialista da cidade era o encarregado de transmitir as propostas do bode para a cidade. Segundo o comunicador, Frederico era “candidato” pelo inventado Partido dos Bodes e Bichas (PBB), com o número de urna 24 e o slogan “Um governo berrante”.

A presença de Frederico na disputa pela Prefeitura de Pilar descambou para a violência política. Durante uma carreata, o carro onde estava a cabra foi atingido por uma rajada de metralhadora. Ninguém foi ferido.

A vida do candidato do PBB não duraria muito após o atentado. Dez dias depois, o dono de Frederico, proprietário de um ferro velho da cidade, encontrou o animal morto. Ele acreditava na hipótese de envenenamento.

BRASÍLIA – Quando as eleições se davam por cédulas de papel, eleitores insatisfeitos acabavam escolhendo candidatos não oficiais e os votos de protesto dos brasileiros se materializavam com criatividade. Ao longo da história, a indignação do eleitorado deu votações expressivas até para animais. Em São Paulo, um rinoceronte “virou” vereador; em Vila Velha, no Espírito Santo, o mosquito da dengue “conquistou” o cargo de prefeito; e, no Rio, um macaco foi o terceiro mais votado para a prefeitura da capital.

Rinoceronte 'Cacareco' foi o mais votado para vereador em São Paulo Foto: Reprodução/AcervoEstadão

Os animais não aspiravam a cargos públicos e os votos não eram contabilizados para o resultado oficial das eleições. As candidaturas eram criadas e apoiadas por eleitores em protesto contra os políticos. De acordo com Tiago Valenciano, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os bichos se tornavam símbolos das cobranças feitas pelos moradores para os gestores públicos.

“A simbologia dos animais depende muito da circunstância municipal. Cada caso tem relação com o enredo de cada eleição, mas o objetivo é o mesmo: ironizar o processo eleitoral e questionar alguma demanda ou situação existente não resolvida pelos políticos”, afirmou.

Hoje em dia, essa forma de se manifestar não é mais possível. Segundo Rafael Morgental, especialista em direito eleitoral e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a urna eletrônica tirou a possiblidade de os animais serem utilizados como protesto nas eleições. “Você não tem mais a liberdade da escrita, a urna agora te conduz a uma escolha numérica e você só pode escolher uma pessoa que está registrada como candidato ou não”, afirmou.

Rinoceronte Cacareco foi ‘eleito’ vereador de São Paulo em 1959

Nas eleições paulistanas de 1959, o vereador mais bem votado da cidade não foi um ser humano. O grande vencedor daquele pleito foi um rinoceronte chamado Cacareco, que residia no Jardim Zoológico da cidade. O animal teve 100 mil votos, mais do que todos os outros 540 candidatos para a Câmara.

A votação de Cacareco foi tão expressiva que o partido que conquistou o maior número de votos não chegou a ter 95 mil. As cédulas com o nome do animal foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e o rinoceronte não tomou posse no Legislativo municipal.

Cacareco ficou conhecido na cidade após o governo do Rio “emprestar” o animal para Jânio Quadros, então governador paulista, em 1958. Ao chegar à capital do Estado, Cacareco foi recebido por crianças e logo se tornou uma “celebridade” no município.

O carinho dos paulistanos pelo rinoceronte era tão grande que o retorno dele para a capital fluminense ocorreu sob insatisfação popular. Em 1984, a carcaça de Cacareco foi doada ao Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), onde está exposta até hoje.

Moradores de Vila Velha ‘elegeram’ o mosquito da dengue como prefeito

Em 1987, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, o “candidato” mais votado para comandar a prefeitura foi o mosquito da dengue. Naquela época, o município enfrentava uma epidemia da doença, e os moradores culpavam a administração pública pelo avanço das infecções.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o Aedes aegypti foi escrito em 29.668 cédulas. Com os votos do inseto anulados, Magno Pires da Silva (PT) foi eleito prefeito, com 26.633 votos.

Votos no mosquito da dengue superaram os do prefeito eleito em Vila Velha em 1987 Foto: Reprodução/A Gazeta

Bode Ioiô foi ‘eleito’ vereador de Fortaleza e ‘despachava’ em praça da cidade

Nas eleições municipais de 1922 em Fortaleza, que à época tinha cerca de 80 mil habitantes, a sensação da campanha foi um bode chamado Ioiô. O animal, que pertencia a um boêmio da cidade, era conhecido por perambular pelas ruas do antigo centro fortalezense.

A cultura popular diz que Ioiô estava sempre presente em cafés e bares da capital cearense, sendo adorado por escritores e aristocratas da cidade. Por conta da “fama”, foi lançado candidato a vereador e acabou “eleito”.

Bode Ioiô foi "eleito" vereador em Fortaleza em 1922 e se tornou personagem histórico do Ceará Foto: Reprodução/Governo do Ceará

Ioiô não pôde tomar posse do cargo em que foi confiado pela população de Fortaleza, mas a literatura cearense diz que ele diariamente “despachava” na Praça do Ferreira, no centro da cidade. A pontualidade do bode no local era considerada pela população como um exemplo de produtividade, em mais uma crítica aos políticos do município.

Ioiô foi considerado uma figura folclórica do Estado e um exemplo do humor cearense. Na década de 1930, quando o “bode vereador” morreu, o corpo dele foi empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, onde está até hoje. Em 2019, a “trajetória política” do animal foi enredo da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

Macaco Tião foi o terceiro ‘candidato’ mais votado nas eleições do Rio

Em 15 de novembro de 1988, os eleitores da cidade do Rio participavam da segunda eleição municipal desde a redemocratização. Naquele dia, uma parte dos eleitores foi às urnas para votar nos políticos preferidos, enquanto outra estava convicta em escolher um chipanzé do zoológico municipal como o novo chefe do Executivo do município.

O macaco se chamava Tião e era famoso por ser querido pelas crianças e por costumar atirar objetos nos políticos que visitavam o zoológico. Como forma de protesto contra a política local, a extinta revista humorística Casseta Popular decidiu lançar a candidatura do chipanzé para a prefeitura carioca, com os slogans “Macaco Tião, o candidato do povão”, “o único candidato que já está preso”. Ele concorreu pelo inventado Partido Bananista Brasileiro (PBB).

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988. Na campanha, era definido como "candidato do povão" Foto: Acervo/TRE-RJ

Estimativas dos responsáveis pela contagem dos votos no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) apontam que o macaco recebeu 400 mil votos. Caso realmente fosse um candidato, ele teria ficado em terceiro lugar. Todas as cédulas com o nome do chipanzé foram anuladas e Tião figura no Guiness Book como o símio que mais recebeu votos na história.

O primeiro colocado daquele pleito foi o advogado Marcelo Allencar (PDT) – que futuramente seria eleito governador do Estado – com 998 mil votos. O segundo foi o engenheiro Jorge Bittar (PT), com 552 mil. O macaco superou Álvaro Valle (PL), que teve 393 mil. Valle foi o criador do Partido Liberal, que hoje abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cabra ‘candidata’ foi alvo de tiros em carreata

Em 1996, a cabra Frederico foi lançada como “candidata” para comandar o município alagoano de Pilar, a 40 quilômetros da capital Maceió. O animal era criado solto nas ruas centrais da cidade e, de acordo com relatos de moradores, foi pintada nas cores da bandeira do Brasil durante a Copa do Mundo de 1994.

Segundo jornais alagoanos da época, a candidatura de Frederico foi uma forma que os moradores encontraram para criticar a gestão do então prefeito, Mário Fragoso, pelo atraso na folha salarial dos servidores e por ser pouco presente no dia a dia da cidade.

Porém, o que parecia inicialmente uma brincadeira dos moradores contra o sistema político local, se tornou cada vez mais sério ao longo da campanha. Um radialista da cidade era o encarregado de transmitir as propostas do bode para a cidade. Segundo o comunicador, Frederico era “candidato” pelo inventado Partido dos Bodes e Bichas (PBB), com o número de urna 24 e o slogan “Um governo berrante”.

A presença de Frederico na disputa pela Prefeitura de Pilar descambou para a violência política. Durante uma carreata, o carro onde estava a cabra foi atingido por uma rajada de metralhadora. Ninguém foi ferido.

A vida do candidato do PBB não duraria muito após o atentado. Dez dias depois, o dono de Frederico, proprietário de um ferro velho da cidade, encontrou o animal morto. Ele acreditava na hipótese de envenenamento.

BRASÍLIA – Quando as eleições se davam por cédulas de papel, eleitores insatisfeitos acabavam escolhendo candidatos não oficiais e os votos de protesto dos brasileiros se materializavam com criatividade. Ao longo da história, a indignação do eleitorado deu votações expressivas até para animais. Em São Paulo, um rinoceronte “virou” vereador; em Vila Velha, no Espírito Santo, o mosquito da dengue “conquistou” o cargo de prefeito; e, no Rio, um macaco foi o terceiro mais votado para a prefeitura da capital.

Rinoceronte 'Cacareco' foi o mais votado para vereador em São Paulo Foto: Reprodução/AcervoEstadão

Os animais não aspiravam a cargos públicos e os votos não eram contabilizados para o resultado oficial das eleições. As candidaturas eram criadas e apoiadas por eleitores em protesto contra os políticos. De acordo com Tiago Valenciano, cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os bichos se tornavam símbolos das cobranças feitas pelos moradores para os gestores públicos.

“A simbologia dos animais depende muito da circunstância municipal. Cada caso tem relação com o enredo de cada eleição, mas o objetivo é o mesmo: ironizar o processo eleitoral e questionar alguma demanda ou situação existente não resolvida pelos políticos”, afirmou.

Hoje em dia, essa forma de se manifestar não é mais possível. Segundo Rafael Morgental, especialista em direito eleitoral e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a urna eletrônica tirou a possiblidade de os animais serem utilizados como protesto nas eleições. “Você não tem mais a liberdade da escrita, a urna agora te conduz a uma escolha numérica e você só pode escolher uma pessoa que está registrada como candidato ou não”, afirmou.

Rinoceronte Cacareco foi ‘eleito’ vereador de São Paulo em 1959

Nas eleições paulistanas de 1959, o vereador mais bem votado da cidade não foi um ser humano. O grande vencedor daquele pleito foi um rinoceronte chamado Cacareco, que residia no Jardim Zoológico da cidade. O animal teve 100 mil votos, mais do que todos os outros 540 candidatos para a Câmara.

A votação de Cacareco foi tão expressiva que o partido que conquistou o maior número de votos não chegou a ter 95 mil. As cédulas com o nome do animal foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) e o rinoceronte não tomou posse no Legislativo municipal.

Cacareco ficou conhecido na cidade após o governo do Rio “emprestar” o animal para Jânio Quadros, então governador paulista, em 1958. Ao chegar à capital do Estado, Cacareco foi recebido por crianças e logo se tornou uma “celebridade” no município.

O carinho dos paulistanos pelo rinoceronte era tão grande que o retorno dele para a capital fluminense ocorreu sob insatisfação popular. Em 1984, a carcaça de Cacareco foi doada ao Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), onde está exposta até hoje.

Moradores de Vila Velha ‘elegeram’ o mosquito da dengue como prefeito

Em 1987, na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, o “candidato” mais votado para comandar a prefeitura foi o mosquito da dengue. Naquela época, o município enfrentava uma epidemia da doença, e os moradores culpavam a administração pública pelo avanço das infecções.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), o Aedes aegypti foi escrito em 29.668 cédulas. Com os votos do inseto anulados, Magno Pires da Silva (PT) foi eleito prefeito, com 26.633 votos.

Votos no mosquito da dengue superaram os do prefeito eleito em Vila Velha em 1987 Foto: Reprodução/A Gazeta

Bode Ioiô foi ‘eleito’ vereador de Fortaleza e ‘despachava’ em praça da cidade

Nas eleições municipais de 1922 em Fortaleza, que à época tinha cerca de 80 mil habitantes, a sensação da campanha foi um bode chamado Ioiô. O animal, que pertencia a um boêmio da cidade, era conhecido por perambular pelas ruas do antigo centro fortalezense.

A cultura popular diz que Ioiô estava sempre presente em cafés e bares da capital cearense, sendo adorado por escritores e aristocratas da cidade. Por conta da “fama”, foi lançado candidato a vereador e acabou “eleito”.

Bode Ioiô foi "eleito" vereador em Fortaleza em 1922 e se tornou personagem histórico do Ceará Foto: Reprodução/Governo do Ceará

Ioiô não pôde tomar posse do cargo em que foi confiado pela população de Fortaleza, mas a literatura cearense diz que ele diariamente “despachava” na Praça do Ferreira, no centro da cidade. A pontualidade do bode no local era considerada pela população como um exemplo de produtividade, em mais uma crítica aos políticos do município.

Ioiô foi considerado uma figura folclórica do Estado e um exemplo do humor cearense. Na década de 1930, quando o “bode vereador” morreu, o corpo dele foi empalhado e doado ao acervo do Museu do Ceará, onde está até hoje. Em 2019, a “trajetória política” do animal foi enredo da escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti.

Macaco Tião foi o terceiro ‘candidato’ mais votado nas eleições do Rio

Em 15 de novembro de 1988, os eleitores da cidade do Rio participavam da segunda eleição municipal desde a redemocratização. Naquele dia, uma parte dos eleitores foi às urnas para votar nos políticos preferidos, enquanto outra estava convicta em escolher um chipanzé do zoológico municipal como o novo chefe do Executivo do município.

O macaco se chamava Tião e era famoso por ser querido pelas crianças e por costumar atirar objetos nos políticos que visitavam o zoológico. Como forma de protesto contra a política local, a extinta revista humorística Casseta Popular decidiu lançar a candidatura do chipanzé para a prefeitura carioca, com os slogans “Macaco Tião, o candidato do povão”, “o único candidato que já está preso”. Ele concorreu pelo inventado Partido Bananista Brasileiro (PBB).

Macaco Tião foi o terceiro mais votado nas eleições municipais do Rio em 1988. Na campanha, era definido como "candidato do povão" Foto: Acervo/TRE-RJ

Estimativas dos responsáveis pela contagem dos votos no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) apontam que o macaco recebeu 400 mil votos. Caso realmente fosse um candidato, ele teria ficado em terceiro lugar. Todas as cédulas com o nome do chipanzé foram anuladas e Tião figura no Guiness Book como o símio que mais recebeu votos na história.

O primeiro colocado daquele pleito foi o advogado Marcelo Allencar (PDT) – que futuramente seria eleito governador do Estado – com 998 mil votos. O segundo foi o engenheiro Jorge Bittar (PT), com 552 mil. O macaco superou Álvaro Valle (PL), que teve 393 mil. Valle foi o criador do Partido Liberal, que hoje abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cabra ‘candidata’ foi alvo de tiros em carreata

Em 1996, a cabra Frederico foi lançada como “candidata” para comandar o município alagoano de Pilar, a 40 quilômetros da capital Maceió. O animal era criado solto nas ruas centrais da cidade e, de acordo com relatos de moradores, foi pintada nas cores da bandeira do Brasil durante a Copa do Mundo de 1994.

Segundo jornais alagoanos da época, a candidatura de Frederico foi uma forma que os moradores encontraram para criticar a gestão do então prefeito, Mário Fragoso, pelo atraso na folha salarial dos servidores e por ser pouco presente no dia a dia da cidade.

Porém, o que parecia inicialmente uma brincadeira dos moradores contra o sistema político local, se tornou cada vez mais sério ao longo da campanha. Um radialista da cidade era o encarregado de transmitir as propostas do bode para a cidade. Segundo o comunicador, Frederico era “candidato” pelo inventado Partido dos Bodes e Bichas (PBB), com o número de urna 24 e o slogan “Um governo berrante”.

A presença de Frederico na disputa pela Prefeitura de Pilar descambou para a violência política. Durante uma carreata, o carro onde estava a cabra foi atingido por uma rajada de metralhadora. Ninguém foi ferido.

A vida do candidato do PBB não duraria muito após o atentado. Dez dias depois, o dono de Frederico, proprietário de um ferro velho da cidade, encontrou o animal morto. Ele acreditava na hipótese de envenenamento.

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