Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião|A PEC do desespero de Bolsonaro está ajudando Lula


Presidente nem percebe que foi engolido pelos fatos que pretendia mudar

Por William Waack
Atualização:

Não há surpresa alguma na PEC do Desespero. Comprar votos é o que sempre fez a política como ela é. Vergonha na cara não existe nesse tipo de política (nem gratidão). É um traço aparentemente imutável da nossa cultura, goste-se ou não.

A questão é saber se a compra de votos vai funcionar. O universo de eleitores que vivem com renda familiar (atenção, familiar) de até 2 salários mínimos – o alvo da PEC do Desespero – é estimado em 60 milhões de pessoas. Esse número equivale à soma de colégios eleitorais como São Paulo, Minas e Bahia.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona.  Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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É a formidável massa de eleitores da categoria “mais pobres” (40% do total). Nesse enorme segmento a vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem sido ampla, constante e, ao que tudo indica, consolidada. Em outras palavras, com a PEC do Desespero a estratégia de Bolsonaro consiste em atacar seu adversário onde ele é mais forte.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona. Os profissionais em leitura de pesquisa constataram sem dificuldades uma correlação entre ajuda emergencial e melhoria dos índices de popularidade de Bolsonaro, por exemplo. Mas, neste momento, dois fatores limitam consideravelmente a eficácia da desavergonhada compra de votos.

O primeiro é a deterioração da renda. Os eleitores mais pobres mencionam a economia como fundamental na formação do voto e consideram que R$ 600 de ajuda já não são R$ 600, grana que ainda por cima só será paga até o fim do ano. Ou seja, aos olhos do público-alvo a PEC do Desespero chega com pouco.

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Além de chegar tarde, o segundo fator limita sua eficácia eleitoral. Existe um reconhecido “time lag” entre a aprovação/efetivação de um benefício e a melhoria da situação do candidato nas pesquisas. Fala-se de um processo que demanda em torno de meio ano – e faltam menos de três meses para o primeiro turno das eleições.

Para piorar a situação de Bolsonaro, ele está sendo vítima da famosa lei das consequências não intencionais. Ao dedicar-se desesperado à compra de votos via benefícios sociais, paradoxalmente o presidente reforça a imagem de seu grande oponente – Lula é visto pelos mais pobres, em termos de atributos, como aquele que melhor garantiria os benefícios para além do horizonte de dezembro estabelecido na PEC do Desespero.

Em outras palavras, a derradeira estratégia de Bolsonaro promete trazer pouquíssimo ganho político obtido a um enorme custo financeiro e, principalmente, institucional ao País (algo que pouco importa para a política como ela é). Provavelmente o presidente nem percebe que foi engolido pelos fatos que pretendia mudar. l

Não há surpresa alguma na PEC do Desespero. Comprar votos é o que sempre fez a política como ela é. Vergonha na cara não existe nesse tipo de política (nem gratidão). É um traço aparentemente imutável da nossa cultura, goste-se ou não.

A questão é saber se a compra de votos vai funcionar. O universo de eleitores que vivem com renda familiar (atenção, familiar) de até 2 salários mínimos – o alvo da PEC do Desespero – é estimado em 60 milhões de pessoas. Esse número equivale à soma de colégios eleitorais como São Paulo, Minas e Bahia.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona.  Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

É a formidável massa de eleitores da categoria “mais pobres” (40% do total). Nesse enorme segmento a vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem sido ampla, constante e, ao que tudo indica, consolidada. Em outras palavras, com a PEC do Desespero a estratégia de Bolsonaro consiste em atacar seu adversário onde ele é mais forte.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona. Os profissionais em leitura de pesquisa constataram sem dificuldades uma correlação entre ajuda emergencial e melhoria dos índices de popularidade de Bolsonaro, por exemplo. Mas, neste momento, dois fatores limitam consideravelmente a eficácia da desavergonhada compra de votos.

O primeiro é a deterioração da renda. Os eleitores mais pobres mencionam a economia como fundamental na formação do voto e consideram que R$ 600 de ajuda já não são R$ 600, grana que ainda por cima só será paga até o fim do ano. Ou seja, aos olhos do público-alvo a PEC do Desespero chega com pouco.

Além de chegar tarde, o segundo fator limita sua eficácia eleitoral. Existe um reconhecido “time lag” entre a aprovação/efetivação de um benefício e a melhoria da situação do candidato nas pesquisas. Fala-se de um processo que demanda em torno de meio ano – e faltam menos de três meses para o primeiro turno das eleições.

Para piorar a situação de Bolsonaro, ele está sendo vítima da famosa lei das consequências não intencionais. Ao dedicar-se desesperado à compra de votos via benefícios sociais, paradoxalmente o presidente reforça a imagem de seu grande oponente – Lula é visto pelos mais pobres, em termos de atributos, como aquele que melhor garantiria os benefícios para além do horizonte de dezembro estabelecido na PEC do Desespero.

Em outras palavras, a derradeira estratégia de Bolsonaro promete trazer pouquíssimo ganho político obtido a um enorme custo financeiro e, principalmente, institucional ao País (algo que pouco importa para a política como ela é). Provavelmente o presidente nem percebe que foi engolido pelos fatos que pretendia mudar. l

Não há surpresa alguma na PEC do Desespero. Comprar votos é o que sempre fez a política como ela é. Vergonha na cara não existe nesse tipo de política (nem gratidão). É um traço aparentemente imutável da nossa cultura, goste-se ou não.

A questão é saber se a compra de votos vai funcionar. O universo de eleitores que vivem com renda familiar (atenção, familiar) de até 2 salários mínimos – o alvo da PEC do Desespero – é estimado em 60 milhões de pessoas. Esse número equivale à soma de colégios eleitorais como São Paulo, Minas e Bahia.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona.  Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

É a formidável massa de eleitores da categoria “mais pobres” (40% do total). Nesse enorme segmento a vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem sido ampla, constante e, ao que tudo indica, consolidada. Em outras palavras, com a PEC do Desespero a estratégia de Bolsonaro consiste em atacar seu adversário onde ele é mais forte.

Dar dinheiro na mão do eleitor muda voto? Em parte, funciona. Os profissionais em leitura de pesquisa constataram sem dificuldades uma correlação entre ajuda emergencial e melhoria dos índices de popularidade de Bolsonaro, por exemplo. Mas, neste momento, dois fatores limitam consideravelmente a eficácia da desavergonhada compra de votos.

O primeiro é a deterioração da renda. Os eleitores mais pobres mencionam a economia como fundamental na formação do voto e consideram que R$ 600 de ajuda já não são R$ 600, grana que ainda por cima só será paga até o fim do ano. Ou seja, aos olhos do público-alvo a PEC do Desespero chega com pouco.

Além de chegar tarde, o segundo fator limita sua eficácia eleitoral. Existe um reconhecido “time lag” entre a aprovação/efetivação de um benefício e a melhoria da situação do candidato nas pesquisas. Fala-se de um processo que demanda em torno de meio ano – e faltam menos de três meses para o primeiro turno das eleições.

Para piorar a situação de Bolsonaro, ele está sendo vítima da famosa lei das consequências não intencionais. Ao dedicar-se desesperado à compra de votos via benefícios sociais, paradoxalmente o presidente reforça a imagem de seu grande oponente – Lula é visto pelos mais pobres, em termos de atributos, como aquele que melhor garantiria os benefícios para além do horizonte de dezembro estabelecido na PEC do Desespero.

Em outras palavras, a derradeira estratégia de Bolsonaro promete trazer pouquíssimo ganho político obtido a um enorme custo financeiro e, principalmente, institucional ao País (algo que pouco importa para a política como ela é). Provavelmente o presidente nem percebe que foi engolido pelos fatos que pretendia mudar. l

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